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História Parece Mais Fácil Nos Filmes - All Time Is Unredeemable


Escrita por: SheUsedToBeEmo

Notas do Autor


OLÁ. Então, pessoal, vocês certamente já devem ter notado que raramente me posiciono sobre qualquer coisa ou falo sobre qualquer coisa (QUE SEJA DE IMPORTÂNCIA SOCIAL hauahuahauh). Eu tento manter a minha imparcialidade diante de cada opinião e pedido porque, sinceramente, não acho que caiba a mim interferir na opinião de ninguém. Sempre segui a história, em cada capítulo, baseada em todo o planejamento e replanejamento que fiz/fazia. Penso, de verdade, que cada um de vocês é livre para ler, não ler, deixar de ler e começar a ler quando bem quiser. Nunca peço ou imploro, nunca divulguei ou recomendei a minha fanfic, raramente citava ela ou falava sobre ela no twitter e fico feliz por ter tanta gente por livre e espontânea vontade lendo. Também agradeço a todos que sempre fizeram a divulgação por vontade própria e não são poucos (se eu fosse publicitária, contrataria vocês, hein uheueheueheu). Vocês realmente levam isso a sério. Serei eternamente grata. É isso. Quero agradecer logo de imediato porque é importante.

OBRIGADA!!!!!

Capítulo 58 - All Time Is Unredeemable


   Sábado.

    2.190 dias desde que Camila falou comigo pela primeira vez. 2.920 dias desde que vi Camila pela primeira vez. 5 anos desde o ano que chegamos a Nova Iorque. Hoje, exatamente, está acontecendo a formatura da minha namorada. A minha aconteceu no mês passado. A de Normani e Dinah aconteceu no fim do ano passado. E a de Allyson tem um mês, quase perto da minha. Eu deveria ter me formado há alguns meses atrás, junto com Veronica, mas acontece que não consegui concluir todas as matérias, por isso atrasei só um pouco... Então, em um belo ato de companheirismo, Veronica desistiu da formatura oficial com a turma dela e esperou até que eu terminasse para poder ter a graduação comigo.

   Foi um gesto nobre e que talvez eu nunca consiga demonstrar minha gratidão.

   Eu vou falar sobre a minha formatura e a de Veronica, mas antes preciso falar sobre as outras três. Duas que já aconteceram e uma que está acontecendo.

  

FORMATURA:  DINAH E NORMANI.

   Era uma segunda-feira, as famílias das duas já estavam na cidade desde o sábado. Eles garantiram que poderiam ir para um hotel, mas Dinah insistiu que eles poderiam ficar em nosso apartamento. Foi então que aquele final de semana tornou-se quase infernal. Nós cinco e o Sparky ficaríamos amontoadas no quarto que era da Normani e meu. A família da Dinah ficaria no que era dela e a da Normani ficaria no quarto da Allyson.

   Até esse ponto tudo parecia bem, mas nós não tínhamos espaço suficiente e muito menos mais de um banheiro, foi quando uma luz apareceu para nós em forma humana.

   — Vocês sabem que meu apartamento é pequeno, mas se vocês três quiserem ficar lá, tudo bem.

   Essa luz humana se chama Caleb Shomo. Vou falar sobre ele e sobre o relacionamento dele com a Allyson, mas somente quando falar sobre a formatura dela. O ponto importante é que ele nos convidou para o apartamento dele e de imediato aceitamos.

   Tentamos não demonstrar que seria um pouco complicado sobreviver em uma superlotação, avisamos às futuras graduandas sobre elas precisarem de espaço com as famílias, arrumamos nossas malas e Caleb nos levou para não muito longe do nosso apartamento. O lar dele era um pouco menor do que o nosso, mas apenas pelo fato de ter dois quartos. Era o bastante. Pude ficar com Camila e Sparky em um quarto enquanto ele e Allyson ficaram em outro.

   Voltamos para o apartamento 1432 apenas na segunda-feira, para a formatura. Só tivemos tempo para deixar o Sparky, pois rapidamente fomos obrigadas a voltar para o carro e ir diretamente para a formatura. Já estávamos arrumadas e isso não foi um problema. Não estávamos alimentadas e isso foi um problema que tive que resolver de forma completamente feia.

   Já no campus da NYU, muita gente começava a chegar e tomar seus lugares. As famílias de Dinah e Normani fizeram questão de guardar lugares para todos nós, assim pudemos respirar um pouco do ar livre. Enquanto Allyson, Camila, Veronica e Caleb estavam tentando acalmar as graduandas, aproveitei para escapar um pouco e fazer o que não pude fazer antes: me alimentar.

   — Amor! — Escutei minha namorada chamar.

   No mesmo instante precisei engolir rapidamente uma miniatura de pizza que eu tinha pegado antes de sairmos do apartamento. Sim. Eu assaltei a comida que estava guardada para ser servida na comemoração.

   — Oi! — Respondi, mas ainda estava mastigando. Não tive como disfarçar e nem evitar os olhos de Camila me analisando.

   — Lauren, você roubou a comida da comemoração delas?! — Perguntou em um tom mais baixo.

   — Desculpa. Mas eu não iria aguentar! — Avisei, colocando a mão sobre a barriga.

   Ela me lançou um sorriso cúmplice e inclinou-se para perto.

   — Onde você trouxe?

   — Na sua bolsa. — Expliquei, já que a bolsa era dela, mas quem carregava era eu. Especialmente nesse dia não reclamei por servir de pendurador, já que a bolsa foi muito útil.

   Camila olhou para trás e então virou-se para mim.

   — Estou com fome também.

   Rapidamente repassei para ela uma das fatias.

   — Ninguém vai perceber que está faltando. Você precisa estar alimentada. — Expliquei enquanto ela mordia a fatia e fechava os olhos.

   — Hummmm... Isso está ótimo... — Disse com a boca cheia. — Mas, preciso que você tente ajudar a Normani. Ela está nervosa.

   — Já falei para ela ficar calma. 

  — Lauren, isso não ajuda ninguém! Vá fazer algo por ela! Dinah está exigindo mais atenção e as duas juntas estão incontroláveis.   

   — Você vai se formar logo... Você é a psicóloga. — Dei de ombros, mas pelo visto nem a pizza ajudou Camila a não se irritar momentaneamente comigo.

   — Não seja uma pessoa horrível no dia da formatura da sua amiga de infância!

   Ri da reação que a minha namorada teve.

   — Eu estava brincando. — Assumi, deixando um beijo na bochecha dela. — Vou lá falar com ela.

   — Pode ir. Eu vou terminar de comer e volto para lá.

   Concordei, ajeitei a bolsa e senti os olhos de Camila me acompanharem até que eu virasse de costas e fosse encontrar Normani. Andei pelo local até encontrar a minha amiga com a cabeça encostada no ombro de Allyson enquanto Veronica e Caleb falavam algo com Dinah, que tinha a cabeça baixa. Apressei meus passos, mas não tanto quanto Camila, que passou por mim indo diretamente para Dinah. A maior de todas ergueu a cabeça ao ver minha namorada, então abriu os braços e apertou Camila o quanto pôde.

   — Tudo bem? — Perguntei a Normani.

   — Amiga... Eu não vou conseguir subir lá. Estou feliz, mas quando o diploma estiver em minhas mãos, vou ter que começar a minha vida de uma vez por todas! — Confessou demonstrando desespero, mas não foi a primeira vez. Durante toda a semana Normani só sabia falar sobre isso.

   — Vai ficar tudo bem. — Falei tentando parecer incrivelmente otimista, mesmo sabendo que todos sabiam que eu não passava de uma falsa e social otimista.  

   — E se não ficar? — Perguntou, então precisei pensar em alguma frase de efeito.  

   — A gente vai fazer algo para que fique. Não se preocupe. — Sorri ao final da frase.

   A morena respirou fundo e assentiu.

   — Estou melhor! ­— Dinah gritou, pondo-se em pé. — Vamos, Mani. Está quase na hora!

   — Já vou. — Normani avisou, mas fez sinal para que Dinah e Camila se aproximassem. — Me prometam algo. Vocês quatro.

   — Prometemos. — Allyson disse.

   — Mesmo que eu seja um fracasso como profissional, ainda seremos amigas.

   As outras três pareceram sensibilizadas com o pedido, julgando as exclamações de “own!”.

   — Mani, você sabe como será o plano que eu fiz. Ele vai funcionar e se você não puder pagar suas contas e for despejada, vamos abrigar você. — Camila disse, mas Normani pareceu ficar horrorizada.

   — Falar sobre desemprego e despejo não ajuda muito, Camz. — Sussurrei no ouvido da minha namorada.

   Dinah riu, o que pareceu tirar a tensão da frase.

   — Chancho, que bom que não vou ser sua paciente.

   — Nunca vamos indicar você, amiga. — Normani disse em seguida.

   — Mila, esqueça o nosso plano de ter consultórios em uma mesma clínica. — Allyson referiu-se a um outro plano que Camila tinha: montar um consultório com Allyson.

   — Lauren! — Minha namorada chamou e eu já sabia que precisava ajuda-la.

   — Eu posso ser sua paciente, se nada der certo. — Sorri da melhor forma que pude.

   Camila revirou os olhos, mas logo deixou um sorriso escapar. 

   — É por isso que eu amo a minha namorada. — Disse passando os dois braços ao meu redor. — Ela me apoia em tudo.

   — Eu prefiro encarar meu futuro ruim a ter que ver vocês assim. Já estou cansada! — Dinah disse puxando Normani pela mão.

    E então aconteceu a formatura de Normani e Dinah. Elas receberam os diplomas, choraram, os familiares das duas quase nos deixaram surdos quando os dois sobrenomes foram chamados. Confesso que eu estava muito feliz por elas duas, mas não consegui expressar com nada além de um sorriso largo e aplausos.

   Após tudo isso, voltamos para o apartamento, a confraternização aconteceria no terraço e foi então que um marco vergonhoso foi feito em nossa vida.

   — Caleb, você mexeu em nossa comida? ­— Allyson perguntou quando a maioria das pessoas já estavam no terraço, mas nós estávamos no apartamento ainda.

   Camila sussurrou um “aja naturalmente”, fingiu beber água e eu a acompanhei, nem me importando em dividirmos o mesmo copo.

   — Não. Por quê? — O garoto respondeu.

   — Alguém pegou algumas pizzas. Vocês viram quem foi?

   — Vero, pergunta lá em cima quem aceita bebidas! Posso pegar para todos! — Camila disse quebrando o próprio plano de “agir naturalmente”.

   — Aceitem porque vou pegar os copos também! — Ofereci logo em seguida para tentar disfarçar o erro dela.

   — Foram vocês duas que roubaram a comida? — Veronica perguntou rindo.

   — Iglesias, nós somos conscientes. Jamais faríamos isso. — Respondi antes que Camila nos entregasse.

   Então Camila deixou um riso pequeno escapar.

   — Ally! Achei as culpadas! — Minha colega de classe gritou.

    E naquela noite ficamos marcadas como “o casal que não pode ficar perto da comida”. E, de fato, ninguém deixava mais que Camila e eu ficássemos sozinhas na cozinha em ocasiões comemorativas ou apenas alguma reunião.     

 

 

FORMATURA:  ALLYSON.

   Bom, essa é a parte em que conto sobre a Allyson e consequentemente sobre o Caleb.

   Há dois anos atrás o Caleb decidiu que precisava largar a vida de porteiro, foi quando começou a fazer um curso de computação, um ano depois conseguiu um emprego na área e largou a portaria do nosso prédio. Estávamos felizes por ele, principalmente Dinah.

   — Meu computador está com alguma coisa errada, você poderia dar uma olhada nele depois? — Dinah perguntou assim que ele anunciou o novo emprego.

   — Cuidado, Caleb. — Allyson avisou rindo, já sabendo o que viria a seguir.

   — Você já está tentando garantir meus serviços gratuitos pelo resto da vida? — O garoto perguntou, provavelmente já havia se acostumado depois de tanto tempo.

   — Caleb, amigos servem para isso. Se tenho cada um em uma área, vou fingir que não tenho por quê? Eu valorizo os serviços de vocês. — Dinah continuou.

   — Tudo bem. Posso dar uma olhada depois.

   Allyson, ao contrário de Dinah, ficou feliz, porém lamentava não poder mais ver o namorado todos os dias. Sim. Eles dois haviam entrado em um relacionamento e foi por causa de nós.

   — Caleb, como você conseguiu ajudar Lauren a me pedir em namoro, mas está sendo pior do que ela para pedir a Allyson? — Camila perguntou em um certo dia, como quem não quer nada. Nós duas havíamos ido buscar Veronica, que por sua vez estava em uma briga de casal com a Alexa e não queria passar a noite no dormitório.

   — É diferente. Você já estava na universidade, eu não tenho nada além desse emprego. — Ele confessou. Isso foi antes de ele decidir mudar de vida.

   — E por que não tenta fazer algo?

   — Não sei... É um pouco complicado. Eu não sei nem o que procurar.

   — Alexa sempre está por dentro dessas coisas. — Veronica comentou. — Você quer que eu pergunte a ela?

   — Sim. Pode ser.

   E foi assim, Alexa fez as pazes com Veronica e contou a ela sobre alguns cursos profissionalizantes, Veronica comentou com Caleb e um certo dia nós fomos com ele procurar ver como funcionava. Digo, apenas Camila, Veronica e eu fomos com ele. O plano era tornar tudo uma surpresa para Allyson e talvez Dinah e Normani não soubessem conter.

   Deu certo, ele conseguiu a vaga e dois meses depois pediu Allyson em namoro.

   Um ano depois e ele decidiu morar sozinho em um apartamento perto da casa de sua avó.

   E agora eles são oficialmente um casal, Caleb até mesmo já conheceu a família da Brooke em um Natal que passamos em Miami, mas isso será contado depois.

   Então teve o dia da formatura da Allyson. Foi em uma sexta-feira. A família dela acabou ficando no apartamento do Caleb, que provavelmente queria passar uma boa impressão para os sogros. Consequentemente, Brooke passou esses dias por lá. Apenas a encontramos no dia exato da graduação.

   — Lauren, o que eu vou fazer? Lucy está aqui e a Alexa também e... — Veronica disse pela quarta ou quinta vez desde que chegamos ao campus da Columbia.

   — Veronica. — Falei calmamente.

   — Oi.

   — Só quero que você mantenha a calma! Vai dar tudo certo.  

   Quando percebi que todas as minhas amigas estavam começando a ter surtos esporádicos quando se tratava sobre o futuro, fui obrigada a aprender com Camila que a maneira correta era não concordar que o futuro é assustador, mas sim dizer que tudo iria ficar bem. Eu conseguia fazer isso em boa parte do tempo, mas se até Camila perdia a paciência, eu também tinha o direito. Principalmente quando o assunto não era o futuro.

   — Eu passei todos esses anos fugindo de lugares que as duas pudessem se ver e agora eu não posso fazer nada!

   Ela estava assim porque a formatura da Brooke era também a da Lucy Vives, garota que Veronica quase namorou, mas por alguns acontecimentos não deu certo.

   — Então, você vai nos contar agora sobre o que aconteceu entre você e Lucy?

   Normani perguntou, após o pior Natal da minha vida, quando voltamos para Nova Iorque e finalmente podíamos ter uma conversa que esclarecesse tudo.

   — É difícil explicar, mas basicamente eu estava apaixonada por Lucy.

   — Sabemos disso... mas não mais do que isso. — Allyson disse.

   Nem mesmo Allyson sabia sobre o que havia acontecido, Lucy nunca contou para ela.

   — Nós duas tínhamos algo, sabe? Era quase um relacionamento. Então estávamos em uma festa, sempre íamos juntas, vocês sabem. Já era madrugada quando ela me deixou no campus e eu fui para o meu dormitório. A Alexa dormia no mesmo quarto que eu, vocês sabem.

   — Hum... — Normani incentivou.

   — Certo. Eu posso ter bebido muito nessa festa e quando cheguei ao dormitório a Alexa estava acordada estudando. Eu também posso sempre ter achado ela atraente, mesmo depois de tudo o que vocês me contaram. Talvez eu tenha a achado muito atraente naquela noite e... talvez eu possa ter beijado ela.

   — Você que teve a iniciativa?! — Camila perguntou.

   — Então, sim... Ela não gostou nada da minha atitude e reclamou sobre aquilo durante todo o resto de noite. Eu pedi desculpas, até porque ela sabia que eu tinha algo com a Lucy, mas a única desculpa que ela aceitou foi eu ajudá-la a estudar.

   — Cheechee, a Vero é a culpada. — Minha namorada sussurrou para Dinah, que estava ao lado dela.

   — Shhh! — A mais alta fez sinal de “silêncio”.

   — A gente passou a estudar sempre juntas. Assim, eu a ajudava sempre que podia e ela respeitava meus momentos de estudos. Mas não deu muito certo, estudar significava ficarmos próximas fisicamente e, bem, acabei beijando ela enquanto estava sóbria. Ela novamente reclamou, mas ela reclamou por vários dias e por vários dias os beijos se repetiam e aumentavam...

   — Chancho, você tinha razão! — Dinah disse e Camila sorriu levantando uma mãe para a outra tocar.

   — Então, eu não sabia que precisava escolher entre ela ou Lucy, por isso continuava saindo com a Lucy e tendo os meus estudos com a Alexa. Até um dia que a Lucy foi ao dormitório e flagrou Alexa e eu aos beijos. Somente beijos.

   — Veronica, você foi uma pessoa horrível. — Allyson disse.

   — Eu sei! Eu tentei me explicar e me desculpar, mas a Lucy me disse que eu precisava escolher quem levar a sério e a Alexa disse que não sabia que eu ainda estava com a Lucy. Mas eu não queria escolher, me parecia errado. Só queria manter as partes legais de cada uma. Lucy disse que se eu não sabia escolher e se eu tinha buscado outra pessoa é porque a primeira já não era tão especial. Ela terminou tudo comigo e Alexa me ignorou por alguns dias, mas dormíamos no mesmo quarto... era inevitável não acontecer algo novamente. Eu acabei buscando algo com ela mesmo que tudo o que vocês contaram martelasse em minha mente.

   — E então decidiram namorar? ­— Camila quis saber.

   — Não! O namoro eu nem sabia que existia, mas ela disse que não iria esperar eu decidir. Não posso reclamar, acabaria sendo formalizado em algum momento. Eu gostava da Lucy, mas acho que passei a gostar mais da Alexa.

   E essa é a verdade por trás do namoro entre Alexa e Veronica, que ainda está de pé. Desde que tudo foi esclarecido a Lucy nunca mais nos deu carona. Somente matinha contato com a Allyson, mas como esta sempre estava com a gente e Veronica também, ela acabou se afastando um pouco, mas nada grave.

   — Do que você tem medo, realmente? A Lucy não parece se importar. — Falei, por fim, para que ela não surtasse na formatura da Allyson.

   — A Alexa se importa... Ela não é uma psicopata, como a Mila pensava, mas tem um lado psicopata.

   — Como você sabe que ela não é? — Perguntei, cruzando os braços.

   — Um dia desses fingi que estava sem nada pra fazer na internet e a fiz preencher um teste sobre SAIBA SE VOCÊ É PSICOPATA. Ela passa longe, acredite. — Veronica disse.

   — Eu que recomendei. Estava em uma revista. — Normani falou.

   Sim. Após todos esses anos Normani continua comprando revistas para ler sobre signos e fazer testes que certamente são inúteis.

   — Tudo bem. Você só precisa ficar ao lado dela. A Lucy estará ocupada demais com a própria formatura.

   — Ok. Se algo der errado, a minha namorada me mata. Ela é quase médica, Michelle, ela pode me cortar e ninguém vai saber! Eles sabem sobre cortes especiais. — A garota disse aquilo em tom de sigilo.

   Arregalei meus olhos.

   — Realmente, amiga. — Normani concordou. — Eu vi isso em algum lugar. Foi em algum seriado, Mila?

   — Foi em algum que a gente começou... Não lembro. — Minha namorada deu de ombros.

   — Verdade. Eu não havia pensando sobre o conhecimento que a Ferrer deve ter. — Completei.

   — Então, como você vai me ajudar?!

   Eu realmente tentei ajudar Veronica daquela vez, mas eu não sabia como ajudar, então tive que pedir ajuda.

   — CAMILA. — Chamei-a olhando para trás.

   — Oi, amor! — Respondeu vindo para o meu lado com um sorriso largo, que fez meu coração acelerar mesmo depois de anos.

   Anos se passaram e aquele “Oi” agora é um “Oi, amor”. Agradeço ao tempo por ser irremediável.

   — Ela está tendo preocupações sobre relacionamentos. Eu não sei como posso ajudar. Preciso que você me ajude.

   Minha namorada saiu do lado de Normani e veio para o meu, de frente para Veronica.

   — Qual é o ponto? Eu não ouvi a conversa inteira. Mani estava me mostrando um vídeo.

   — Alexa, Lucy, mesmo lugar, Veronica. — Resumi tudo.

   Ela assentiu e fez um leve suspense.

   — Vero, a Lucy não se importa com você. — Camila foi sincera e direta.

   — Como não? — Veronica pareceu não acreditar.

   Camila chamou Normani e sussurrou algo no ouvido dela, esta por sua vez assentiu e olhou ao redor.

   — Não diga que te contei, mas a Ally deixou escapar que a Lucy simplesmente não sente mais nada por você. — A morena foi tão direta quanto Camila.

   — Ela finalmente conseguiu me superar? — Veronica pareceu não acreditar ainda mais.

   — Ela te superou anos atrás, Vero. Antes mesmo de eu ver você e Alexa juntas. — Minha namorada explicou.

   — Impossível. Ninguém me esquece assim.

   Após escutar a frase da minha colega de classe, gargalhei.

   — Todo mundo é esquecível. Aceita isso. — Respondi dando o assunto por encerrado, ao menos para mim.

   — Estou falando sério. É meio impossível me superar.

   Camila, Normani e eu reviramos os olhos ao mesmo tempo.

   — Vero, apenas sente-se com a sua namorada e deixe isso para lá. ­— Normani falou. — Precisamos ir logo, Dinah disse que a Ally já foi se sentar com o pessoal da turma.

   Concordamos e seguimos para encontrar Dinah, Caleb, a família Hernadez e Alexa. Dinah não quis ver o drama de perto porque estava tentando convencer Alexa a atende-la gratuitamente no futuro.

   Sim. Dinah Jane e Alexa Ferrer têm tido diálogos que não são sempre brigas, mas isso você entenderá depois.

   — Michelle, quem é capaz de me esquecer? Inacreditável! — Minha colega de classe sussurrou quando Normani e Camila saíram na frente vendo algo no celular.

   — Você é uma babaca. Vá logo para a sua namorada, pois a Ferrer não está com uma cara muito boa. — Avisei vendo a namorada de Veronica quase fuzilá-la com os olhos.

   — Nunca a vi com a cara boa, mas Dinah deve estar testando a paciência dela. — Veronica disse rindo.

   — Isso é ciúmes. — Expliquei. — Ela já aprendeu a lidar com a Dinah faz tempo.

   Vimos Veronica se afastar em passos largos quando Alexa a viu e ergueu um braço, chamando-a. Normani continuou andando calmamente, mas Camila rapidamente veio para o meu lado. Naturalmente deslizou seus dedos por meu braço até que eles encontrassem a palma da minha mão. Em um movimento nossos dedos estavam entrelaçados.

   — Ainda bem que somos um casal evoluído e sabemos lidar com essa coisa, não é? Digo, o ciúme. Podemos ficar horas separadas em pura tranquilidade. — Ela comentou, mas eu sabia que era uma brincadeira porque 5 anos passaram e nós ainda não éramos boas em lidar com o ciúme, apenas nunca fomos doentias com isso.

   Ao menos não de uma forma ruim. Doentias nós duas éramos em muitos aspectos, mas não é como se pudéssemos mudar isso. Até tentamos agir como a maioria dos casais, mas percebemos que era muito superficial e que já estávamos em um ponto sem retorno. Irremediável.

   — Exatamente. Somos um exemplo. — Concordei com a mentira, mas precisei soltar nossas mãos para poder ajeitar o meu cabelo.

   — Somos... Por que você largou a minha mão? — Ela perguntou, me fazendo sorrir.

   — Engraçada. — Falei passando meu braço por seus ombros.

   — Eu sei. Estava brincando, realmente. — Falou rindo, mas eu sabia que naquele riso havia um “não foi tão brincadeira assim”.

   — Não. Eu sei que você, no fundo, falou sério. — Respondi.

   — Sim... eu falei sério, mas em parte foi brincando. — Passou um braço por minha cintura.

   Essa era uma das coisas que mais me faziam amar namorar Camila. Nós já havíamos passado por tantas coisas juntas que agora éramos capazes de fazer piadas até com o que já foi algo ruim em nosso relacionamento.

   A graduação ocorreu como qualquer outra. Lucy foi a oradora da turma e nesse momento Camila não conseguia parar de rir ao meu lado, pois Veronica começou a mexer no celular e Alexa parecia vigiar os olhos da namorada.

   Ao final, Allyson estava feliz pelo diploma, mas nós, que acompanhamos toda a trajetória dela de perto, sabíamos e podíamos ver que ela estava um pouco decepcionada por não ter conseguido ser a oradora da turma.

   Ninguém tocou no assunto, afinal os pais dela estavam animados demais, assim como Caleb. Fomos para um restaurante com a família dela, somente à noite é que saímos sem os pais dela.

   — Pode confessar, você queria estar no lugar da Lucy. — Dinah foi a primeira a ter coragem de dizer.

   — Claro que não, meninas. Estou feliz por ela, que é minha amiga. — Allyson disse sorrindo, mas não era o sorriso habitual.

   — Ela está mordida por dentro, tenho certeza. — Dinah continuou.

   — Parem de criar coisas. Eu estou bem por ela ter sido a oradora da nossa turma. — A graduanda do dia disse enquanto mexia sua bebida com um canudo. Caleb, ao seu lado, apenas negava com a cabeça para nós.

   — Ser a oradora é realmente incrível. Eu vou ter essa chance. — Alexa disse, mas todos os olhares voltaram-se para ela em repreensão. — Mas... Bem... Não quer dizer que é algo importante, Hernandez. É só um discurso...

   — Ninguém presta atenção em discursos, Ally. —  Veronica disse.

   — Sim. Ninguém quer ouvir. — Alexa completou.

   Nós sabíamos que ela se esforçava para ser legal com todas nós, mas de uns tempos para cá temos notado que não é tão forçado quanto no início.

   — Ally, prometo que você poderá fazer o maior discurso da sua vida quando a Lauren e a Mila casarem.  — Normani disse por fim.

   Eu, que estava comendo algumas batatinhas, acabei engasgando e tossindo. Camila apenas deu alguns tapinhas em minhas costas, mas preferiu dar atenção às outras garotas.

   — Vocês farão discursos em nosso casamento?! — Minha namorada perguntou.

   Dinah deixou o copo sobre a mesa e bateu palmas.

   — Claro, Chancho! Somos amigas em comum de um casal. Isso merece discursos, mas o da Ally vai ser o maior. Ela merece. — Dinah disse piscando um olho para Camila.

   É claro que elas queriam melhorar o humor da graduanda do dia. Pareceu dar certo, já que Allyson sorriu largo.

   — Obrigada. Me sinto melhor, mas vou me sentir muito bem quando puder fazer o discurso no casamento das duas. Não demorem. Não fui a oradora da minha turma... Eu tenho bons discursos guardados, mas eu só tive cin-

   — Cinco votos. A gente sabe. — Dinah e Camila repetiram.

   Durante dias e mais dias nós todas fomos obrigadas a escutar Allyson lamentar sobre não ter conseguido prestígio suficiente para representar a sua turma. Sobre como 5 votos deixam uma pessoa para baixo.

   — Eu tive boas notas! Um bom estágio... — Ela continuou a falar. Certamente estava assim porque Dinah disse que ela precisava de alguma bebida alcoólica e ela aceitou.

   — E daí? Você não deve ter simpatia. — Veronica disse.

   — Eu tenho simpatia.

   — Mas tem um namorado e não ia às festas da sua turma. — Veronica disse para provocar Caleb, que apenas fez uma careta para ela.

   — Eu não tenho culpa sobre isso! — Ele se defendeu. — Eu falava que se você quisesse ir, podia ir com suas amigas.

   — Nunca se ofereceu para ir comigo! — Allyson reclamou.

   — Ally... Você nunca quis ir às festas. — Caleb disse, abraçando-a solidariamente.

   — Vocês têm razão... eu sou a culpada!

   — A gente te ajuda com a verdade, por isso somos amigas e por isso ele é seu namorado. A verdade ajuda muito. — Camila disse enquanto debruçava a cabeça sobre meu ombro, quase colando a boca em meu ouvido. ­— Tipo a verdade sobre nosso casamento... Eu vou querer esperar você no altar ou seja lá como se chama aquilo...

   Minha namorada já havia se alcoolizado além do necessário, o que significava que ela ficaria impossível pelo resto da noite/madrugada e eu é quem sofreria as consequências. Ou seria agraciada. Depende do ponto de vista.

   — Eu não vou comentar sobre isso. — Respondi. — Não vou.

   — Já está comentando... Imagina só, você toda de... Espera. Você não pode mais usar branco e nem eu!

   — Não vou nem reclamar sobre o assunto. Não vou.

   — Não vai ser pela igreja, então a gente pode usar branco sim... Você precisa de um vestido bem justinho... E então vamos sair da cerimônia direto para a lua de mel. Não quero festa.

   Revirei meus olhos e voltei a comer as batatas. Camila vinha falando muito sobre futuro e sobre casamento, principalmente quando ficava embriagada.

   — QUERO ANUNCIAR ALGO INCRÍVEL: A PARTIR DE HOJE TEREI UM GASTO DE ZERO DOLÁRES COM DENTISTA! EU AMO A MINHA AMIGA DENTISTA! — Dinah gritou, chamando um pouco de atenção alheia para nós.

    Todos nós, da mesa, erguemos nossos copos e brindamos.

   — Alexa, quando você se forma? — Normani perguntou após dar uma golada em sua bebida.

   — Nem pensem. Não vou fazer consultas gratuitas. Já falei isso hoje! — Ferrer respondeu.

   — Você sabe que ainda não foi perdoada por nós, não sabe? — Dinah perguntou.

   — Eu nunca pedi perdão. — Ferrer rebateu.

   — Como eu ia dizendo, é sua chance de se perdoar. — Dinah não iria desistir. — Garantindo consultas para nós.

   — Eu vou ser uma cardiologista!

   — Chancho, lembra que já senti algumas batidas estranhas em meu coração?

   — Sim. Você comenta sobre isso todos os dias... — Camila logo esqueceu o que estava falando e entrou na lorota de Dinah.

   — Vocês não estão fazendo isso... — Alexa disse suspirando logo em seguida.

   — Sabe o que mais ela diz? Que certamente vai precisar ir ao cardiologista. — Normani ajudou na encenação.

   — Preferia quando vocês evitavam falar comigo!  

   — Ferrer, garanta logo seu atendimento gratuito para nós.

   — É melhor você aceitar, elas não vão desistir. — Caleb falou por experiência própria.

   — Nós duas garantimos aulas de dança. — Normani disse por fim.

   E foi assim que conseguimos, também, atendimentos médicos emergenciais gratuitos, após uma insistência incansável.

   Nossa relação com a Alexa demorou a se tornar minimamente amigável, ela respeitou o trato de não entrar em nosso apartamento durante dois anos inteiros, mas então um dia Allyson precisou ir até o dormitório de Veronica para pegar uma bolsa que havia emprestado, mas Alexa estava lá e discutiu com ela até chegarem a um acordo: Alexa poderia ir ao apartamento uma única vez, em forma de “vingança”. E ela foi. Foi em uma noite de sexta-feira, Veronica e Normani haviam comprado bebidas alcoólicas, muitas verdades foram ditas e Alexa confessou se sentir infantil ao lembrar da sua adolescência. Quando já era madrugada, elas decidiram parar com as implicâncias e prometeram começar a agir de forma madura. Ou tentar.

   — Tudo bem. — Veronica disse animada após ver que sua namorada estava começando a se entender com suas amigas. — Mas quem ganhou a briga no baile?

   E esse foi o único assunto não resolvido. Dinah dizia que ganhou, Alexa negava isso. Até hoje as duas param para discutir sobre quem venceu a briga do baile.

   Hoje em dia Alexa frequenta nosso apartamento e vamos ao dormitório delas, quando é necessário. Ela faz parte de nossas saídas, inclusive pelo fato de ela ser de Miami também, temos algum tempo juntas ao voltarmos para a cidade.

    

FORMATURA: LAUREN E VERONICA.

“O tempo presente e o tempo passado

Estão ambos, talvez, presentes no tempo futuro
E o tempo futuro contido no tempo passado
Se todo o tempo é eternamente presente
Todo o tempo é irredimível
O que podia ter sido é uma abstração
Permanecendo uma possibilidade perpétua
Apenas num mundo de especulação
O que podia ter sido e o que foi
Tendem para um só fim, que é sempre o presente
Passos ecoam na memória
Ao longo do corredor que não seguimos
Em direção à porta que nunca abrimos
Para o roseiral.”

 

   Quando eu finalmente soube que minha formatura iria acontecer, acabei dando-me conta de que o tempo é, de fato, irremediável. Eu não tinha como discutir com o autor que disse isso, muito menos com a cantora que recitou trecho do poema em uma faixa de um álbum. Afinal, cinco anos se foram e chegaram, não posso mudar nada do que aconteceu e também não posso mudar o que vai acontecer porque assim que acontecer terá acontecido e vai sobrar apenas a angústia de que talvez pudesse ter sido diferente ou então a satisfação de achar que não poderia ter sido melhor.

   — Amor, posso levar uma faixa escrita: essa é a minha namorada? — Camila perguntou.

   Estávamos, nós duas, sentadas em um banco do Central Park com o Sparky ao nosso lado. Apenas não tínhamos nada para fazer, então sempre que não fazíamos nada, resolvíamos passear por lugares já conhecidos por nós. É claro que em cinco anos conhecemos diversos pontos da cidade, mas sempre acabávamos em nossos preferidos e o Central Park era um desses, principalmente por ter sido nele que fiz o majestoso pedido de namoro e obtive um “sim”.

   Eu gostava desse tempo irremediável e da ideia de o tempo presente e o tempo passado estarem presentes no tempo futuro, pois dessa forma eu sempre tenho em minha memória o dia em que Camila aceitou ser minha namorada ou terei sempre em minha memória. É apenas uma questão do passar de dias.

   — Não. — Respondi.

   Era outono e as árvores estavam do jeito que eu mais gostava. Elas ficavam nostálgicas quando cobertas por gelo, ficavam bonitas quando floridas, ficavam atraentes quando banhadas pelo sol, mas nada se compara a elas em uma indecisão sobre a morte das folhas e a vida delas. Como nós humanos. Sempre parecemos jovens para partirmos, mas o Oxigênio mostra, literalmente, na pele o avançar dos anos, mas a sua mente nunca avança e você não sabe quando vai, também não sabe até quando vai ficar.

   — E seus pais podem levar uma: essa é a minha filha? — Ela insistiu ao mesmo tempo em que eu esticava meus braços, passando um por seus ombros.

   — Hum... Melhor não. — Respondi deitando minha cabeça sobre o ombro esquerdo da minha namorada, que tinha o Sparky ao seu lado, no banco.

   — E suas amigas...

   Antes que ela pudesse completar a pergunta, coloquei meu dedo indicador sobre sua boca.

   — Camila. Namorada adorável e única que eu tenho. — Falei pacientemente, mas ela ameaçou morder meu dedo, então tirei ele dali.

   — E ama. — Completou ao virar o rosto para me encarar.

   Sorri e assenti. Camila acabou adquirindo a mania de me fazer falar que eu a amo sempre que uma oportunidade aparecia. Sei que ela já sabe que a amo desde quando eu não conseguia falar que a amava, mas ao mesmo tempo parece precisar que eu confirme todos os dias isso.

   — Sim. Eu te amo. — Respondi. — Mas vamos esquecer a ideia de faixas, certo?

   Ela soltou o ar pela boca, deixando que seus ombros caíssem.

   — Você não está animada com sua própria formatura.

   Apertei-a em um abraço de um braço só e beijei sua bochecha.

   — Eu estou... internamente. — Falei com a boca grudada em sua pele. — Você sabe que preciso estar feliz apenas por estar concluindo.

   Ela virou o rosto e colou nossos lábios brevemente.

   — Sei, sim. Ainda não acredito que você foi a única de nós a atrasar a formatura porque não conseguiu completar as matérias. Certamente foi falta de dedicação.

   Revirei os olhos e voltei a deitar minha cabeça sobre o ombro dela.

   — Você tem o prazer de falar sobre isso sempre, não é? — Perguntei.

   Camila adorava falar sobre como eu era a menos provável a atrasar o curso, mas consegui ser a única que atrasou. Eu não me orgulhava disso e minha namorada parecia não gostar mais ainda, mas eu entendia os motivos dela.

   — Preciso falar sobre isso. — Disse colocando sua mão sobre minha perna. — Fico pensando sobre nosso futuro e então quando tivermos nossa casa. Você vai simplesmente largar ou perder um emprego por falta de esforço? Eu não vou sustentar você. De forma alguma.

   Esses eram os motivos dela. O futuro meu, o futuro dela e consequentemente o futuro nosso. Eu não a culpava, realmente precisava de alguma motivação ou empurrões. Nunca escutava a maioria das pessoas, mas Camila tem um efeito enorme sobre mim, mesmo que isso ainda seja difícil de admitir.

   — Você já falou que não vai me sustentar, escutei minha mãe falar a mesma coisa por minutos seguidos e dias... Normani já decretou o mesmo, Dinah nem precisa falar, Allyson concordou e até Veronica! Eu errei uma vez... — Ela balançou o ombro em que minha cabeça estava apoiada. — Ok. Eu erro sempre, mas eu não vou errar quando precisar acertar.

   — Amor, não fale o que não pode cumprir.

   Ela tentou ser gentil, mas não tentou muito. Então preferi não responder. Ela estava certa e eu não iria rebater, apenas agradecia ao universo por ser Camila a pessoa destinada a passar uma vida comigo, não sei se outra pessoa teria tanto vapor para me motivar.

   O meu celular acendeu a tela notificando uma nova mensagem, rapidamente desbloqueei para ler.

   Estão vindo? Já estou esperando vocês no restaurante em que combinamos. – Mãe.

   Vão demorar muito? Por que nenhuma das duas atende o telefone?! – Mãe.

   Estou esperando a Camila. Preciso falar com ela urgentemente. – Mãe.

   — Eu vou tentar fazer o melhor para você e nós, tudo bem? Agora vamos logo. Minha mãe está enviando mensagens dizendo que precisa falar com você. — Avisei soltando-me dela e me levantando com a mão esticada esperando por ela.

   — Sobre sua festa de formatura? — Pareceu animar-se, logo segurou a minha mão e colocou o Sparky no chão, guiando-o pela coleira.

   — Namorada, não aceite nada do que ela propuser! — Avisei já sabendo que elas duas andavam conversando sobre o assunto, ainda mais com a minha família na cidade para a minha formatura que seria em dois dias.

   — Ok. Vamos logo. — Ela avisou começando a andar em minha frente, me puxando pela mão. — Clara precisa da minha ajuda e nós precisamos deixar nosso filho em casa antes.

   Calma.

   Eu sei que você deve estar com uma dúvida: QUANDO A CLARA E A CAMILA COMEÇARAM A SE ENTENDER?

   Posso explicar!

   Tudo começou no Natal seguinte ao que foi o pior Natal da minha vida.

   No ano seguinte ao acontecimento trágico, porém necessário, voltei novamente a Miami e percebi que tudo estava realmente bem quando vi minha mãe me esperando no aeroporto. Automaticamente sorri e Camila percebeu isso, então apertou a minha mão com a dela e me fez parar de andar.

   — Posso te abraçar ou isso é proibido?

   — Acho que podemos tentar. Todo mundo já sabe.

   Todo mundo realmente já sabia, inclusive os pais das nossas amigas. Ninguém pareceu se importar ou falar algo.

   Camila deixou o Sparky dentro do transporte para animais no chão, levantou-se passando seus braços por meu pescoço. Entrelacei a cintura dela com os meus e apertei-a contra mim. Eu não gostava da ideia de ficar alguns dias longe dela, mas sabia que era necessário. Ao menos tínhamos mensagens para trocar durante todo o dia e algumas ligações.

   — Por favor, se algo acontecer me conte. — Murmurou em meu ouvido. — Não esconda nada. Nunca mais.

   — Eu não escondo mais nada de você. — Garanti a ela.

   E isso era verdade. Eu acabei adquirindo a mania de contar tudo a Camila e consequentemente ela também me contava tudo. Eu sabia quando seus pais tinham alguma discussão, sabia sobre seu rendimento na universidade, sabia sobre as refeições, sobre qualquer dor que ela sentia, sobre uma unha que havia quebrado... Contávamos sobre nossos pensamentos que pareciam estranhos e sobre os alegres também. Foi uma necessidade que virou hábito e em pouco tempo algo natural.

   Sei que parece um pouco desnecessário e psicótico, mas o trauma daquele Natal foi o bastante para nós duas. A consciência de que eu poderia viver sem Camila me atingiu, mas o fato que eu prefiro viver com ela me atingiu ainda mais e eu preferi isso.

   Então, logo após o abraço Camila pegou o Sparky e se dirigiu para a sua família. Olhei para eles e recebi acenos, retribuí sorrindo e comecei a caminhar para a minha família. Meus irmãos sorriam para mim junto com o meu pai, mas a minha mãe, por incrível que possa parecer, não prestava atenção em mim. Parecia muito entretida com a família Cabello. Seus olhos não pareciam julgadores, apenas curiosos. Eu não podia culpa-la, ela precisava de algum tempo para lidar com tudo de uma forma natural.

   Nada foi comentado no primeiro dia em que passei com eles. No segundo também não ocorreu nada, somente no terceiro é que algo aconteceu.

   — Eu estava esperando você sugerir, mas pelo visto terei que ordenar. — Minha mãe disse ao colocar um pote de picles dentro do carrinho de compras.

   O mercado estava lotado, mas fui obrigada a leva-la lá, já que eu podia dirigir.

   — O quê? — Perguntei já cansada de tanto andar.

   — Quando você vai, por fim, apresentar sua namorada a sua família? — Perguntou tranquilamente, me fazendo engasgar.

   — É sério?

   Ela parou de andar e no mesmo instante parei de empurrar o carrinho. Virou-se para mim, me fazendo ficar um pouco tensa.

   — Está na hora de eu conhecer a Camila como minha... — Pareceu pensar. — nora, Lauren.

   — A senhora vai brigar com ela?

   — Não. Só quero conhecê-la.

   Estreitei meus olhos, ainda não acreditando naquilo.

   — Vocês já se conhecem, mãe.

   Eu não tentei impedir o encontro da minha família com a minha namorada, mas confesso ter ficado extremamente apreensiva.

   Minha mãe disse que eu deveria chamar Camila para o almoço do dia 25. Eu apenas aceitei e na noite do dia anterior, na qual encontrei Camila, avisei-a sobre o convite.

   — Precisamos conversar sobre algo. — Falei sem pensar.

   Camila paralisou com o presente que eu tinha acabado de entregar a ela em mãos.

   — Você vai terminar comigo novamente?

   Me senti culpada por não ter pensando antes de falar, não pretendia trazer memórias ruins.

   — Não! Não, Camila. Já falei que aquilo foi um erro e eu não vou cometer novamente.

   Ela suspirou e assentiu.

   — Ok... O que você quer falar então?

   — A minha mãe... bem... — Busquei uma forma de dizer, mas acabei tornando tudo ruim novamente.

   — Lauren!

   — Ela te chamou para almoçar com todos nós amanhã.

   — Eu e sua família em um almoço? — Ela perguntou com a boca aberta.

   — Sim.

   — Uou! Eu não esperava por isso tão cedo!

   — Nem eu.

   — Mas está tudo bem. Eu aceito. Não quero causar má impressão em minha sogra quando ela está tentando ter algum contato comigo. — Ela sorriu aproximando-se de mim e deixando um beijo em meus lábios.

   — Vocês têm um contato. — Falei com nossas bocas juntas.

   — Tínhamos. E agora vamos ter ainda mais porque vamos conviver meio que para sempre, sabe.

   Nesse momento eu entendi que Camila tinha razão, todos teriam que aprender a se dar bem.

   — Sei. Realmente precisam se dar bem.

   No dia seguinte eu acordei mais cedo do que estava acostumada a acordar, estava com medo de Camila chegar e eu não poder atender a porta de imediato. Por isso fiz tudo o que precisava fazer cedo e passei o meu tempo, a partir das 10h sentada na sala trocando mensagens, até que ela avisou que já estava chegando. No primeiro toque da campainha, corri para a porta, mas não pude nem cumprimentar a minha namorada, pois a minha mãe apareceu atrás de mim assim que abri.

   — Oi! — Ela me cumprimentou, trocando um olhar comigo como quem diz “não vou arriscar te abraçar na frente da sua mãe sob o teto dela”.

   — Oi, Camz. — Sorri rapidamente, dando espaço para ela passar.

  — Olá, senhora Jauregui. — Camila falou com um sorriso apreensivo, esticando a mão para minha mãe, que aceitou o cumprimento.

   — Olá, Camila. — Clara respondeu de forma simpática.

   Engoli em seco e fechei a porta assim que minha namorada entrou. O silêncio momentaneamente estabelecido gritava para que eu o quebrasse, então fiz isso da melhor forma que pude.

   — Mãe, essa é a Camila, minha namorada. Camila, essa é a minha mãe, sua sogra. Antes vocês se conheciam como... amiga e mãe da amiga, mas agora vocês ainda se conhecem, só mudou o... os vocativos mudaram, é isso. As pessoas, vocês, continuam as mesmas. — Falei rapidamente.

   Camila comprimiu os lábios, evitando um riso e minha mãe apenas soltou um “claro”.

   — Esperem um pouco, vou terminar o almoço e logo volto. ­— Clara avisou de forma cordial.

   — Tudo bem, mãe. — Avisei, querendo que ela saísse o quanto antes para que eu pudesse respirar.

   Assim que a minha mãe saiu para a cozinha, levei Camila até o sofá e segurei sua mão esquerda entre as minhas.

   — Amor, você está mais nervosa do que eu. Não precisa. — Tentou me acalmar.

   — Não estou nervosa... — Falei, mas minhas pernas balançavam de cima para baixo de forma quase que involuntária.

   — Não? E aquele discurso sobre vocativos foi o quê?

   — Estou tentando não deixar você nervosa. — Inventei.

   — Estou bem. — Apertou sua mão na minha. — Se algo der errado você pode começar a discursar enquanto eu fujo.

   — Tudo bem. Manter você viva é a nossa meta hoje.

   Provavelmente eu estava muito mais nervosa do que Camila naquele dia, mas nunca admiti isso.

   Por incrível que possa parecer, o almoço ocorreu bem. É claro que todos já se conheciam, mas apresentar a sua namorada para sua família é diferente de apresentar uma amiga. Apresentar uma amiga é como dizer indiretamente: vejam bem, essa é minha amiga e, se durar, vocês terão que atura-la pelo resto das vidas de vocês em algumas ocasiões. Já apresentar a sua namorada é como falar: entendam que ela vai ser a pessoa que vai dividir a parte ruim da vida comigo, seja a financeira e muitas outras. Ela também vai ser praticamente dessa família e vai estar nos momentos bons, também.

   Meu pai, de forma que me surpreendeu, interagiu com Camila menos do que a minha mãe. Camila não parecia estar nervosa ao conversar com eles, mas sempre que suas mãos deixavam os talheres sobre a mesa e desciam para as suas pernas, seus dedos buscavam pelos meus e então eu notava que ela estava sim nervosa, só estava sendo forte o bastante para mostrar aos meus pais que não havia chances de ela ir para longe.

   Tudo pareceu menos tenso quando o almoço terminou e meus irmãos resolveram roubar a cena enquanto estávamos todos na sala. Meus pais mantinham diálogos corriqueiros sobre a vida de Camila em Nova Iorque e consequentemente a minha e as das garotas.

   — Camila, lembra que falamos com você que separamos algumas fotos? — Chris perguntou, cortando o assunto sobre o aluguel ter aumentado um pouco.

   — Vocês estavam falando sério? — Minha namorada deixou um sorriso escapar.

   — Vou buscar. — Taylor disse e logo subiu.

   E na primeira vez em que minha namorada teve um almoço com a minha família, eu acabei tendo um constrangimento absurdo. Meus irmãos estavam falando sério sobre as minhas fotos de infância. Foi o que fizeram.

   Passei uma tarde escutando vários “own, Lauren!”; “olha só! Você sorria!”; “você era tão mais simpática mais nova!”; mas o pior foi quando ela deixou escapar algo que não deveria ser dito na primeira vez em que você encontra seus sogros.

   — Definitivamente precisamos ter um bebê vindo de você, amor!

   Ela estava distraída com uma foto, mas quando percebeu o silêncio, ergueu a cabeça e certamente entendeu o erro.

   — Eu quis dizer... Bem... Não. Eu não quis dizer isso, Senhores Jauregui. Eu só... — Tentou corrigir e eu não tentei ajudar. Não tinha nada a fazer.

   Minha mãe então olhou para o meu pai, sorriu de forma estranha e encarou Camila.

   — Netos no futuro?

   Tenho certeza que o comentário desnecessário de Camila conquistou a minha mãe. Depois daquilo, Clara passou a conversar muito mais com Camila e até a roubou de mim durante o tempo que ficamos em Miami. Era sempre “Camila vem hoje?” e quando era eu quem ia para a casa de Camila ela perguntava “Na próxima vez chame ela para cá”. Em um dos dias em que estávamos lá, minha namorada e eu fomos para o shopping com as nossas mães e eu guardei aquele dia como um dos mais estranhos da minha vida. Ter Sinuhe, Clara e Camila ao meu redor conversando de forma amigável e entre risos era incrivelmente assustador. Levei tempo para entender que tudo estava bem.

   Após deixarmos o Sparky sob os cuidados de Allyson e Caleb, já que Dinah e Normani não estavam em casa, fomos encontrar a minha mãe. Chris estava com ela, mas Taylor e meu pai tinham ido ver alguma coisa uma loja de esportes.

   — Camila, já conseguiu convencer a Lauren de uma festa? — Clara perguntou assim que chegamos.

   — Não, Clara. — Minha namorada respondeu, dando um abraço em minha mãe. Fiz o mesmo logo depois. — Ela não quer, de forma alguma e acho que fazer algo surpresa não vá adiantar. A sua filha é chata.

   — Desistam. — Avisei, sentando-me e procurando por algum cardápio, mas não tinha. — Quero pegar o meu diploma, voltar para casa e deitar na minha cama. Apenas.

   — Procurar trabalho também. Não esqueça. — Meu irmão falou, apenas para provocar.

   Após muita conversa, eu desisti de tenta debater qualquer coisa, mas elas não falaram mais sobre o assunto.

   Dois dias passaram e a minha família estava hospedada em um hotel. É claro que durante esse tempo coube a mim ser guia turística dos 4. Digo, coube a mim e a minha namorada, já que a minha mãe e o meus irmãos faziam questão da presença dela.

   — E foi bem aqui que a Lauren me pediu em namoro. — Camila mostrou o exato lugar, perto da árvore, onde fiz o pedido a ela.

   — Foi romântico? — Taylor quis saber.

   — Não exatamente, mas tenho certeza de que nunca vou esquecer daquelas palavras. — Camila explicou.

   Claro que escutei algumas reclamações sobre minha “falta de romantismo”.

   — Não fazemos muitos passeios, a Lauren reluta muito em sair de casa. Mas aqui é o zoológico em que trouxemos ela no primeiro aniversário que teve aqui. Dinah tem várias fotos, posso mostrar depois.

   E era basicamente isso todos os passeios: Camila falando sobre o quanto eu não sabia aproveitar a cidade em que vivia e minha família se aproveitando disso para reclamar um pouco mais. No entanto, minha namorada era uma ótima guia turística e isso era bom porque eu basicamente só a acompanhava.

   No dia da formatura, eu estava uma pilha de nervos, mas ter Veronica sentada ao meu lado fazendo comentários desnecessários tornou tudo melhor. A família de Veronica já conhecia Alexa, então todo mundo acabou sentando junto. Nossos sobrenomes foram chamados, dei o máximo de mim para conseguir não desmaiar ao receber meu diploma. A única forma de me manter calma foi conseguir gravar onde meus conhecidos estavam sentados e no meio da multidão eu busquei por ela.

   Eu não consegui ver muito, mas tive o vislumbre de seus olhos focados em mim assim como um sorriso. Podia ser alucinação minha, mas o que importa é que me ajudou. Quando tudo terminou, esperei por Veronica e então começamos a caminhar para longe do pessoal.

   — Lauren Michelle, olha aquilo! — Minha colega de classe disse rindo e apontando para a frente.

   ANTES TARDE DO QUE NUNCA! VERONICA E LAUREN.

   Era o que tinha escrito em um faixa. Uma faixa erguida bem alto, feita por inexperientes na arte da pintura, certamente.

   Revirei meus olhos, contendo um sorriso.

   Veronica correu para a família e namorada, que estava incomumente animada, enquanto eu fui recebida por meus pais, em seguida meus irmãos, para depois sumir em um abraço e grupo com mais quatro garotas.

   — Ela não reclamou sobre a faixa. Ally, pode abrir sua carteira. — Normani avisou e eu não me senti surpresa, pois durante todos esses anos elas ainda insistiam nas apostas.

   E não. Allyson nunca conseguiu ganhar delas duas.

   — Vocês devem combinar o resultado das apostas. Tenho quase certeza! — Brooke reclamou, fazendo Normani rir.

   — Se você não sabe apostar, deveria começar a desistir. — Dinah avisou, dando de ombros, desfazendo-se do abraço em grupo.

   — Gostou da minha ideia? — Escutei minha namorada falar.

   Meus olhos correram rapidamente as pessoas ao nosso redor, buscando pelo par de olhos castanhos. Seus lábios esboçavam um pequeno sorriso, que me fez sorrir e correr para os braços dela. Camila me envolveu em um abraço apertado como se soubesse que eu precisava daquilo. Acho que depois de 5 anos ela talvez suspeite que eu preciso dela muito mais do que demonstro.      

   — Você é irritantemente adorável! — Falei no ouvido da minha namorada.

   — Apenas com você, amor. — Respondeu, acariciando minhas costas.

   — Eu te odeio por ter feito isso, mas te amo por ter feito isso. — Confessei. 

   — Eu te amo, de forma incontável, por isso faço essas coisas. Mas te odeio, também. Por isso faço essas coisas. — Apertei fortemente em meus braços ao escutar isso.

   — Obrigada. Por tudo.

   Eu agradeci, mas não somente pela faixa. Agradeci por tudo o que Camila estava sendo até o momento da minha formatura. E não era pouco.

   — Não precisa agradecer. Você sabe, o que faço por mim, faço por você e por nós. E se inverter a ordem... você entendeu.

   Separei-me rapidamente dela e beijei-lhe a bochecha.

   — Você é a melhor namorada. Mesmo. — Falei.

   — Amiga, ela não gastou dinheiro sozinha. A gente existe. A gente fez e faz parte da sua vida, também. — Normani disse, interrompendo o meu momento, e fazendo a minha mãe concordar com ela.

   Camila deixou um beijo em minha bochecha e me soltou, dando espaço para Normani, que revirou os olhos para mim. Sorri para ela e abri meus braços, ela não negou.

   — Obrigada a todos vocês por essa vergonha pública. — Falei para todos que estavam ali, com o queixo sobre o ombro direito da minha amiga.

  

FORMATURA: CAMILA.

   E agora voltamos ao tempo atual. Ao final dos 2.190  dias desde que Camila falou comigo pela primeira vez.

   — Você está tão linda... — Falei, soltando um longo suspiro.

   Camila estava praticamente sendo engolida por aquela roupa preta enorme. Eu tinha uma mão em sua cintura enquanto ela estava encostada na parede de um dos prédios. Estávamos já no campus da NYU, apenas esperando um pouco mais de tempo para ela se reunir com a turma. Dinah, Normani e Allyson também estavam com a gente.

   — Só porque estou, literalmente, vestida de preto da cabeça aos pés. — Ela bufou, passando o dedo pela gola do vestido que eu usava.

   — Exatamente. Isso te torna extremamente adorável. — Concordei, mas na verdade ela ficava linda de qualquer forma. Eu não conseguia ver outra coisa a não ser beleza em Camila, mesmo depois de 7 anos olhando para ela incansavelmente.

   — Esperava uma palavra mais ardente. — Mordeu o lábio inferior provocadoramente.

   — Acidez... — Respondi no mesmo tom, mas ela apenas fez uma cara de tédio. — Estou brincando. Você está sexy.

   — Eu sei. Estou esperando ansiosamente nosso momento a sós para você me dar o meu presente. — Puxou-me pelo vestido, juntando nossos corpos.

   — Como você sabe que comprei algo para você? — Franzi o cenho.

   O cérebro interativo que eu comprei para ela estava bem guardado no quarto da Allyson, era impossível Camila saber sobre ele.

   — Não falei sobre esse tipo de presente, quero aquele tipo de presente... — Explicou.

   Estraguei a surpresa do presente, mas ao menos não falei que é um cérebro que desmonta e monta!

   — Ah! Tudo bem. Podemos resolver isso... depois. — Sorri observando o rosto da minha namorada, que agora tinha 24 anos e eu ainda sentia que eu  tinha 17 ao estar perto dela. — Deixa eu arrumar seu cabelo.

   Ela ainda tinha a mania de sair de casa e esquecer de pentear o cabelo ou de colocar o cachecol de forma incorreta durante o inverno. Ela continuava desastrada, mas eu continuava lá por ela, na mesma intensidade.

   — Você é linda quando arruma meu cabelo, sabia? — Perguntou, fechando os olhos e sorrindo enquanto eu deslizava meus dedos pelos fios castanhos.

   — A única linda aqui é você. — Respondi, descendo a mão que estava em seu cabelo para sua bochecha.

   — Amor, já falamos sobre isso. Você é a linda da relação. — Abriu os olhos.

   — Já falei que discordo. Você é esplêndida no que se trata de beleza.

   — Não estou reclamando, mas vocês conseguiram algo que eu realmente duvidei. — Allyson comentou cortando o nosso momento.

   — O quê? — Camila perguntou, passando seus braços por minha cintura e me abraçando.

   — Tornaram-se o casal mais enjoativo que já vimos. Não sei como ainda moro com vocês. — Dinah respondeu, fazendo Camila rir.

   — Seguiram a ordem inversa. Começaram com os insultos para então tornar tudo isso elogios e carinhos! ­— Allyson continuou.

   — Amigas, eu não queria dizer, mas isso certamente é uma afronta ao capitalismo. — Normani falou de forma preocupada.

   — Cabello, você deveria estar sentada com a sua turma. Não vão esperar a sua ilustre chegada. — Escutamos a voz de Alexa, que se aproximava com Veronica.

   — Obrigada por se preocupar em avisar. Eu já estou indo. Amor, me deseje sorte.

   — Vai tudo ficar bem e se ficar mal... — Ela me interrompeu.

   — Eu que te ensinei essas frases de efeito, não tente me enganar.

   — Tudo bem. Apenas vá lá e faça o seu melhor que pode ser o pior, mas pode ser o melhor. — Falei, deixando um beijo sobre a testa dela, para então segurar a sua mão e começarmos a andar.

   — Alguém pode confirmar minha teoria sobre o capitalismo? — Normani perguntou.

   — Qual teoria? — Veronica quis saber.

   — Camila e Lauren começaram o relacionamento pelo ódio e depois passaram para o amor. — A morena explicou.

   — O que o capitalismo tem a ver com isso? — Dessa vez foi Alexa quem falou.

   — Elas duas não vão precisar de mais do que uma casa e não vão precisar de advogados para um divórcio depois de casarem. — Minha amiga de infância explicou.

   — Nem vamos precisar pagar pensão para quem ficar com o Sparky. — Camila completou.

   — E os outros filhos... — Allyson disse em um sussurro.

   — Filhos humanos, Zangada! — Dinah disse animada.

   — Vou ver sua família. Tchau. — Falei para Camila e até adiantei um passo, mas ela me segurou pela mão.

   — É minha formatura, fique comigo.

   Eu fiquei.

   — Amigas, ter filhos é algo a favor do capitalismo? — Normani insistiu no assunto.

   — Não podemos fugir dele, Mani. — Veronica deu de ombros.

   — Kordei, você vive em um dos principais países capitalistas do mundo e quer encontrar algo não motivado por isso? — Alexa disse com a impaciência já comum dela.

   — Por que nunca me esclareceram isso antes?

   — Somos mais inteligentes que a Ferrer e não pensamos como ela. É isso. — Dinah explicou, da forma dela.

   Camila precisou se dirigir até o seu local de espera, junto com a sua turma, mas antes abraçou Dinah, que lhe disse palavras motivadoras o suficiente para ela ir com um sorriso.

   Então esperamos, como em todas as outras formaturas. Alejandro, Sinuhe e Sofi estavam sentados ao meu lado. Era estranho, ainda, para mim ter uma outra “família” além da minha e além da que eu me acostumei a ter em Nova Iorque, no apartamento. Camila, em uma das várias vezes que falamos sobre isso, confessou que demorou um pouco a se sentir parte integrante da minha família, porém foi só o tempo de adaptação. Ela dizia que eu deveria aceitar e entender que os pais dela e sua irmã estariam presentes comigo em forma de “família” em várias ocasiões no futuro.

   Eu somente não acreditava onde eu estava e com quem eu estava.

  Por isso, entender a minha realidade no momento foi difícil. Ver Camila recebendo o diploma foi uma das cenas mais lindas que eu já havia visto, tudo bem que ela ocupa a maioria dessas cenas, mas dessa vez eu fiz questão de fotografar. Eu precisaria lembrar daquilo, pois eu estava ficando mais velha a cada ano e, em uma conversa que tive com Alexa e Normani, descobri algo ruim.

   — Ferrer, qual a possibilidade de uma pessoa sem histórico na família ter Alzheimer? — Minha amiga perguntou em uma certa vez que estávamos no apartamento.

   — Algumas... — Alexa deu de ombros.

   E depois disso fiquei realmente com medo, Camila dizia que eu estava exagerando, mas eu não podia evitar os pensamentos, então comecei a registrar tudo o que parecia ser importante, fosse por escrito, digitado ou fotografado, eu precisaria de provas para mim mesma. Algumas semanas depois Alexa me procurou pelo campus e disse que eu não precisava me preocupar com Alzheimer, mas eu não confiava em médicos, não totalmente. Também suspeitava que Veronica é quem havia falado para ela contar aquilo.

   Como em todas as outras formaturas, saímos com os pais da pessoa do dia, no caso Camila. Após isso, voltamos para o apartamento e eles foram para o hotel em que estavam hospedados. A primeira coisa que fiz foi trocar de roupa, depois corri para o quarto de Allyson, peguei a caixa em que estava o presente e fui até a sala, onde Camila estava.

   — Vem comigo? — Pedi a ela. — Preciso entregar o seu presente.

   — Vou. — Respondeu sorrindo, já vestida em roupas simples.

   Abri a porta do apartamento, segurando o presente com cuidado, deixei Camila passar em minha frente e fechei a porta. Ergui minha mão esquerda, que estava livre, e ela aceitou.

   Guiei minha namorada para o terraço do prédio, através das escadas, em que morávamos. Já era noite e assim que passamos pela porta fomos recebidas por um vento gelado. O local era iluminado pelas luzes fracas que haviam ali. Não era muito frequentado.

   — Então, tenho um presente para você. ­— Falei, parando de frente para ela, que me encarava com curiosidade. — Ele vai ser essencialmente importante em sua vida.

   — É agora que você me pede em casamento? — Perguntou com um sorriso de lado, já sabendo a minha resposta.

   — Bem... Não tenho isso em mente... ainda... — Confessei, tentando não estragar o momento.

   — Ok. — Deu de ombros. — Eu já suspeitava, mas me mostra!

   — Aqui. — Entreguei a caixa de tamanho médio para ela.

   Assisti minha namorada sorrir enquanto sentia o peso da caixa, então ela balançou e franziu o cenho, achando divertido. Depois de muito suspense, ela abriu revelando o melhor presente que eu poderia ter escolhido. Ao menos dessa vez eu tinha verba suficiente para comprar algo legal, ao contrário do pior Natal de nossas vidas, em que eu entreguei o presente de Camila apenas no aniversário. Minha vontade era não entregar mais, até porque uma pequena luminária em forma de cérebro não podia ser comparada às pulseiras que Camila fez para nós duas.

   Sim. Ainda usamos as mesmas pulseiras durante todos esses anos.

   Enfim, eu entreguei a luminária fajuta e minha namorada disse ter adorado, mas nunca acreditei e então desisti de cérebros como presente. Porém ela estava se formando, era obrigatório que o cérebro voltasse.

   — Você quer que eu tenha uma coleção de cérebros? — Perguntou ao ver o cérebro interativo.

   Cocei minha nuca com medo de ela não gostar.

   — Sim! Você pode colocar em seu consultório, quando você tiver um. E nos momentos de tédio ou estresse você pode pensar “minha mente vai explodir!”, então você vai desmontar seu cérebro interativo e montar de novo! Mas acho que ele tem fins profissionais, também. Não sei. — Expliquei da melhor forma que pude.

   Camila riu, jogando seus braços ao meu redor, ainda segurando o presente.

   — Obrigada! — Beijou meus lábios. — Eu adorei. Vou carrega-lo comigo sempre.

   — Tem certeza? — Perguntei.

   Ela não respondeu, apenas juntou nossos lábios em um beijo calmo e talvez o primeiro beijo de verdade que tivemos no dia, que foi agradavelmente cheio. Rapidamente nossas bocas foram entreabertas, dando início a um beijo lento e profundo. Após anos trocando beijos, eu ainda não sentia que conhecia os beijos de Camila. Era sempre uma sensação de “Droga! Como ela beija bem!” ou então “Certamente não quero beijar outra boca nunca mais!”.

   Eu a amo e isso certamente traz todos esses pensamentos românticos, mas eu não tenho culpa se o amor é uma doença.

   Algum tempo depois, decidimos nos sentar ali mesmo no chão do terraço. Na verdade eu queria voltar para o apartamento e pegar algum lençol, mas Camila não permitiu.

   — Estou com medo do meu futuro. Nos filmes ele geralmente não é fácil, não profissionalmente. Você já reparou isso? — Perguntou, encolhendo-se em meus braços.

   A noite não estava estrelada, pelo contrário. Algumas nuvens cinzas faziam parte do céu.

   — Sim... Ninguém alcança o que planejou.  E acabam tendo uma rotina medíocre e... rotineira... — Comentei, abraçando-a enquanto acariciava seu braço.

   — Por favor, amor. Não desista de qualquer emprego que conseguir. — Praticamente implorou.

   Beijei o topo da cabeça dela querendo passar alguma segurança, mesmo eu não tendo nenhuma.

   — Camz, eu não poderei aceitar ensinar crianças! Me recuso a fazer isso, mas farei qualquer outra coisa. Não se preocupe.

   — Poderá sim. Seremos só nós duas, mais cedo ou mais tarde. Você pode aceitar o sacrifício de ensinar alguns adolescentes...

   — Acho que mais tarde. — Falei sincera. — Vai ser difícil a gente conseguir pagar um aluguel e contas sem a ajuda de nossos pais e sem dividir com mais três pessoas.

   — Realmente... tem comida, ração, veterinário.

   — Transporte...

   Camila grunhiu de forma decepcionada e afundou o rosto em meu peito.

   — Não vamos morar sozinhas nunca!

   — Eu já havia percebido isso, só não queria te acordar para a realidade. — Confessei dando dois tapinhas em seu braço.

   — Não vamos casar nunca.

   — Acho que essa a única parte boa. — Brinquei, pois eu já sabia que a união formal de nós duas acabaria acontecendo em algum momento. Eu já havia evoluído mentalmente sobre isso, verbalmente nem tanto.

   — Repita isso, Lauren e viva sozinha pelo resto da sua vida!

   Ela pareceu realmente se irritar, coisa que me fez rir.

   — Foi brincadeira! Eu estou tão olhos para cabelo de cobras com você que aceito qualquer coisa. — Declarei rapidamente inclinando-me para beijá-la, quando seu rosto virou-se para o meu.

   — Eu não hipnotizei você, você me ama. Só isso.

   O barulho da porta sendo aberta nos assustou, fazendo que nós duas virássemos rapidamente. Respiramos aliviadas assim que três rostos mais do que conhecidos apareceram.

   — Estamos interrompendo algo? Se sim, nos desculpem, mas estamos com problemas. — Allyson disse, aproximando-se de Normani e abraçando-a por causa do pouco frio.

   — Estou com crise de ansiedade. — Dinah confessou. — Eu sei que tenho um emprego, mas vocês não... Eu não quero que vocês voltem para Miami e eu fique aqui.

   — Vocês estão preocupadas a toa. — Tentei amenizar a situação.

   — Dinah, tem um emprego. Nós não, e eu, sinceramente, não quero voltar para Miami. Mesmo. — Normani explicou.

   Dinah era a única de nós que tinha conseguido se manter no estágio e ser efetivada. Normani era para estar, também. Mas pensou duas vezes e foi substituída, enquanto Dinah aceitou sem pensar.

   — Podemos começar uma maratona de entrega de currículos na próxima semana, o que acham? — Dinah sugeriu, de repente.

   — Entediante, mas necessário. — Respondi.

   — Vamos providenciá-los? — Allyson perguntou, parecendo ser a única animada.

   — Precisamos de uma gráfica. Somos profissionais agora. — Camila disse antes que o assunto fosse encerrado.

   E mais tarde, naquele dia fomos à gráfica mais perto que encontramos para fazermos currículos porque o tempo é irremediável e nós não teríamos mais tempo para esperar.


Notas Finais


DESCULPA PELOS ERROS. ELES SOMEM ALGUM DIA, que eu corrigir. ENTÃO, NÉ! A fanfic não ia ser mais postada, sabiam? Eu não tive coragem de anunciar, mas agora eu posso anunciar já que é passado hauhauahua. ENTÃO, NÉ! A história não foi alterada em nada, mesmo depois de acontecimentos dramáticos o suficiente para me fazer ficar AAAAA NÃO QUERO MAIS ESSE MUNDO DE FANFIC, mas passou porque tudo passa, ou não. E, assim, eu não tenho mais nenhum capítulo rsrsrsrsrsr isso nem é novidade, mas garanto que a partir do 59 vai ficar tãããããão legal... SÉRIO! Vai ser uma coisa meio IH QUE LEGAL! E serão capítulos menores porque vocês vão entender em algum momento que não é agora. VAMOS CONTINUAR? HEIN HEIN HEIN? Vai ser bem legal, ou não, mas talvez!


Aguardo algo como:
NÃO QUEREMOS MAIS POSTAGENS. PARE! mas aí eu vou continuar postando sozinha, pois a vida é assim.

QUEREMOS SABER SÓ O FINAL. vou continuar também.

AH. SERVE! certamente vou me sentir motivada!

Saudações!!!!!!!!!


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