“Seus olhos se encontraram com os meus, quase como se pedissem para que eu o aceitasse. Sua mão esquerda estava estendida para mim, desenrolando-se em camadas de ouro e alvura tamanha que bem poderiam ser nuvens. De demônio a anjo, quem imaginaria? Sorri, sentindo meus lábios contraírem de vergonha enquanto minhas bochechas coravam e eu me aproximava, mal sentindo as pernas. Toquei em sua palma fria e suada, o coração acelerado com a força do choque que me percorreu o corpo: ele era elétrico. Mais perto. Sim, bem mais perto, porque eu já não tinha medo de nada. Dei outro passo à frente, começando a sentir o calor de seu corpo contra meu peito, que se movia como uma bala, cortando minha respiração ao meio sem que eu me importasse. Apneia nenhuma seria capaz de tirar-me da imensidão cinzenta de seus olhos, que mais pareciam duas luas reluzindo em um céu de prata. Quando mesmo que os deuses barrocos haviam esculpido aquele rosto? Ou seriam mestres góticos a trazer aqueles ângulos para meus olhos? Escorreguei minha mão direita para seu pescoço, escutando-o arfar ao tempo em que seu corpo tremia discretamente, como se estivesse se controlando para não sucumbir. Tentava captar toda textura: o tecido finíssimo de suas vestes, os frisos de ouro, a pele tão macia quanto seda que se desmanchava ao toque das minhas mãos. Minha respiração morna juntou-se à sua pele, seus fios de platina roçando minha face delicadamente, trazendo-me calafrios. Será que ele conseguia escutar? Escutar meu coração bater no mesmo ritmo que os violinos? Porque eu conseguia. Pressionei meus dedos com mais força em seu pescoço quando sua mão livre segurou minha cintura, enlaçando-me com fios dourados. Foi assim que o sol raiou em meu corpo, finalmente.
Um passo para a esquerda, outro para a direita. Nossos pés em sincronia quando o mundo inteiro se resumia a dois corpos dançando no meio do salão. Sua respiração na minha nuca, meu rosto encaixado em seu ombro, naquela bela curvatura entre sua face e o infinito. Deixei que se afastasse apenas para que girasse ao redor do meu próprio eixo, sorrindo abertamente quando retornei para seu corpo, como deveria ser; orbitávamos estranhamente um pelo outro, em uma galáxia escura onde ninguém poderia jamais ter uma gravidade maior para nos separar. Um passo para a esquerda, outro para a direita. Nossas mãos juntas e nossos corpos unidos. Ele sussurrou algo como “eu te amo” em meu ouvido, e eu sussurrei o mesmo de volta, deixando meus lábios desenharem o contorno daquelas palavras com a mesma delicadeza que meus pés se moviam abaixo do meu vestido de pedras lunares, deixando galáxias inteiras para trás.
Os flashes das máquinas fotográficas eram estrelas explodindo bem longe dali, e a música era o silêncio do espaço, quebrado apenas por sua respiração perto da minha...”
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