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História Pecado Original - Dramione - Fruto sagrado


Escrita por: ckai

Notas do Autor


Olá pessoal! Bom, eu fiz UM MONTE de modificações neste capítulo, que já estava escrito há um bom tempo, mas, mesmo assim, ele continuou relativamente curto. Me perdoem por isso, mas espero que gostem <3

Capítulo 4 - Fruto sagrado


Sentia meu braço erguido tremular rente a sua face, e embora eu não fosse forte – sempre fora um total fracasso em quase tudo, e força física não escapava disso – minhas veias saltavam da pele em explosões azuis, verdes e roxas, traços espinhosos de um corpo que nunca vira uma rosa. Meu dedo fino, recoberto por três anéis de prata, acabava perto o suficiente daqueles olhos de mogno que eu tanto desprezava, e o calor deles... A forma como piscavam lentamente, indiferentes para todo o meu ódio... Ah, eu odiava aquelas rosas vívidas que eram seus olhos. A dor começava a consumir minhas juntas, que clamavam para que eu levasse aquela mão até minha própria face em um tapa; queria deixá-la cair sobre meu rosto com um estalido seco e duro como fora escutar meu nome sair daquela boca suja. Draco. Quase vomitei de desgosto; eu parecia merecer aquela dor que era viver na realidade, embora não me lembrasse quando ou onde tinha assinado para receber aquela vida. Não sabia quem eu era e ela parecia me forçar a lembrar. O ar pulsava em meus pulmões dolorosamente, fazendo com que meu peito subisse e descesse, acalorado. E ela, ela e sua imparcialidade toda, nada faziam. A forma como seu corpo mal se movia exceto pelo balançar suave dos cílios escuros e os seios indo para cima e para baixo, ritmados com uma respiração tranquila... Tudo que ela possuía me fazia contorcer em desprezo, porque era exatamente aquilo que eu não tinha.

Às vezes eu rezava de noite, após pecar durante horas, pedindo para que fosse um pouco melhor. Eu não era.

                - Me responda. – rosnei, aproximando o máximo que podia meu dedo daquele rosto, sentindo sua pele tão próxima que poderia me queimar. Passei a língua pelos meus lábios secos, sentindo o gosto esquisito da angústia e do medo. Meu corpo era aprisionado por um coração que não sabia bater, estirado como um morto, me proporcionando uma dor lancinante ao tentar fingir-se vivo. Aqueles olhos eram de rosa, e os espinhos de minha pele não eram capazes de machucar a flor, impassível. Eles rasgavam tudo o que eu possuía, da alma até a vontade de não estar vivo, abrindo vincos em minha personalidade distorcida que sangrava inutilmente por ela. Quase podia sentir o gosto metálico do sangue em minha língua enquanto lutava para respirar, cada canto do meu corpo se retesando com a dor que era tê-la tão perto. Impulsionei-me para frente, o pescoço engrossando pelas veias que saltavam, todo o meu rosto era uma contorção de ódio e desgosto. Como ela mantinha a calma? Como conseguia me encarar com aquela frieza calculada? Qual era a fórmula daquele pecado? O que tinha dado a Deus para que ele a abençoasse daquela forma? Eu precisava saber qual era o preço daquela dádiva. O que antes era um dedo em riste virou uma pinça, e com força aprisionei seu rosto ao redor dos meus dedos bestiais, vendo de relance o medo passar dentro daqueles olhos ao mesmo tempo em que a eletricidade corria por minha pele quando a toquei. Ambos arfamos, indignados e surpresos com o contato súbito que me trouxe calor. Então era isso. O toque. A mortalidade que nos consumia. Me desculpe Deus, por pecar mais uma vez. Rasguei meu rosto com um sorriso, o mesmo que treinara alguns minutos antes naquela ruela fria, deixando nossas faces tão próximas que a qualquer deslize poderiam se encontrar, e a iminência daquele gesto explosivo fazia com que ambos os corações de pólvora desejassem ficar imóveis ao bater com força. – Sangue-ruim.

                Sussurrar. Murmurar. O escárnio maldito em cada palavra que me acostumara a pronunciar sem mais me importar com o gosto ruim que elas traziam à minha boca. Eu ri com aquilo que disse, mesmo sem ter a menor graça; ri sem saber a razão do riso, vendo-a perder o controle lentamente, roçando meus lábios nos dela sem de fato beijá-la. Minha boca ficou embebedada pelo veneno que escorria dela e apenas eu podia ver, segurando-a daquela forma, presa a mim, entrelaçada aos nossos segredos que certamente nos expulsariam de muitos lugares – talvez de nossas próprias consciências e do céu ao qual nunca realmente pertenceríamos – caso revelados. Senti seu corpo retesar, pernas firmes travando e a coluna que arqueou tão minimamente para mim. Ela podia não gostar, mas pedia por mim ao mesmo tempo em que eu implorava por ela: qual era a lógica daquele pecado? A falta de sentido me deixava louco, inconformado. Mãos de dedos finos segurando-se nas beiradas da mesa, e olhos... olhos castanhos que me queimaram como o próprio inferno. – Sangue ruim. – repeti com mais ódio do que antes, arrastando as palavras por minha boca e sentindo-as arranhar minha garganta ao passo que abri espaço entre suas coxas e coloquei-me ali, sem romper o contato visual, segurando seu rosto com tanta força que eu mesmo sentia a dor espalhar por minha mão. Se ela era o inferno, eu queria governá-lo, mantê-lo sobre meu poder, entre minhas mãos de aço e meu coração de vidro que ela mesma estilhaçara anos atrás para que eu nunca pudesse amá-la. Por quê?

                Não sentia qualquer resistência de sua parte enquanto a puxava, mas a forma como me olhava era mortal e me fazia questionar quem realmente comandava aquele momento; eu tinha vontade de rir porque estava ali e estava louco, e tudo o que eu via era ela, mas se forçasse muito bem minha visão conseguiria ver todas as correntes que me prendiam àquele corpo que ela carregava por aí. Pensei nas pessoas que estavam do lado de fora, seguindo com suas vidas enquanto eu descobria o inferno nos olhos daquela mulher, mas o pensamento durou pouco: o mundo atrás da minha porta não ousava fazer barulho enquanto escorria meus dedos até seu pescoço, desvencilhando-me dos cachos rebeldes, apertando-o com uma força desnecessária, deixando mais marcas por onde eu passava. Eles corriam pelos meus dedos, fios tão macios e delicados, e pareciam gostar da minha pele como eu gostava deles ao meu redor: seu cheiro era inebriante. Nenhum ruído. Nenhuma palavra. Apenas olhos. Olhos que me matavam sem precisar fazer nada senão existir. Apoiei a mão antes inutilizada sobre sua coxa direita, sentindo cada parte de mim que se encostava a ela, mesmo por cima das roupas negras, incendiar. Gemi baixinho de ódio e de desejo, porque eu não queria gostar de estar ali, mas eu precisava, era o único lugar ao qual eu parecia pertencer: entre suas pernas abertas. Estava de luto por nossa situação degradante? Provavelmente, pois ela não fazia nada sem pensar antes, e eu não fazia nada pensando antes, então me deixava levar pela mão que já encontrava espaço em sua cintura, puxando-a mais para mim, suas pernas contornando-me o corpo e me enquadrando naquela moldura cheia de pregos e farpas, corroída pela ferrugem e pelo descaso de outras pessoas quaisquer. Às vezes eu tentava culpar alguém por nossas farpas, mas nunca chegava a uma conclusão certeira, porque fora tanta dor em pouca vida que ninguém parecia ser capaz de nos trazer tanto desespero. Toda a força que eu aplicava sobre seu corpo era fruto do ódio que sentia por ela, por fazer aquilo comigo todas as vezes, me impedir de tê-la por completo, cobrindo-me com aquela indiferença fria. Sentia seu coração bater de encontro com o meu, fervendo atrás das camadas de roupa que roçavam umas nas outras. Eu a odiava tanto. Puxei-a com mais força, e a escutei resmungar quando nossos quadris angulosos se chocaram, trazendo uma onda de dor e alívio para mim. Existíamos.

                - Sangue ruim. – porque eu me recusava a dizer seu nome, recusava-me a chamá-la, e se assim tivesse feito uma única vez fora simplesmente porque eu desejava gritar para que ela sentisse qualquer coisa senão total desprezo, para que sentíssemos algo. Alguma. Coisa. Eu não sentia nada. A carne sob meus dedos era quente e macia, mas o tesão não era suficiente. Os quadris que se roçavam eram tentadores, eu estava duro, e não me lembravam de nada senão a morte de cada segundo. Colocando o rosto na curva de seu pescoço, um pescoço fino e aveludado que cheirava às rosas nas quais eu não poderia nunca encostar, grunhi como uma besta – que era o que eu realmente me tornara – beijando-lhe a cútis para que aquele gosto envenenado me entorpecesse, na esperança... Na esperança de que algo fosse mais do que aquele calor, mas não era. A escutei gemer baixinho com aquele gesto bruto, e foi o que eu precisava para ir mais longe, desvencilhando-me de sua saia por completo e chegando até a extremidade de sua calcinha, meus dedos passando naquele tecido tão delicado quanto sua pele. Ousei olhar para ela, tão mortal em meus braços... Deus, me perdoe, mas eu não consigo ser bom. Fixei meus olhos nos seus lábios entreabertos em um resquício de prazer. Não demorou muito até que os encontrasse nos meus em um beijo que era tudo menos amor: dor, ódio, infelicidade, luxúria, apenas. Sua língua se encontrava com a minha e não me perguntava nada senão quanto tempo poderia aguentar tocando-a daquela forma, a mesma língua suja que se enrolara para falar meu nome... Um calafrio percorreu meu corpo inteiro. Duas línguas imundas se encontrando, e eu podia jurar – afinal que merda de diferença faria jurar em falso outra vez? – que ainda sentia o gosto do meu nome em sua boca vermelha, aquele gosto esquisito que me preenchia... Era impressão minha ou eu sentia alguma coisa se remexer em meu peito? Já não havia dito para aquele monstro que chamava de coração ficar quieto? Apertei sua pele contra a minha, fincando meus anéis em sua cútis alva, tentando em vão distrair meu pensamento inútil. A escutei gemer de novo, rouca, sedenta, e não soube exatamente se ela gemia porque gostava ou porque se dava conta de nossa mortalidade.

Larguei seus lábios com um estalo, sentindo o torpor quente dos resquícios de nosso contato febril. Passei a língua lentamente por seu lábio inferior, e ela abriu-se para mim como um botão de flor: como era bela aquela rosa que eu queria estraçalhar em meus dedos, mas não podia, afinal do que seriam os espinhos sem a flor? Escutava-a arfar contra meu pescoço, e minha respiração também não era lá essas coisas, se é que eu respirava. Com dificuldade abri os olhos, que em algum momento fechara para não ver a loucura que era estar ali, com ela e com todo o resto desmoronando ao meu redor, minhas paredes ruindo pouco a pouco. Ergui meu rosto lentamente até que encontrasse seus olhos outra vez, pétalas decadentes caindo com descaso, e eu sabia que minhas pupilas negras, desejosas, eram maiores do que o mundo de vidro que as envolviam, o que não me impediu de roucamente pronunciar, numa indiferença bestial que poderia muito bem pertencê-la:

Eu não te amo. 



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