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História Pecado Original - Dramione - A árvore proibida


Escrita por: ckai

Notas do Autor


Olás, meus amores! Bom, eu deveria postar esse capítulo apenas amanhã, mas como não poderei, resolvi postar hoje mesmo. Muito obrigada pelo apoio que me deram nos dois últimos capítulos, isso foi muito importante para me ajudar a construir melhor os personagens e ter vontade de escrever mais e mais! Espero agradar vocês novamente ;3
Sem mais delongas, sugiro que leiam esse capítulo ao som de "Landfill", da Daughter, pois o escrevi escutando-a ao fundo...
"Cause I want you so much, but I hate your guts. I hate you... So leave me in the cold"

Capítulo 3 - A árvore proibida


Eu deveria começar dizendo que foi tudo minha culpa, mas, obviamente, isso não é algo que eu vá fazer. Essa noite não foi minha culpa, assim como não fui culpado por todas as noites anteriores, por todos os beijos que trocamos, pelas carícias e pelas vontades. Não é como se eu pudesse ter feito tudo sozinho ou a enfeitiçado para que isso fosse possível, pois nunca acreditei que feitiços seriam capazes de mudar o que aconteceu entre nós. E se aconteceu, eu devo esclarecer, a culpa foi dela, também. Não adianta me falarem que sou péssimo para aceitar a culpa por minhas ações, ou que sou uma pessoa horrível, como ela mesma já me falou uma vez ou outra quando se esquecia de que éramos mudos na presença um do outro, temendo que nossos pecados fossem descobertos por qualquer um que, por acaso, tropeçasse em nossos véus e deixasse que caíssem, diáfanos, no chão. A culpa não é minha, não é como se eu a amasse, ou quisesse algo além de seu corpo, de seu sorriso torto, das mãos macias, dos cabelos de cachos largos que enroscam em meus dedos... não. Não, não, a culpa não foi minha se tudo isso aconteceu. O ar sai do meu corpo, quente. O vento entra em meu corpo e me lembra de que sou frio. Quero dizer, se naquela noite ela não tivesse amarrado minha gravata de forma diferente – porque fora sim diferente das outras vezes – ou não tivesse passado aqueles dedos pequeninos pelos cachos chocolate e feito meu coração acelerar, eu não teria parado meu caminho. Não teria me segurado àquela porta, tonto, vislumbrando uma luz trêmula no final do corredor – esperando que fosse a morte e não o amor – e a parede descascando bem defronte meus olhos, que estavam quase fechados. Eu não teria dito nada, se ela não estivesse diferente naquele dia. Eu não a teria chamado, em hipótese alguma, e as coisas poderiam ser mais fáceis. Porque, acredite em mim, foi difícil seguir em frente depois de deixar aquele nome sujo pingar dos meus lábios estreitos. Sempre foi difícil estar perto dela.

Assim que percebi meu erro trágico, eu corri. Arregalei os olhos, fechei a porta atrás de mim com um baque, mas não antes de escutá-la arfar e repuxar os cobertores, som delicado parecido com as folhas do outono remexendo com a rajada fria, e corri. Não digo para onde corri porque nem mesmo eu sei para onde fui, apenas me lembro dos meus pés batendo contra o chão enquanto eu fugia daquilo que havia feito. Fugia de sua lembrança e de sua pele ainda quente, embora sentisse cada milésimo daquele momento grudar sobre meu corpo como piche. Cada passo queimava minhas solas, o que me fazia correr mais rápido, mais rápido, mais rápido... E eu corri por minutos sem fim para fugir da minha própria sombra. Me lembro do vento gélido batendo no meu rosto, desarrumando meu cabelo e agredindo minhas bochechas, acelerando em meus ossos e chegando até meu coração, que doía mais do que eu julgava ser possível. Por que ela fazia meu coração doer tanto, droga? O inverno era nada mais do que um borrão passando por meus olhos de vidro. Assim que parei de correr (não porque eu queria, mas simplesmente porque minhas pernas se recusavam a continuar se mexendo), me vi em lugar algum, coloquei a mão no peito, e, mesmo através das várias camadas de roupa, eu pude senti-lo ali, um coração batendo acelerado e quente, incapaz de espalhar aquele calor para o resto do meu corpo. Um coração vazio que levava sangue pelas minhas veias elétricas. Estava tão desacostumado a senti-lo bater que mais me parecia um bicho asqueroso e rubro tentando abrir espaço por minhas costelas, que eram obrigadas a aguentá-lo e a aguentar, também, meus pulmões desgastados pela corrida. Meu corpo pertencia a tudo o que eu sentia por ela, e a dor era a prova de que estávamos fazendo tudo errado, como sempre. Eu nunca era bom em nada. Cada pouco de ar que eu pegava era tão doloroso como nossas noites de pecado juntos. Maldito deus que me obrigava a continuar vivendo.

Lembro que olhei para cima, apoiado contra uma parede de tijolos, escorregando até chão coberto por uma camada fina de neve sem me importar com ela, e vi a lua, um feixe magro de luz através das nuvens, zombar de mim e da minha fragilidade. Vidro sempre quebra, não é mesmo? Pude escutar seu riso dentro das minhas orelhas, e o vento vinha trazê-lo para mim enquanto fazia carícias em meu pescoço como ela fazia vez ou outra... Maldita. Sentia meus fios platinados roçarem minha face, e o que normalmente me incomodaria não passava de distração para tudo o que vinha em minha mente enquanto eu estava sentado naquele vazio invernal. Infernal? E tudo, por pura implicância do mundo, tinha a ver com ela. O vento me lembrava das carícias dela; o escuro me lembrava dos imensos olhos dela, piscando calmamente; a neve me lembrava da minha pele contra a dela; a irritante luz âmbar do poste a minha frente me lembrava do estranho calor dela; minha posição miserável... Minha posição miserável era culpa dela, também. “Ela” que eu abandonara alguns minutos antes. Ali no frio eu percebi a contra gosto que havia a chamado, havia pedido para que ela me chamasse de volta, mas para quê? Qual era a razão de chamar por algo que não se queria? Poderia rir da minha estupidez, no entanto não era minimamente capaz de rir para qualquer coisa, o que fazia a lua gargalhar. Internamente, mandei que ela, a lua e toda aquela noite ridícula se fodessem. Não sei quanto tempo passei sentado, mas com dificuldade me ajoelhei, tentando obter algum apoio para ficar de pé novamente, as pernas descongelando lentamente, juntas gritando de dor, costelas que não se acostumavam com os pulmões desgastados e com aquele bicho que eu chamava de coração batendo dentro delas; assim que consegui, esfreguei o rosto contra as palmas geladas, buscando por um pouco de realidade que não vinha, depois coloquei as mãos dentro dos bolsos de meu casaco, engoli em seco e continuei andando, dando voltas por ruas que não conhecia. Não fazia diferença conhecer alguma coisa sendo que eu não me conhecia, naquele momento. Não fazia ideia de quem era a pessoa que chamara aquele único nome que ainda trazia dormência aos meus lábios. Não, era o frio. Certamente meus lábios estavam dormentes por conta do frio, e não por causa dela. Deus deve ter inventado o frio para que as pessoas desconfiassem do amor.

Naquele ambiente estranho, as luzes iam e vinham pelas avenidas; carros trouxas passavam por mim sem me notar; havia um casal que sorria apesar do frio; e também havia um gato marrom parado em cima de um muro, todas coisas muito idiotas em minha concepção. Os carros que se explodissem, o casal que se separasse, o gato que morresse atropelado por um carro explodindo. Não me importava com nenhum deles, apenas comigo ou com o que restara de mim. O bicho-coração ainda se remexia em meu peito. Eu respirei fundo o ar invernal, sentindo meus pulmões reclamarem enquanto o fazia, mas sentir dor era algo que me fazia bem; mostrava que as coisas eram reais e que sempre poderiam ficar pior, e talvez fosse por isso que toda vez que estava com ela eu fazia o possível para que doesse: eu queria me sentir vivo pelos vinte minutos que durassem meus pecados, e para isso me agarrava àquela pele que eu queria e não podia ter. Maldito fosse Deus quando não nos fez um só para eu tê-la a todo tempo que quisesse. Enquanto respirava, nariz, orelhas e bochechas vermelhos, olhei para o céu e me perguntei se ela estaria acordada, se estaria pensando no que fiz – estaria pensando em mim como eu pensava nela? – ou se simplesmente teria ido dormir como se aquela fosse uma noite qualquer. Eu queria acreditar que aquela era uma noite qualquer depois de um sexo qualquer, mas não era. Eu estava perambulando por uma Londres trouxa, no frio, com roupas caras, uma varinha no bolso e um coração no peito que não me pertencia. Eu nunca acreditei que nossos corpos se encaixavam quando se moviam, nunca acreditei em nada que pudéssemos fazer juntos senão completar algumas noites solitárias, por isso concordei, jurei, em nunca pronunciar seu nome. Nomes deixavam coisas mais reais; ela não era real, nenhum de nós era. Ao nomear coisas, nós dávamos um início e um fim para nossos problemas, e era bem mais fácil dizer que existia uma amante do que nomeá-la de alguma forma. Uma amante sangue-ruim. Meu coração doeu: pela primeira vez não sabia se ele doía por nojo dela ou por nojo do corpo que o carregava por aí. Quando a noite ficara tão cortante? Quando começara a doer tanto? Quando as coisas ficaram tão mundanas e o mundo tão (a)normal? Grunhi qualquer coisa naquele escuro, e me forcei a continuar andando, sentindo o vento queimar meu rosto a cada passo. Meus olhos ardiam e eu não queria – eu não iria – chorar.

Meus pés já estavam frios e cansados como aquela noite preguiçosa quando percebi que o sol começava a despontar atrás das casas idênticas e dos tristes prédios de tijolos. Olhei para ele, movendo-se com tamanha delicadeza, escorregando entre as fendas sem pedir permissão. O sol era ela: invadindo tudo o que era meu sem sequer perguntar antes se podia. Passei as mãos pelo rosto, exausto e me sentindo devidamente idiota por passar horas e mais horas perambulando por ali quando poderia ter colocado minha vida nos eixos. Tentei rir daquela ideia, colocar tudo nos eixos, mas minha miséria não me permitiu. Nada parecia ter eixos desde que completara dezesseis anos, e, mesmo agora, dez anos depois, ainda sentia como se flutuasse sem rumo por todos os lugares, rumo a lugar nenhum. A Terra deveria se sentir como eu me sentia, talvez. Provavelmente Deus fizera a Terra e lhe dado à missão de girar num aparente sentido sem, na verdade, ter algum. Se Deus tinha me feito Terra, por implicância tinha feito-a como Sol. Olhei para os lados assim que me deparei em uma esquina, e percebi que, definitivamente, não sabia onde estava, o que não era novidade alguma. Continuei caminhando pela mesma rua, cada passo revelando um raio de sol novo sobre minha face, iluminando meus pecados pouco a pouco, puxando lentamente os véus que me cobriam. Uma figura triste, com um casaco pesado, sem sono e sem sonhos andava por Londres, e era eu.

Resolvi tomar meu caminho para o Ministério, chegar até lá aparatando seria simples, e se estivesse alguns minutos adiantado poderia até pensar em me dispensar mais cedo, para compensar. Olhei para baixo, avaliando o estado das minhas roupas. Havia uma pequena crosta de flocos de neve sobre elas, mas me livrei rapidamente daquilo com algumas batidinhas e estavam perfeitas novamente, visto que ignorei as partes amassadas, elas não importavam. Pensei que gostaria de fazer aquilo comigo: dar algumas batidinhas, retirar a camada fria e estar perfeito novamente, uma criança de quinze anos pronta para roubar o mundo com seus olhos cinzentos antes que o mundo os roubasse de mim. Desgraça. Assim que cheguei a uma rua escura o suficiente apesar da manhã, escutando o barulho das pessoas começando a se movimentar dentro dos pequenos apartamentos sem cor – o tilintar de panelas preparando o café, o ranger de tábuas velhas, uma criança chorando ao fundo, um chuveiro que se preparava para esquentar; tudo era tão normal que me enojava – , respirei fundo, amarrei meu cabelo em um rabo firme e baixo, ergui o queixo agudo e pratiquei um sorriso irônico, o que pareceu mais com uma cicatriz fina e rosada em meu rosto, mas aparatei para o Ministério mesmo assim, porque era o que meu sorriso parecia, de qualquer jeito. Um segundo antes de sumir, pensei se ela seria capaz de me fazer sorrir diferente, mas o pensamento veio tão rápido que não soube se realmente tinha o pensado ou se fora apenas um sonho.

Os breves segundos até lá foram um alívio completo, silêncio total e o conforto de saber que o correto é exatamente não estar em lugar algum. No entanto, assim que senti meus pés tocarem o mármore escuro, todo aquele sentimento maravilhoso desapareceu como se alguém tivesse furado um balão com uma agulha. Bufei e deixei que minha expressão de tédio fosse o suficiente para que ninguém – por que diabos as pessoas iam trabalhar assim tão cedo, faziam tanto barulho e aparentemente acordavam com tamanho bom humor? – me incomodasse naquele dia. Obviamente, não consegui o que imaginava, e alguém, alguém que supostamente eu deveria conhecer, começou a conversar comigo como se fosse algo importante, e aquela pessoa infeliz não sabia que nada era importante depois de ter passado a noite em claro caminhando no inverno pensando em uma única pessoa. Uma única pessoa de cabelos encaracolados, pele levemente olivada e reluzente, olhos castanhos opacos como nogueiras, e que apenas de pensar nela parecia se materializar na minha frente. Estava ficando louco, alucinando. Podia jurar que ela estava ali, vestida de preto, e podia jurar que caminhava em minha direção, confiante como nunca, podia jurar que ela era real, e que ela nunca me parecera tão inacreditavelmente furiosa e bela como naquele instante em que parou na minha frente, e eu sarcasticamente levantei minha sobrancelha para aquela ilusão, o que pareceu deixá-la com mais raiva. Meu coração acelerou, eu o martirizei por isso.

“Draco.” Uma única palavra, simples assim. Tão precisa que me atingiu como um feitiço inesperado, só naquele instante eu percebi que ela não era uma alucinação, e cambaleei para trás como se realmente tivesse sido atingido, perdendo toda a cor que poderia existir em meu rosto já pálido. Naquele instante eu quis morrer e nunca mais voltar, porque meu nome naqueles lábios era nojento, esquisito, ela prometera nunca me chamar, embora eu não me lembrasse quando ou como ou a razão daquela promessa não cumprida. Eu gostara. Queria que ela repetisse mais uma vez, mas não admitiria isso nunca. Fale-me outra vez quem eu sou e eu prometo que me encontro em seus braços. Estava atordoado, meus olhos embaçaram como na noite anterior quando eu me agarrava ao batente, pensei que naquele instante morreria de fato; a única diferença era que eu não tinha aonde me agarrar naquele momento, portanto segurei em seu pulso com força, meus dedos grosseiros se fechando contra sua pele macia, e a arrastei para bem longe dali, deixando a pessoa com quem conversava falando sozinha. 

A levei comigo aos tropeços pelo salão do Ministério, que nunca me parecera tão longo e tão abarrotado e cada segundo era um dia inteiro, e a cada passo que dava eu sentia meu rosto queimar de ódio e o coração em meu peito pedindo para sair e voltar mais tarde, quando aquilo estivesse resolvido ou quando eu decidisse escutá-lo. Engolia em seco diversas vezes, todas as palavras que queria dizer indo e voltando até minha boca, e a verdade era que eu queria vomitá-las para nunca mais ter de vê-las ou pensá-las outra vez. Foi o caminho mais terrível da minha vida que me levou até a sala onde eu trabalhava para que a jogasse ali dentro e fechasse a porta com um tranco. Apoiei então ambas as mãos na madeira escura, o rosto abaixado entre os braços estendidos, fitando o inimaginável que se abria aos meus pés. A qualquer momento pensei que o chão se abriria e eu, finalmente, seria levado ao inferno: tinham descoberto meus pecados. Só naquele instante percebi que estava tremendo, tinha medo e tinha ódio, uma confusão de sentimentos que eu nunca havia sentido, sequer sabia que podia sentir tanta coisa. Me virei para encará-la, ela era linda e o sol brilhava em seu peito, mas que merda de pessoa poderia ser tão divina? Podia sentir meus olhos esbugalhados, a raiva tomando conta do meu corpo, dos meus braços rígidos: ainda sentiam o frio que vinha de dentro. Apontei um dedo magro para seu nariz, tomando cuidado para não me aproximar demais, para não tocá-la e ter de pedir perdão para um deus no qual não acreditava, mas me perseguia. Ouvi-me rosnar, sentindo meus dentes travarem com aquela única frase:

Qual é o seu problema?



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