História Paying in Naivety - Despedida

Eu acordei ainda envolto por Jimin.

- Bom dia - sussurrou Jimin.

Eu me virei de frente para ele e lhe dei um beijo na testa.

- Bom dia - falei, sem ânimo.

Eu conseguia ver que Jimin também estava arrasado com a despedida repentina.

Nós levantamos, escovamos os dentes e fizemos o que fazíamos todos os dias, mesmo que a nossa maior vontade era ter ficado abraçados na cama o dia inteiro.

Chegamos na sala de jantar e pareceu que todos também estavam chateados, já que eu e Taehyung íamos embora.

Passamos o café da manhã lamentando nossa ida, pois ia demorar cerca de um ano para eu voltar - se não demorasse mais -, sendo que Taehyung talvez nem voltasse.

Quando saí da mesa fui direto para o quarto arrumar as minhas coisas.

Entrei no cômodo, sentei no chão, e comecei a guardar as roupas na mala.

- Precisa de ajuda? - ouvi Jimin sussurrar no meu ouvido, me assustando.

Olhei para trás e me deparei com a mesma cena do dia em que havia chegado naquela casa: ele estava em pé com seu corpo um pouco inclinado para trás, seus olhos negros estavam entreabertos, fixados em mim e seu cabelo estava jogado para trás, mas ao invés de malícia, seu semblante transmitia tristeza.

- Não, obrigado - falei, dando meu melhor sorriso.

Jimin se sentou no chão ao meu lado e me observou terminar de guardar as minhas coisas.

- Jungkook, a gente só vai se ver daqui um ano, isso se a gente se ver. Nossa família já ficou sem se ver por anos e isso pode acontecer novamente. Então... eu não quero que você me espere - falou tristemente. - Você vai começar a faculdade, vai fazer novos amigos, vai ficar a fim de outra pessoa, e eu quero que você aproveite isso. Nós não sabemos quando nos veremos novamente, porque pode ser que demore anos para que isso aconteça.

Eu olhei para ele e vi que falava sério, mesmo que fosse doer, ele queria me ver feliz acima de tudo.

- Eu digo o mesmo. Eu quero que você seja feliz - falei, segurando as lágrimas. - Acho que a partir do momento em que eu for embora, nós voltamos a ser somente primos.

Jimin engoliu seco, mas concordou.

Ele se inclinou e me beijou apaixonadamente.

Eu só conseguia pensar que nunca mais sentiria seus lábios carnudos nos meus, suas mãos espertas me tocando e seus olhos hipnotizantes me encarando com malícia.

Nós ouvimos passos na escada e logo nos separamos.

- Jungkook, você está pronto? - ouvi minha mãe perguntar, atrás de mim.

- Sim, já estou indo - falei, tentando disfarçar minha voz de choro, sem me virar.

Eu não ouvi mais nada, então presumi que ela já tinha ido embora.

Eu me levantei, assim como Jimin, e peguei minha mala.

- Eu levo para você - falou Jimin, enxugando as lágrimas.

Descemos as escadas e demos de cara com todos reunidos na sala de estar para se despedir.

Eu abracei a minha avó e dei um longo beijo em seu rosto.

- Boa viagem - falou, beijando minha bochecha.

Fui em direção ao meu avô e o abracei fortemente.

- Tchau, vô - falei o soltando.

- Deu certo entre você e aquela pessoa que você tinha me falado? - perguntou sorridente.

Eu assenti com a cabeça e senti sua mão bagunçando meu cabelo.

- Boa viagem - falou.

Dei um abraço em Namjoon e Jin, que segurou minhas mãos fortemente.

- Não vamos mais perder o contato, tá? - perguntou Jin.

Eu assenti com a cabeça.

- Promete? - insistiu.

- Prometo - falei dando meu melhor sorriso.

Jin, então, libertou minhas mãos e eu pude abraçar Suga.

- Boa viagem - falou, retribuindo o abraço.

- Obrigado - respondi.

Suga era um pouco frio com as pessoas, mas eu sabia que esse era o jeito de ele mostrar que gostava de mim.

Eu fui em direção aos meu tios e tias e me despedi de todos eles com abraços e beijos, já que tínhamos ficado anos sem se ver e, talvez, ficássemos mais alguns anos.

Hoseok, sem nenhum aviso, pulou em cima de mim e fez drama, como sempre.

Eu ri com seu ato.

- J-Hope, nós moramos na mesma cidade, nos veremos em breve - falei rindo. -Eu digo o mesmo para você - falei abraçando Hyuna.

- Kookie… - Murmurou. - Promete que nós vamos nos ver sempre?

- Pode deixar, eu vou te encher o saco sempre que possível - falei, fazendo ela rir.

Eu a soltei e fui na direção de Jimin.

Não estava sendo difícil me despedir dos meus familiares, até porquê, nós, provavelmente, não perderíamos contato tão cedo. Porém, com Jimin era diferente, mesmo que voltassemos a nós ver em um ano, já não seríamos mais nada além de primos, e esse pensamento fez meu coração apertar e uma lágrima involuntária descer pelo meu rosto.

- Tchau, Jiminie...

- Tchau, Kookie…

Nós nos abraçamos fortemente, sem prestar atenção no tempo em que estávamos ali ou nas pessoas ao redor.

Ele deixou um beijo no meu pescoço e eu senti meu corpo arrepiar.

Eu me separei dele e fui direto para o carro, e depois de alguns minutos nós já estávamos na estrada.

* * *

Era sexta-feira e já tinha passado um mês desde a despedida. Eu tinha falado com todos os primos, menos com Jimin, nós tínhamos concordado em nos falar somente em eventos familiares.

Eu passei na melhor escola de artes da Coréia do Sul, em uma cidade que eu nunca havia visitado antes, e em poucas horas eu me mudaria da casa dos meus pais para o dormitório da faculdade.

Eu me levantei da cama apreciando cada canto daquele quarto, que em pouco tempo não seria mais meu.

Eu fui à cozinha, tomei café e dei a volta pelo interior da casa, sentindo a saudade me invadir.

Eu sorria a cada lembrança de cada lugar daquela casa, e, antes que eu chorasse, voltei ao meu quarto e terminei de arrumar as minhas coisas.

Quando tudo estava pronto eu fui tomar banho e me arrumar para conhecer meu futuro lar.

Eu senti a água quente cair nas minhas costas e me deixei levar por qualquer pensamento que passasse pela minha cabeça.

Até que me lembrei de Jimin.

Sempre que eu me deixava levar pelos meu pensamentos Jimin aparecia neles e os tornava dolorosos.

Estar no chuveiro me lembrou do dia em que tomamos banho juntos, o que me lembrou de outras memórias felizes que não se repetiriam.

Todos os dias minha mente me traía e eu me pegava pensando em Jimin. Desviei meus pensamentos daquela época e voltei a trancafiar essas memórias a sete chaves.

Não queria continuar sofrendo.

Me troquei e desci as minhas malas, aguardando na sala a hora de ir embora.

Eu estava pensando nas matérias que teria quando ouvi a campainha tocar.

Abri a porta confuso - já que não esperava visitas - e fiquei surpreso ao ver meus primos na minha frente.

- O que vocês estão fazendo aqui?! - perguntei abraçando Hoseok.

- Nós viemos nos despedir e desejar sorte - falou, me soltando do abraço.

- Nós não perderíamos a oportunidade de te desejar boa sorte - falou Jin, me puxando para um abraço.

- E com a faculdade nós não sabemos quando vamos te ver novamente - falou Namjoon.

Logo após Jin me soltar Suga me deu um abraço rápido e deu passagem para Hyuna me abraçar fortemente.

Eu retribuí o abraço e olhei em volta, recebendo uma resposta sem nem mesmo ter feito uma pergunta.

- O Jimin não vem - falou Hoseok, com um pesar em sua voz.

- Por que? - perguntei.

- Ele passou em uma faculdade em Busan e hoje ele teve que se mudar para o dormitório, mas como ele mora mais longe que você nós optamos por vir se despedir de você e visitá-lo nas férias - falou tristemente.

Quando eu e Taehyung voltamos para Seul ele continuou se encontrando com Hoseok e agora namoravam escondido. Eu era o único a saber do relacionamento deles, e eles eram os únicos que sabiam sobre Jimin e eu.

Tentei não demonstrar decepção e convidei todos para entrar.

Ficamos conversando por um tempo, até que eu ouvi a campainha novamente.

Eu levantei quase que em um pulo e abri a porta na esperança de que fosse aqueles dois risquinhos a me encarar, porém, não foi isso o que aconteceu.

- Oi, Kookie! - falou Taehyung, entrando.

- Oi, Tae - falei, sentindo meu coração apertar.

* * *

Eu abracei todos e entrei no táxi, observando aquela casa até os últimos segundos.

Eu sabia que eu voltaria ali várias vezes para visitar meus pais, mas eu sabia que voltaria diferente, e eu queria me lembrar de como eu era antes de começar aquele novo capítulo da minha vida.

O táxi deu partida e eu observei todos acenando pelo retrovisor, até que suas mãos sumiram com a distância.

Eu peguei meu celular e sem querer dei de cara com as fotos que Jimin tinha tirado no primeiro - e último - encontro que tivemos.

Eu olhei a primeira foto em que estávamos sorrindo em frente à árvore de natal e senti meus olhos encheram de lágrimas.

Não pude evitar de rir quando vi a segunda.foto, onde ele tinha me beijado de surpresa no rosto.

Mas ao ver a terceira foto, onde nos beijávamos tão intensamente, minhas lágrimas começaram a cair sem minha permissão, tornando meu semblante em pura tristeza. Eu senti meu peito doer ao lembrar da exata sensação que tinha sentido durante aquele beijo, e bloqueei a tela do celular para tentar me recompor.

Depois de algum tempo o táxi parou e eu desci, sentindo um frio na barriga com a nova vida que teria.

Eu andei pela faculdade apreciando as salas de arte, a biblioteca - pensando em quanto tempo passaria ali - o refeitório e tudo o que eu podia ver.

Quando já estava satisfeito de bisbilhotar fui à diretoria e peguei todas as informações possíveis sobre as matérias e datas importantes.

- Obrigado pelas informações - sorri. - Você pode me fazer só mais um favor? Pode me explicar como eu chego nos dormitórios?

- Claro! Os dormitórios são os prédios grandes no outro quarteirão. Não tem como se perder, são os prédios mais extensos da região - falou sorridente. - Até amanhã!

Devolvi o sorriso e saí da faculdade, indo em direção aos dormitórios.

Quando cheguei no prédio eu entrei em um dos elevadores, dando de cara com muitas pessoas com malas andando pelos corredores.

Me desviei de algumas pessoas até achar meu quarto, bati na porta e, ao presumir que não havia ninguém lá dentro, entrei.

Eu arrumei as minhas coisas em um lado do quarto - deixando o outro livre para o meu futuro colega - e saí pela cidade, voltando somente ao anoitecer.

Eu queria espairecer e tinha certa curiosidade, já que nunca tinha visitado aquela cidade antes.

* * *

Um mês depois e a minha vida se tornou muito movimentada. Eu estudava de manhã, trabalhava em uma livraria no período da tarde, fazia as lições ou estudava o que havia sido ensinado no dia à noite, e, quando sobrava tempo, eu saía com os meus amigos da faculdade.

Eu ocupava todo o meu tempo de propósito, tudo para não pensar em Jimin, mesmo que às vezes era impossível evitar de lembrar dele, e essas lembranças faziam com que qualquer relacionamento amoroso fosse impossível para mim.

A última aula de sexta-feira tinha terminado. Eu arrumei minhas coisas e saí da faculdade, pronto para descansar - e estudar - durante o fim de semana.

Eu andei aquele quarteirão sem pressa, sentindo o sol bater em meu rosto.

Eu observei as árvores que haviam crescido entre o concreto da calçada, os estabelecimentos de diferentes tipos que se encontravam naquela rua e as pessoas andando felizes ao meu lado.

Eu cumprimentei o guarda do prédio, entrei no elevador e entrei no meu quarto distraidamente, fechando a porta atrás de mim.

Quando olhei para frente pude ver aqueles olhos sorrindo para mim, sendo acompanhados pela boca carnuda que ostentava o mais lindo sorriso.

Eu arregalei os olhos e senti meu coração disparar quando vi Jimin na minha frente.

- Jimin...? - murmurei, desacreditado.

- Oi, Kookie - falou, alargando mais seu sorriso, parado de pé no meio do meu quarto.

Eu estava confuso e meu rosto devia estar mostrando isso, porque ele logo começou a explicar.

- Há, mais ou menos, uma semana essa faculdade, a melhor faculdade de artes da Coréia, me ligou oferecendo a bolsa de um aluno que havia desistido do curso de dança, e eu aceitei.

- O que…? - balbuciei, o olhando para o chão.

Eu estava em choque, não conseguia dizer nada e antes que eu me desse conta, lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto.

- E, sabe, como eu tenho um primo aqui na faculdade eles aceitaram o meu pedido de dividir o quarto com ele - falou, fingindo indiferença. - O que você acha, colega de quarto?

Eu arregalei os olhos e olhei para ele, esperando que fosse brincadeira, mas seu sorriso era o mais verdadeiro.

Sua mão foi para o seu bolso e tirou de lá o mesmo visco que havia presenciado nosso primeiro beijo e o segurou acima de sua cabeça.

Logo meus lábios se moldaram em um sorriso, e, por instinto, joguei minha mochila no chão, corri até ele e passei os braços ao seu redor, sendo retribuído imediatamente.

Não demorou para juntarmos nossos lábios no beijo mais necessitado que poderíamos dar.

Sentir o calor e a maciez de sua boca contra a minha, seu corpo colado no meu, suas mãos me acariciando, fez meu corpo esquentar.

Separamos nossos lábios e colamos nossas testas, e eu senti sua respiração ofegante contra a minha face.

Fazia dois meses desde quando eu tinha o visto pela última vez, mas pareceu uma eternidade. Minha vida tinha mudado tanto nos últimos meses que parecia que tinha se passado uma vida, porém, seus olhos mostravam que não fazia muito tempo, que nunca seria muito tempo, porque na hora que meu olhar encontrou o seu, eu senti como se nunca tivéssemos nos separado, nem por um segundo.

- Eu senti a sua falta - falou, olhando em meus olhos.

- Você não tem noção do quanto eu senti a sua - falei, lhe dando um selinho rápido.

Ele sorriu e meu coração acelerou ao ver aquele sorriso tão de perto.

- Eu te amo, Jungkook.

- Eu também te amo, Jimin.

E aquele sorriso bobo e apaixonado voltou a fazer morada em minha face, e desta vez ele não iria mais embora.

* * *

No natal seguinte, Jimin e eu resolvemos contar sobre o nosso relacionamento para a nossa família, o que não foi tão ruim. Nossos primos e a mãe de Jimin ficaram extremamente felizes, já meus pais, meus tios e meus avós não gostaram da ideia no começo, porém, com o tempo eles aceitaram normalmente - claro que eles não sabiam que na época nós dividíamos o quarto na faculdade, e nem precisavam saber.

Taehyung e Hoseok também admitiram o relacionamento durante o natal e como todo mundo gostava do Taehyung - e eles não eram parentes - a família adorou a notícia.

Nós, nossos primos e seus respectivos fizemos um acordo de sempre nos encontrar no natal, não importa onde estivéssemos ou com quem estivéssemos, nós decidimos nunca mais perder o contato, e hoje, quinze anos depois, o acordo ainda está de pé.

Jimin e eu moramos juntos desde a faculdade. Jimin dá aulas de dança na mesma faculdade na qual nos formamos e eu sou fotógrafo de uma grande revista de entretenimento.

Namjoon e Jin adotaram duas crianças: Gi Tae e Jang Mi. Às vezes elas vêm passar alguns dias comigo e com Jimin, e nós nos divertimos muito quando isso acontece.

Taehyung e Hoseok também moram juntos desde a faculdade, e estão pensando em adotar um cachorrinho como o próximo passo da relação, o que é ótimo! Eu não consigo imaginar aqueles dois sendo pais, então vamos ver se esse cachorrinho não os deixa mais paternais.

Suga se tornou advogado, e por ser muito teimoso, ele se tornou um dos melhores advogados de Seul. Hoje, nós finalmente vamos conhecer sua namorada, também advogada, que parece ter intrigado Suga enquanto eles discutiam o caso na frente do juíz - parece que ela é tão teimosa quanto ele.

Hyuna virou uma das modelos coreanas mais conhecidas mundialmente. Ela tem a agenda muito lotada e vive viajando para outros países, mas para a família ela sempre acha uma brecha.

Enquanto eu estou escrevendo, Jimin está terminando de arrumar a casa para a ceia de natal e daqui a pouco nossos primos chegam. Então, antes que o Jimin brigue comigo por eu não estar ajudando, e antes que eles cheguem, eu dou essa estória como encerrada do mesmo jeito que começou: com uma reunião em família.