Naquela manhã, Baekhyun havia falado sobre o livro que virou a noite lendo, por isso Chanyeol não ficou surpreso quando suas mensagens não foram respondidas. Imaginava que o autor estava dormindo. Contudo, ao acordar no dia seguinte ainda sem notícias do Byun, acabou se preocupando.
Pensou em ligar para ele, mas ficou com medo de acordá-lo, por isso foi trabalhar um tanto cabisbaixo por sentir falta de seu baixinho. Passou toda manhã disperso, fazendo o que era pedido em modo automático. Quando finalmente parou para comer, e viu que não havia nenhum sinal de Baekhyun, decidiu ligar para ele.
O número caiu direto na caixa postal.
Chanyeol não conseguiu conter a preocupação, mandando uma mensagem para Kyungsoo.
“Não consigo falar com Baekkie desde ontem, sabe se está tudo bem?”
“Me encontre no telhado quando voltar”
Foi a resposta do editor. Isso apenas deixou o Park ainda mais angustiado. Havia algo errado. Por isso engoliu a comida, voltando para o prédio o mais rápido possível e avisando ao Do que já estava no local marcado.
Não demorou muito para o editor abrir a porta, sua feição estava séria, como sempre, mas Chanyeol percebeu que havia algo diferente. Ele parecia cansado, preocupado, deixando o Park ainda mais aflito.
— Kyungsoo? Está tudo bem?
— Seria mentira dizer que sim. — ele se apoiou na grade de proteção e massageou a têmpora. — Preciso conversar com você sobre algumas coisas.
— Baekhyun está com problemas? Ferido?
— Baekhyun está fisicamente bem.
— Fisicamente?
— Sim, mas ele não está bem no geral, ontem a noite teve uma crise de ansiedade e está descansando. Passei a noite no apartamento e Jongin decidiu ir trabalhar apenas na parte da tarde para observá-lo essa manhã.
— Crise de ansiedade? O que houve? Por isso que ele não atende?
— Não sei se o celular dele está desligado ou só acabou a bateria… — Kyungsoo encarou o motoboy. — Ainda não descobriram que é você, pelo jeito.
— Como assim? — Chanyeol estava cada vez mais confuso.
— Saiu uma matéria em um site sensacionalista…. — o editor pegou o celular, abrindo os prints da matéria para Chanyeol ler. — Caso alguém te reconheça eu peço que não diga nada, se insistirem apenas fale que foi instruído a não comentar sobre o assunto, ok? A editora está cuidando da imagem de Baekhyun. De qualquer forma, acho difícil te reconhecerem.
O Park ficou em silêncio enquanto absorvia o que havia acontecido. Baekhyun estava mal desde seu encontro com Luhan, se lembrava como o escritor ficou abatido ao lembrar do que aconteceu em sua adolescência. Não sabia o que havia acontecido, mas sabia que ainda o machucava. E aquela matéria só enfatizava que havia algo errado em amar alguém do mesmo sexo.
Chanyeol sentiu o coração pesar com aquilo.
— O que quis dizer com crise de ansiedade?
Assim como Jongin, o Park nunca havia visto Baekhyun em seus dias de maior desespero.
— É difícil explicar, apenas consigo dizer que ele não está bem, emocionalmente falando, já estava disperso há uns dias e ontem, quando soube dessa matéria foi como a gota d'água.
— E também teve aquele encontro.
— Como assim? — Kyungsoo quis saber.
— Quer dizer, não sei se Baekhyun te contou mas alguns dias atrás enquanto saía do meu apartamento, nós encontramos meu vizinho e o namorado dele… Baekhyun saiu correndo e eu não entendi o motivo, então corri para encontrá-lo e depois ele me contou, o namorado do meu vizinho se chama Luhan, o mesmo garoto que ele namorou na adolescência, o que o abandonou.
— Oh, céus...
Kyungsoo havia chegado a mesma conclusão que Chanyeol. Provavelmente para Baekhyun estava acontecendo novamente o mesmo de anos atrás, ele estava com medo do abandono, do julgamento.
— Eu preciso vê-lo, Kyungsoo.
— Eu não sei se é o melhor, Chanyeol, talvez devesse esperá-lo te responder.
— Mas e se ele pensar que eu o abandonei?
— Continue ligando para Baekhyun e em algum momento ele vai te atender, tenho certeza disso.
O Park ia rebater, mas seu celular tocou, informando que o horário de almoço havia acabado, ele passou a mão no cabelo de forma ansiosa, preocupado com seu escritor. Kyungsoo apertou seu ombro e voltou para o prédio, prometendo que tudo ficaria bem, mas Chanyeol não conseguia ter aquela certeza.
(...)
O dia passou sem que o Park conseguisse tirar Baekhyun de sua cabeça por um segundo sequer. Então nem se surpreendeu consigo mesmo ao parar a moto em frente ao prédio do escritor. Não planejou ir até lá, apenas foi.
Amava-o, tinha entendido isso, e por isso queria ajudá-lo. Não conseguiu falar com o Byun o dia todo. Mesmo quando o celular do outro voltou a tocar — ao invés de ir apenas para caixa postal — nenhuma ligação foi atendida.
Estava tarde e, em tese, deveria ir para casa descansar. Era sexta-feira e sua prova seria no domingo. Contudo, era impossível deitar a cabeça e dormir sabendo que Baekhyun não estava bem. Não entendia ao certo o que havia acontecido com ele, mas queria entender, queria que ele soubesse que estava ali, ao lado dele, e não fugiria.
Não soube quanto tempo ficou parado em frente ao prédio, pensando sobre Baekhyun, sobre a situação no geral. De certa forma era sua culpa, ele havia sugerido que saíssem naquele dia. Por outro lado não era a primeira vez que reconheciam Baekhyun na rua, e mesmo se não fosse naquele dia, em algum momento alguém veria os dois juntos. E o que aconteceria então? Não se importava em ficar em casa com o Byun, nem um pouco, mas ele parecia tão feliz nos passeios que faziam juntos. Só queria vê-lo sorrir com mais frequência.
— Hey… — a voz cansada de Jongin chegou aos ouvidos de Chanyeol, fazendo-o se assustar.
— Olá!
— Veio ver o Baekkie.
— Sim, Kyungsoo me contou o que houve, estou preocupado. — o Park suspirou e olhou de esguelha para o Kim. — Voltando só agora?
— Fui trabalhar mais tarde hoje, e demorei por passar em um restaurante para comprar nosso jantar. — Só então Chanyeol reparou nas sacolas na mão do outro. — Baekhyun não saiu do quarto desde que Kyungsoo o acalmou ontem de noite.
Ambos se voltaram para a janela do quinto andar, cada qual com seu pensamento, mesmo que fosse sobre a mesma pessoa.
— Vamos.
Jongin adentrou o prédio sendo seguido por Chanyeol, eles andaram em silêncio até o apartamento. Ao abrir a porta, Jongin foi até a cozinha para deixar a comida, já o Park deixou suas coisas na sala, como sempre.
— Baekhyun? — chamou baixinho.
Esperou por um momento, mas não obteve resposta. Foi até a porta de seu quarto. Algo doeu em seu coração. Era a primeira vez que chegava na casa e não recepcionado pelo sorriso feliz de seu baixinho. Baekhyun sempre vinha correndo vê-lo. Bateu duas vezes na porta, mas não teve resposta.
— Baekhyun? Vou entrar.
O quarto estava escuro, mas conseguiu ver o amontoado do edredom. Baekhyun estava de costas para ele, então seguiu até a cama, sentou ao lado dele e acariciou os fios loiros. O cabelo estava uma bagunça e os olhos inchados com enormes olheiras, deixando claro que havia chorado bastante e dormido pouco.
O olhar de Baekhyun estava vidrado em algo que Chanyeol não conseguia ver.
— Hey, Baek… — chamou, e o menor virou o rosto em sua direção. Via-o, mas ao mesmo tempo não via nada. O olhar opaco fez o coração do Park afundar. — Hey, estou aqui.
Baekhyun ouviu a sentença, mas não conseguiu assimilá-la. Chanyeol estava ali, não estava sozinho, muito menos havia sido abandonado. Então por que a sensação de vazio continuava em seu peito?
Chanyeol estava ali, bem ali, ao alcance de seus seus dedos. Tocou na mãos que o acariciava e o maior sorriu.
— Olá…
— Oi. — Chanyeol sorriu.
— O que faz aqui?
— Como assim? Vim te ver, oras. — respondeu de forma brincalhona, mas Baekhyun não sorriu.
— Não precisava, não queria te atrapalhar.
— Você nunca me atrapalha.
— Tem uma prova importante em breve, Chanyeol, precisa focar nisso.
— Mas tenho tempo para você também, é claro… — respondeu, mas percebia que mesmo ouvindo o que falava, suas palavras não alcançavam Baekhyun.
Ficaram em silêncio por um momento, com o Park fazendo carinho no escritor que se encolheu um pouco mais, gostava do toque mas não sabia como reagir a presença de Chanyeol naquele momento. Doía, tudo doía. Não fazia por mal, só… queria pensar sozinho.
— Jongin trouxe comida.
— Não estou com fome.
Novamente ficaram em silêncio, Chanyeol sentiu o peso de tudo que havia acontecido nos últimos dias. O encontro com Luhan, a foto da matéria sobre eles, não conseguia deixar de pensar que era sua culpa.
— Desculpe.
— Por quê? — Baekhyun quis saber.
— Por tudo, eu não sei.
— Não precisa pedir desculpa.
— Mas quando encontrou Luhan…
— Chanyeol? Por favor, não quero falar sobre isso.
— Acho que seria melhor se simplesmente conversasse com ele, se deixasse para trás as coisas que ele te fez, nada vai ser igual ao passado! Eu estou aqui agora.
O menor fechou os olhos com força, não conseguia, os sentimentos dentro de si ainda estavam conflitantes. Se afastou do carinho de Chanyeol, sentando-se na cama.
— Está aqui agora, e depois? Não pode me fazer promessas que nem você sabe se vai cumprir… — sua voz não era raivosa, o contrário, era tão quebrada que o Park sentiu doer um pouco mais em seu peito.
— Eu não vou a lugar nenhum, não quebro minhas promessas!
— E se não passar no teste? Acabou de falar que não quebra suas promessas, então vai embora se não passar?
— É diferente, eu não vou te abandonar como ele.
— Pare de falar de Luhan! — Baekhyun explodiu, colocando as mãos sobre o rosto.
— Baekkie…
— Vá embora, Chanyeol, por favor, preciso ficar sozinho.
— Mas…
— Eu estou implorando, pare de me prometer coisas que depois vão nos magoar, não é mais fácil só… — as palavras morreram e os dois se encararam.
Era mais fácil só deixar para lá, esquecer, era o que quis dizer. Baekhyun voltaria ao seu isolamento, Chanyeol para sua vida e sonhos.
Sim, era fácil. Mas não era o desejo de nenhum dos dois, eles não queriam seguir o caminho fácil. Chanyeol viu todo o sofrimento nos olhos de Baekhyun e se assustou. Assustou-se com a intensidade daquela dor, daquela angústia. Nunca tinha visto a parte mais quebrada de Baekhyun. Levantou-se.
Não adiantava falar. O Byun não lhe ouviria, forçá-lo a conversar naquele momento só o machucaria ainda mais, e tudo que o Park menos queria era deixar mais uma cicatriz naquele que tanto amava.
Chanyeol deu a volta na cama, sentindo-se inútil. Queria ajudar Baekhyun, mas não tinha ideia de como. Sentiu vergonha de si mesmo, havia verdade nas acusações do menor. Não poderia fazer promessas a ele. Tinha todo o desejo de ficar ao seu lado, mas como poderia fazê-lo entender aquilo? Como manter promessas que sequer ele mesmo tinha certeza?
— Me ligue assim que quiser conversar, ou me ver, ou para qualquer coisa, por menor que seja. Vou esperar até que queira me ver.
Kyungsoo estava certo, não deveria ter forçado sua presença a Baekhyun daquela forma. Chanyeol suspirou, parou perto do corpo encolhido de escritor, ele não olhava em sua direção, por isso se inclinou, beijando a testa do menor com carinho. Percebeu naquele momento como ele estava. Sentado na cama e abraçando as próprias pernas. Chanyeol havia desenhado-o naquela mesma posição, no dia, ele disse que fazia isso para tentar se manter inteiro. Doía. Doía muito vê-lo tão vulnerável e não conseguir juntar cada parte de seu ser e colar por ele.
— Eu não vou a lugar nenhum, Baekkie, estarei te esperando. — Enfatizou, antes de sair do quarto.
Juntou suas coisas e seguiu em direção a saída ainda pensativo sobre tudo. Jongin cogitou perguntar como havia sido a conversa, mas a careta de dor tão explícita em Chanyeol já lhe dizia tudo.
— Não desista dele, Chanyeol. — foi tudo que Jongin pediu e o Park olhou-o seriamente antes de responder:
— Jamais desistiria.
(...)
Aquela tarde de sábado foi deprimente. Chanyeol havia se acostumado a presença Baekhyun em seus finais de semana. Ver filmes com ele, fazer o almoço ou simplesmente deitar ao seu lado e conversar sobre tudo.
Chanyeol se virou na própria cama, vendo a roupa pendurada — já lavada e passada — para a prova no dia seguinte. Seus pensamentos voavam entre os medos sobre o futuro, sua prova prática e Baekhyun.
Bagunçou o cabelo, os cachos rebeldes caindo sobre o rosto. Decidiu se levantar e tentar fazer algo para comer. Não poderia se dar ao luxo de passar mal. Passaria na prova! Era uma promessa para si mesmo, para que pudesse dar todas as certezas necessárias ao escritor.
Olhou o celular, não havia nenhuma mensagem. Suspirou. Baekhyun precisava de seu tempo, mas não conseguiu se frear ao abrir a conversa com ele. Sorriu com o conteúdo. Eles se falavam com tanta frequência, no entanto havia uma lacuna de alguns dias sem resposta por parte do Byun.
“Se estivesse aqui em casa brigaria comigo por estar jantando besteiras. Espero que esteja melhor.”
Mandou a mensagem de texto. Todo dia enviava uma. Tinha medo de estar sendo insistente, mas por outro lado não queria que Baekhyun pensasse, sequer por um segundo, que seria deixado de lado.
Pegou um macarrão instantâneo e fez rapidamente, comendo em pé mesmo, apoiado na pia. Talvez por ainda estar na cozinha, Chanyeol conseguiu ouvir a voz alta de Sehun discutindo alguma coisa com Luhan no corredor, a porta ao lado foi aberta e logo as vozes sumiram. Eles haviam acabado de chegar.
O Park tentou conter o impulso, comer seu macarrão sem gosto e voltar a deitar. Entretanto, não conseguia deixar de pensar no outro lado da história. Não que estivesse defendendo Luhan, mas Baekhyun nunca contava com precisão sobre o passado e, talvez, se soubesse um pouco mais sobre o contexto do que aconteceu antes, encontraria uma forma de ajudá-lo no presente.
Sem sequer trocar o pijama o Park deixou a tigela sobre a pia e seguiu até a casa ao lado, dando dois toques na porta. Sehun não demorou a atender, estranhando ver o amigo tão sério
— Posso falar com Luhan por um momento, Hunnie? — perguntou antes mesmo do Oh se manifestar.
Sehun ficou ainda mais confuso, mas assentiu, dando passagem para Chanyeol entrar. Luhan estava saindo do quarto, e o sorriso em seu rosto morreu assim que colocou os olhos sobre o vizinho. O coração acelerou, sabia que em certo momento seria confrontado, estava esperando por isso.
— Luhan… — começou, mas não sabia ao certo o que dizer.
— Baekhyun está com você? — perguntou e Chanyeol negou. — Ele nunca mais vai querer me ver, certo?
— Luhan, preciso que me conte o que aconteceu.
— Baekhyun não contou?
— Mais ou menos, você não deve saber, mas o Baekkie mudou muito com o passar dos anos. O cara que eu conheço não se parece em nada com o que você conheceu, pelo menos, o que Jongin me contou do passado dele.
Luhan não entendeu, mas sentou no sofá chamando Chanyeol para fazer o mesmo. Sehun foi para cozinha, ele estava curioso sobre aquela parte da vida de seu namorado. Não havia pressionado para que lhe contasse nada, Luhan parecia terrivelmente culpado ao falar sobre Baekhyun no dia em que se encontraram.
O ator estava com uma roupa elegante na mão, provavelmente um de seus figurinos já que faz parte de uma companhia de teatro. Ele respirou fundo, sentindo todas as emoções do passado, de quando era um adolescente mimado e inconsequente, voltarem a si.
— O sonho de Baekhyun sempre foi ser escritor, eu tenho todos os livros dele. — começou, os olhos perdidos em um ponto da sala, mas sem realmente ver nada pois estava preso nas lembranças. — Eu o conheci por isso, fiquei curioso com o garoto que todo dia estava na biblioteca da escola, lendo um livro diferente e escrevendo em seu caderno pelos corredores. Éramos de turmas diferentes, mas tínhamos um período vago no mesmo horário. Nos aproximamos relativamente fácil, foi ele que puxou assunto comigo ao me ver com um livro de romance que ele já tinha lido. Admito que eu peguei de propósito porque eu tinha o visto com aquele mesmo livro semanas antes. Ainda era o começo do ano letivo e nós dois sempre nos encontrávamos na biblioteca ou no intervalo, com o tempo começamos a sair para passear depois das aulas, era tudo muito inocente, sabe? Baekhyun era sempre animado quando falava das histórias que criava em sua cabeça, e eu adorava ouvir cada uma delas. Eu não sei dizer com precisão quando nos apaixonamos, só lembro que era um dia de chuva e eu estava no quarto dele, Baekhyun morava com o pai na época e ele sempre chegava tarde do trabalho, por isso passamos a tarde conversando sobre livros, jogando e comendo besteira, como qualquer adolescente. Até que eu pensei “não aguento mais, eu preciso beijá-lo”, acho que ele pensou a mesma coisa pois quando eu me virei em sua direção, Baekhyun também se virou na minha também e nós sorrimos, eu soube ali que era recíproco.
Luhan parou a narrativa, ele olhou ao redor. Chanyeol estava com cenho franzido, tentando colocar lado a lado aquelas duas versões de Baekhyun. O escritor que conhecia e o garoto risonho que Luhan e Jongin tanto falavam.
— Nós começamos a namorar escondido, eu temia minha família e ele a dele. Não tanto o pai, mas a mãe de Baekhyun era uma…
— Pessoa muito desagradável, eu sei. — Chanyeol disse.
— Eu ia falar uma megera sem coração, mas desagradável também serve. — Luhan continuou a narração. — Foram meses incríveis, sabe? Baekhyun foi meu primeiro amor, tínhamos a intenção de fazer faculdade juntos, ele voltado à literatura e eu à arte cênica, mas no final do primeiro ano nos descobriram. Viram que estávamos nos beijando na escola. Meus pais ficaram… Eu nem gosto de lembrar, meu pai ameaçou processar o colégio se aquilo vazasse, ele fez um escândalo, disse que estavam difamando o nome de sua família. Eu tentei confrontá-lo uma vez, falei que amava Baekhyun e que não ia desistir dele. Veja bem, nós prometemos um ao outro nunca deixar nada nos separar, mas meu pai me trancou em casa por uma semana, sem celular, sem como me comunicar com Baekhyun e me deu uma sentença, se eu continuasse com ele tudo meu seria tirado, eu iria para um colégio interno e quando fosse maior de idade seria deserdado, adeus faculdade, adeus sonhos, adeus vida. Era uma escolha, ou meu namorado ou meu futuro. Eu escolhi ser covarde, mudei de escola e fingi nunca ter conhecido Baekhyun. Sabia que em breve ele ficaria bem, o pai de Baekhyun era um cara incrível, eu desconfiava que o senhor Byun sabia sobre nós dois porque sempre me chamava para jantar com eles. A vida dele seguiria em frente sem mim. Baekhyun tinha pessoas que o amavam e apoiavam, eu não, eu tinha apenas ele mas escolhi a minha vida vazia. Baekhyun merecia alguém melhor do que um covarde como eu.
Luhan levantou os olhos para Chanyeol, e o Park percebeu uma frieza que nunca viu antes. Algum tipo de sentimento que os ligava, Baekhyun e Luhan, que os consumiu ao longo de todos aqueles anos. O medo e abandono de um entrelaçado ao sentimento de remorso do outro.
— Baekhyun os perdeu, todos eles. — Chanyeol sussurrou.
— Como?
— O pai de Baekhyun morreu em um acidente mais ou menos nessa mesma época e Jongin foi mandado para o Japão para estudar, o pai dele não o queria perto do Baek depois de descobrir sobre vocês. Ele ficou…
Luhan arregalou os olhos e balançou a cabeça. Aquilo apenas fazia com que a culpa sobre os ombros do ator pesasse duas vezes mais. Ele ficou sem o pai? Sem o melhor amigo? O que havia sobrado?
— Ele foi morar com a mãe?
— Sim, e ela não deixou que mudasse de escola.
Aquela expressão de dor fez o Park perceber que parte de Luhan entendia o que tinha acontecido. Sozinho. Baekhyun havia ficado completamente sozinho.
— Eu não sabia disso.
— Ele se tornou uma pessoa fechada e reclusa por isso.
— Me desculpe.
— Não precisa pedir desculpa a mim, Luhan. — Chanyeol tentou não soar rude, mas suas palavras saíram mais secas do que pretendia.
— Ele nunca vai querer me ver, mas…
— O quê?
— Se eu fizer uma carta, você pode entregar a ele? Não precisa ser agora, pode ser daqui a um mês, um ano, não sei, no momento que ele quiser ler.
Chanyeol pensou um pouco sobre aquilo e assentiu. Quando o momento fosse propício entregaria a carta para o Byun. Tinha fé que em ele voltaria a responder suas mensagens e logo os dois estariam juntos. Não desistiria de Baekhyun e o ajudaria a passar por todas aquelas adversidades.
Sehun olhou o namorado, eles volta e meia brigavam pelo fato de Luhan nunca o apresentar a sua família ou sequer mencionar algo relacionado aos pais. Agora entendia, Luhan não estava o escondendo por vergonha. Ele o escondia por medo.
— Ok, assim que terminar de escrever eu te entrego a carta, obrigado por me ouvir Chanyeol, eu sei… — ele engoliu em seco. — Eu sei que isso não muda o passado, mas eu realmente amei Baekhyun, e minha atitude covarde em parte foi por pensar que ele estaria melhor sem mim.
— O problema, Luhan, é que não cabia a você decidir sozinho o que era melhor para Baekhyun. — Chanyeol respondeu e olhou Sehun, sabendo exatamente os pensamentos do amigo, os dois já tinham conversado sobre relacionamento conturbado que do mais novo com com o ator. — Não cometa os mesmos erros novamente. — advertiu, saindo do apartamento.
Luhan se encolheu e olhou para o namorado, que havia ficado quieto todo tempo, mas havia o peso da dúvida ali. Luhan percebeu as aflições de Sehun sem que ele falasse nada, mas não precisa, pois seus olhos gritavam a pergunta: será que em breve ele me deixará também?
(...)
A prova prática era extensa e dividida por duas partes. Primeiro havia os rascunhos, no qual os candidatos mostraram seus conhecimentos técnicos de acordo com o que era pedido. A segunda parte consistia, é claro, em um desenho. Ficava a critério do artista qual a melhor forma de se expressar, o método usado para desenhar, mas todos teriam o mesmo tema.
Chanyeol havia perdido a noção do tempo. Os dedos doíam ao final da primeira fase, ao mesmo tempo sentia-se satisfeito consigo mesmo por ter se preparado e aperfeiçoado suas técnicas.
Estava em um intervalo e seu coração disparava no peito. Seriam chamados para segunda parte apenas os melhores. Confiava em seu potencial, mas não sabia o nível de quem estava ali. Quer dizer, sabia que todos eram muito bons para terem chegado até a segunda fase da admissão, contudo, não poderia cair no erro de se comparar a ninguém. Tinha seu valor e estava apostando nisso.
Olhou o celular, ainda não havia nenhuma mensagem de Baekhyun, e a saudade que sentia do seu pequeno chegava a ser esmagadora. Kyungsoo e Jongin ligaram naquela manhã, ambos para desejar boa sorte e falar que Baekhyun estava melhor. Não sabia se eles apenas queriam tirar um pouco de sua preocupação naquele dia tão importante ou se o escritor realmente tinha melhorado.
De qualquer forma, mandaria uma mensagem para o Byun ao fim do dia, contando como foram os testes. Aqueles esboços que fez na primeira fase da prova remeteram o Park ao começo de tudo, aos desenhos que fazia e deixava entre as folhas do livro de Baekhyun.
Ele sorriu com aquilo, ganhando ainda mais força e determinação.
Tomou um café para passar o tempo e, meia hora depois, começaram a chamar os nomes para a segunda parte da prova prática.
— Park Chanyeol.
Um suspiro de alívio escapou de seus lábios ao se levantar e seguir até o local indicada. Foi orientado a se sentar de frente para um cavalete com a tela em branco, como os outros candidatos.
Assim que todos entraram, os orientadores começaram a falar sobre a prova, tempo de duração, as regras e o que esperavam de cada desenho.
— Dito isto, podem começar a última fase da prova. O tema deste ano é: O que me inspira.
Chanyeol ofegou. O que o inspira? Não soube dizer.
Milhares de coisas e ideias vieram a sua mente, ao mesmo tempo nenhuma delas parecia certa, nenhuma parecia boa o bastante. Tinha que mostrar o melhor de suas técnicas para os avaliadores se quisesse passar naquela prova. Precisava passar naquela prova. Por um segundo fechou os olhos com força, sem conseguir tomar uma decisão sobre o que desenhar, sobre como mostrar o que sabia fazer.
Pensou que o desespero tomaria conta de si, que estragaria tudo mais uma vez. Não poderia deixar isso acontecer!
O que o inspira?
Como uma brisa suave, o som da risada de Baekhyun ecoou em sua cabeça fazendo todo corpo de Chanyeol relaxar. Imagens voltando à sua memória. O dia que andou de mãos dadas com Baekhyun sob a lua bonita. Vê-lo sentado e sério em sua sacada na antiga casa. Ele deitado ao seu lado assistindo um filme qualquer em seu quarto. Baekhyun adormecido, ainda sentado em sua mesa de trabalho, com o rosto apoiado nos braços e uma bagunça de papéis ao seu redor, eram rascunhos de seu livro e desenhos do Park.
“Seus desenhos me inspiram” — Baekhyun lhe disse certa vez.
Então Chanyeol lembrou o que o inspirava. Não eram apenas técnicas de desenho que precisava expressar ali, eram todos os sentimentos que tinha pela pintura. Talvez por isso nunca tenha passado, pois nunca entendeu o que precisava, de fato, fazer. Sempre seguiu as regras, nunca o coração.
O Park respirou fundo, depois deu um sorriso sereno e começou a desenhar o que mais lhe inspirava. O amor. E a personificação de seu amor se chamava Byun Baekhyun.
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