POV Jeon JungKook:
Sem palavras. Era assim que eu estava depois de tudo que aconteceu em tão poucas horas. Um beijo que me deixou sem fôlego, literalmente. Palavras que derrubaram meu mundo em questão de segundos. Uma festa sem sentido. E uma despedida que acabou destruindo meu coração por completo. Por onde devo começar? Ah, pelo começo de todos esses questionamentos e sensações que não deveriam nem existir em uma amizade.
Assim que nossos lábios separaram-se, eu fui lotado por sentimentos e sensações desconhecidas que fizeram meu peito se aquecer e ter um aperto realmente estranho. Digamos que uma chama se acendeu em mim e mesmo que eu não queira admitir, mesmo que seja loucura – e que loucura – eu gostei do beijo. Gostei de como a nossa sincronia parecia perfeita. Gostei de como sua língua era quente e se aperto em minha cintura era firme. Gostei desde o começo ao fim, e me puno por isso. Eu fui idiota por criar segundos de esperança por uma coisa sem nexo. Somos amigos, ou... éramos. Realmente confuso.
As suas palavras foram afiadas, cortando meu peito e ultrapassando meu coração. Eu estava sem chão, sem ter o que dizer. Park havia se arrependido, e eu também... pelo menos uma parte de mim. Ele parecia bravo, irritado, que jogou tudo em mim e isso não me fez nada bem. Sim, eu chorei. Pela primeira vez chorei por um assunto que não envolvesse meus pais ou a minha personalidade. Chorei por causa de um beijo. Por causa de um cara. Por causa de um amigo que me despertou coisas ainda maiores do que deveria, quer dizer, é normal desejar os lábios cheinhos e avermelhados do seu amigo? É, foi o que pensei.
O moreno havia me deixado sozinho, e... ele tinha quebrado a promessa. Ele não estava comigo ali. Limpei as lágrimas que insistiam em descer dos meus olhos e segui para o chalé, e vi que não podia passar a noite ali. Seria horrível olhar para aquelas paredes e pensar em Park, então liguei para Yoongi que veio me buscar na mesma hora e não exigiu explicações, provavelmente notou a minha situação. Cabelos extremamente bagunçados, olhos fundos e vermelhos e pensamentos longes e escuros que conseguiam embaçar a minha visão. Em outras palavras, eu estava um caco.
A noite foi difícil. Extremamente difícil. Parecia que os lençóis daquela cama estavam impregnados pelo perfume amadeirado de Park. E isso só piorava meus pensamentos, levando-me a loucura. Não consigo contar as inúmeras vezes que ousei pensar no beijo, nas vezes que pensei em como aquilo significou para mim. Só não sei o porquê. O que eu sentia? Simples, os sintomas eram: angústia, medo, coração despedaçado, e lágrimas que podiam fazer-me afogar. Não é puro draminha adolescente, é mais que isso, é algo que vem de dentro e me toma como um todo. Como um vírus que me destrói rapidamente em tão pouco tempo. Realmente agonizante. A noite foi assim, rodeada de pensamentos ruins e pesadelos que pareciam querer me matar na vida real.
(...)
Eu havia acordado mais tarde que o habitual, 12:00, e mesmo que o som do lado de fora daquele quarto pudessem estourar meus tímpanos, eu já nem ligava mais. Apenas me encolhi naquele canto de quarto enquanto cada memória boa sobre Park passava em minha mente, principalmente o beijo que havia sido o ponto da questão inteira. Se fossemos apenas amigos, um beijo não mudaria nada, certo? Então, por que parece que tudo de repente mudou dentro de mim? Tudo parece ter ganhado uma tonalidade diferente, um rumo distinto e essa mistura de sentimentos parece brigar dentro de mim, causando tantas lágrimas e xingamentos para mim mesmo. Idiota, imprestável, burro, trouxa. Essas foram algumas das palavras que usei para descrever-me, e eram todas verdades.
Por que? Por que deixei ele tocar-me de forma tão intima? Por que me entreguei tanto em um beijo que não devia ter significado? Era para ser algo como uma experiência nova ou algo do tipo, mas passou esse nível, e cá estou sofrendo sem saber o motivo certo. Ou meu coração sabe, e insiste em esconder de mim de forma cruel, levando-me a destruição interna e lágrimas sem fim.
Nem preciso dizer que quando Park passou pela porta, meu peito se apertou fortemente. Trocamos frases curtas que pareciam mais mentiras ditas para evitar que o verdadeiro sentimento viesse à tona. Se eu fui grosso, insensível, e afins, ele foi mais. Tive que ter a visão das suas costas, dos seus cabelos negros, do seu corpo indo embora do meu quarto, e eu senti aquele vazio dentro de mim. Engoli em seco e vi que mais lágrimas rolavam pela minha pele que estava quase seca.
Os minutos passaram, pareciam horas e era tão agonizante que doía, como algo físico. Mas não era, e sim emocional, e isso era o mais frustrante para alguém como eu que só sofreu assim na morte dos pais e depois de perceber que a vida perdeu o sentido. E agora... estou mesmo assim por causa de um garoto? Isso só me torna ainda mais patético. Enfim, cansei-me de ficar ali sentado e resolvi levantar, indo em direção a porta, sai do quarto. A música era alta, parecia que meus tímpanos iriam explodir a qualquer momento e eu engoli em seco enquanto andava pelo longo corredor. Até que parei em uma porta específica, olhei pela fresta da porta e desejei nunca ter ousado sair do canto daquele quarto que estava.
Park estava com Hyuna.
Eles beijavam-se de forma intensa, ele a tocava de forma tão intima que eu quase vomitei ali mesmo. Sim, a cena me deu ânsia de vomito e uma sensação estranha de ser usado. Arg, isso é frustrante, agonizante, patético, chato e horrível! Todos os piores adjetivos do mundo não seriam capazes de descrever o que senti ao ver aquilo. Não durou muito para eu sair dali às pressas, correndo para fora da casa, ignorando os gritos de Taehyung e até mesmo meu primo. Eu precisava livrar minha cabeça daquela imagem de minutos atrás, precisava mentir para mim mesmo que eu estava bem, precisava correr daquela realidade que parecia ultrapassar-me a todo instante.
Mais e mais passos eram dados, e a dor só aumentava. Até que me joguei naquela areia, esticando os braços e fechando os olhos. Foi ali que eu me deixei levar por todos os pensamentos que corriam atrás de mim, de todos os momentos que vivi com o moreno de sorriso angelical, de todas as lembranças mais doces. Cada sorriso, cada risada, cada toque... tudo foi lembrado ali mesmo e eu sentia as lágrimas vindo cada vez mais, só que aquilo era uma coisa reconfortante, e não doía tanto. Sabe por que? Porque mesmo que eu estivesse destruído por dentro, as coisas lindas que ouvi, e as coisas belas que vemos juntos me ajudaram a pensar que tudo aquilo não passava se um pesadelo e logo eu estaria em seus braços, em um abraço quentinho e mais belas palavras seriam ditas ao pé do meu ouvido.
Eu sei, eu sei, tudo que está acontecendo é real, porém eu preciso pensar que não é, porque assim... essa situação possa ser vivida de forma menos dolorosa. Sem arrependimentos, sem mágoas, sem mais decepções.
Confesso que dormi ali mesmo por algumas poucas horas. Mas claro que quando acordei, aquela ardência em meu peito, fez-me sentar e observar o mar. Eu queria poder simplesmente jogar a nossa pouca história naquelas aguas tão movimentadas, e esperar que minhas memórias fossem apagadas, e eu voltasse a ser aquele garoto solitário, e mesmo que fosse difícil, seria mais fácil do que sentir o que sinto agora.
Park veio me procurar. Trocamos palavras, sentimentos e mais milhares de lágrimas que pareciam ser conjuntas. Até que eu coloquei um fim aquilo tudo. Eu não conseguia mais ser o mesmo com ele, não conseguia ser aquele novo JungKook que transformou-se ao seu lado. E se eu precisasse mudar de colégio para que meus pensamentos não se focassem nele, assim eu faria.
Eu tinha que esquecer Park. Eu precisava esquecê-lo.
(...)
Segundos, minutos, horas, dias, semanas passaram-se desde aquele dia cansativo. Para ser exato, duas semanas. Não é muito tempo, mas tudo parece ter mudado drasticamente. Digamos que agora eu tenha voltado a ser aquele JungKook introvertido, mas eu ainda ando com Charlotte, Yoongi e os meninos, e ignoro ao máximo Park. Uma atitude infantil, porém é o que me incentivou a ficar naquela escola que me acolheu tanto. Tenho táticas: quando Park aparece por perto, eu saio, e vice-versa. Estamos nos ignorando, e isso é tão perceptível que é algo quase palpável. Vez ou outra recebo questionamentos do nosso comportamento e eu apenas mudo o assunto ou dou de ombros.
Não. Não ficou mais fácil para mim. Eu pensei que tudo ficaria mais fácil, e parece que me enganei feio. Os sonhos vinham com mais frequência, e pareciam influenciar em meus sentimentos. As lembranças estavam marcadas em meu coração. E toda vez que eu ousava levar o olhar para o garoto de cabelos negros, meu coração acelerava e eu notava a forma que seus fios caiam perfeitamente em sua testa, em como seus lábios vermelhos eram atrativos, e seus olhos eram algo feito por mãos habilidosas que sabiam exatamente o que estavam fazendo. Eu sei, isso não deveria ser notado, nada disso na verdade, mas é algo que não consigo controlar, é algo que vem naturalmente e eu odeio. Odeio muito.
Não trocamos nenhuma palavra. Nenhuma sequer. Parece que agora não sabemos como chegar um no outro, e eu tenho participação máxima nessa ação, já que fui eu que disse que não queria mais me aproximar dele, ou ser seu amigo. É tão frustrante, ainda mais para nossos amigos que parecem se sentir incomodados.
Vamos as novidades, o novo casal da área: YoonLotte. Sim, finalmente Yoongi admitiu os sentimentos pela garota de cabelos azuis e eles estão em uma agarração que só por Deus. Isso faz quase uma semana. Fico feliz por eles. Eles são tão iguais que acabaram achando-se um no outro. Admiro essa facilidade de encontrarem as suas caras metades. Parece tão complexo que nem me adianto a fazer o mesmo. Ou simplesmente não tenha achado essa pessoa.
– Cansei! – Charlotte exclamou chamando a atenção de todos ali presentes naquela rodinha, inclusive eu. – O que aconteceu com vocês, Jungkook? Sério, desde aquela viagem vocês estão muito diferentes. Não se falam mais, coisa que antes era até cansativo. – Falou e todos apenas a observavam.
Suspirei uma, duas e até três vezes. Pensei cuidadosamente em minhas palavras, que se formavam e logo se desfaziam em pó na minha mente. Eu não tinha uma desculpa decente. E a verdade era tão dura que fazia-me querer voltar a chorar. Então...
– Não aconteceu nada. – As famosas três palavrinhas que eu já tinha falado mais de mil vezes.
– Ah, claro! Vocês ficaram estranhos do nada. – Ela foi extremamente sarcástica em suas palavras. – Fale a verdade, e não faça como o Jimin que nem ao menos falou alguma coisa.
– Não importa o que eu falar Lotte, no fim, nada vai mudar mesmo. – Essa foi a frase que eu deixei antes de sair dali em passos rápidos para dentro do colégio.
Sim, corredores vazios que davam paz a minha mente conturbada por pensamentos e mais pensamentos loucos e ao mesmo tempo lotados de conteúdo que eu queria esquecer em um estalar de dedos. Nunca fui de me importar com distância, afinal, já bastava a distância que eu estava dos meus pais, então qualquer coisa seria fácil de aceitar. Mas estava doendo. Estava doendo muito ter que ficar longe de uma pessoa que já fazia parte de mim sem nem eu mesmo perceber. Park apareceu do nada, e foi embora do nada. Eu sei, eu pedi, eu mandei, eu decretei. Mas por que ele não foi rebelde e disse que não importava o que eu dissesse? Por que ele me ouviu? Ele nunca me ouve. Uma parte de mim queria que ele fosse embora para o mais longe possível, e a outra queria que ele apenas me abraçasse e falasse que lidaríamos com essa merda juntos. Que me confortasse com seu vocabulário fofo, feio e até bom de se ouvir.
Eu andava de cabeça baixa, com as mãos dentro dos bolsos do moletom. De repente minha cabeça ficou a mil e eu senti uma sensação estranha. Olhei para cima e lá estava o moreno encarando-me indiscretamente. Os olhos castanhos que antes brilhavam, agora eram opacos e sem vida. Não aguentei. Não suportei vê-lo daquele jeito. Então eu fugi. Não dei tempo para que ele fizesse o que estava pensando naquela cabeça complexa dele. Fui um frouxo, eu sei, mas minhas pernas corriam por conta própria, meus olhos molhavam-se por conta própria e eu só conseguia sentir o quão aquilo doía, sangrava em meu peito e eu não sabia o que fazer.
Aaaah! Caralho! Porra! Puta que pariu! Nenhum palavrão consegue descrever a minha dor interna, a minha frustração evidente e tudo que eu sentia. Chegou um ponto que minhas próprias pararam de andar pelo cansaço. Eu já estava longe do colégio há muito tempo, deixei meus materiais lá e tudo que pudesse vir a seguir. Mesmo que eu não tivesse um destino, parece que minhas pernas sempre me levam para o mesmo parque que marcou tantas coisas para mim. Para nós.
Passei os olhos pelas folhas caídas no chão. Pelo banco que a poucas semanas eu chorava contando a minha história. No céu que estava nublado e poderia desabar em chuva a qualquer hora. Meus olhos já ardiam pelas lágrimas e minha visão não podia estar mais embaçada do que estava. Cai de joelhos em meio as folhas de diversas cores e soltei um suspiro longo e sôfrego.
– Eu desisto. – Murmurei para mim mesmo.
Eu estava prontamente desistindo. Desistindo de tentar não sentir o que estava sentindo. Desistindo de me importar. Desistindo de continuar com aquela muralha a minha volta que estava desmoronando, assim como meu coração e o céu acima de mim. Tudo doía e aquilo já estava cansando-me mortalmente. Provavelmente eu vim para esse mundo com o simples propósito de sofrer incansavelmente e acabar tendo de lidar com isso.
Não foram minutos ali, foram horas que passaram. Horas que eu permaneci em uma mesma posição recebendo pingos infinitos de chuva, de certo eu pegaria uma gripe, mas a dor física não importa, já que por dentro eu já posso ser considerado um morto. Sabe o que mais doeu nisso tudo? Que o moreno não veio atrás de mim. Eu sei que ele sabia muito bem onde eu estaria, e não moveu um dedo se quer para vir ao meu encontro. É, parece que no final das contas, só fui uma droga de amizade que teve um fim um tanto esquisito de trágico.
Está mais do que na hora de dizer adeus para o meu breve passado ao lado dele. Adeus sonhos que faziam minhas noites mais serenas. Adeus perfume doce e viciante. Adeus abraços quentinhos e toques indecifráveis. Adeus palavras reconfortantes e filosóficas. Adeus sorrisos e risadas gostosas de serem ouvidas. Adeus Park Jimin. E por último... Adeus Jeon JungKook feliz.
(...)
O que eu posso dizer? O que eu posso estar sentindo agora? O que me resume nesse exato momento? Nenhuma dessas perguntas pode ser respondida de forma certa, concreta, ou até mesmo com razão. Outras longas duas semanas passaram-se. A dor parece ter quadriplicado e eu estou um caco. Do tipo rosto inchado, olhos vermelhos, olheiras, cabelo bagunçado, roupas amarrotadas e um mau-humor insuportável. Eu estava sendo pior do que antes. Eu estava sendo a personificação do armaguramento, e nem sei se essa palavra existe.
Desde que tomei a decisão de esquecer de vez que um dia conheci um mesquinho, egoísta e idiota garoto, não está sendo fácil. Fortaleci a muralha a minha volta, e dessa vez nem Yoongi era capaz de entrar. Afastei a todos, amigos, colegas, meus tios e nem os professores me suportavam mais. Minhas palavras eram curtas, grossas, sem animo ou entusiasmo. E tudo isso só piorou de verdade na segunda semana, já que foi naquele dia ensolarado que vi o moreno abraçado de forma intima com Hyuna. Doeu mais do que deveria, doeu no meu coração. Eu queria bater nele, bater nela, mas como era proibido, me tranquei no banheiro e deixei as lágrimas silenciosas virem à tona. Desde aí, tudo se tornou preto e cinza, não, o branco não faz parte. O branco reflete a paz, alegria, e isso era o que mais me faltava naquele momento sombrio que me encontrava.
Os dias pareciam mais longos. Nem as aulas de filosofia – minha matéria preferida – conseguiam prender a minha atenção. Na maioria das vezes meus olhos rondavam o lado de fora pela janela, e eu estava completamente distraído em mil e um pensamentos e mais devaneios do que o normal. Sorrir não era mais para mim. Rir? Fazia tanto tempo que não ouvia o próprio som da minha risada que pareciam séculos. Tudo mudou para pior, por causa dele, por causa de um garoto. Por causa de um beijo, um pecado que cometemos.
– JungKook. – Ouvi meu nome ser pronunciado com certa firmeza, virei-me para trás e dei de cara com Taehyung. Estávamos no corredor. Apertei meus livros contra o peito e o encarei, para que o mesmo prosseguisse. – Olha, já cansei de perguntar se está tudo bem, quando claramente não está. – Falou e eu engoli em seco. – Faz quatro semanas que seu lado iluminado se apagou, que as risadas cessaram, que os sorrisos pararam, que o JungKook de verdade morreu. – Ele falava como se aquilo fosse a maior tragédia da história. – Não acha que já está na hora de você e Jimin nos contarem o que aconteceu? Ambos estão absurdamente estranhos, e ninguém sabe o motivo. – Ele tinha finalizado e eu soltei um suspiro longo e o fitei.
– Talvez o verdadeiro eu seja essa pessoa fechada e introvertida. Talvez o que aconteceu tenha sido bom para nós dois, e não tem nada haver com vocês, então não percam tempo tentando tirar a verdade de mim. Até mais Taehyung. – Finalizei sendo um tanto curto e grosso, mas era assim que eu estava sendo ultimamente.
Era cansativo ser assim, porém aquela dor era a consequência de uma queda minha, e eu não podia cair mais. Não podia ser fraco novamente, mas... droga, por dentro eu estava chorando, clamando por ajuda. Se fosse necessário, eu arrancaria meu coração fora... tudo para parar de sofrer sozinho, sofrer por uma pessoa que não se quer pensou em mim para fazer o que queria. Que me usou como estepe quando estava brigado da namorada. Que parecia fingir gostar das mesmas coisas que eu. Agora tudo parecia não passar de uma mentira. Então é isso? A amizade, os abraços, os toques... o beijo, foram mentiras que eu cai como um patinho? É, e o prêmio de trouxa do ano vai para Jeon JungKook.
Justamente na sexta-feira dessa segunda semana, o colégio resolveu realizar uma festa no ginásio da escola. A festa seria uma forma de arrecadar dinheiro para a construção de um pátio para os esportes menores – dama, xadrez e outros – que pareciam crescer. Claramente eu não queria ir, porém valia nota, sim essa merda vale nota. Então tive que me dispor a usar uma roupa melhor e sair em uma sexta à noite rumo ao colégio que estava me proporcionando dor de cabeça nos últimos tempos. Nesses bailes escolares, o que mais rolava era pegação, álcool no ponche e jovens drogados e loucos, ah, e muita dança.
Mesmo que minha disposição fosse zero, resolvi tentar me arrumar, colocando uma calça preta justa com uns cortes nos joelhos. Uma blusa branca social com as mangas dobradas até o cotovelo. Tênis vans que davam a roupa um ar realmente adolescente. Pronto, eu estava definitivamente pronto, e nem sabia da onde vinha a minha disposição para me vestir daquela forma. Eu parecia de fato, um jovem que estava animado para dançar até o amanhecer, cercado pelos amigos e garotas. Eu sei, as aparências enganam, e enganam muito. Resolvi parar de pensar muito. Baguncei meus fios negros, peguei meu celular e sai do quarto, descendo as escadas e deparando-me com Yoongi que me encarava.
– Já passou da hora de termos uma conversa, não acha primo? – Seu tom beirava o sarcasmo.
– Não, não acho. – Tentei suavizar o tom rude dos dias anteriores.
– Pois eu acho, e vamos conversar, você querendo ou não. – Ele estava claramente irritado com meu comportamento e uma parte de mim sentia muito, mas a outra queria tacar um grande foda-se e seguir para o baile. Ah, eu só queria que esse dia acabasse para mim passar o sábado inteiro vendo filmes e séries.
– Podemos conversar depois, se não chegaremos atrasados. – Falei passando por ele e sentindo seu perfume do cotidiano em meu nariz. – Vamos? – Perguntei parando em frente a porta. Ele bufou e saiu pela porta pisando forte, revirei os olhos e o segui.
O caminho de todas as manhãs era o nosso naquele momento. Ambos andávamos com as mãos nos bolsos das calças, de forma lenta enquanto olhávamos a rua escura iluminada apenas pelos postes e alguns carros que ali passavam. Era tão estranho andar ao lado de Yoongi e não ouvir sua voz animada, suas piadinhas e até os sorrisos maliciosos de quando falava sobre alguma garota, mesmo que estivesse namorando.
– Preciso do meu primo de volta. – Ele disse quebrando totalmente aquele silêncio e me pegando de surpresa. Ok, fiquei abalado.
– Eu nunca fui embora. – Falei mesmo sabendo a conotação que ele usava.
– Fisicamente não, mas emocionalmente... não poderia estar mais longe. – Disse e eu parei de andar, suspirando e desejando que o impulso não me pegasse de jeito.
– Desculpa. – Parece que meu desejo não foi atendido. – Eu não queria ser assim, eu juro que não, porém... é tão complicado. – Falei com o olhar cravado no chão e o impulso parecia percorrer minhas veias.
– Não tem que ser. – Sua mão pairou em meu ombro e eu o olhei emocionalmente abalado. – Não precisa me contar, como antes, mas por favor não se afaste tanto como está fazendo agora. – Falou com sua forma incrível que entender as pessoas.
– Obrigada. – Falei e pude sentir seus braços me abrigarem em um abraço que eu precisava, e muito.
Depois desse pequeno momento afetivo entre primos, continuamos o caminho com palavras a mais, porém eu não conseguia sorrir ou rir. Mas um peso considerável havia sido retirado das minhas costas. Assim que avistamos o colégio, dei um jeito de apressar o passo para não ter que falar com meus amigos – quase ex amigos –. Rumei para o ginásio que já estava cheio.
O ginásio podia ser resumido em poucas palavras: lotado e barulhento. Sério, uma música tocava insanamente enquanto um bando de adolescentes com os hormônios a flor da pele, dançavam. Eu realmente precisava de uma bebida para aguentar ficar ali até o final, ou pelo menos mais cinco minutos. Caminhei até o ponche que já devia estar batizado por um dos jogadores, mas não me importei de beber uma grande quantidade daquele liquido doce e ácido, queimava minha garganta. Senti uma leve tontura antes de começar a ficar quente. O que eu bebi mesmo? Ah, bebida juvenil que poderia ter até drogas que ainda não descobriram a existência.
Logo depois uns dez minutos, lá estava eu, uma figura perdida, solitária e um tanto para baixo. Sentada em um dos bancos da arquibancada, enquanto observava tudo aquilo como um teatro. Até que ele chegou. O moreno parecia brilhar mais naquela noite, como se seu sorriso pudesse cegar as pessoas ao seu redor e sua áurea afastasse os maldosos de perto de si. Ele trajava calças jeans escuras com diversos rasgos, uma blusa branca com um tecido leve e uma jaqueta de couro por cima, os sapatos eu nem conseguia enxergar. Ele estava com o estilo badboy perfeito para um garoto de ensino médio. Senti aquela sensação estranha no estômago....
Oh não!
Seriam borboletas no estômago? Sim, seria isso. Como se a sua beleza me causava uma sensação estranha na boca do estômago e eu não soubesse como descrever com clareza. Eu me sentia uma garotinha de oitavo ano descobrindo seu primeiro amor. Neguei com a cabeça diversas vezes e levantei dali, começando a andar entre as pessoas. Meu primo dançava de forma sensual com Charlotte e os meninos faziam o mesmo com seus parceiros, tudo parecia tão perfeito, como se o único que sobrasse na história fosse eu. E realmente era. Notei como minha existência era insignificante e afastei novamente, dessa vez de pé, e no canto mais escuro daquele ginásio, para que ninguém pudesse ver minhas lágrimas que já lavavam meu rosto de uma forma incrível.
Minha depressão repentina estava indo muito bem, até que senti aquela mão no meu pulso, aquela quentura que era conhecida me puxar dali. Ergui a cabeça enquanto eu era puxado do canto para uma salinha fechado, eu só conseguia enxergar embaçado por conta das lágrimas, mas com certeza reconheci aquela cabeleira negra que me fazia tão mal, na verdade, tudo em Park estava fazendo-me mal esses dias. Ele me jogou com bruteza naquela sala escura, ligando a luz e fechando a porta, ah, a sala de limpeza. O olhei com todos os sentimentos possíveis estampados no rosto, e ele me olhou como se estivesse irritado, seus olhos intensos e dilatados diziam isso por ele, e até a mania de passar a mão na franja escura.
– Você me enlouquece. – Disse com a voz rouca, o que me causou um certo arrepio estranho na espinha. – Por que estava chorando? Eu não consigo aguentar ver isso, quer dizer, eu não aguento mais ver a tristeza nos seus olhos e não fazer nada. – Falava rápido demais para eu mesmo entender.
– Me deixa Park. – Falei e dei um passo para sair dali, mas fui arremessado contra a parede, não com muita força, porém resolvi ficar ali mesmo antes que ele se revoltasse ainda mais. – O que você quer? Me ver humilhado a ponto de chorar ainda mais? – Agora eu que estava ficando irritado com sua cara de pau.
– Não, claro que não. – Negou rapidamente. – Eu só... não aguento mais. – O olhei. – Não aguento passar por você e não dizer um mísero oi. Não aguento não ver o sorriso que iluminava meus dias. Não aguento não ouvir o som da risada que me fazia sorrir. Não aguento te ver deprimido, e mesmo que queira esconder isso com palavras rudes, eu sei que está mal. Assim como eu. – Eu poderia rir ali facilmente.
– Assim como eu? – Repeti as suas palavras com um grande tom de sarcasmo. – Fala sério, você está muito bem, rindo e sorrindo por aí com os velhos amiguinhos. E até voltou a ser namorado de Hyuna, quem diria Park Jimin. – Cruzei os braços e eu até poderia juntar sangue nos olhos para julga-lo.
– Eu usei uma máscara por tanto tempo que ela já faz parte de mim, e agora eu uso ela ainda mais. Tudo que você vê, é mentira. Eu não estou feliz, contente e muito menos animado com a ideia de voltar com Hyuna, mas ela foi a distração que eu arrumei para parar de pensar em você. – Falou e eu engoli em seco. – Eu estou beirando a loucura! – Exclamou e eu franzi o cenho. – Não consigo não pensar em você, no começo foi menos difícil, mas agora é impossível olhar para o céu e não pensar em você. Tudo me lembra a você, cada coisa remete a uma coisa de você. – Ele deu um passo para frente. – Qual foi o feitiço que jogou em mim? – A pergunta era irônica.
– Pergunto o mesmo. – Falei o empurrando com certa grosseria. – Eu estou tão mal que não consigo nem conversar com nossos amigos sem vacilar e chorar. Nunca fiquei assim, a não ser quando meus pais morreram. O pior é que nem sei porquê estou assim, quer dizer, era só uma amizade. – Dei de ombros como se não fosse nada demais. Era algo, e era demais.
– Você realmente não sabe? Ou está escondendo de si mesmo? – Palavras roucas que fizeram meus pelos do braço arrepiarem-se. – Nossa amizade acabou por causa de um... beijo. Uma razão um tanto boba, não acha? – O moreno insistiu em dar um passo à frente. – Podíamos ter facilmente achado tudo uma brincadeira e seguido com a amizade, porém ficamos irritados, bravos e abalados, e por que? – Mais um passo perigoso que me fez bater as costas na parede. Um tanto clichê. – Porque aquilo, aquele beijo, significou alguma coisa para nós dois, alguma coisa que nos abalou sentimentalmente, que nos deu tanto medo que acabamos querendo ficar longe um do outro, uma forma de falar para nós mesmos que não era real. – Sua mão estava apoiada na parede ao lado da minha cabeça. – Mas JungKook... é real. – Ele disse e eu não sabia nem como reagir. Ele tinha mesmo dito aquilo?
– Você está louco! – Clamei o empurrando e indo para o outro lado daquela pequena salinha. – Não significou nada, nada! – Disse alto e firme. Eu sabia que era mentira, mas... eu tinha que acreditar naquilo.
– Ah, é? – Arqueou a sobrancelha. – Então por que não repetimos e você me fala a mesma coisa? – Seus olhos mostravam luxúria. Sua proposta era quase tentadora, e completamente maluca ao mesmo tempo. Mas perguntas martelavam na minha cabeça, milhares eu diria.
– Por que você está assim? – Eu sei que tinha sido uma pergunta retórica, porém ele parecia ter realmente pensado naquilo. – Você me ignorou por esse tempo todo, como se nunca tivéssemos conversado e agora chega com esse papo louco de nos beijarmos de novo. – Falei e engoli em seco, assim como ele. – Por que? – Foi uma pergunta tão simples e complexa ao mesmo tempo.
– Como eu disse, você me enlouquece. – Falou e seus olhos encontraram os meus em um ápice de intensidade. – Nessas quatro semanas longas e absurdamente sufocantes, eu fui capaz de entender uma coisa. – Suas palavras eram tão verdadeiras que eu senti um nó se formar na minha garganta por um motivo desconhecido. – Que não sou mais capaz de viver sem você. A sua presença é tão necessária como o ar, e mesmo que isso seja tosco, é a mais pura verdade. – Ele me pegou desprevenido. – Todos esses dias servirão como uma lição que não importa o quanto eu tente te esquecer, o quanto eu tente esquecer aquele beijo, não tem como. – Seu olhar abaixava e subia para mim novamente. – Naquele dia que nos encontramos no corredor e você correu, o que eu mais queria era ir atrás de você e... te abraçar, mas eu não podia, eu tive medo, medo de ser rejeitado, medo de me apegar ainda mais só com um simples toque, e medo de acabar machucado. Sim, eu sou a droga de uma menininha que acabou de dar seu primeiro beijo! – A última frase tinha sido dita com um tom elevado.
Park estava bem na minha frente com seu jeito de sempre, mas ele estava diferente. Seu perfume era o mesmo. Seu cabelo o mesmo bagunçado de sempre. Suas roupas tinham o mesmo ar descolado. Sua voz tinha a mesma rouquidão e suavidade continuas. Porém... o moreno estava parecendo realmente com medo. Ele tinha medo de se machucar nessa coisa que entramos, e eu também estava. Era um labirinto sem volta, e se nos perdêssemos, a dor seria muito maior do que essa que estou sentindo.
– Eu senti a sua falta. – Ele admitiu baixinho e eu que estava encarando o chão, o olhei e senti uma emoção atingir meu peito. Pronto, aquelas palavrinhas tinham feito meu coração vibrar e a dor deixar-me por um momento.
– Eu também senti, e muito. – Falei como se aquilo fosse um segredo entre nós dois. Palavras baixas e impactantes. Parece que gostamos disso.
Após eu falar isso, senti meu corpo ser envolvido por seus braços. Ah, aqueles braços que por um mês fiquei sem. Aqueles mesmos braços que me acolhiam em situações difíceis, e em momentos que eu só precisava de acolhimento e uma quentura que não fosse só minha. Senti seu perfume amadeirado entrar em minhas narinas assim que meu nariz deslizou por seu pescoço. O apertei contra mim, numa forma de transmitir todos os meus sentimentos para ele. Eu sentia tanta falta dele, droga, como sentia. Até o cheiro do seu xampu me fazia suspirar e um leve sorriso se formar em meus lábios. Então... no final das contas, o motivo dos meus sorrisos é inteiramente Park Jimin.
– Você é o melhor abraço. – Ele disse contra meu pescoço, talvez ele estivesse na ponta dos pés, mas não me importava. Tudo que me importava naquele momento era aproveitar a música serena que tocava ao fundo, e nossas respirações tão leves como a nossa situação.
– Você é o melhor abrigo. – Suspirei.
Sim, ele era meu abrigo. Para onde eu fugiria assim que tudo se apertasse, e mesmo que quatro semanas haviam se passado, ali, naquela salinha minúscula, foi como um mês atrás, quando ainda éramos dois adolescentes que se chamavam de amigos sem malicia. Eu sei, o agora é imprevisível, porém... nós sempre fomos.
Continua...
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