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História Patologia - Capitulo Único


Escrita por: UliEvee

Notas do Autor


Mais uma one shot... Desta vez, com um pouco de Se Hunnia e Soo Coruja! Ok. Brincadeiras a parte.
Para dizer a verdade, estou participando de um novo concurso de fanfics e o tema é Hospital...
Sem delongas... Vamos à leitura!

Capítulo 1 - Capitulo Único


Patologia (Pathos = doença e Logos = estudo) é o estudo das alterações estruturais, bioquímicas e funcionais nas células, tecidos e órgãos, que visa explicar os mecanismos pelos quais surgem os sinais e os sintomas das doenças.

 

Era mais uma noite de plantão na emergência do Hospital Geral de Busan e havia uma enorme movimentação de pacientes, acompanhantes, médicos e enfermeiros pelos inúmeros corredores do hospital. Ordens, transferências, soros, suturas... Para alguém que estava nos últimos dias de estágio e prestes a se formar, Se Hun estava lidando bem com a situação. Da sua equipe composta por Jong In, Min Seok e Baek Hyun, ele era o líder; mesmo sendo o mais novo. O rapaz de madeixas negras levou alguns prontuários de internação para a recepção e cumprimentou algumas enfermeiras que passavam com um breve sorriso, preenchendo o formulário.

_ Soube da novidade? – o timbre empolgado de Baek Hyun, outro residente do hospital, praticamente brotou do seu lado. – Nós teremos um novo professor.

Se Hun o olhou breve e desviou a atenção para os outros dois amigos que se aproximavam devagar. Por mais que quisesse negar, apenas um deles combinava bem com as roupas de enfermeiro: exatamente o loiro com olhos de gato. Min Seok parecia ter nascido para tal profissão ou médico daquele hospital. Seu jeito carinhoso de atender as pessoas e físico de tirar o fôlego eram o seu maior charme, chamando a atenção não apenas das crianças, mas das mães também. Geralmente, sua área era a pediatria, contudo, devido ao grande movimento na emergência, ele foi transferido para lá.

Em segundo lugar – em termos de beleza –, estava Jong In. Pelo menos, na opinião de Se Hun. Um ótimo colega de equipe, no entanto, sua timidez e simpatia pareciam contradizer com a aparência sedutora e tentadora do moreno de olhos pequenos e tez castanha. E por último, não menos importante, estava Baek Hyun, com o seu jeito engraçado de ser. Sempre com um sorriso retangular no rosto e uma aura positiva escapando pelos poros, o também residente de olhos pequenos e cabelos castanhos dourados era o enfermeiro perfeito para tranquilizar os familiares das vítimas.

E Se Hun? Ele preferia não falar sobre si.

_ Um novo professor? – questionou Se Hun, olhando-os.

_ Dizem que foi transferido de Seul para cá. – comentou Jong In. – Pelo menos, foi o que eu ouvi.

_ Mas talvez tenha uma explicação. – Min Seok suspirou.

_ E qual seria? – Baek Hyun se virou para o mais velho.

_ O Hyung estava transando com uma das residentes e a mudança de professor seria a nossa punição. – murmurou Se Hun num tom baixo, fazendo o mais velho rir baixinho e dar de ombros. – O Dr. Lee me contou que, o outro motivo, era que ele estava se aposentando.

_ Eu não acredito! – resmungou o castanho, recostando-se ao balcão. – Prestes a me formar e eles decidem trocar o nosso professor?

_ Com licença. – rapidamente, a atenção do quarteto se desviou para um rapaz de sobrancelhas grossas, olhos grandes e lábios cheios que arrastava uma mala consigo. – Sabem dizer onde encontro o Dr. Lee Hyuk Jae?

_ Por que quer saber? – Jong In meteu-se na frente do rapaz, que recuou um passo, alternando os olhos entre os residentes. – Por acaso, é paciente?

_ Não. – negou. – Eu sou...

_ Dr. Do! – logo Se Hun, Baek Hyun, Jong In e Min Seok desviaram os olhos para o lado, onde avistaram seu professor e responsável pela equipe, enquanto Hyuk Jae se aproximava em passos largos. – Peço perdão pelo motivo da transferência. – e curvou-se em respeito. – Mas é uma honra recebe-lo aqui.

_ Posso dizer o mesmo. – respondeu, sorrindo breve.

_ Imagino que já esteja se familiarizando com seus alunos. – e desviou a atenção para o quarteto. Min Seok apenas reprimiu um sorriso, enquanto Baek Hyun virava o rosto e Jong In engolia em seco. Apenas Se Hun ainda o olhava. – Essa é a sua equipe, Dr. Do.

_ Obrigado. – agradeceu. – Só irei guardar meus pertences antes de iniciar o trabalho.

Em silêncio, os três acompanharam o caminhar calmo do médico, que se afastava na direção da sala dos funcionários. Se Hun respirou fundo, devolvendo o formulário e se virou para os amigos que sequer reagiam. E não demorou muito para que Hyuk Jae dissesse suas últimas explicações.

_ Antes de ir, eu quero lhes explicar algumas coisas sobre o Dr. Do. – começou. – Seu nome é Do Kyungsoo. Ele é um dos mais jovens cirurgiões do mundo. Muitos o chamam de “prodígio da medicina”; outros de “Dr. Estranho”, o que faz mais sentido já ele é um pouco estranho. Nunca, jamais perguntem sobre a família dele. Recentemente, o Dr. Do perdeu seu irmão mais velho na mesa de cirurgia.

_ Mais alguma coisa que queria acrescentar? – Baek Hyun o olhou.

_ Não perguntem sua preferência sexual. Ele não gosta de falar disso. Quanto ao trabalho, deem o seu melhor e serão recompensados por ele. – por fim, estreitou os olhos. – Façam uma besteira e ele os afastará do hospital. Kyung Soo é do tipo que trabalha sozinho. Apesar do seu jeito frio, ele tem um bom coração. Basta saber se aproximar dele da forma certa.

_ E qual é a forma certa? – questionou Jong In.

_ Essa que é o contrário do que você fez. – o olhou, sorrindo e Jong In corou violentamente. – Ele não gosta de pessoas que gostam de serem tratadas como escravos. Ele quer trabalhar com pessoas que ele pode confiar. Se você estiver certo quanto ao diagnóstico, ele lhe dará atenção. Se errar... Bem... Eu não gostaria de estar na pele de vocês.

_ Só está nos alertando, Dr. Lee. – Min Seok franziu o cenho. – Como faremos para nos dar bem com ele?

_ Descubram. – sorriu, se afastando em seguida. – Afinal, vocês serão futuros médicos.

_ Que belo conselho. – reclamou Baek Hyun, após a partida do outro. – E você, Se Hun-ah? O que achou dele?

_ Eu creio que Kyung Soo é o tipo de pessoa que sofre calado. – comentou, no entanto, sua atenção se voltou para a entrada da emergência. – Agora, voltem ao trabalho.

 

Diante de seu próprio armário, Kyung Soo encarava a foto de seu irmão mais velho por longos minutos, enquanto as lembranças de seu passado sombrio retornavam à sua mente. Seu irmão havia confiado plenamente em si. Fora ele quem disse que estava tudo bem, por que sabia que ele faria o outro melhorar. Mas... Ele morreu. Diante de seus olhos, na sua mesa de cirurgia. E, acima de tudo... Era a primeira vez que acontecia aquilo consigo.

Naquele ano, em 2012, seu irmão estava pronto para remover um pequeno tumor na cabeça. Parte do tratamento havia sido feito, mas havia a necessidade de retirar o maligno por completo. Kyung Soo sequer pensou duas vezes em aceitar o pedido de ele mesmo fazer a cirurgia no mais velho. Estava pronto completamente. Já fizera aquele procedimento muitas e tantas vezes que perdia nos dedos toda vez que contava.

Contudo... O que deu errado?

Seung Soo estava bem. Seus batimentos cardíacos estavam normais, assim como a pressão e tudo o mais. Porém, numa fração de milésimos de segundo... Ele se foi. Massagem cardíaca, desfibrilador, máscara de oxigênio... Tudo foi utilizado naquela noite quente de verão. Logo após a cirurgia, ele sequer tinha coragem de olhar para os próprios pais. Sua mãe pedia explicações sobre o que houve com seu primogênito, mas Kyung Soo sequer abria a boca.

Afinal, o que ele poderia dizer?

Que perdeu seu irmão na cirurgia que ele tanto se acostumara a fazer?

Que falhou miseravelmente na promessa de seu irmão?

Não... Ele não podia dizer isso.

_ Dr. Do. – Kyung Soo foi removido de seus devaneios pelo timbre calmo de Baek Hyun, que o cumprimentou respeitosamente. – Meu nome é Byun Baek Hyun. Eu sou um dos residentes e estarei na sua...

_ Saia daqui. – ordenou sem aumentar o tom de voz. – Eu não quero olhar para você.

O castanho piscou surpreso e rapidamente deixou a sala, ao que o moreno voltou sua atenção para a foto em mãos. Silenciosamente, algumas lágrimas escorreram por seu rosto, fazendo-o secá-las rapidamente e guardar seus pertences, antes de vestir o jaleco branco. Por fim, deixou a sala dos funcionários e atravessou o famoso campo de batalha do hospital. Em menos de vinte segundos, Kyung Soo encontrou os três membros da sua equipe, que se reuniram no centro da emergência.

_ Só são vocês três? – questionou, olhando-os.

_ Bem... É que... – gaguejou Jong In. Ele já errara uma vez e tinha medo de se repetir.

_ Se Hun-ah não está aqui. – disse Min Seok. – Ele também faz parte da equipe.

_ E por que ele não está aqui? – encarou-os.

_ Bem... É que... – desta vez, Baek Hyun murmurou nervoso.

_ Ele está na sala de cirurgia, atendendo um... – continuou o mais velho.

_ Ele é cirurgião?

_ Não, mas o conselho que o Dr. Lee nos dava é que... – Min Seok tentou se explicar, porém foi interrompido.

_ Eu não sei quem você é, mas eu quero deixar algo claro. – e se aproximou, ainda lhe encarando. – Nenhum residente pode estar numa sala de cirurgia...

_ Sem a permissão de seu professor. – completou o timbre suave e rouco de Se Hun, que se aproximava devagar, curvando-se de leve.

Kyung Soo o olhou por alguns minutos, repreendendo-o por não chegar no horário, e iniciou suas instruções. Vez ou outra, Min Seok desviava os olhos para o amigo que ainda encarava o médico até que, finalmente, os residentes foram para os seus postos. Jong In foi avaliado pelo mais velho em casos de suturas e troca de soro. O nervosismo do moreno era tanto que, se não fosse por Baek Hyun fazendo o trabalho, ele teria desmaiado.

_ Tem problema com agulhas? – questionou Kyung Soo.

_ Jong In tem Aicmofobia. – explicou Min Seok. – Nos primeiros dias de teste, ele chegou a fugir da aula e quase nos reprovou.

Se Hun se lembrava bem daquele dia. 

Os rapazes haviam formado duas duplas: Baek Hyun e Jong In e Min Seok e Se Hun. Contudo, quando o enfermeiro responsável pela aula pediu para que eles aplicassem a agulha no seu parceiro, o moreno praticamente desmaiou antes mesmo de tocar no pequeno objeto. No início, os amigos acharam que era pura infantilidade para não frequentar as aulas. Até que o mais velho visitou os pais do rapaz e constatou o medo patológico alheio.

Por isso, a função de Jong In é apenas entregar o medicamento.

_ Medo de agulhas? – Kyung Soo estreitou os olhos. – Então, por que raios ele está aqui?

_ Nós conversamos com o Dr. Lee para que permitisse que Jong In apenas entregasse as medicações que não precisassem de agulha. – explicou Se Hun.

_ Ele não deve ficar aqui. – e, dando a conversa por encerrada, o médico saiu.

Logo, o quarteto deixou o leito, sendo Jong In arrastado por Baek Hyun, já que suas pernas sequer conseguiam se mover. Min Seok tentou explicar ao médico sobre a situação do colega, porém foi silenciado pelo outro que não queria ouvir desculpas. Por fim, Kyung Soo se aproximou do moreno e lhe olhou nos olhos.

_ Escute: se quer se tornar médico, deve se acostumar a aplicar injeções e mexer em agulhas. – em resposta, Jong In desviou os olhos, derramando algumas lágrimas. – Venha. Farei mais um teste em você.

Nervoso, Jong In encarou os amigos sem entender o que o outro pretendia fazer, contudo, antes que Min Seok pudesse justificar ao médico sobre as condições do outro, Kyung Soo entrou em uma das salas de cirurgia disponíveis. Logo, apontou para o mais velho dos quatro, ordenando que ele deitasse sobre a cama, ao que ele respirou fundo, assentindo. Assim que o fez, o baixinho de lábios carnudos pegou uma seringa com soro e entregou para o mais novo que recuou dois passos.

_ Min Seok. – começou Kyung Soo. – Você será o paciente que está perdendo o controle. Vocês dois devem segurá-lo. – e, notando que nem Se Hun e nem Baek Hyun se moviam, gritou. – Agora!

Rapidamente, os rapazes apressaram-se em segurar o mais velho que se remexia constantemente. Por fim, o médico se virou para o residente, que assistia a tudo abismado.

_ Eu quero que você aplique a morfina na veia dele. – ordenou, estendendo-lhe o objeto. – Apesar de ser uma simulação, você passará por situações bem piores.

_ E-eu... Não posso... – gaguejou, suando constantemente.

_ Faça, Jong In! – gritou, puxando-o para perto do paciente e entregou-lhe a seringa. – Se não fizer, ele vai morrer!

_ Eu... – Jong In desviou os olhos para os amigos que também o encorajavam, porém, o moreno negou novamente com a cabeça, afastando-se. – N-não... Posso...

Foram longos minutos observando toda a situação: Jong In entrando em pânico, Baek Hyun e Se Hun segurando o “paciente”, enquanto Min Seok relutava contra a prisão.

_ Chega. – ordenou o médico, ao que o trio parou, desviando os olhos para ele. Kyung Soo respirou fundo, ainda observando Jong In que soluçava baixinho, apenas negando com a cabeça. – Então, você vai deixar seu melhor amigo morrer? É isso? Vai deixar um paciente morrer simplesmente por que você não quer aplicar a morfina?

_ S-sinto... M-muito...

_ Eu sugiro a você, Kim Jong In... – suspirou o moreno. – Que saia do curso de medicina. A partir de agora.

E sem proferir mais uma palavra, Kyung Soo saiu. Baek Hyun prontamente correu até o amigo e o abraçou, acalmando-o, enquanto Min Seok retirava a seringa de suas mãos, colocando sobre a mesa e cobriu-a com um pano. Se Hun suspirou pesadamente e assentiu, ao que todos deixaram a sala, rumando para o refeitório.

_ Calma, Jong In. – pediu Baek Hyun, afagando seu ombro. – Já passou...

_ Eu... – logo o moreno desviou os olhos para o mais velho. – Desculpa, Hyung.

_ Eu entendo. – Min Seok sorriu de leve.

_ Acham mesmo que ele vai pedir para tirarem o Jong In? – o castanho os olhou.

_ Do jeito que ele é, é bem capaz. – suspirou o loiro.

_ Aqui. – logo a atenção do quarteto se desviou para o médico que estendia a carta para Jong In. – Pegue suas coisas e deixe o hospital.

_ M-mas... – mais algumas lágrimas escorriam pelo rosto de Jong In. – Dr. Do...

_ E vocês três. – continuou Kyung Soo, fingindo não ouvi-lo. – Me acompanhem.

Por fim, se afastou. Se Hun suspirou, levantando-se e afagou os cabelos do amigo, antes de seguir na mesma direção que o médico. Min Seok, que aos poucos perdia a paciência, passou a mão pelo rosto, bufando e apenas acenou para o moreno, arrastando Baek Hyun consigo, que simplesmente murmurou “desculpa”, acompanhando-o.

 

Até que finalmente o trio pudesse descansar, Kyung Soo os obrigou a examinar e diagnosticar – cada um – 20 pacientes. Se Hun foi um dos primeiros a terminar, seguido de Baek Hyun, que tentava manter sua respiração normalizada, mesmo que estivesse suando enlouquecidamente. Contudo, Min Seok foi o único que diagnosticara apenas dez pacientes; algo que, para o médico, era muito pouco. Após entregarem os diagnósticos, o castanho apressou-se em encontrar o mais velho que respirava fundo, apoiando-se na porta de seu armário.

O suor escorria livre por seu rosto, enquanto seus olhos insistiam em se focar na foto de seus pais e sua irmã mais nova, Min Kyung. Um pouco afastado dali, Baek Hyun o observava em silêncio, notando que sua camisa azul estava molhada e grudada ao seu corpo, enquanto o maxilar alheio estava travado.

_ Hyung? Está tudo bem? – perguntou, se aproximando um pouco.

_ Estou. – assentiu, engolindo em seco e desviou a atenção para o outro. – Eu percebi que foi difícil você atender o paciente nove.

_ Pois é. – sorriu, corando um pouco. – Eu não sabia que ele...

_ Devia tê-lo passado para mim. – a atenção da dupla se voltou para Se Hun que os cumprimentou com a cabeça, enquanto rumava para o seu armário.

_ Tudo bem. Eu... Já fiz mesmo. – deu de ombros.

_ E você, Hyung? – Se Hun o olhou, notando que o outro estava visivelmente pálido. – Quantos fez?

_ Dez. – suspirou.

_ Foi difícil, não é? – e o fitou preocupado.

_ Foi. – admitiu, baixando a cabeça. – Eu... Vou precisar de um tempo. Baek Hyun, poderia sair um pouco? – pediu, sorrindo para o amigo.

_ Hã, mas... – o castanho os olhos confuso.

_ Por favor. – insistiu Se Hun, segurando na barra da própria camisa, num sinal discreto para o baixinho, que prontamente se escondeu. – Às vezes, me pergunto o que passa na cabeça dele.

_ Do médico? – questionou Min Seok, removendo a camisa.

_ Não. – negou. – De Baek Hyun.

_ Hum... – assentiu. – Pelo que ele me explicou, a Nudofobia é um medo patológico de ver pessoas, ou a si próprio, nuas. Na cabeça dele, é como se sentisse inferior ao outro. Por isso, muitas vezes, ele tem ataque de ansiedade.

_ Deve ser horrível. – sussurrou Se Hun, enrolando-se na toalha.

_ Os piores dias foram na escola. – rapidamente, Se Hun e Min Seok olharam na direção onde o amigo apenas mostrava os dedos das mãos. – Havia dias em que eles me arrastavam para o vestiário masculino só para zombarem de mim... Eu nunca sofria tanto quanto naquele tempo.

_ Você... Nunca transou com ninguém, Baek Hyun? – questionou Min Seok.

_ Na verdade... Quase deu certo uma vez. – suspirou. – Bastava eu não olhar para a garota e daria certo, só que... Quando ela me pediu para olhar para ela, eu... Travei.

_ Foi nesse dia que você parou no hospital? – Se Hun perguntou.

_ Foi. – concordou. – Aliás... Vocês já estão nos chuveiros? É que eu também quero tomar banho.

 

Já nos dormitórios, Se Hun aproveitou alguns segundos para enviar uma mensagem ao amigo, questionando-o se estava bem. A resposta de Jong In foi breve: “Estou”. Mas, no fundo, ele sabia que não. Tentar enfrentar um trauma de tantos anos não era fácil para ninguém e o mais novo entendia isso. Se sua memória não estivesse falhando, eles já tiveram uma conversa aprofundada sobre seus próprios medos.

Jong In revelara que somente adquiriu Aicmofobia devido a um trauma de infância. Seu pai havia chegado embriagado em casa e, por ser diabete, sempre carregava um aplicador portátil de insulina consigo. E naquela noite, durante um acesso de raiva pela teimosia do moreno, seu pai desmontou o aplicador e furou o menor diversas vezes. Desde então, o melhor amigo de Se Hun se recusa a ver ou tocar em agulhas.

No caso de Baek Hyun com a Nudofobia, o processo foi parcialmente semelhante. Se Hun não conseguia entender como alguém se lembraria perfeitamente de quando era pequeno. Mas as memórias do castanho são tão nítidas quando a imagem de uma TV LCD. Pelo que se lembrava, o pequeno foi flagrado, durante o banho, por uma de suas tias, que ria de seu tamanho – na época, Baek Hyun tinha seis anos – físico e desde então, era uma luta tenta-lo vestir. A situação somente se agravou durante o colegial, quando o time de futebol de sua escola o flagrou se despindo. Ele ficou tão nervoso com a presença dos outros que acabou desmaiando e tendo convulsões com tamanha pressão.

Quanto a Min Seok, no início, os outros garotos achavam que ele apenas estava dizendo aquilo por pura brincadeira. Ou para fazer parte da equipe. Afinal, quantas pessoas no mundo tem Ergasiofobia? Mas o mais velho entendia os pensamentos de seus dongsaengs. O medo ou aversão de trabalhar realmente existia e ele não podia ser taxado como “preguiçoso”. Quando lhe questionado seu primeiro surto, o loiro apenas disse “Não me recordo quando, mas... Me lembro de ouvir bilhões de sermões do meu pai, dizendo-me o quão preguiçoso eu era”. Contudo, apesar do problema, o outro já estava há mais de 25 anos no tratamento, visitando psicólogos e psiquiatras. Se Hun, durante as aulas práticas do curso, percebia o quão diferente seu Hyung ficava quando fazia alguma coisa. E incontáveis foram as vezes em que ele tivera que levar o mais velho ao hospital.

_ Não devia estar dormindo? – perguntou Min Seok, deitado na cama ao lado. Os dois dividiam o quarto, enquanto Baek Hyun e Jong In (talvez, não mais) dividiam o quarto da frente. Contudo, ambos sabiam que o baixinho faria plantão naquela noite. – Vamos acordar bem cedo amanhã.

_ Só estava conversando com Jong In. – explicou Se Hun. – Ele está arrasado.

_ Esse médico não entende a fobia dele, não é?

_ Não... Ele não entende.

_ Deveríamos procurar a ficha dele e encontrar alguma vantagem? – Min Seok o olhou.

_ Vamos apenas dormir. Amanhã será um longo dia.

E enquanto a dupla apagava as luzes do quarto, Kyung Soo, que estava em sua sala, fechava os punhos contra os braços da própria cadeira, respirando calmamente. Aquele não era o seu primeiro surto e talvez não fosse o último, mas precisava se controlar para continuar com seu trabalho. No entanto, como ele poderia fazer depois do que fizera ao seu próprio irmão? É claro que, naquele momento, seus pais e Seung Soo estavam lhe olhando decepcionados por não ter salvo o primogênito Do. E mais do que tudo, não conseguiu dar explicações a sua mãe! Justamente ele, médico formado, não conseguiu dizer nada a sua progenitora!

_ Dr. Do. – o moreno piscou rápido, desviando os olhos para a porta de sua sala, onde Baek Hyun o cumprimentou com um breve aceno de cabeça. – Desculpe incomodá-lo, mas... O senhor tem um minuto?

_ O que quer? – perguntou, limpando a testa do dorso da mão.

_ É que... – e o castanho engoliu em seco. – Eu vim saber quais motivos o levaram a tirar Jong In da equipe.

_ Creio que seu amigo já tenha lhe dito, Sr. Byun. – respondeu. – Ou se esqueceu que Min Seok disse que o Sr. Kim Jong In tem Aicmofobia?

_ Eu sei qual é o problema do meu amigo, senhor. – concordou, voltando a olhá-lo. – Mas... O senhor não o afastou da equipe por outro motivo?

_ Segundo o Dr. Lee, que era responsável por vocês, Jong In tinha problemas com agulhas antes de entrar no curso de medicina. – falou. – Só o que eu queria entender é: por que ele manteve o garoto esse tempo todo aqui?

_ É que Jong In é um bom aluno... – Baek Hyun tentou justificar, porém foi interrompido.

_ Porém, é um péssimo profissional. – completou Kyung Soo. – Ele, como residente, deveria saber que mexeria com agulhas, seringas e suturas, mesmo com o problema que tem.

_ Mas, senhor... – gaguejou o castanho.

_ Não se preocupe, Sr. Byun. – continuou o médico. – Você e seus amigos também serão testados por mim. Eu li o diagnóstico médico de vocês. E imagino que o senhor será o próximo a ser testado. Agora, sugiro que volte ao seu dormitório e descanse. Será um longo dia em algumas horas.

 

Logo que o dia amanheceu, o trio dirigiu-se ao refeitório, onde tomaram um breve café da manhã e rumaram para a emergência, surpreendendo com o sorriso estranhamente simpático do Dr. Do. Recordando-se da noite anterior, Baek Hyun sentiu o corpo travar e, lentamente, o rapaz se escondeu atrás dos amigos, enquanto o médico se aproximava devagar.

_ Bom dia. – cumprimentou-os. – Eu imagino que comeram bem no café da manhã. Agora, acompanhem-me. Temos trabalho a fazer. – e assim, seguiu na direção oposta a deles.

_ Ele disse a você que seriamos testados? – Min Seok desviou os olhos para Baek Hyun, que concordou. – Ele leu os nossos diagnósticos?

_ Leu. – assentiu o castanho. – Gente... Eu estou meio nervoso com isso.

_ Vamos. – disse Se Hun. – Ou vai ser pior se não formos.

Rapidamente, o trio acompanhou o professor, o encontrando com um segundo médico e um homem numa cadeira de rodas. Kyung Soo conversava brevemente com o colega de trabalho que concordou, desviando a atenção para os residentes e lhes cumprimentando com um breve aceno de cabeça.

_ O Dr. Do me explicou toda a situação e me sentirei honrado em ajuda-los no seu treinamento. – disse o médico, enquanto Kyung Soo se afastava um pouco. – Eu sou o Dr. Cho Kyu Hyun e, se eu não estiver enganado, acho que vocês foram ex-alunos do Dr. Lee Hyuk Jae. – em resposta, os três concordaram. – Bem... Ficarei feliz em instruí-los. Este ao meu lado é o Sr. Kang, meu paciente. – apresentou-os. – E ele precisará fazer o exame do toque...

Mal o médico continuou, Baek Hyun recuou um passo, engolindo em seco. Ele sabia bem do que o outro estava falando. O Urologista explicou todo o procedimento que seria feito e a situação real do paciente – mal de Parkinson – até que, finalmente, fez o seu pedido.

_ Dois de vocês poderia despir o Sr. Kang? – questionou Dr. Cho.

_ Sim. – responderam Se Hun e Min Seok juntos.

_ Seria mais viável se Baek Hyun e Min Seok o fizessem, Dr. Cho. – sugeriu Kyung Soo e Baek Hyun desejou morrer. – Por serem menores e mais fortes, talvez seja mais fácil para ajudar o Sr. Kang.

Se Hun piscou devagar, e juntamente com Min Seok, desviou os olhos para Baek Hyun que retribuiu o olhar nervoso, engolindo em seco e assentiu brevemente, se aproximando do paciente. O colega e mais velho o ajudou a colocar o senhor na cama e, juntos, começaram a despir o homem. A medida em que o castanho tentava abrir o cinto alheio, mais suas mãos tremiam e suavam, fazendo até mesmo com que sua pressão despencasse bruscamente. Rapidamente, o loiro removeu a camisa, cobrindo o paciente com um jaleco azulado e afastou as mãos do amigo do cinto, desfazendo ele mesmo as roupas do Sr. Kang.

_ Está tudo bem, rapaz? – perguntou o Dr. Cho.  

Baek Hyun não lhe respondeu. Apenas ficou observando o paciente ser calmamente posicionado para o exame, enquanto se afastava aos poucos. Durante todo o procedimento, Kyung Soo fizera breves anotações mentais, enquanto assistia o colega trabalhar e, logo que o trio foi dispensado, Min Seok puxou o castanho para fora da sala.

_ Olha para mim! – pediu, segurando o rosto suado do outro. – Baek Hyun. Calma, já passou...

_ E-eu... Sei... – murmurou, bloqueando os olhos com as palmas das mãos.

_ Apenas respire fundo. – pediu Se Hun, desviando os olhos para o médico que se aproximava devagar. – Ele está vindo.

_ Alguém quer me explicar o que houve naquela sala? – Kyung Soo os olhou.

_ A culpa foi minha, senhor. – disse o castanho, baixando as mãos e encarando o chão.

_ Você também tem um medo patológico?

_ N-nudo.... Fobia. – respondeu, visivelmente nervoso. Em resposta, o médico franziu o cenho.

_ Nudofobia? – repetiu. – Isso é interessante. – comentou. – Eu me lembro perfeitamente de você consultar um paciente que adorava “estar como veio ao mundo”.

_ E-eu... O consultei, sim. – assentiu. – Só que...

_ O que?

_ Baek Hyun tem ataque de ansiedade quando isso acontece. – explicou Min Seok.

_ Interessante... – Kyung Soo assentiu. – Acompanhem-me.

E sem esperar muito, Kyung Soo rumou pelos corredores até sua sala e gesticulou para que o trio entrasse. Logo, o médico ordenou que Se Hun trancasse a porta e pediu que Min Seok e Baek Hyun chegassem mais perto. O castanho, visivelmente relutante, alternou os olhos entre os amigos e ao voltar sua atenção para o moreno de olhos grandes, engoliu em seco.

_ Baek Hyun... – começou o médico. – Min Seok irá remover as próprias roupas e você deve encontrar algum nódulo em seu corpo. – logo, encarou o loiro. – Tire.

Os olhos de gato alternaram a atenção entre o residente e o instrutor, um pouco surpreso com a ordem e, para a surpresa de todos, Min Seok se recusou a obedecer. Ele se lembrava bem da última vez que surpreendeu Baek Hyun assim: por muito pouco, o rapaz não tinha se tornado mais um paciente do hospital.

_ Perdão, mas não irei fazer isso. – respondeu.

_ Tudo bem. – assentiu. – Se você não vai tirar... – e discou o número da recepção. – Poderia chamar o enfermeiro Choi a minha sala? Obrigado.

Minutos depois, um homem de 1,80m e madeixas escuras adentrou a sala do médico, cumprimentando a todos com um sorriso largo. Baek Hyun sentiu seu mundo praticamente desabar sob seus pés, enquanto o suor se acumulava em sua testa. Kyung Soo pediu para o enfermeiro encarecidamente que se despisse, já que um de seus alunos estava sendo testado. Concordando, o moreno removeu, pouco a pouco, suas roupas, enquanto o menor era obrigado a observá-lo. E, completamente despido, o médico ordenou ao castanho que iniciasse o exame quando se assustou com o outro caindo de joelhos no chão, visivelmente sem ar.

Rapidamente, Se Hun empurrou o enfermeiro para a cama e fechou as cortinas, enquanto Min Seok tentava trazer o amigo à tona. O rosto de Baek Hyun, gradativamente, atribuía a uma mancha vermelha, enquanto suas mãos tentavam se agarrar ao mais velho que chamava seu nome. Kyung Soo assistiu ao desespero do trio até que, finalmente, o castanho voltou ao normal, encolhendo-se nos braços do outro.

_ Isso foi dramático. – comentou Kyung Soo. – Enfermeiro Choi, já se vestiu?

_ Sim, senhor. – respondeu o outro.

_ Obrigado e pode ir. – disse, vendo o rapaz o cumprimentar e deixar a sala. Logo, a atenção do médico se voltou para os outros. – “Patologia”. Quando o Dr. Lee me disse que o nome da equipe de vocês era esse... Eu realmente não acreditei. Jong In tem Aicmofobia, Baek Hyun tem Nudofobia, Min Seok tem Ergasiofobia... – por fim, desviou os olhos para Se Hun. – E você? Qual é o seu medo patológico, Sr. Oh?

Se Hun não lhe respondeu.

_ Muito bem. – assentiu. – Eu irei transferi-lo para outra área ainda essa tarde, Sr. Byun. – explicou Kyung Soo. – Os outros já podem ir.

Min Seok ajudou o amigo a se erguer e arrastou-o para fora da sala do médico, acompanhado de Se Hun. O trio seguiu em silêncio até o refeitório, onde o mais velho subitamente explodiu de raiva.

_ Quem ele pensa que é para fazer isso com ele? – gritou, ao que Se Hun suspirou.

_ Hyung, por favor... – murmurou o mais novo.

_ Você viu a cara dele quando o Baek Hyun caiu? – o olhou. – Nem parece que ele tem coração!

_ E-eu sei por que ele está fazendo isso. – murmurou o castanho, chamando a atenção da dupla. Por fim, os olhou. – Ele quer saber quais são os nossos limites. Ou se esqueceram de que ele leu nossas fichas?

_ Isso é loucura. – resmungou Min Seok, passando a mão pelos cabelos.

_ E... Eu acredito que o próximo seja você, Hyung. – concluiu o castanho.

_ Temos que encontrar alguma falha nele. – comentou Se Hun.

_ Como? – o loiro lhe encarou.

_ Ele não vai parar enquanto não descobrir todas as nossas falhas. – continuou, olhando-os. – Nós temos que descobrir quais são as falhas dele.

_ Acha que ele tem... Algum medo patológico? – Baek Hyun o olhou.

_ Se precisar de ajuda, conta comigo. – pela primeira vez, Min Seok sorriu desafiador.

_ Mas isso não vai ser fácil. – lembrou-os. – Temos que pensar bem em como vamos executá-lo.

_ OK. – assentiu Baek Hyun. – Eu posso ajudar vocês?

_ Do jeito que ele é rápido, é provável que te transfiram antes do começo da tarde. – o mais velho suspirou, recebendo um aceno positivo do outro.

 

E exatamente como Min Seok havia dito, Baek Hyun foi transferido para outra área do hospital. Até o fim do dia, Kyung Soo sequer mudou a forma de tratamento dos dois rapazes. Sempre que podia, ordenava aos dois residentes que trabalhassem na enfermaria ao ponto de seus ossos doerem. Algo que era ruim tanto para o mais velho quanto para o mais novo e, especialmente, para este último, que fazia trabalho dobrado.

_ Desculpe por hoje, Se Hun. – murmurou Min Seok, olhando para o amigo que estava deitado nos assentos vazios. – Eu... Devia ter me esforçado mais, só que...

_ Eu entendo, Hyung. – assentiu, limpando a testa com o dorso da mão. – Mas, Hyung... Eu queria lhe perguntar uma coisa. – logo, Se Hun sentou na cadeira, apoiando os cotovelos sobre os joelhos. – Como você sabia que tinha...

_ Ergasiofobia? – completou, vendo-o concordar. – No início, eu não sabia. Por isso, fui me consultar num psicólogo. E não é exatamente preguiça de trabalhar, mas... Como eu posso dizer? Uma falta de incentivo? Não que eu não queira trabalhar, mas é como se a palavra “trabalho” não me chamasse atenção. – e sorriu de leve. – É complicado de explicar exatamente o que se passa comigo.

_ Hum... – assentiu, baixando a cabeça.

_ E você? – desta vez, Se Hun o olhou breve. – Já conheci pessoas que, por experiências traumáticas, tem dificuldade de confiar no parceiro, mas... Filofobia? Isso é surpreendente.

_ Mas não é nada bom. – suspirou, desviando os olhos para o extenso corredor vazio.

_ Mas como é? – perguntou curioso.

_ Doloroso. – respondeu, vendo Min Seok rir e balançar a cabeça. – Mas, de verdade, eu não recomendo a ninguém.

_ E como adquiriu? – franziu o cenho, preocupado.

_ Eu estava num relacionamento com uma pessoa há dois anos quando... Meu surto começou. – explicou. – Por isso, eu prefiro evitar que se repita.

_ Já descansaram o suficiente? – perguntou Kyung Soo, se aproximando. – Venham. Vocês assistirão um procedimento cirúrgico. – ditou, afastando-se.

_ Algum avanço na pesquisa? – Min Seok questionou baixinho, vendo o outro negar.

Logo, a dupla seguiu o médico em direção a uma saleta, onde vestiram as roupas adequadas antes de entrarem na sala de cirurgia. Ali, o cirurgião iniciava a remoção de um apêndice que quase se estrangulara, sendo acompanhado por alguns alunos e a equipe médica. Kyung Soo, vez ou outra, desviava os olhos para seus dois residentes, a espera de alguma reação exagerada. Contudo, nem Min Seok e nem Se Hun reagiram. “Ergasiofobia”, pensou o médico, encarando o loiro que assistia ao procedimento.

Então, lembrou-se da breve conversa com seu colega de trabalho.

_ A equipe “Patologia” merece uma atenção especial, Dr. Do. – começou Hyuk Jae. – Muitos demonstram facilmente seu medo patológico, enquanto outros parecem não ter.

_ Devo ficar de olho em alguém em particular? – questionou Kyung Soo.

_ Min Seok e Se Hun, especialmente. – sorriu-lhe. – Os outros dois facilmente demonstram seus medos. Então, saiba administrá-los.

_ E por que o diretor do Hospital não os impediu de continuar o curso? – o olhou. – Um tem medo de agulhas e o outro se recusa olhar para um paciente nu, mesmo quando é necessário fazê-lo.

_ Ainda estamos decidindo em que área da medicina os colocaremos.

Por mais que desgostasse da situação, Kyung Soo não tinha muito o que fazer. A razão de tirar Jong In completamente da equipe era para não piorar ainda mais seu medo. E para o moreno que deu o seu melhor àquela altura do campeonato, só iria piorar a medida em que seu trabalho aumentasse. Quanto à Baek Hyun, foi melhor leva-lo para a psiquiatria, onde poderia conhecer casos semelhantes ao seu.

_ Muito bem. – disse o cirurgião. – Fizemos um ótimo trabalho.

E, em silêncio, todos os alunos que assistiam deixaram o local, ao que Kyung Soo avaliou os dois rapazes. Logo, o médico observou Se Hun se dirigir a uma maca que quatro paramédicos arrastavam, enquanto iniciava uma massagem cardíaca no paciente. Contudo, diferente do mais novo, o mais velho apenas recuou dois passos, assistindo o colega desaparecer na direção das salas de cirurgia.

_ Por que não foi atrás de seu amigo? – questionou Kyung Soo, vendo Min Seok baixar a cabeça e engolir em seco.

_ Ele... Sabe se virar bem... – tentou justificar.

_ Vá atrás dele! – ordenou, logo acompanhando Min Seok, que caminhou hesitante na mesma direção que o outro.

Logo que adentraram a pequena sala, Se Hun aplicava o desfibrilador no acamado, enquanto verificava o monitor. Mais duas aplicações foram feitas, até que os batimentos seguiram normalmente. E não demorou muito para que o outro iniciasse as explicações aos enfermeiros que rapidamente se moviam.

_ Chame o Dr. Nam, ele irá...

_ Min Seok fará a cirurgia. – ditou Kyung Soo e todos pararam subitamente.

_ Mas, Dr. Do... – Se Hun o olhou, desviando a atenção para o amigo que, prontamente deixou a sala. – Min Seok não pode fazer a cirurgia.

_ E ele não se tornará cirurgião? – questionou, estreitando os olhos. E tão logo que se virou, percebeu que o loiro havia desaparecido. – Tragam-no aqui, agora!

E dois enfermeiros foram atrás do rapaz que relutou bravamente contra os braços alheios. Se Hun notou o desespero do amigo logo que o bisturi foi entregue em suas mãos, enquanto Min Seok encarava o médico que esperava alguma atitude sua.

_ Deixe... – sussurrou Se Hun, calmamente tocando nas mãos trêmulas alheias e segurou o objeto. – Eu faço isso. – logo, chamou por uma das enfermeiras. – Preciso de máscara e luvas.

Rapidamente, a moça entregou-lhe o que precisava, enquanto o mais velho mantinha-se afastado da equipe, respirando devagar, por mais que seu coração disparasse como um motor de trem-bala e seu rosto suasse descontroladamente. Kyung Soo, após colocar uma máscara no rosto, se aproximou da maca, assistindo ao procedimento cirúrgico feito pelo mais novo, surpreendendo-se com a precisão de seus cortes e suturas.

_ Pronto. – murmurou, voltando a olhar para o monitor. – Coloquem-no no respirador, e monitorem-no a cada trinta minutos. Ele precisa de um descanso.

_ Bom trabalho em remover a bala, Sr. Oh. – ditou Kyung Soo. – Mas o senhor cometeu um erro. – em resposta, tanto Se Hun quanto Min Seok desviaram os olhos para o médico. – Você assumiu uma cirurgia de risco que não era sua, mas de seu colega.

_ O senhor, mesmo sabendo qual é a doença dele, insiste que ele faça isso? – rebateu Se Hun, removendo a máscara.

_ Eu dei uma ordem a Min Seok para fazê-lo. E ele não o fez. – por fim, desviou os olhos para o mais velho que lhe encarava. – Se tem medo de trabalhar, por que está aqui? Ou melhor, por que continua aqui? O hospital não paga o salário daqueles que são preguiçosos...

_ Dr. Do. – Se Hun ditou, sendo impedido pelo amigo. – Hyung...?

_ Ele está certo, Se Hun. – murmurou o mais velho. – A quem estou querendo enganar?

_ Você me prometeu que tentaria, lembra? – o mais novo o olhou.

_ Mas meu esforço é em vão. – e o olhou, sorrindo de leve. – Eu... Irei pegar meus pertences e deixar o hospital.

E sem proferir mais uma palavra, Min Seok saiu, permanecendo apenas Se Hun e Kyung Soo, que o assistiam em silêncio. O menor respirou fundo, desviando os olhos para o maior que apenas baixou a cabeça, pensativo. O mais novo tentou tanto manter os seus amigos em sua equipe e os ajudou a passar por todas as provas teóricas e práticas...

No entanto, como foi que aquele diabrete da Cornuália apareceu e destruiu todos os sonhos de seus amigos?

_ Hoje à noite, venha à minha sala. – ditou Kyung Soo. – Nós precisamos conversar.

Logo, se afastou, deixando Se Hun sozinho ali.

 

Em sua sala, o moreno acomodou-se em sua cadeira e abriu a gaveta de sua mesa, retirando um comprimido para dor de cabeça, tomando-o em seguida. Já não era a primeira vez que sua cabeça e seu corpo enlouqueciam internamente, por mais que quase não demonstrasse em público. Ele odiava a própria doença; tanto que era obrigado a conviver com ela. Mentalmente, iniciou mais uma de suas contagens, contudo, no momento em que chegou no número 1.012, a porta de sua sala se abriu, onde a fisionomia do mais novo se mostrou na entrada.

_ Que bom que veio. – sorriu-lhe, vendo-o adentrar aos poucos e acomodar-se na cadeira vazia diante de si. – Se Hun, eu selecionei alguns diagnósticos feito por você e verifiquei-os um por um... Você tem uma habilidade fantástica em deduzir as doenças. Meus parabéns.

_ Obrigado. – respondeu.

_ Seus amigos foram submetidos aos testes e somente você passou em todos eles... Isso também é impressionante.

_ Posso perguntar uma coisa? – o olhou.

_ Claro. – concordou.

_ Está dizendo isso por que não consegue descobrir qual é o meu medo patológico, Dr. Do?

_ Sim. – foi direto. – Estou decepcionado comigo mesmo por não descobrir qual é o seu problema, Sr. Oh.

_ No fundo, eu fico feliz por isso.

_ Por que?

_ Assim, não tentará usar meu medo contra mim. – e, discretamente, um sorriso despontou de seus lábios.

Aquilo foi o suficiente para desfocar Kyung Soo da conversa.

Se Hun notou o silêncio alheio e rapidamente pediu licença para se retirar. Afinal, ele ainda precisava consultar alguns pacientes antes de voltar ao dormitório. E, sem ouvir uma palavra do menor, o mais novo deixou a sala, fechando a porta atrás de si.

 

Até o fim da semana, o número de pacientes havia triplicado, assim como a quantidade de trabalho para o residente. Troca de suturas, aplicação de medicamentos, assistir procedimentos cirúrgicos... Tudo o que estivesse disponível, Kyung Soo fazia questão de colocá-lo, especialmente em situações que ele também pudesse estar. A cada dia que se passava, mais o cirurgião parecia se encantar com o talento de Se Hun, e, inconscientemente, despertava-lhe um interesse enorme.

_ Meus parabéns. – cumprimentou o moreno, olhando-o. - Provavelmente, hoje será o seu último dia no hospital antes de se formar.

_ Sim. – concordou Se Hun, sorrindo de leve.

_ Solicitando a presença do Dr. Do Kyung Soo na sala de cirurgia 3. – ditou o chamado. – Dr. Do Kyung Soo, por favor, compareça a sala de cirurgia 3.

_ Me acompanharia? – sugeriu o menor, caminhando na direção indicada.

Seguiram rápidos pelos corredores e vestiram as roupas apropriadas para o procedimento, colocando as luvas e a máscara. Se Hun observou o médico que examinava a ficha do paciente antes de entrar na sala, contudo, no instante em que a atenção do mais novo se voltou para a mesa cirúrgica, seu coração falhou uma batida.

Não era possível... Que seja seu irmão mais velho deitado ali.

_ Oh Se Hyun, 28 anos. – começou Kyung Soo e, ao desviar os olhos para o residente, notou o silêncio alheio. – Está tudo bem?

_ Sim. – assentiu.

_ Ok. – e voltou sua atenção para a ficha médica. – Frequência cardíaca normal, pressão normal... T-tumor... – logo, Kyung Soo pigarreou. – T-tumor cerebral. E-ele...

Naquele momento, Se Hun que observava atentamente ao próprio hyung, desviou os olhos para o médico que suava gradativamente, enquanto suas mãos tremiam, dificultando sua leitura do formulário. Cada vez que o menor tentava manter a calma, menos parecia conseguir entender e, impaciente, largou a ficha na mesa ao lado, se aproximando do paciente.

_ V-vamos iniciar o procedimento. – começou, olhando rapidamente para os outros, antes de pegar a caneta para marcar. Contudo, nem mesmo suas mãos pareciam lhe obedecer. – Concentre-se. – rosnou para si mesmo, tentando se concentrar.

_ Dr. Do... – chamou Se Hun.

_ Não me interrompa! – gritou com o outro, assustando a equipe médica. E um embrulho revirou-se no estomago do médico que fechou os olhos, respirando fundo.

_ Dr. Do, se não consegue... – tentou novamente.

_ Já disse para não me interromper! – rebateu o mais velho, voltando os olhos para o paciente adormecido.

Se Hun alternou os olhos entre o médico, que sequer encostara o pincel na pele do paciente, e seu irmão mais velho, que permanecia normal, apesar da situação ser completamente tensa. E, temendo que algo acontece ao outro por falha de seu instrutor, o rapaz se aproximou do menor e segurou sua mão, olhando-o atentamente. Foi então que ele notou a paralisia alheia: Kyung Soo estava entrando em pânico e, em poucos segundos, um ataque de ansiedade começaria.

_ Está tudo bem... Dr. Do. – disse o residente, retirando o pincel de suas mãos. – E-eu... Farei isso. Apenas... Apenas me diga como fazê-lo, sim?

_ E-eu... – lentamente, os olhos grandes se voltaram para o mais alto que retirava o objeto de suas mãos. – T-tudo bem...

Finalmente, Se Hun iniciou o procedimento. A medida em que prosseguia com a cirurgia, mais Kyung Soo lhe indicava que decisões deveria tomar. Até mesmo a equipe médica se surpreendeu com os papeis trocados de ambos os homens. Como se o grande cirurgião Do Kyung Soo fosse apenas um assistente. E, quando o residente removeu o maligno, colocando no recipiente indicado, todos os outros assistiram atentos aos movimentos alheios. Contudo, para o baixinho de olhos grandes, aquilo era um alívio.

_ Muito bem. – disse Se Hun, engolindo em seco. – Agora, vamos fechar a cabeça do paciente.

Ao fim de toda a cirurgia, passou-se aproximadamente duas horas e meia, até que finalmente Kyung Soo e Se Hun deixassem a sala. Logo, a atenção do mais novo se voltou para o médico que cerrava os punhos contra o próprio corpo, enquanto a raiva subia até sua cabeça e num único movimento, o baixinho socou a parede, assustando o outro.

_ Merda... Merda... Merda... – repetia Kyung Soo.

_ Qual é o problema, senhor? – perguntou o outro. – O procedimento...

_ Eu não estou falando de você, Se Hun. – suspirou, sentando-se na cadeira. – Estou me xingando.

_ Por que?

_ Por que era para eu assumir a cirurgia. – e o olhou de soslaio. – Mas a...

_ Cacorrafiofobia o atrapalhou? – completou e Kyung Soo o olhou incrédulo. Talvez pelo trava-língua, talvez pela certeza nas palavras alheias... Como Se Hun tivera coragem em ditar aquela palavra em voz alta, ainda era uma incógnita para o médico.  – Perdão, mas fui consultar um dos patologistas do hospital e descobri sobre sua ficha médica, doutor. O senhor... Foi durante a cirurgia do seu irmão... Não foi? Que o senhor adquiriu o medo patológico de falhar.

Kyung Soo não lhe respondeu.

E talvez não fosse necessário, já que anexado na ficha médica de Do Kyung Soo, estava o depoimento do mesmo sobre o incidente em 2012. “Eu... Falhei miseravelmente em salvar meu irmão, doutor. Até evito minha família depois do incidente”, dizia ele.

_ Eu... Também percebi a lista de medicamentos que o senhor toma por dia. – continuou, sem desviar a atenção alheia. – Remédios para dor de cabeça, dor de estomago, além de várias sessões de hipnose e, principalmente, meditação.

_ Descobriu minha fraqueza. – comentou, após longos minutos em silêncio, e sorriu de leve. – E então? Qual é a solução que você daria para mim?

_ Afastamento completo do hospital. – disse. – Mas não sou eu quem atesta isso, senhor, e sim o médico responsável pelo seu caso, além da autorização do diretor do hospital.

_ Meus parabéns, Oh Se Hun. – suspirou. – Acaba de se formar. Espero que o hospital o receba como me recebeu nos meus primeiros dias como médico: com muitos braços quebrados, cirurgias de emergência e correria de enfermeiros para lá e para cá.

_ Obrigado, senhor. – agradeceu.

_ E peço desculpas pelos seus amigos. – continuou. – Eu... Não consegui assumir a responsabilidade com eles. Espero que me perdoe.

Se Hun riu baixinho das palavras alheias e agradeceu com um leve aceno de cabeça, vendo-o se levantar e colocar as mãos nos bolsos da calça azul, caminhando devagar pelo corredor. Até que...

_ Aliás. – e parou no centro do corredor, se virando para o outro. – Antes que eu vá embora... Tenho o direito de perguntar algo?

_ Sim. – assentiu, se aproximando aos poucos.

_ A sua equipe se chama “Patologia”, certo? – começou, vendo o outro concordar. – Então, se cada um de vocês possui um medo patológico, assim como eu... Qual é o seu medo patológico, Se Hun?

_ Eu... – Se Hun riu baixinho. – Tenho medo da coisa mais improvável do planeta.

_ Que seria?

_ Me apaixonar. – o olhou.

Em resposta, Kyung Soo franziu o cenho, visivelmente confuso.

_ Você tem... Filofobia? Isso é... Verdade?

_ Sim. – assentiu. – Se quiser confirmar, basta ligar para esse médico... – e pegou uma caneta de seu bolso, escrevendo na mão de Kyung Soo um número de telefone. – E ele lhe dirá.

Por fim, Kyung Soo observou o residente se despedir dele e se afastar, desaparecendo de seu campo de visão minutos depois. Logo, a atenção do médico se voltou para o número, impressionado com a caligrafia alheia e o nome do especialista – o mesmo que cuidava de seu caso – e bufou, balançando a cabeça.

_ Porra... Quando a cartomante me disse que o amor da minha vida tinha um medo patológico de se apaixonar... Eu realmente não achei que ela estivesse falando sério. – murmurou. – Que sorte...


Notas Finais


Se eu soubesse que o Se Hun tinha medo de se apaixonar... Eu não teria feito o Kyung Soo gostar dele.
Mas... Aconteceu.
E vocês? O que acharam?
Eu acho que o Kyung Soo podia tentar ajudar o Se Hun no tratamento dele.
E o pior de tudo é que os dois vão manter um amor platônico omitido por eles mesmos! Por que ambas as doenças interferem nos relacionamentos.
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