Zona Segura de Alexandria – 2016.
Jessie examinou Pandora de cima a baixo por alguns segundos. A mulher loira se virou para o filho e sussurrou algo em seu ouvido. O garoto estranho, Ron apenas assentiu se virou para Pandora a fuzilando com os olhos por alguns segundos e foi embora sem dizer mais nada.
Jessie se virou para Pandora novamente e apenas suspirou cansada.
- O que você quer com isso? – ela perguntou, tentando se manter calma. – Você veio aqui para reconquistar Rick de alguma forma?
Pandora apenas prendeu o riso e cruzou os braços.
- Por que eu tenho que te avisar. – Jessie continuou. – Nós nos damos muito bem, ele me defende e é bom para mim. – ela disse. – Eu gosto dele, e acredito que ele também goste muito de mim. Então sinto muito por você.
Pandora sorriu diabolicamente, começando a se movimentar ao redor de Jessie Anderson enquanto a mulher a olhava quase em fúria. Pandora sorriu mais ainda quando viu a mulher revirar os olhos e se inclinou um pouco em direção a ela, pousando seus lábios quase no ouvido de Jessie.
- Quem sou em para separar um amor tão bem...construído. – ela disse, ironicamente, se afastando um pouco de Jessie. – Na verdade, fico muito feliz por Rick, já que ele parece realmente recuperado de seus traumas e neuroses.
Pandora riu um pouco quando viu que Jessie havia arregalado os olhos.
- Ele era um homem muito traumatizado quando eu o conheci. – ela dizia, calmamente. – Foi traído pelo próprio melhor amigo, e é claro, teve Lori... – Jessie franziu a testa, se perguntando mentalmente que foi Lori. – Mas agora, ele parece ocupado demais tentando resolver os seus problemas para resolver os dele. – Pandora riu um pouco. – E se você não está nem aí para o que ele sente por dentro, é por que ele realmente deve estar curado. – ela comentou, sarcasticamente. – É um milagre!
Jessie rangeu os dentes, e estava prestes a responder. Porém foi interrompida por Carl Grimes que havia surgido correndo do meio da multidão, e clamava pelo nome de Pandora euforicamente.
Pandora desviou o olhar dos olhos de Jessie lentamente, e olhou em direção a Carl que parava ofegante perto das duas. A garota exibiu um sorriso plano e feliz ao ver o garoto, bem diferente dos sorrisos extremamente venenosos que exibira para Jessie alguns segundos atrás.
- E aí, pirralho? – ela disse, enquanto bagunçava os cabelos castanhos do garoto casualmente.
Jessie sorriu levemente para Carl e acenou para ele. Porém o garoto, não se importando muito, se virou para Pandora. Não que Carl odiasse Jessie, mas achava que todo o relacionamento que a mulher tinha com seu pai, o deixava pior, paranoico e nervoso. E ainda mais com a chegada de Pandora, Carl achava que a única coisa que impedia Rick de se aproximar da garota novamente era Jessie.
- Meu pai está em reunião na casa da Deanna. – ele disse, euforicamente. – Estão todos indo para lá, você sabe algo sobre isso?
Pandora arregalou os olhos.
- Deus. – Jessie disse, já rumando para a casa da líder.
Pandora começou a seguir a mulher, porém foi interrompida por Carl que queria segui-la.
- Você tem que ficar aqui Carl. – ela disse, calmamente, enquanto o garoto a olhava indignado – Acho que seu pai não gostaria de ver você lá.
- Mas...
- Eu prometo que te conto a fofoca inteira quando sair de lá. – Pandora o interrompeu rapidamente.
Carl suspirou e apenas assentiu a contragosto. Pandora lhe deu um breve abraço e correu atrás de Jessie a seguindo de longe e a acompanhando para a casa de Deanna Monroe que ficava em na principal rua de Alexandria.
-Minha proposta... – a voz cheia de sotaque de Rick atingiu os ouvidos de Pandora quando ela adentrou a casa. Estava cheia, todos os líderes e pessoas mais importantes em Alexandria estavam lá. – Sei que é arriscada, mas já tem walkers saindo. – ele disse, enquanto olhava de esguelha para Jessie e Pandora que ia em direção a Michonne. – Um dos caminhões que mantêm os walkers dentro pode despencar a qualquer momento. Quem sabe depois de um temporal. – ele disse. – Isso vai fazer com que eles venham diretamente até nós.
Pandora olhou para Carol que estava parada em um canto vestida em roupas comportadas. Aquilo foi o bastante para que Pandora soubesse que Carol estava atuando, se fingindo de fraca e assustada para aquela sociedade.
- Isso é... assustador. – ela disse em um tom amedrontado de voz e Pandora quase riu. – Não tenho outra forma de descrever: é assustador. – ela disse, olhando para Pandora pela primeira vez e desviando o olhar logo em seguida ao vez que a garota segurava o riso. – Mas não parece ter outro jeito.
Um homem que estava parado do outro lado da sala, a encarou preocupado por um momento.
- Talvez tenha. – ele disse, pensativamente. – Não podemos reforçar os pontos fracos? Eu trabalhei na construção do muro, junto a Reg. Posso fazer um plano.
Rick negou com a cabeça.
- Mesmo se pudesse, o som dos walkers vai atrair cada vez mais deles. – ele disse, negando a oferta do homem. – Reforçar as saídas não vai mudar isso.
- Faremos o que Rick disse. – Deanna, que estava até aquele momento calada e virada de costas para o pessoal, disse. – O plano está feito.
Rick assentiu, voltando a olhar para todos os presentes. Pandora se sentiu inquieta quando o homem passou o olhar azul sobre ela. Não sabia se aquele olhar fora de ódio, indiferença ou súplica, mas Michonne percebeu a inquietação da amiga e pegou sua mão fortemente.
- Como eu disse a todos, - ele disse e apontou para Daryl, que estava esparramado feito um gato preguiçoso no peitoril da janela mais próxima. – Daryl irá atraí-los.
Daryl assentiu minimamente, esboçando um olhar confiante. Enquanto Pandora tremia de cima a baixo ao pensar na possibilidade de Daryl estar sozinho e sendo seguido por milhões de walkers.
- Eu também. – Sasha, sentada ao lado de Michonne e Pandora, disse. – Vou de carro, ao lado dele. Não pode ser apenas ele.
Pandora a olhou, e pegou sua mão a apertando levemente. Obrigada, ela dizia mentalmente à Sasha.
- Vou com ela. – disse Abraham, o homem ruivo e grandalhão que jazia sentado e contemplativo em uma poltrona. – É estrada demais para ir sozinho.
Rick assentiu levemente.
- Teremos duas equipes. – ele disse. – Uma de cada lado da floresta ajudando na execução. Algumas pessoas ficarão de vigia de agora em diante. – ele disse, apontando para três pessoas. – Rosita, Spencer e Holly. Então, eles estão fora.
Pandora fez uma cara de nojo ao ouvir o nome do filho da líder.
- Quem topa? – Rick perguntou, olhando em volta.
Michonne deu de ombros.
- Eu. – ela disse.
Pandora abriu um sorriso e levantou o braço, animadamente, atraindo a atenção para ela.
- Vocês, meros mortais, não irão me deixar de fora de toda a diversão. – ela disse, enquanto Rick tentava não sorrir com o jeito de falar da garota. Era algo involuntário dela, disso ele sabia bem. – Estou dentro.
- Eu topo. – Glenn, que por algum motivo possuía o rosto todo machucado, disse.
O padre que Pandora descobriu se chamar Gabriel, levantou o dedo.
- Quero ajudar. – ele disse um pouco tímido.
- Não. – Rick o cortou, imediatamente. – Quem mais?
O homem de antes negou com a cabeça, um pouco desesperado.
- Deve haver outra maneira. – ele disse. – Não podemos controlar tantos assim...
Rick suspirou.
- Como eu já disse, walkers formam bandos, seguindo aquilo que os atrai. – Rick disse. – É assim que vamos tirá-los de uma só vez.
O homem estreitou os olhos para Rick.
- E daí? Devemos aceitar sua palavra? – ele perguntou. – Devemos ficar do seu lado depois que...
- MEU DEUS COMO VOCÊ É ESTÚPIDO! – a voz do homem foi interrompida pelo grito de Pandora que já se encontrava de pé, olhando furiosamente para o homem. – Você não vê? Ele está tentando ajudar vocês! Salvar vocês! – ela disse, atraindo toda a atenção para ela. Inclusive a de Deanna, que a olhava com um pequeno sorriso no rosto. – Se ele matou o seu amigo é por que ele mereceu!
O homem ergueu o queixo e a olhou atrevidamente.
- E você por um acaso conhecia Pete tão bem assim? – ele disse. – Acho que não, já que chegou quando ele já estava morto.
Pandora suspirou.
- Eu conheço Rick Grimes. – ela disse, entredentes. – Ele é um homem de bom coração, mesmo que tente negar, ou que as vezes seja louco, neurótico, rude... e Deus sabe como ele é rude! – ela debochou. – Mas ele está sempre aqui para botar a cueca por cima da calça e ser a porra de um super herói capaz de resolver milhões de problemas, mesmo que estes problemas nem mesmo sejam dele.
Pandora olhou no fundo dos olhos do homem e soltou um sorrisinho. Dobrou o braço e o abriu bruscamente, sentindo o chicote se desenroscar de seu braço direito e parar em sua mão. O estalou no ar audivelmente, como uma ameaça.
- Então, pense bem antes de falar desse idiota. – ela apontou para Rick, sem nem mesmo olhá-lo. – Ou você terá que lidar com o meu chicote. – ela disse, ironicamente. – E não do jeito divertido.
***
Arredores de Alexandria – 2016.
Rick observava, enquanto Deanna e os demais arregalavam os olhos para a pedreira repleta de milhares de walkers. Rick havia sugerido que eles fossem até o local para verificar o terreno e mostrar à líder a gravidade da situação.
Rick Grimes havia convencido a todos, principalmente depois do show de ameaças que Pandora havia protagonizado no meio da sala de estar de Deanna Monroe. Depois de tudo aquilo, Rick ainda não sabia como se sentia a respeito disso.
- Tem certeza de que o plano irá funcionar, Rick? – Deanna perguntou, um pouco duvidosa após olhar para o mar de walkers lá embaixo.
Rick coçou a nuca.
- Eu espero. – ele disse.
Deanna o olhou atentamente, e colocou a mão sobre o ombro do homem.
- Eu depositei toda a minha confiança em você. – ela disse, suavemente. – Não me desaponte.
Rick assentiu lentamente e olhou ali em volta, seu olhar pousou por alguns segundos em Pandora, que permanecia parada com seu chicote como se sentisse incomodada com o ruído ensurdecedor que os walkers produziam. Mas logo depois, seu olhar se desviou para Jessie, que o olhava temerosa.
- Temos que checar a situação exata daquele caminhão que corre o risco de desabar. – ele disse, e se virou para sua arma. – Pandora?
A garota o olhou e caminhou até ele lentamente, arrastando a ponta de ferro do chicote no chão.
- Achei que nunca fosse me pedir, querido. – ela disse, ironicamente. – Quer que eu conte quantos walkers há também? Posso levar uma calculadora.
Pandora, vendo que Rick se mantinha sério, mesmos depois de sua piada, deu de ombros e se virou para o penhasco e pulou, derrapando com seu sapato sobre as pedras e logo parando lá embaixo entre os mortos. Enquanto as pessoas lá em cima exclamavam surpresos e assustados.
- Você não brincou quando disse que a garota era imune. – Deanna disse de olhos arregalados ao ver Pandora avançando entre os walkers sem que nenhum deles lhe dignasse um misero olhar.
Rick a olhou por um momento, enquanto via que Pandora havia gritado um “cala a boca” e todos os walkers haviam parado de grunhir no mesmo instante. Mesmo depois de anos, ela não deixava de ser surpreendente.
- Eu nunca mentiria se tratando de uma coisa assim. – ele disse, olhando para Pandora que ao longe acenava para eles.
***
Zona Segura de Alexandria – 2016.
Pandora aninhava Judith em seus braços, enquanto ia para o andar de baixo da casa. Já era tarde da noite, e depois de algumas tentativas frustradas de dormir, ela havia se levantado e visto que Judith estava tão atenta quanto ela.
Rick por outro lado, parecia morto em sua cama, dormindo tão profundamente que não escutara o choro de sua filha. Pandora entendia, e apenas pegou a garotinha nos braços e saiu do quarto de Rick com ela, deixando com que ele dormisse em paz.
Quando a garota chegou à varanda na frente da casa, viu que Daryl estava ali, sentando nos degraus da frente, limpando calmamente suas flechas. Sorriu, levemente e andou até ele, se sentando ao seu lado com Judy em seu colo.
Daryl brincou alguns segundos com a garotinha, antes de se virar para Pandora.
- Foi uma cena incrível de se ver. – ele disse. – Você entrando no meio dos walkers na pedreira, quero dizer. Todos ficaram boquiabertos.
Pandora sorriu levemente.
- Obrigada. – ela disse, olhando para a frente, para as ruas desertas de Alexandria.
Daryl coçou um pouco a nuca, parecendo pensativo.
- Rick me contou. – ele começou. – Ele me disse que você o contou o que Oliver fez com você...
Pandora revirou os olhos, soltando uma risada nasalada.
- Ele não deveria ter feito isso. – ela comentou. – Ele me odeia.
Daryl suspirou, negando com a cabeça.
- Ele não te odeia. – ele disse. – Ele tem raiva de você e mágoa. Mas ele jamais te odiaria. Ele se preocupa com você. Nós nos preocupamos.
Pandora olhou para o homem por um momento. Passou os dedos em uma das mechas de cabelos castanho que cobria os olhos de Daryl, e sorriu carinhosamente.
- Você precisa de um corte de cabelo. – ela disse, suavemente. – Isso, e começar a se abrir com as pessoas. Converse comigo sobre Beth. Eu sei o quanto sofreu e ainda sobre por isso. Está nos seus olhos. – ela disse. – Você a amava?
Daryl se remexeu, bagunçando os cabelos e negando com a cabeça.
- Ela era apenas uma criança. – ele disse, um pouco triste. – Uma criança que eu falhei em proteger.
Pandora pegou uma das mãos de Daryl.
- Você tem que parar de se culpar por tudo, irmãozinho. – ela disse, suavemente. O chamou de irmão tão naturalmente que Daryl estranhou. – Você precisa de alguém, todos nós precisamos. Não é bom estar sozinho hoje em dia. – ela disse. – E o sexo também é um ponto positivo se quer saber.
Daryl soltou uma risada, e desviou os olhos para Judith. Se preparou para levantar, porém foi impedido por Pandora, que o segurou pelo pulso e o manteve no lugar. A garota se inclinou sobre ele e beijou suavemente a testa do homem, o liberando para se levantar logo em seguida.
- Você deveria dormir. – ela comentou, brincando com Judith. – Amanhã o dia será cheio.
Daryl assentiu e bagunçou os cabelos de Pandora, entrando na casa e deixando a garota junto a Judith do lado de fora.
Pandora ficou por mais algum tempo sentada nas escadas, enquanto tentava sem sucesso fazer com que a garotinha dormisse. Tudo o que fazia era em vão, então se contentou em ficar brincando com a bebe.
Pandora realmente não estava preparada para enfrentar aquilo. Brincava com a garotinha casualmente, mas o choque veio em tamanha proporção que a garota paralisou e ficou olhando fixamente para Judith, que em sua vozinha infantil, havia acabado de a olhar e dizer uma palavra:
Mamãe.
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