Assim que entrei no carro, fui recebida da melhor maneira possível, um beijo. Não daqueles rápidos e inexperientes, onde os parceiros quase se engolem, na verdade eu poderia comparar este aos dos filmes que a Thais gosta de assistir. Olhei bem pro rosto dele, querendo ver cada detalhe que nasceu e permaneceu nesses anos em que não nos vimos. O cabelo vermelho-cobre ainda caía pelos ombros, compridos e bem tratados como sempre, ele não havia cortado, acho que porque eu disse que caso ele cortasse esse cabelo maravicherry, eu cortaria outra coisa dele também. O sorriso fino estampado no rosto e os olhos escuros bem separados.
- Acho que temos muito pra conversar...- Falou rindo. Ah saudade dessa risada e desses cabelos cor de ouro que me deixa lou...tá, parei.
- Realmente, mas comece por você, como foi tudo? Era como esperava, como sonhou esses anos todos?
- Bom...começando...- E ele foi me contando. Tantos risos, tantas situações, comecei a imaginar Iuri em outra cidade, seria até cômico se não fosse trágico. Iuri me contou do lugar onde ficou, de como se resolveu com tudo, mas pelo visto a comida não foi problema pra ele, já que se deixar ele come até o reboco da parede.
Mas o que ele mais me contou com certeza foi sobre o garoto com quem fez amizade. Esse menino de quem ele falava tinha tantas qualidades e sabia de tanta coisa que me parecia um santo, e eu até diria isso a ele se Iuri acreditasse nesse tipo de coisa.
- Matheus me ajudou muito em tanta coisa...
- É, isso eu já percebi.- Assim como percebi também meu gênio difícil atacando. Por que raios eu já estava me irritando? Iuri só estava me contando do amigo! Seria mesmo só amigo? Ficamos longe um do outro muito tempo, quem nos garantiria?
- Amor? Tá pensando em que? Ficou quieta do nada.- Não Iuri, eu estou quieta desde o momento que você abriu a boca pra falar desse Matheus.
- Nada não, só cansada do vôo.
- Logo estamos em casa, aí você vai descansar.- Sorriu e passou a mão no meu rosto. Acabei sorrindo também e me sentindo culpada...eu também havia arrumado uma amiga, por que Iuri também não poderia? Ah eu sou tão...
(*_*)
- Chegou minha menina!- Minha mãe me apertou com seu abraço de urso esmagador da pantera coreana.
Logo fui recebida por Naty, minha irmã coruja e histérica, e cara como ela estava linda e diferente. Parece que ela finalmente tinha deixado o cabelo crescer outra vez.
- Oi Ni!- Um garoto veio me abraçar. Quem era esse? Era o Ezequiel? Meu sobrinho?! Não, não, impossível, o Ezequiel de quem me despedi era um cotoco raivoso de cabelinhos lisos enloirados! Não esse garoto com cara de pegador e estudioso. Fiquei fora quanto tempo? 50 anos?
Natália percebeu minha cara de ué, e me acudiu:
- Pois é Nick, é ele sim. Não vai infartar aí não.
Atrás de mim, Iuri ria, mas eu sabia que ele também estava doido. Foi quando me ocorreu um pensamento, se Ezequiel já estava assim, como estaria o Eric, irmão do Iuri?! Ele era outro cotoco, só que de cabelos ruivos, quando eu saí.
Meu Senhor, eu estava me sentindo velha...
- E AO FIM DOS SÉCULOS, ELA VOLTOU MINHA GENTE!- Escutei uma voz sarcástica gritar da cozinha e como sou curiosa, fui lá pra ver. Não impedi o sorriso de se abrir, Manú, Livia, Thais e João estavam ali, meus amigos malucos e amados!
Como explicar pra vocês quem são eles? Bem, Manuela é a culpada de tudo, de eu gostar de animes, de eu ter curtido kpop, a culpa é toda dela. Ela é aquele tipo de pessoa que te faz rir em funeral, e a garota ao lado dela, Livia. As duas eram BFFs desde sempre e eu meio que invejei muito a amizade das duas. Ela é mãe de todos embora negue, mas na nossa época de escola e até hoje ela meio que coloca juízo na nossa cabeça. Lembro que ela fazia meu cabelo e vivia preocupada com geral.
Thais, a primiga que já citei. Abracei ela com força, a madame dos boys não resolvidos. E com ela, João Victor, meu melhor amigo liberal de todo sempre. João e eu sempre nos demos muito bem, pelo fato de completarmos a mente um do outro- afinal não é em todo lugar que se encontra alguém que tenta se fazer de santo mas no fundo é o capeta, não que eu também não faça isso-, e esse "patadas grátis" sempre esteve comigo.
Mas notei a falta de alguém mais perfeccionista que a Livia, mais boca aberta que a Manú ali. Analice não estava ali conosco por quê?
- Aninha não conseguiu chegar, mas não culpe ela por favor.- Livia leu minha mente.
Ficamos ali todos juntos como antigamente fazíamos. Sentados no sofás, cadeiras ou chão mesmo, com Iuri me abraçando e Manú nos fazendo rir.
Comecei a contar sobre minha breve vida em Porto Seguro. Contei sobre Helena, sobre os casamentos e eventos que fotografei e sobre o circo da morte que me fizeram entrar recentemente, o que arrancou gargalhadas-Não era engraçado- de todos em volta.
- Os anos passam, mas o medo não né?- João disse com um sorriso atravessado.
Não sei quanto tempo ficamos ali, com Manú no colo da Livia, eu no do Iuri e João e Thais conversando. Só sei que o sono veio em mim como um martelo, me acertou em cheio. Eu estava no chão, toda torta nas pernas magras do meu ruivo, mas isso me impedia? Ah, eu e minha habilidade de pegar no sono em qualquer lugar...
Nem lembro do que aconteceu depois, mas dormi tão bem...
- Mor, quer ir pra cama?- Escutei a voz dele me chamar. Fiz que sim com a cabeça, meio sonolenta ainda. Olhei no relógio, quase uma e meia da manhã, e no chão da cozinha, quatro corpos desmaiados de sono. Minha mãe e minha irmã vieram acudir eles, acabamos achando um cantinho pra cada um se aconchegar(se bem que Manú tinha as pernas da Livia pra usar de travesseiro).
Fui pro meu quarto, onde as malas estavam espalhadas no chão, aberta e com roupas. A cama de casal que ganhei da minha prima e os milhares de pôsters de Park Jimin e Moon Bin grudados nas paredes, tudo do jeitinho que deixei quando partí.
Me joguei na cama cansada, puxando Iuri pra perto de mim, que deitou também. Minhas pálpebras estavam tão pesadas, que nem ver ele eu conseguia. Apenas apertei a mão dele, sentindo a cama se mexer com ele deitando de frente pra mim, e sorri. Senti um selar delicado, antes de ele me puxar pra uma conchinha maravilhosamente confortável.
E foi assim, que agora, de volta à minha terra, depois de rever todos aqueles que amo, eu dormi, abraçada ao ser que mais agradeço por existir, pensando em tudo que faria amanhã.
Queria visitar as praias saudosas, queria ver Analice, queria matar a saudade da comida do Rio, lógico, nunca desmerecendo a comida baiana, a qual eu podia chamar de néctar apimentado dos deuses.
Tinha tanta coisa pra ver e fazer, eu estava até me sentindo uma turista.
O que eu não sabia era que uma presença ia brotar pra atrapalhar meus planos...
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