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História Pecado Original - Dramione - Não pronuncie o nome Dele em vão


Escrita por: ckai

Notas do Autor


Queria agradecer imensamente a todas as pessoas que comentaram, favoritaram e, principalmente, leram o último capítulo. Vocês fizeram meu dia com cada visualização, e espero continuar agradando todos vocês com todos os próximos capítulos que postar.

Capítulo 2 - Não pronuncie o nome Dele em vão


Depois daquela noite, eu não consegui dormir. Nada que eu fizesse parecia ser bom o suficiente para dar descanso aos meus olhos ou ao meu corpo mundano, portanto ali fiquei, de olhos bem abertos, pupilas dilatadas tentando absorver alguma luz que fosse, coração acelerado ressoando uma melodia triste de um pássaro que não sabia cantar. De olhos abertos, eu ainda conseguia escutar aquela única palavra, o nome que escapara de seus lábios – certamente fora um engano, porque ele nunca ousaria pronunciá-lo, fora um acordo silencioso que fizemos em algum momento depois de pecar e antes de pedir por perdão –, meu nome. “Hermione”. Aquela única palavra, quatro sílabas que fizeram com que meu corpo sofresse um calafrio e se encolhesse contra as cobertas outra vez. Um engano. Ele havia de estar enganado, nunca lhe dera permissão para que me chamasse. Para aquilo, desde o início, sempre lhe dissera não, embora nunca tenha falado nada.

Daquela forma fiquei até que o sol raiasse, sua luz roçando minha face após passar pelas cortinas finas, e eu pudesse escorregar para fora da cama, embora quisesse ficar ali para sempre, sentindo o colchão engolir meu corpo e as almofadas abafarem meus gritos nunca dados. Meus braços relutaram em retirar o cobertor, mas assim que o fizeram senti o frio do lado de fora me estapear e não me importei, já que algo dentro de mim parecia igualmente congelado. Hermione. Espantei aquele pensamento da minha cabeça, passando as mãos pelo meu rosto cansado, e me obriguei a continuar o caminho para sair daquela prisão sem barras ou vigias que era sua lembrança, colocando os pés descalços contra o soalho e forçando-os a andar até o banheiro. Nunca em toda a minha vida, nos sete meses que morava ali, aqueles dez passos foram tão demorados ou tão dolorosos, e me culpei por aquilo tudo. Quando havia lhe dado aquela liberdade? Nunca, eu imaginava, eu tinha quase certeza... Mas também tinha quase certeza de que o tratava com completa indiferença, e algo que me fazia perder uma noite inteira de sono não era tão irrelevante assim, ao que parecia. Bufei qualquer coisa, entrando no vestíbulo com passos firmes.

Não quis me olhar no espelho; de algum modo senti que, se o fizesse, assim que me comprometesse com aquela imagem, eu não saberia mais quem era, e não seria capaz de fazer nada na vida, pois minha identidade teria se perdido para sempre. Respirei fundo, e aproveitei o fato de que já estava sem roupa alguma para entrar debaixo do chuveiro e ligá-lo sem antes verificar o aquecedor, de forma que a água fria caiu sobre minha cabeça, e eu não pude deixar de rir daquela ironia. Um balde de água fria, realmente, e minha vida miserável estava completa. Hermione. A risada mansa cessou e perdeu-se em minha garganta quando me lembrei daquela única palavra, e da forma como fora dita. O barulho da água caindo era tudo que emoldurava sua lembrança. Ele, o braço negro, os dedos longos, os cabelos soltos, a gravata de seda. A luz no fim do corredor que lhe dava o eterno ar de sombra, desaparecendo nas beiradas e inacreditavelmente escura no meio. Nós. Nós dois, que não conseguíamos ser corretos nem quando fingíamos que sim.  

Esfreguei o sabão em meu corpo, mas as marcas roxas e rubras não sairiam tão facilmente assim, embora fossem sujas, imorais e cheias de pecados. Fechei os olhos, deixando a água, agora quente, cair em minha face, cada pequena gota fazendo cócegas nas minhas bochechas já coradas enquanto eu tentava não respirar e não sentir nada, em vão. Havia um buraco no meu peito – estava lá há muito, mas após aquela noite, era como se mais alguns metros tivessem sido cavados sem que eu sequer percebesse. Como fora tão estúpida?  Eu me vi enrolada numa toalha branca sem saber quando tinha terminado o banho, meu corpo agia por reflexos, vítima de uma rotina monótona. Tive de passar correndo para não ver meu rosto no espelho e para colocar uma roupa decente a fim de enfrentar um novo dia. Sorri. Ou tentei sorrir; foi algo estranho, como se tivessem puxado os cantos de meus lábios com ganchos ou algo do tipo. Sentia o gosto metálico deles dentro das minhas bochechas, suas pontas roçando minha carne mortal. Maldita fosse a hora que coloquei um vestido, sapatos e brincos pretos (estava de luto por minha dignidade) e fechei o guarda roupa com um baque surdo, ainda com o péssimo sorriso no rosto, pronta para um dia como outro qualquer. Hermione. Outro calafrio, idêntico aos que sentira por toda a noite, correu pelos meus braços, mas preferi ignorá-lo e fechar a porta de casa sem tomar café. Escutei meus passos pelo corredor mal iluminado, ou pensei ter escutado. Talvez fosse apenas meu coração descompassado. Eu me odiava por deixar que ele fizesse aquilo com meu corpo. As marcas roxas ainda ardiam como rosas por baixo da minha roupa. Coloquei uma das mãos sobre uma delas, em meu ventre, e torci para que ninguém a visse, mesmo sabendo que era impossível. Se tinha aprendido algo naquele tempo todo em que estávamos juntos, era que ninguém via o que não queria ou esperava ver, e ninguém, nem em um milhão de anos, conseguiria me ver ao seu lado. Não sabia se isso era belo ou trágico. Respirei fundo o ar frio do inverno assim que ultrapassei as portas de vidro do prédio, e esperei que ele fosse suficiente para me trazer à realidade mórbida que conhecia. Olhei para cima, e o céu que vi era cinza e branco. Um rubor cruel passou por minha face quando percebi que o céu eram seus olhos me encarando por todos os lados.

O caminho que percorri até o ministério é algo que não precisa ser comentado, pois foi tedioso como todas as outras vezes: prédios de tijolos, pessoas atrasadas, meus pés tilintando num passeio tão cinza quanto todo o resto, e meu cabelo flutuando ao redor do meu pescoço como uma névoa espessa; mas gostaria de enfatizar que, assim que meus pés tocaram o chão de mármore, eu o vi. E eu queria poder dizer que passei por ele com um sorriso breve e cabeça erguida, lhe dando alguma notícia sobre a qual ele fosse se interessar e comentando que a gravata, por acaso a mesma da noite anterior (fato curioso), era muito bonita e me fazia lembrar dos tempos de escola. Mas não foi o que aconteceu. Assim que meus olhos repousaram sobre ele, todo o meu corpo pareceu desmanchar de repente, pernas tremeram, voz perdeu-se em algum canto da garganta e meus olhos foram tomados por lágrimas das quais eu sequer sabia da existência. Hermione. Ele me chamara, e eu queria tanto ir, mas não podia. Meus pés, no entanto, foram os verdadeiros traidores. Eles me impeliram para frente, fizeram com que meu caminho fosse muito mais rápido e objetivo, cada vez mais perto dele, e do cheiro dele, e da alma dele, e dos olhos dele e eu sabia que ele tinha parado sua conversa e estava me encarando com aquele céu londrino, mas ainda havia o cabelo dele, e a boca dele, e a pele dele e eu, que também era dele naquele momento (coisa que nunca havia acontecido fora de uma cama, eu gostaria de lembrar). Ali estava eu, a sua frente, e aquela criatura hedionda teve a audácia de me erguer uma sobrancelha fina, quase branca de tão loira, me perguntando em silêncio o que eu estava fazendo, e eu não sabia a resposta pela primeira vez na vida. Abri a boca para lhe dizer algo, dizer que nunca o responderia, mas o que saiu dela... O que saiu dela me traiu para sempre.

- Draco. 



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