História Patient Zero - A história da garota burra

Arredores de Alexandria – 2016.

 

Pandora corria ao lado de Rick e Michonne, enquanto eles se encaminhavam para o ponto de encontro amarelo. Esse era nada mais do que uma curva na estrada com as placas de ferro que Carter e Tobin haviam planejado com um trailer estacionado para sustentar o peso das batidas e trombadas dos walkers do outro lado.

Rick parou ofegante quando eles chegaram ao local, e retirou o walkie talkie do cinto, tentando se comunicar com Glenn, que também já deveria estar no amarelo.

— Glenn, já chegou? — Rick perguntou pelo aparelho.

— Quase. — disse Glenn do outro lado do walkie talkie, sua voz soava robótica — Vamos ajeitar tudo antes de eles chegarem. Nos vemos no amarelo.

Rick suspirou, assentindo.

— Entendido. — ele confirmou, já desligando o dispositivo.

Rick olhou ao redor, de Michonne para Pandora que permanecia de pé, tranquila e com uma pose relaxada. Usava o maldito óculos de sol e parecia não se importar com as ameaças e perigos que eles enfrentariam com essa relocação dos walker.

— Seu problema é que você se acha autentica. — ele disse de repente, olhando para a garota com um ar desafiador. Conversar e relembrar dos tempos de Atlanta com ela não significava que ele a havia perdoado.

Pandora relocou os óculos para a ponta de seu nariz e olhou para Rick com ironia.

— Sou autentica sim. — ela confirmou. — Tenho meus poderes, minha própria personalidade...

Michonne soltou uma risada.

— Personalidade explosiva, eu diria. — ela disse, divertidamente. Aquela conversa era como um alivio cômico no meio daquele mar de tensão pelo que estavam passando.

Pandora olhou para a amiga com um sorriso no rosto, se virou para Rick novamente, com um ar humorístico no rosto.

— Vou te contar uma história... — Pandora começou.

Michonne levantou uma sobrancelha e sorriu.

— A da menina burra? — perguntou ela com humor na voz, enquanto Rick se sentia perdido entre o mar de nostalgia que as duas se afundavam naquele momento.

Pandora apenas assentiu, ainda encarando Rick.

— No início do apocalipse eu salvei uma garota da morte uma vez, — Pandora começou, calmamente. — A garota como boa atrasada mentalmente que era, pensou que podia ser imune como eu, e também roubar minha personalidade. — ela disse, enquanto Rick levantava uma sobrancelha. — Um dia eu a peguei deitada em cima de um carro, fumando um cigarro suspeito, enquanto uma horda de walkers passava por ela.

Rick arregalou os olhos, ouvindo Pandora atentamente. Michonne apenas olhava do homem para a amiga e ria internamente.

— E o que aconteceu? — Rick perguntou, curiosamente.

Pandora soltou um risinho maldoso e deu de ombros.

— No final ela não era imune merda nenhuma. — Pandora contou. — Caiu do carro e morreu devorada. — ela disse dando de ombros, enquanto Rick arregalava os olhos. — Não mandei me plagiar.

Rick a encarou por alguns segundos antes de expressar um sorrisinho irônico e soltar uma risada seca e nasalada. O homem se virou de costas, olhando novamente para o trailer estacionado que dava apoio às placas de aço.

Pandora olhou para os lados, escutando ao longe os ruídos e grunhidos irritantes das criaturas que ela mesma dera origem. Olhou de Michonne para Rick e assentiu com a cabeça brevemente, retirando seu sinalizador do cinto da calça.

— Eles estão vindo. — ela confirmou a pergunta não feita pelos dois.

Rick assentiu, ele ergueu seu próprio sinalizador e deu um tiro para cima, Michonne seguiu seu exemplo segundos depois, e então Pandora. Logo os três puderam ouvir mais ainda os grunhidos e o barulho do motor da moto de Daryl.

Pancadas e mais pancadas bruscas começaram a soar contra as placas de aço. Pandora estreitou os olhos e andou lentamente até a fresta abertas entre duas dessas placas e observou os walkers se chocando debilmente contra elas, enquanto viravam a curva na estrada.

— Vamos lá... vamos lá, Daryl. — ela murmurava, enquanto espalmava suas mãos sobre as placas. — Não morra seu idiota.

A garota balançou a cabeça negativamente, e entrou de volta no meio da floresta junto a Michonne e Rick. Eles iriam combinar de se encontrar com Glenn no próximo ponto de desvio.

***

Rick, Pandora e Michonne viram ao longe o grupo de Glenn se reunir com mais algumas pessoas que estavam com Carter. Eles agora estavam na área florestada na base da estrada e os milhares de walkers passavam a apenas alguns metros de distância deles.

— Um bom dia para ser imune. — Glenn comentou tentando soar descontraído para Pandora.

A garota o olhou e sorriu verdadeiramente, como sempre acontecia quando via ele ou Maggie. Mesmo depois de anos eles pareceram não ter mudado em nada a amizade forte entre eles. E o principal laço dessa união era a memória de Hershel Greene.

— Um bom momento em que eu decidi dar as caras por aqui novamente. — ela respondeu.

Glenn sorriu minimamente.

— Mesmo que você aparecesse daqui há 5 anos, nós a aceitaríamos de volta de qualquer jeito. — ele disse.

Pandora suspirou, olhando para a frente e observando Rick conversar com Carter.

— Nem todo mundo. — ela disse para si mesma.

Rick assentiu por causa de algo que Carter havia dito, apertou a mão do homem, e se virou novamente para o grupo de pessoas ali, o esperando para cumprir suas ordens.

— Vamos acabar com isto. — ele disse, olhando ao redor. — Não podemos parar. Vamos espalhá-los, de frente para trás.

Rick se virou para Glenn que estava ao lado de Pandora.

— Glenn, cuide da parte de trás. — ele disse, apontando para o coreano. — Pegue o outro rádio.

Glenn imediatamente assentiu.

— Deixe comigo. — ele disse.

Rick olhou novamente para o grupo e relembrou de algo que Pandora havia dito sobre os walkers. Sobre como eles eram movidos principalmente pela audição.

— Se eles ficarem lentos demais, atiramos para que eles retomem o ritmo. — ele disse para o grupo.

Carter assentiu um pouco raivoso. Aparentemente ele não gostava de receber ordens, principalmente de Rick.

— Vou na frente. — ele disse, já se movendo.

Rick assentiu, já seguindo o homem, enquanto logo atrás iam Pandora e Michonne.

Pandora alcançou Rick quando ouviu um grito. O homem estava prestes a pegar o walkie talkie e falar com alguém, quando Pandora o impediu que ele continuasse.

— Eles estão se dividindo, estão entrando pela mata. — Rick disse, olhando para Pandora indignado.

Pandora negou com a cabeça.

— Se atirar um sinalizador agora, você corre o risco de desviar mais ainda do destino. — ela disse, já caminhando para a estrada, aonde podiam ver alguns walkers saindo da formação e entrando entre as arvores. — Eu cuido disso.

Pandora correu até os walkers e parou de frente a eles, soltando um grito estridente e repreensor, como se os mortos fossem seus filhos adolescentes e rebeldes.

— O que pensam que estão fazendo, seus sacos de carne podres? — ela gritou mais uma vez. — Eu não mandei vocês saírem da formação! — ela disse, enquanto via os walkers pararem e a olharem atentamente. — O que estão esperando? Voltem para seus lugares agora!

Os walkers resmungaram mais algumas vezes, porém se viraram cambaleantes e voltaram lentamente para a estrada. Olhou para trás e viu Rick correndo para o que parecia ser um walker atacando o rosto de Carter.

Pandora arregalou os olhos quando viu que o motivo dos mortos continuarem saindo da posição eram os gritos altos que Carter soltava. A garota correu até Rick e parou atrás dele, enquanto ele tentava acalmar Carter, mas era sem sucesso.

— Rick...

Os gritos de Carter até mesmo sobressaiam a voz da garota.

— Eu estou morto! — Carter berrava, enquanto sua cara jorrava sangue. — Eu estou morto!

Rick o segurava contra o chão, tentando acalma-lo.

— Carter, acalme-se! Respire fundo! — Rick exigia. — Carter!

— RICK! — foi Pandora quem berrou dessa vez, fazendo com que ele olhasse para estrada e visse que alguns mortos tentavam sair do grupo.

Rick olhou para baixo, para Carter que berrava mil e uma palavras de socorro e clamava por Deus. Pandora observou a cena. O homem não parava de gritar, e isso fazia com que os walkers se desalinhassem e saíssem de seus postos. Carter já estava morto, e sabia que alguém teria que dar um fim nele, mas se fosse Rick a mata-lo, os habitantes de Alexandria poderiam muito bem acusa-lo de assassinato.

Por esses motivos, Pandora não pensou muito. A garota sacou o que era antes seu antigo cinto de facas da época de Atlanta e enfiou uma delas com brutalidade no crânio de Carter, o matando instantaneamente, enquanto Rick a olhava com um olhar perdido no rosto.

— Você está bem? — ele perguntou, debilmente para Pandora, enquanto encarava suas mãos repletas de sangue.

Pandora observou ao longe os walkers perderem o interesse no que havia na floresta e voltarem para a estrada. A garota assentiu para Rick e se levantou lentamente, observando Michonne chegar, inclusive acompanhada de Morgan, que a olhava com um pouco de repreensão.

— Nós conseguimos, Tobin. — Rick disse ao homem, pelo walkie talkie.

— Entendido. — disse Tobin do outro lado da linha. — O que foi essa gritaria?

Pandora suspirou, olhando para Michonne, enquanto Rick a encarava.

— Carter foi mordido no rosto. — ele parou de dizer, por alguns segundos. — Eu o silenciei.

Rick andou até o corpo do walker que havia matado Carter e pegou o rifle caído no chão. Encarou novamente seus três acompanhantes.

— Temos uma hora até chegarmos no verde. — ele disse. — É aí que entregamos essa horda a Daryl, Sasha e Abraham.  — ele se virou para Morgan. — Por que não volta e conte a todos o que aconteceu?

Morgan assentiu.

— Diga a eles que fui eu. — Pandora disse. — Eles precisam saber a verdade.

Rick a olhou por alguns segundos e se virou para Morgan novamente. Ele se sentia um pouco estranho ao ser protegido por Pandora.

— Diga a eles que eu tive que fazer o que era preciso. — ele disse a Morgan, que encarou o amigo com certa tristeza. — Eu, ninguém mais.  — Rick se virou para Michonne e Pandora novamente. — Michonne, assuma a ponta, você, — olhou para Pandora. — Venha comigo.

Eles passaram mais cerca de uma hora caminhando pela mata que margeava a estrada. Rick, Michonne e Pandora juntos, enquanto Morgan havia se separado deles para voltar a Alexandria a pedido de Rick. Foi no meio dessa caminhada, enquanto chegavam ao ponto verde, que Pandora ouviu algo que não a agradava.

— Z? — Michonne parou, imediatamente ao ver que Pandora havia parado de andar.

Pandora olhou para a amiga, estreitando os olhos.

— Há algo errado...

Rick franziu a testa.

— O que...

Porém o homem não teve a chance de complementar sua fala. Um segundo depois, uma buzina estridente soou ao redor deles. O som parecia vir dos lados de Alexandria, e Pandora podia ver e sentir os walkers se agitando e se distraindo por causa daquele som.

— Parece estar vindo de casa. — Michonne disse.

Pandora arregalou os olhos para a estrada e saiu correndo, pegando Michonne pela mão e a puxando com ela, enquanto Rick via os walkers indo atrás deles. O homem as seguiu imediatamente, e os três iniciaram uma incessante correria pela floresta.

***

Em algum ponto no meio do desespero, eles haviam encontrado Glenn e seu grupo que cuidava da parte de trás. Todos eles começaram a correr juntos, porém aquilo não era algo que iria adiantar naquele momento. Os mortos chegariam a Alexandria, Pandora sabia disso.

— Tente novamente. — Glenn disse a Rick, quando eles pararam um pouco de correr.

Rick, novamente tentou se comunicar com Tobin pelo walkie talkie, porém foi em vão. Aparentemente a distância entre eles era muito grande para que houvesse aquela comunicação.

Rick arregalou os olhos quando viu mais alguns walkers chegarem rapidamente até eles. Bastou apenas um olhar para Pandora, para que a garota entendesse o recado, e sacasse o chicote, o estalando no ar e arrancando as cabeças dos mortos de uma vez.

Rick, Glenn, Michonne e Pandora continuaram a correr lado a lado, enquanto os demais do grupo vinham um pouco atrás. Rick a todo momento tentava se comunicar com alguém, até que conseguiu contatar Daryl, e o informou de toda a situação alarmante pela qual passavam naquele momento.

— É uma buzina alta, vinda do leste. — ele conversou com Daryl. — Não para.

Houve alguns momentos de silencio do outro lado da linha, por parte de Daryl.

— Pandora? — a voz do homem veio hesitante.

Rick apenas olhou para a mulher correndo ao seu lado e jogou o aparelho de comunicação nas mãos de Pandora.

— Daryl! — ela disse, ofegante. — Estou aqui! Estou bem!

— Vou acelerar! Vou voltar! — Daryl disse do outro lado.

Pandora encarou Rick de olhos arregalados.

— Não! — ela exclamou. — Nós vamos! Você continua!

Pandora olhou para Rick e ele assentiu, querendo dizer que ela havia dito o certo.

— Vão precisar de ajuda! — Daryl disse.

Pandora negou com a cabeça, mesmo sabendo que ele não podia ver.

— Mantenham o bando em movimento, Daryl! — ela disse.

— Aonde está Rick? — Daryl perguntou pelo walkie talkie. — Ele concorda com isso?

Pandora engasgou com a falta de ar pela corrida, antes que pudesse responder.

— É ele quem está me mandando dizer isso! — ela disse. — Se o resto do bando virar, a coisa ficará pior ainda. — fez-se um momento de silencio, e Pandora estreitou os olhos. — Daryl?

A garota pôde ouvir o homem bufar do outro lado da linha.

— Entendi. — ele disse, já desligando o aparelho.

Pandora entregou o walkie talkie de volta a Rick e eles continuaram correndo, até que uma das mulheres do grupo caiu e virou o tornozelo. Isso aparentemente levou Rick a enxergar que ficar correndo daquele jeito não os levaria a nada.

— Escutem, novo plano. — ele disse, enquanto os demais paravam de correr ofegantes. — Eu volto, pego o trailer e dou a volta pelo mato na Redding. Entro na frente deles antes de eles chegarem lá.

Pandora deu de ombros o observando por alguns segundos.

— Eu topo. — ela disse, e Rick a encarou confuso. — Eu vou com você. Posso para-los por algum tempo, para que consigam ganhar vantagem na corrida.

Rick apenas assentiu, se contentando em enxergar que ela estava certa.

— Glenn, Michonne. — ele continuou. — Os levem para casa, eles podem estar precisando de ajuda.

Rick se virou e começou a andar, sendo seguido por Michonne, Glenn e Pandora. O coreano contestava a decisão de Rick e Pandora de cuidarem daquilo sozinhos, porém nenhum dos dois deu o braço a torcer e continuaram com o mesmo plano.

Pandora suspirou, olhando uma última vez de Michonne para Glenn.

— Cuidem-se, vocês dois. — ela disse, suavemente. — Voltem em segurança.

E seguiu Rick mata adentro.

***

— Rick, é o Glenn. — a voz saiu do walkie de Rick, enquanto eles corriam. — Estamos numa cidade a cinco graus do ponto verde.

Mais à frente haviam quatro walkers devorando o que parecia ser a carcaça de um ser humano morto. Rick tomou a frente, matando brutalmente o primeiro, e então o segundo

— Se chegar à estrada Redding em 20 minutos, terá êxito. Estamos a essa distância do bando. — dizia Glenn, enquanto Pandora ajudava Rick a matar os andarilhos. — Farei um incêndio para distrai-los. Se não vir fumaça, ainda estão indo em sua direção.

Rick e Pandora pararam de matar os andarilhos ofegantes, enquanto ouviam a respiração desregulada de Glenn do outro lado da linha.

— Tenho que desligar. — o coreano disse. — Boa sorte, dumbass.

Com essa última palavra do coreano, Rick desabou de joelhos no chão, ofegante, enquanto encarava suas mãos de modo trêmulo. Pandora o agarrou pelos ombros, o tentando puxar para que ele ficasse de pé.

— Rick... — ela disse. — Temos que ir.

Rick a encarou, assentindo e respirou fundo. Arrancou a arma do bolso do corpo morto, a colocando na bolsa que carregava, e com a ajuda de Pandora, se levantou, voltando a correr ao lado da garota.

Alguns minutos depois, eles chegaram ao ponto laranja aonde o trailer se encontrava. Pandora deu partida no veículo, ajudando Rick que possuía a mão machuca e eles seguiram pela estrada, de volta aonde tentariam bloquear o caminho da gigante horda de mortos que os seguiam.

Eles pararam o trailer no meio da estrada, tentando se comunicar com alguém pelo walkie talkie. Glenn e Tobin estavam inalcançáveis, apenas Daryl conseguiu se comunicar, e Rick explicou tudo para o homem, a tempo de ouvirem os tiros vindos de Alexandria.

— O bando deve estar quase aqui. — Rick disse, depois que conseguiu explicar tudo para Daryl, Sasha e Abraham pelo walkie talkie.

Rick colocou o aparelho de comunicação de lado e pegou um lenço de papel que estava no porta luvas do veículo no intuito de limpar o ferimento na palma de sua mão. Pandora suspirou, se sentindo tremula e um pouco amedrontada com a possibilidade do bando de walkers invadirem Alexandria com Carl e Judy dentro.

A garota passou os dedos pela corrente de prata do relicário que Carl a dera a dois anos atrás e abriu o objeto, olhando para as fotos ali dentro. Carl, um garoto de nove anos na época em que a foto fora tirada e Rick, também com um rosto bem mais jovial e com um certo ar de homem cumpridor de regras.

Rick, que estava em frente a garota, encarou o colar que ela carregava no pescoço por alguns segundos, porém antes que pudesse dizer algo, um homem arrombou a porta do trailer e começou a atirar em direção aos dois, que se jogaram ao chão, tentando se proteger dos tiros.

Rick se levantou bruscamente do chão, e se jogou sobre o homem que havia atirado neles, tentando o enforcar. Porém outro homem surgiu e se jogou em cima de Rick, o puxando de cima do parceiro e enroscando seu braço ao redor de seu pescoço.

Pandora sacou o chicote de uma vez e o enrolou em volta do pescoço do homem que enforcava Rick. O impacto lançou o homem de costas no chão e quebrou seu pescoço no mesmo segundo, enquanto Rick apenas se contentava em chutar a cara do outro homem.

Pandora pegou duas de suas facas e enfiou uma no cérebro de cada indivíduo, enquanto Rick se levantava e seguia para o banco da frente do trailer. A garota retirou o que parecia ser uma lata de condimentos e mostrou para Rick, alarmada.

— Eles vieram de Alexandria. — ela disse.

Rick a encarou por alguns segundos e desviou seus olhos para o retrovisor do veículo, vendo mais algumas pessoas se esgueirando pela lateral. Rick olhou para Pandora e fez um sinal para que ela se abaixasse, e em silencio ela o fez.

O homem então, apenas se virou e metralhou a lateral do trailer, matando os intrusos imediatamente. Rick correu de volta para o banco de motorista e tentou reiniciar o motor, porém foi em vão. O trailer havia morrido, e Rick entrado em desespero.

— Não. — ele murmurava. — Não.

Pandora olhou por cima do ombro, ouvindo os grunhidos da horda que os havia alcançado.

— Rick. — ela disse. — Acabou.

***

Deanna se localizava no posto de observação dos muros em Alexandria. Observava não só a destruição ao redor da cidade, com os prédios queimados e o caminhão chocado contra a torre da igreja, mas como também tinha dali uma visão privilegiada da desgraça que ocorria naquela comunidade.

Fora um caminhão com uma buzina alta que se chocara contra os muros, e dezenas de homens estranhos e assassinos com a letra “w” cravada em suas testas invadiram a comunidade e fizeram questão de massacrar o máximo de gente possível.

Não apenas adultos, idosos e crianças também. Sádicos, eles eram todos sádicos.

— Abram o portão! — foi o grito com a voz de Rick Grimes que despertou Deanna de seus devaneios.

A mulher se virou para trás e viu Rick, e a mulher Pandora correndo em direção a Alexandria com milhares de mortos os seguindo. Deanna arregalou os olhos e desceu imediatamente do posto de observação, enquanto via Rick e a garota correrem.

Pandora praticamente sustentava Rick, que por si próprio já parecia mais walker do que realmente vivo de tão machucado. Quando a garota viu que o cerco iria se fechar sobre Rick, e que os walkers os cercavam de todos os lados, ficou feliz em ver que Michonne havia aberto os portões, e então empurrou Rick para frente, para os braços da samurai, enquanto a força fazia com que ela caísse no chão.

Quando viu que Rick já estava dentro dos limites de Alexandria, arregalou os olhos.

— O que está esperando, Mich? — ela gritou. — Feche o maldito portão agora!

Tanto Michonne quanto Rick arregalaram os olhos. Eles sabiam que não se tratava de Pandora ser devorada pelos walkers, mas sim que uma vez fechado, eles não poderiam abrir novamente o portão, por causa dos walkers.

Quando viu que ela não receberia nenhuma reação de Rick ou de Michonne, Pandora se levantou do chão e correu até eles, fechando o portão e a deixando de fora.

— Está ficando louca? — Rick berrou, se agarrando as grades.

Pandora apenas exibiu um sorriso. Olhou para trás da cabeça de Michonne e viu Maggie ali. Era esse o seu objetivo. Glenn.

— Na prisão, na noite em que você pensou que eu estava morta. — Pandora se virou para Rick, o encarando. — Eu ouvi o que disse, pelo menos acho que ouvi. — ela parou, o encarando. — Era verdade? Você disse mesmo? Não foi um sonho?

Rick suspirou, olhando para os walkers que se aproximavam cada vez mais dos portões.

— Pandora...

— Rick. — ela disse. — Por favor me diga.

Ele soltou a respiração, assentindo brevemente.

— Não era. — ele disse. — É verdade.

Pandora exibiu um sorriso, se afastando das grades do portão.

— Eu também te amo, idiota. — ela disse, se afastando cada vez mais.

Rick arregalou os olhos, se dando conta que havia confessado a mesma coisa.

— Aonde está indo? — ele gritou, enquanto observava Pandora se enfiar no meio dos walkers.

A garota se virou para eles uma última vez, mas dessa vez não encarou Rick e sim Maggie que também observava tudo.

— Eu vou encontrar Glenn. — ela disse, se afastando cada vez mais. — Eu prometo.