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História Pecado Original - Dramione - Absolvição


Escrita por: ckai

Capítulo 15 - Absolvição


Fanfic / Fanfiction Pecado Original - Dramione - Absolvição

Acordei com o sol já alto no céu, seus raios trazendo um calor morno ao meu rosto semidesperto. Espreguicei-me na grande cama de casal, e só abri os olhos quando não senti presença alguma ao meu lado. Franzindo o cenho, sentei-me sobre o colchão, deixando que os lençóis macios caíssem sobre meu colo, cobrindo a pele desnuda. O silêncio completo, senão por alguns pássaros que rondavam o lado de fora, envolvia meus confusos pensamentos matutinos, embora um sorriso ainda lavasse meu rosto por conta do sonho – mais uma memória do que qualquer coisa – que ainda tinha fresco na mente. Respirei fundo, passando as mãos sobre a face e chegando até os cabelos, parando pouco antes de tentar desembaraçá-los: se tentasse fazer qualquer coisa com aquele emaranhado de fios sem molhá-los antes, seria um completo desastre.

                Levantei-me da cama a contragosto, esfregando os olhos enquanto meus pés me guiavam automaticamente até o banheiro, o chão frio me acordando pouco a pouco, embora só tenha despertado no instante em que me coloquei debaixo do chuveiro, sentindo a água morna aquecer e envolver meu corpo, me preparando para uma nova manhã. Demorei pouco tempo no banho, o suficiente para acordar e pentear meus cabelos encaracolados, logo voltando para o quarto do qual eu acabara de sair, ainda nua. Espreguicei-me defronte o batente que interligava os dois cômodos, um sorriso de canto percorrendo meus lábios. A cama estava desarrumada, alguns lençóis até mesmo caídos no chão, juntos com alguns travesseiros compridos e brancos. Por todos os lados havia luz entrando das gigantescas janelas, e eu não sabia quando tinha começado a chamar aquele lugar de casa, mas era a mais pura verdade, como disseram as dezenas de jornais assim que anunciamos nossa relação. Eu ainda guardava, dentro de uma caixinha, os recortes de todos que cochicharam sobre nosso relacionamento, em especial os que mencionavam um certo baile de primavera...  

                Caminhei até o armário para escolher alguma roupa, nada que dissesse mais do que “ficarei dentro de casa o dia todo, muito obrigada”, para logo depois rumar até o andar inferior. O silêncio daquela mansão era diferente de outros silêncios que eu já presenciara: não me sufocava, ou fazia pensar demais, como a maioria dos silêncios fazia comigo desde que me vira fora da guerra; era o tipo de silêncio que se aproveita, e lamenta-se quando acaba. Eu adorava acordar com aquele silêncio, ainda mais quando era acompanhado de um belo sorriso envolto em fios loiros rebeldes. Ri com minha própria tolice, passando uma das mãos pelo corrimão dourado enquanto me aproximava cada vez mais do primeiro andar, o sol de verão iluminando cada canto daquela casa: era como um palácio grego, e eu poderia imaginar o próprio Apolo rondando aqueles corredores como se fossem seus. Bom, Apolo que fosse para os infernos, porque aquela casa me pertencia.

                Um calor inesperado veio ao meu peito e às minhas bochechas quando pensei nisso, e senti que meu coração pulou uma batida. Minha casa. Eu, Hermione Granger, morava em uma enorme mansão, nos subúrbios de Londres, na companhia de ninguém menos que Draco Malfoy. Era idiota pensar que eu ficava animada com aquele tipo de constatação mesmo morando ali há quase dois anos, mas era a verdade: desde que ele me convidara a viver ali, tudo parecia uma espécie de sonho. Ainda mantinha meu pequeno apartamento no centro, mas ele voltara a pegar poeira e receber a visita de traças, e eu esperava de todo o coração não ter que retornar a ele tão cedo.

                Foi com um sorriso bobo no rosto que acabei com todos os degraus e me dirigi ao local mais provável de encontrar Draco. O relógio na parede marcava dez horas da manhã, e eu sabia que ele já estava acordado há muito tempo, porque na maioria das noites os pesadelos não o deixavam dormir por mais de algumas horas, coisa que ainda precisávamos trabalhar, mesmo que eles estivessem diminuindo consideravelmente. Através das grossas paredes, escutei sua voz, mesmo que distante, e fui até ela como se me puxasse, sentindo-a arrepiar meus pelos como se a frequência daquele som ressoasse com a do meu corpo.

                As portas francesas estavam abertas, deixando que a cozinha se interligasse tanto aos jardins quanto ao salão de jantar, me dando uma visão perfeita do homem que eu amava recostado em uma bancada, sorrindo mansamente para uma criança em seu colo. Em uma das mãos ele segurava uma mamadeira, tentando em vão fazê-la tomar o líquido quente que jazia dentro do vasilhame. Sabia que ele provavelmente não tinha preparado aquele leite, mas sim um dos elfos da casa, o que não tirava meu gosto por vê-lo em uma cozinha. Desde que me mudara, passara a cozinhar várias vezes, e percebia que cada vez mais me encontrava na sua presença silenciosa, observando-me pegar as coisas. Ele sempre se sobressaltava quando eu pedia para que me passasse alguma coisa, como se não se lembrasse que eu podia vê-lo, e ainda não entendia de fato o que era uma “escumadeira”. Ri com aquela lembrança, me aproximando em silêncio, sem coragem de quebrar aquela cena angelical.

                - Vamos, estrelinha, você tem que tomar isso aqui. – ele murmurava para a criança. “Estrelinha”, o apelido secreto foi o suficiente para abrir um sorriso ainda maior no meu rosto. Quanto mais me aproximava, mais ciente do que acontecia eu ficava. A menininha, que tinha pouco mais de um ano de idade, mastigava com prazer uma das enormes madeixas loiras, seus olhos cristalinos o fitando como se o desafiasse a fazê-la tomar o leite mais uma vez. Quanto mais Draco insistia, mais ela mordia os fios platinados, sem mover o olhar, fascinada. Eu não podia culpá-la, também ficava hipnotizada por aqueles olhos azuis.

                - ‘Mone! – ela balbuciou, erguendo os bracinhos roliços, finalmente largando o cabelo do rapaz, que sorriu, aliviado. Antes que pudesse se vangloriar do feito, seu rosto seguiu para o lugar onde a criança olhava, e o momento em que a surpresa se fez sorriso foi o mesmo em que eu não me aguentei de felicidade, rindo para os dois, obrigada a acabar com aquela distância. Deixei um beijo nos lábios de Draco, que tinham o gosto suave de chá de hortelã, e outro na bochecha da garotinha em seu colo, que se recusou a sair de lá mesmo quando eu a chamei para mim, agarrando-se à blusa do homem com uma força nada compatível com uma criança tão pequena.

                - Bom dia – sussurrei, já me preparando para fazer um café bem forte. Talvez se eu tomasse um café, eu acordasse daquilo que parecia ser um sonho, mas eu esperava que não. Enquanto começava a procurar as coisas, escutava Draco cochichar o que quer que fosse para a menininha, que ria com deleite. Onde já se imaginou, um Malfoy com talento para crianças. Neguei com a cabeça, colocando o pó em um pequeno filtro de pano – Quando ela chegou?

                - Às sete e meia, não é mesmo, estrelinha? Gina a deixou aqui e disse que só vai voltar quando anoitecer. – eu assenti. Há algum tempo, aquela cena pareceria totalmente improvável aos meus olhos. Eu nunca, em nenhum momento da minha vida, imaginei estar ao lado de um Malfoy, morando em sua casa, e que esse mesmo Malfoy estaria com uma Potter nos braços, abraçando-a e beijando-a como se fosse sua própria herdeira. Talvez por não ser, por ter sido escolhido a dedo para cuidar daquela menina, ele a amasse tanto. Poderia negar o quanto fosse, se fazer de durão para qualquer um, mas não conseguia manter a compostura quando a pequena Lily estava em seu campo de visão.

                Coloquei a água para ferver e voltei meus olhos para a cena, reparando em pequenos detalhes. Num dos pulsos roliços da criança, havia uma pulseira de ouro finíssima com um único pingente: era uma pequena placa dourada, e em cada uma de suas faces havia um escrito. Algarismos romanos adornavam o primeiro lado, indicando a data de nascimento de Lily, e, do outro, havia um lírio gravado em baixo relevo. Sobre ele, diminutos diamantes formavam a constelação do Dragão, ou Draco. O homem, que voltara a ter seus cabelos atacados pelas gengivas sensíveis da menina, possuía um pingente igual, embora maior, que usava como um broche sempre que saía de casa, exibindo para todos que era ele o padrinho da caçula dos Potter. Lembrei-me do dia em que Gina lhe pedira para que tivesse a honra, e de como todos acharam que fosse algum tipo de brincadeira. Até mesmo Draco, após um instante de choque, começou a rir, pronunciando-se com a voz trêmula, uma de suas mãos suando de encontro à minha “Você não está falando sério, está?”. A ruiva, que tinha um sorriso doce no rosto, simplesmente assentiu do sofá onde estava com a pequenina, e repetiu a proposta. Não foi preciso uma terceira vez: Draco aceitou de imediato, com os olhos arregalados e ainda sem saber como agir. Nunca tinha visto uma expressão de maior orgulho em seu rosto senão no dia da cerimônia, quando estava com a pequena Lily nos braços, e seus corpos foram envoltos em feitiços de proteção azulados. Nunca contei a ninguém sobre como o escutei chorar de noite, em meio ao riso, após todas as comemorações. Naquela madrugada, ele não teve nenhum pesadelo.

                - Hermione! – o escutei acima dos meus pensamentos, arregalando os olhos e o encarando enquanto ele corria para o fogão, tentando desengonçadamente desligar a chama que fazia a água borbulhar fervorosamente, até que desistiu e fez o serviço com a varinha, retirando-a de um dos bolsos. Ele me olhou com um sorriso incrédulo, e Lily, que ainda tentava comer seu cabelo, também me fitava com a ajuda de seus gigantescos olhos verdes. Ela era tão parecida com Gina, ao contrário dos outros dois Potter, que chegava a ser assustador. Mais um motivo para Draco gostar mais dela do que dos meninos, visto que, após o nem tão desastroso baile de primavera de alguns anos atrás, foi questão de tempo até que se conectasse com Gina de uma forma incrível, quase como se sempre tivessem sido melhores amigos. Não era de se surpreender: os dois eram facilmente irritáveis, cabeças duras e pensavam estar sempre certos. Uma dupla mais do que perfeita, aos meus olhos. Quando íamos visitá-los, tinha o prazer de conversar com Harry durante horas, enquanto o loiro e Gina confabulavam sobre outros tantos assuntos, normalmente Quadribol e poções diversas. Não víamos muito Ron ou seu namorado por razões óbvias, embora ele tenha nos pedido desculpas pela confusão logo quando nos encontramos após o acidente no baile, desculpas as quais Draco não aceitou, eu sabia muito bem, porque também relutara muito em aceitá-las. Isso, no entanto, era secundário, visto que estávamos em países diferentes e não éramos obrigados a aturar a presença um do outro.

                Ainda desatenta, coloquei o café para coar e voltei a observar os dois brincando, ou melhor: Draco tentando fazer com que Lily soltasse seu cabelo sem o menor indício de que conseguiria, de fato. A garotinha tinha bochechas enormes e redondas, e seus fios ruivos despontavam em ondas precisas e avermelhadas por toda a cabeça. Nos braços do padrinho, ela parecia ainda menor do que realmente era, envolvida por uma blusa preta de mangas curtas. Será que ele seria tão cuidadoso quando tivesse filhos? Será que os colocaria para dormir? Arriscaria cantar alguma coisa, ou colocaria algum tipo de instrumento mágico para tocar? Ele lhe daria presentes caros e beijos de bom dia? Será que sorriria para mim quando me visse com uma criança no colo e... Ora essa, eu nem sabia se ele queria ter um filho, ainda mais comigo, que ideia estúpida! Me virei imediatamente para meu café, quase derrubando a garrafa no processo, e soltei um muxoxo sobre isso, tentando esconder minhas bochechas coradas.

                - Hermione? – ele chamou, despertando-me dos meus devaneios enquanto eu despejava um pouco de café em uma caneca azul. Não pude evitar sorrir, porque ele agora me chamava pelo primeiro nome com uma naturalidade implacável, mas ainda era inevitável sentir-me arrepiar ao escutar a forma como o pronunciava, deixando cada sílaba evidente sob seu sotaque pesado. Resmunguei qualquer coisa para mostrar que estava prestando atenção, e continuei a encarar meu café fumegante, envolvendo o recipiente com as mãos frias, apesar do calor que fazia do lado de fora. Meus pensamentos de anteriormente começavam a me atormentar, fazendo meu coração ficar acelerado – No que está pensando tanto?

                Eu ri, virando-me para ele com a caneca nas mãos e o encarando. Seus olhos azuis pareciam ainda mais brilhantes com a luz que chegava de todos os lados, iluminando sua face branca. Era tão lindo... Não apenas ele, mas aquela cena, aqueles dois, como se completavam e pareciam pertencer àquele ambiente calmo, como eu... Suspirei sem perceber muito bem o que fazia, notando apenas naquele momento que tinha me perdido em devaneios e deixara-os bem evidentes, agora. Ele franziu o cenho, apoiando o corpo na mesa que havia no centro da grande cozinha, encarando-me de longe com a cabeça levemente inclinada, dando assim mais cabelo para a garotinha colocar na boca. Ele entreabriu os lábios por um momento, acompanhando meu olhar antes que eu pudesse desviá-lo.

Hermione, você quer um desses?

Era como se fossemos um só.

                A pergunta saiu da minha boca como um tiro seco, e ressoou durante segundos que pareceram horas por todo meu corpo. De repente, fiquei atordoado com o barulho que elas fizeram em mim. Meu rosto atingiu um novo tom de vermelho quando o vi erguendo Lily um pouco, demonstrando que estava falando da criança. Escondi meu rubor atrás da caneca, sentindo minhas palmas suarem ao contato da porcelana. Ela estava vermelha e eu não sabia mais o que fazer. O coração em meu peito era uma bomba relógio, pronta para explodir. Meu deus, ela queria um filho? Meu deus, eu queria um filho? Meu deus, o que eu estava fazendo da minha vida para deixar meus pensamentos tão evidentes? E justamente os pensamentos mais tolos... Não que eu pudesse evitar: já estava fazendo trinta anos, sabia que, se eu quisesse gerar filhos, não poderia esperar tanto tempo assim, mas tinha fracassado tão miseravelmente da última vez que tive a chance que nunca antes tinha me vindo à cabeça essa ideia, outra vez, mas ver Draco com Lily tinha despertado algo em mim que...

                Seu silêncio quebrava meu corpo e o reconstruía diversas vezes, tudo o que eu podia pensar era nela com uma criança no ventre, colocando-a no colo, sorrindo, chamando-a de “minha” e em que merda de momento eu quis uma criança? Quando eu gostara de crianças, para começar? Onde estava meu coração e por que na minha garganta, e não no meu peito, onde era o lugar dele? Molhei meus lábios com a ponta da língua, pois estavam tão secos que poderiam quebrar. Enquanto eu pensava, não fui interrompida senão por um pigarro do homem a minha frente, o que me forçou a olhar para seu rosto, também ruborizado. Ele segurou a menina com mais força, e olhava para o chão, como se estivesse envergonhado, também, mesmo que eu não soubesse direito o motivo. Abri a boca para dizer que era pura tolice minha, que não devia se preocupar, mas ele ergueu uma das mãos, e teve coragem de dizer, mesmo que baixinho.

                Eu sabia que qualquer deslize seria fatal, sabia que não era momento para falhar, porque eu já tinha falhado muitas vezes na minha vida e uma delas fora quando eu escolhera me afastar quando na verdade eu deveria ter colocado-a mais perto, quando eu deveria ter dito que a amava e não que a odiava, quando eu deveria ter gritado... Eu não sabia se tinha gritado, mas aquele era o maior volume que eu alcançava quando escutava meu coração bater forte ao ponto de me ensurdecer. O chão brilhante parecia um lugar muito mais bonito que o labirinto de seus olhos, porque eu não sabia se seria capaz de sair deles no momento em que os encontrasse. A criança que eu segurava se endireitou nos meus braços trêmulos, eu imaginei como seria se ela fosse da mulher a minha frente, que amava tanto...

 – Acho que... Acho que podemos resolver isso, não é?

Murmurou, um sorriso aparecendo em seu rosto ao tempo em que meu coração explodia no peito. Ele estava dizendo o que eu achava? Ele estava... Todo meu corpo parecia responder às suas palavras, ficando quente, arrepiando-se, meu estômago dava voltas e mais voltas, e eu só sabia encará-lo com os olhos arregalados enquanto seu rosto ficava mais vermelho, e ele usava esse tempo para engolir em seco diversas vezes, até que ergueu os olhos para mim, dois oceanos inteiros me engolindo sem pedir permissão. Puta que pariu, se morrer for assim eu quero morrer todos os dias. O silêncio, o silêncio senão nossos corações batendo e nossas respirações, e aquele mundo inteiro que criamos dentro daquela cozinha, e a forma como eu me perdi em seus olhos como realmente eu sabia que me perderia. Ela era a mulher mais bonita que eu já tinha visto no mundo, com seus fios encaracolados caindo, ainda úmidos, pelo pescoço avermelhado, com seu nariz arrebitado e lábios entreabertos. Eu deveria? Eu deveria fazer aquilo?

                – Mas eu gostaria que, se você quiser...

Seu peito subia e descia audivelmente, e cada palavra era entrecortada pela força de sua respiração. Eu não fazia mais ideia do que era oxigênio. Mordeu o lábio inferior, tentando esconder o sorriso envergonhado e o medo que eu vislumbrava no fundo de suas íris. Eu começara a falar e não sabia o que eram palavras, apenas sentimentos. Eles transbordavam de mim e me impulsionaram a dizer o que meus lábios jamais pronunciariam. Coração idiota que tomava o rumo de tudo desde que eu a conhecera, conhecera de verdade. Desde que vi aquela mulher da forma como deveria ter visto desde o início, mas a vaidade me cegou. Quando me dei conta, tudo o que eu tinha para falar já tinha sido dito por um coração fugidio, que embaçava minha visão, de tão forte. Era tarde demais para conter minhas palavras.

Eu gostaria que você se casasse comigo, antes. Você quer? 

                Meu queixo caiu, literalmente. Mas que merda, eu nem tinha uma aliança, ela merecia a aliança mais bonita que eu encontrasse e eu não tinha uma única aliança. Que tipo de pessoa pede outra em casamento, às dez da manhã, numa cozinha, de pijamas, sem uma aliança? Meu queixo e a caneca que eu tinha nas mãos, estilhaçando-se em dezenas de pedacinhos aos meus pés, o líquido quente derramando-se pelo soalho branco. Ela ia negar, e quebrar meu coração como tinha quebrado aquela caneca. Ela ia, eu sabia que ia, devia ter ficado quieto, devia ter dado meia volta e engolido tudo o que eu sentia outra vez. Eu nunca tinha pedido uma pessoa em casamento, com Astoria eu simplesmente sabia que ela se casaria sem nunca ter pedido, eu nem sabia como aquilo funcionava, e meu coração estúpido parecia não saber de muita coisa, também... Ele não pareceu se abalar, e tudo o que a garotinha em seu colo fez foi dar um sobressalto, sem chorar, como se soubesse que não podia chorar naquele momento. Ah, ela não podia, mas eu... Lágrimas começaram a cair dos meus olhos em poucos segundos, apenas o suficiente para que eu processasse suas palavras e sentisse cada uma delas se alojar no meu peito, que batia com uma força inacreditável, querendo que eu acreditasse que aquilo era real.

Era mesmo de verdade? Eu... Eu deveria aceitar? Já tinha sido pedida em casamento antes, mas não daquela forma, como se casualmente ele soltasse o maior pedido de sua vida. Era como se ele pedisse para que eu o amasse, e eu já o amava tanto... Mas e se? E se ele me deixasse uma semana antes do nosso casamento? E se tudo o que eu pensava não fosse real? E se ele mudasse assim que colocasse um anel no meu dedo? E se... Que todos os “e se” fossem para bem longe de mim.

Chorando. Ela estava chorando e eu deveria estar chorando também, porque aquilo era ridículo, eu não tinha a aliança, eu não tinha nada para dar senão meu coração que já era dela. Tudo o que eu estava pedindo era que ela se entregasse para mim, e isso não era muito, era? Eu não parecia muito quando me entreguei. Desviei-me dos estilhaços daquela caneca, cada passo levando uma eternidade para se concretizar, e eu odiei aquela cozinha enorme, até chegar mais perto dele, que me encarou de cima, seus lábios tremendo levemente, a dúvida estampada em seus olhos arregalados que esperavam ansiosamente por uma resposta. Você quer? Porque eu quero. Tão de perto, eu podia sentir seu cheiro fresco, que tanto combinava com a paisagem maravilhosa do lado de fora. Ela tinha cheiro de sabão e lavanda, além de alguma coisa que só ela tinha. Seus olhos eram o sol que a iluminava através das inúmeras janelas, traçando vitrais em sua face.

Coloquei uma mão de cada lado de seu rosto, sentindo-o relaxar um pouco, soltando o ar que prendia nos pulmões. Ela estava tão perto para dizer que não, que não me queria, como eu era estúpido por pensar que ela se casaria comigo assim tão fácil, mas ter seu toque era suficiente, ao menos para meu corpo mundano. Percebi que queria fechar os olhos, mas não ousou escapar do meu olhar firme sobre o seu, e eu ri, perplexa. Coloquei-me nas pontas dos pés para chegar até sua altura, quase roçando nossos lábios quentes – Eu quero. – respondi, jogando todo o medo daquela frase para longe, acabando com nossas distâncias e juntando minha boca na dele, que soltou um leve gemido de prazer pueril, nos separando apenas para rir mais uma vez, minha cabeça apoiada na curva de seu pescoço, escutando seu coração bater tão acelerado quanto o meu, de olhos bem cerrados – Eu quero.

Ela queria. Ela queria se casar comigo. Algum tipo de coro surgiu em minha mente, repetindo aquelas duas palavras mais vezes do que o necessário, tornando-as reais para mim, porque eu parecia não acreditar no que elas significavam. Eu lhe daria a aliança mais bonita do mundo, mais tarde. Eu lhe daria a cerimônia mais maravilhosa de todas, em alguns meses. Eu lhe daria tudo o que pedisse. Ele sorriu para mim, quase como se não acreditasse que eu tinha dito que sim, colocando a mão que não segurava o bebê ao redor da minha cintura, depositando um único beijo demorado na minha testa, e era aquilo, aquela simplicidade que não existia anos atrás. Era ele, eu sabia. Era ela, eu sabia.

***

Não existe Deus. Nunca existiu Deus algum para nos perdoar ou para sequer pedir algum perdão. Durante todo esse tempo, éramos nós os deuses, e o perdão dependia apenas de nossas próprias mãos. Nosso pecado original foi não ter aceitado o amor, quando ele era tudo o que precisávamos ter.


Notas Finais


Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
Ai. É, acabou, gente </3 finalmente cheguei ao fim dessa fanfic que me trouxe tanta alegria, tantos amigos novos e pessoas maravilhosas que comentaram, fizeram meus dias, me colocaram doida para que sexta feira chegasse e eu soubesse o que pensaram do capítulo novo. Então eu só tenho mesmo a agradecer, e agradecer muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito, porque vocês foram todos extremamente especiais para mim, eu sorria de orelha a orelha para cada comentário que recebia, e fiquei mais do que feliz por ver um trabalho meu (o primeiro que eu consegui finalizar) ser tão valorizado por vocês. Muito obrigada, escrevi cada letrinha dessas pensando em vocês <3 E não só a quem comentou, mas em todos que favoritaram, que colocaram na lista de leitura ~espero que algum dia cheguem a ler isso aqui e não me deixem empoeirando~, e para quem só leu por ler e também me fez super feliz. Vocês são INCRÍVEIS!!!!!!!
* Agora eu sinto em dizer que ficarei um pouco sumida, não farei longs até o final do ano porque tenho que passar no ENEM e me dedicar mais intensamente aos estudos, mas isso não significa que não postarei algumas dramiones que já tenho, algumas drarrys, outras fics de outros fandoms, e talvez eu crie coragem para colocar algumas originais aqui, também. Como alguns já sabem, tenho projetos para outras duas longs de Dramione, e assim que eu realmente tiver tempo de escrevê-las, serão postadas aqui com o maior prazer do mundo. Espero que continuem por aqui, eu estou sempre aberta a críticas, a bater papo ou o que quer que seja <3
No mais, muito, muito, muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito obrigada mesmo ~de novo~ Vou sentir saudades de vocês e de escrever essa história linda <3


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