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História Pecado Original - Dramione - A fuga do Éden


Escrita por: ckai

Notas do Autor


Não escrevi escutando, mas acredito que encaixe bem com o momento, então aproveitem o clichê: Iris - Goo Goo Dolls
"And you can't fight the tears that ain't coming, or the moment of truth in your lies. When everything feels like the movies, yeah, you bleed just to know you're alive"

Capítulo 6 - A fuga do Éden


Eu havia mentido.  

                Eu havia mentido e o peso daquela mentira era como chumbo correndo em minhas veias. Ao soltar sua pele, me tornei distante, caminhando por uma sala infinita até uma saída inalcançável apenas para sentir o frio me envolver subitamente, retesando-me por completo. No instante em que deixara aquelas quatro palavras saírem de minha boca áspera, soube que estava mentindo, e aquela mentira, ou a constatação de que era uma mentira quando durante tanto tempo eu tentara me convencer de que não, quebrou meu mundo como uma pedra estilhaçando uma vidraça: eu consegui escutar meus cacos caindo no chão ao redor dos meus pés. Se me movesse para qualquer direção, pisaria no vidro e cortaria minha pele com as pontas afiadas daquelas palavras. Estava preso entre os estilhaços de um amor.

E o pior de tudo era que não sabia quando aquela mentira deixara de ser mentira, ou pior: se algum dia já tivera sido uma, de fato. Tentei recuperar em minha memória um único momento, alguma coisa na qual fosse possível me agarrar, mas eu não encontrava, por mais que tentasse. Não existia nada senão o ódio, que não era solitário, era o ódio de não tê-la, o ódio de não senti-la, de perdê-la, de temer sua morte, de não compartilhar seu júbilo, de invejá-la, vê-la esmaecer entre minhas mãos de ferro que agora... Que agora tremiam enquanto passavam pelo meu cabelo longo, repuxando-o até o limite das raízes albinas, porque elas pesavam toneladas, mas eram incapazes de fazer qualquer estrago a ela, tão atônitas como estavam com os pensamentos que rodopiavam com tanta força em minha mente, me deixando tonto. Minha visão embaçou e eu pedi, implorei, para que morresse, mas não chorasse. Eu não poderia viver em um mundo onde eu a amava. Não, não, isso era inconcebível, não era sequer plausível, eu não sabia o gosto daquelas palavras, não sabia como torná-las reais, mas eu sabia o gosto de sua pele, o gosto de desejar seu sorriso, de pedir por seu beijo, de pedir por seu nome... Hermione. O nome-feitiço que me escapara algumas horas atrás agora me atingia outra vez, mais doloroso do que nunca, fazendo meu coração apertar e se contorcer em diversos nós: eu a amava e não tinha nada que pudesse fazer para que isso não fosse verdade.

                Estava tão absorto em meus pensamentos que não a ouvi, não percebi que ela falava qualquer coisa e assim era até melhor, porque eu não sabia se seria capaz de ouvir sua voz sem querer tomá-la para mim, mesmo não sendo digno. Eu não era digno de porra nenhuma, de qualquer forma. Mesmo sem escutá-la, senti em minha pele o momento no qual se moveu, e fui obrigado a me virar para vê-la. Céus, ela era tão bonita quanto na primeira vez em que notara sua beleza pueril. Estava uma bagunça com seus cachos emaranhados, bochechas coradas, olhos... Por que seus olhos estavam tristes? Não, não era para ficarem tristes. Sexo casual. Relacionamento trivial. Fracassamos em algo tão simples. Eu a olhava tentando ficar de pé e percebia que seria impossível: éramos miseráveis um pelo outro, não conseguíamos sequer caminhar sem saber que, ao final de nossos passos, nos encontraríamos. Eu corri até ela por um castelo vazio e encontrei seus olhos como dois faróis, mas continuei à deriva. Sentia um aperto na garganta, uma mão fria e maciça que me deixava louco, parecia querer que eu gritasse, e só assim aliviasse o que passava no meu corpo: Por que não permite que eu te ame?! Eu queria gritar em sua cara, perto o suficiente para sentir seu corpo, observar sua reação ardente enquanto o fogo nos consumia, mas eu não podia, ela nunca deixava que eu ficasse tão próximo assim senão para gritar de prazer e fazê-la gritar de volta. Tentava me segurar nas ondas de seus cabelos, mas estava me afogando lentamente, como sempre. Ela estava tão perto, e eu, tão longe.

                Uma única lágrima. Uma única lágrima quente. Uma única lágrima quente ousou escapar dos meus olhos e quebrar o que restava de mim. Eu era apenas rachaduras e sombras no momento em que ruí por completo. Por favor, me segure.  

                Como se ela pudesse me escutar, e eu até mesmo me questionei se havia falado aquilo em voz alta, seu corpo magro e pequenino lançou-se sobre o meu, pegando-me despreparado para aquele gesto. Dentro de seus olhos havia um desespero tão absoluto e sem restrições que eu não me importei de tê-la pressionando todos os meus caquinhos no devido lugar. Merda, aquilo doía tanto. Doía tanto seu corpo contra o meu, suas mãos pequenas puxando minha blusa, seu rosto frágil e sempre tão decidido pressionado contra meu peito. Doía tanto que eu não consegui segurar as lágrimas que caíam pelo meu rosto, malditas lágrimas salgadas, ainda mais quando ela me pediu que não chorasse. Ninguém nunca se importara com meu choro, então eu sempre o engolia pesadamente. Será que ela não entendia que eu chorava por ela? Que o motivo daquelas lágrimas estúpidas era justamente não tê-la e querê-la há anos, remoendo um fracasso de tempos atrás? Seus braços ficaram mais fortes contra meu corpo, e talvez naquele momento de angústia eu tenha me sentido nojento por abraçá-la, saber que ela era uma sangue-ruim e estava me tocando daquela forma, saber que eu era um sangue-puro e que meu sangue não valia nada. Afastei aquele pensamento de mim o mais rápido que podia, porque eu não queria ser culpado por mais nada, queria apenas que ela continuasse me mantendo inteiro, como deveria ter sido desde o início.

Por algum motivo desconhecido, esqueci de todos os meus preconceitos, preceitos e de qualquer outra coisa que não fosse ela, ela e aquele instante que durava milênios mas poderia me escapar se não o agarrasse com força, envolvi meus braços em seu corpo magro e a escutei soltar uma exclamação de surpresa. Não se preocupe porque eu estou aqui e prometo que se você for embora eu irei junto, dessa vez. Naquele momento, senti que recolhia todos os seus pedaços e colocava-os, um a um, com uma paciência infinita, dentro do meu peito. Eu a amava. A amava e meu coração parecia satisfeito por, finalmente, ser escutado. Meu corpo inteiro e minha mente estavam em choque, eletrizados por aquele contato tão inovador: o magnetismo de nossos corpos opostos me impedia de afastar-me um único centímetro que fosse. Quis rir: eu a amava? As lágrimas que caiam dos meus olhos cinzentos para sua face rosada pareciam o céu londrino, chorando, chorando e chorando até que as ruas da cidade – suas bochechas lisas e ternas – fossem inundadas com minha dor. Eu não queria sentir mais nada senão seu corpo contra o meu. Será que eu a amaria tanto se não tivesse a odiado por tanto tempo?

Apertei-a contra meu peito, sentindo seus cachos roçaram meu pescoço e havia algo de maravilhoso naquilo, em seus fios castanhos se enrolando na minha pele tão delicadamente. Onde estava a dor? O pecado? Onde estavam as coisas nas quais eu me agarrava para não ser consumido pelo meu Deus vingador? Não existiam mais. Tudo o que existia era a imensidão do corpo dela ao meu, quente, macio, suave. Ela era tudo o que eu sempre quisera ter e ser. Apoiei meu queixo no topo de sua cabeça, aproveitando daquela posição para reparar em detalhes que normalmente não repararia: seus braços me envolviam a cintura sem puxar, sem arranhar, mas com tamanha força que eu rasgaria ao meio se me soltassem. Passei uma das mãos por suas costas, sentido a textura de seu vestido e da pele por baixo dele, e naquele silêncio entre nossas almas consegui escutá-la suspirar, assustada: a novidade de um toque cálido a pegara desprevenida, e a mim também. Meus olhos se arregalaram quando percebi que era capaz de tocá-la sem fazer com que ambos sentíssemos dor.

Suas palavras foram o rompante que faltava para que eu não tivesse mais o controle de nada. Meu coração abrandou no peito, e agora batia com a rapidez das asas de um colibri, repousando suavemente em seus seios macios de flor, sem se importar com meus espinhos. Será que seu amor dependia, realmente, apenas do meu perdão? Eu devia perdoá-la pelo quê? Aparentemente todo o ódio que eu lhe direcionava tinha sumido com uma rapidez absurda, e eu ainda tentava entender como ou quando. Não sabia se tinha sido no momento em que seu nome sagrado tocara meus lábios ou quando eu a vi pela primeira vez depois de sete meses, ou doze anos, como fosse melhor para motivo de conta. A perspectiva não importava. Eu tinha deixado aquele nome escapar de meus lábios na esperança de que ela o agarrasse e trouxesse de volta para mim.

                Com a inocência de uma criança, deixei que meus dedos percorressem o tecido de seu vestido, brincassem com a curva de sua cintura e com as dobraduras daquela única peça de roupa. Ela era tão pequena e quente que poderia ser confundida com uma boneca de pano, aconchegada em meus braços desengonçados. Temeroso, subi minha mão de dedos longos até seus cachos, e soltei um leve riso ao colocá-los entre os dedos: ela estremeceu ao saber que eu sabia rir. Seus fios de chocolate tinham a textura mais magnífica que eu já ousara tocar, talvez perdessem apenas para a sua pele que eu... eu teria coragem de... Toquei seu pescoço e achei que não era digno de tocá-la mais nunca, porque ela era divina. Eu a descobria com o medo e a vontade de um infante, querendo saber de tudo, mas com medo de quebrar qualquer borda, danificar qualquer textura, perder qualquer detalhe que remetesse ao seu corpo. Um choque passou pelos meus braços à medida que senti sua pele aquecida e arrepiada passar aquele calor para a ponta dos meus dedos. Meu rosto corou de vergonha: eu era um menino que mal sabia o que era um beijo. E, falando em beijo...

                Usei daquela mão que tocava seu pescoço para afastar seu rosto, e como não podia vê-la direito joguei delicadamente seus cachos para o lado, pronto para ver aqueles olhos de nogueira. Meu coração acelerou: cheios de lágrimas que eu recolhi com uma das mãos, aqueles olhos me diziam que eu podia amá-la sem pedir permissão, eu podia amá-la e eu podia tê-la, e eu podia tantas coisas... Mas, antes de poder, eu devia fazer algo enquanto ainda podia encarar aqueles olhos, e fiz o que era mais certo, algo que não fazia há muito tempo – Me perdoe, Hermione. – seu nome fez cócegas em meus lábios e trouxe calafrios ao meu pescoço: antes me parecia um pecado pronunciá-lo, mas agora era meu pedido de remissão, e eu não sabia como já pudera sentir nojo daquele nome sagrado. Senti meu peito preencher-se com o calor de seu nome, nome o qual eu negara algumas horas antes, que passara por minha cabeça durante uma noite inteira e ficara tanto tempo soterrado em uma confusão de sentimentos que até naquele momento eu tentava compreender. Não me lembrava de já ter pedido perdão para alguém além de meus pais, e isso fora há muito tempo. Deixei que as lágrimas continuassem a cair dos meus olhos porque estava cansado de ser seco e frio como um deserto, e por conta disso um soluço rasgou minha alma, mas não me importei. Era a primeira vez em anos que eu falava alguma coisa que não me trazia ânsia de vômito – Me perdoe por tudo o que fiz, e eu te perdoo por tudo, também. – deixei que meu polegar escorregasse por suas bochechas redondas, contornando sua face tão delicada, e me perguntei por que nunca tinha visto como seus lábios eram lindos ou como seus cílios pareciam emoldurar seu rosto. Estava tão perdido tentando encontrar o sentido de tudo que me esquecera de que amar não fazia sentido algum. Lhe entreguei um sorriso – não sabia que era capaz de sorrir, ainda mais duas vezes no mesmo dia –, a única coisa que tinha além do meu coração, que já era dela. – Hermione, eu... – sussurrei, envergonhado, minhas mãos tremendo ao encontro de sua pele. Fiquei feliz por pronunciar seu nome de novo, mas não admitiria isso jamais. Não acreditava que tinha sido tão estúpido durante todos aqueles anos, em especial nos fatídicos últimos sete meses. Ela me calou com os gestos, soltando uma das mãos que se agarravam com tanta firmeza em minhas vestes e colocando-a sobre meu peito: meu coração pediu para sair e encontrar-se nas mãos dela, por pouco não o fazendo. Coração idiota. Engoli em seco, sabendo o que queria, mas sem coragem de pedir, sem coragem de fazer: eu era um homem de 26 anos, merda, mas estava com medo de ser negado, ser deixado de lado como havia sido deixado durante todos aqueles anos por ela e por todos os outros. Foi ignorando Deus que pedi, implorei, com a voz embargada de um desejo infantil – Posso te beijar?

                Se eu não havia morrido até então, não morreria jamais. Ou talvez morreria por escutá-la rir, incrédula, seu rosto iluminado com um sorriso enquanto assentia, cachos enormes roçando-lhe a face e se perdendo no emaranhado de nossos peitos juntos. Poderia escutá-la rindo durante anos, e provavelmente não me cansaria nunca, outra coisa que eu não aceitaria dizer em voz alta: já fora muito trabalhoso pronunciar seu nome. Segurei a lateral de seu rosto, e me perguntei como era mesmo que se beijava alguém. Era sem sentir as pernas? Sem aguentar o coração batendo no peito? Sem saber a razão de ter mãos tão frias e olhos tão abertos? Você vai me ensinar a te amar da forma que merece que eu te ame? Inocentemente me inclinei para ela, até chegar perto o suficiente para que nossos narizes roçassem um no outro e eu sentisse que sua respiração era minha, também, me perguntando se eu não respirava apenas porque ela existia. Não me lembrava de jamais ter tremido tanto em toda minha vida, mas, mesmo incontrolável, sucumbi ao desejo pueril de tocá-la ainda mais, chegando mais perto para encontrar sua boca na minha, e o mundo inteiro veio junto.

Um arrepio incontrolável percorreu meu corpo ao toque de seus lábios nos meus, e a delicadeza daquele gesto me lembrou de que era a segunda vez que a beijava, era a segunda vez que ela era, plenamente, minha, e eu era dela, dessa vez. Queria esquecer todas as noites frias dos últimos sete meses, esquecer a solidão arrasadora dos últimos doze anos e me lembrar apenas daquele beijo que lhe roubara nos corredores escuros de Hogwarts quando ainda tinha um pássaro no lugar do coração e pensava que podia voar longe. Eu conseguia escutá-lo bater asas de volta ao meu peito, rodopiando pelo meu estômago, fazendo cócegas em meus dedos e tomando seu lugar onde antes havia apenas uma gaiola vazia. Era a segunda vez que a beijava porque todas as outras não me fizeram sentir daquele jeito, como se eu pudesse transcender à pele e ir até o céu zombar de Deus por tê-la, finalmente. Apertei o braço que lhe envolvia a cintura e escutei seu murmurar suave escapar dos nossos lábios juntos. Tudo parecia ter congelado para observar aquela cena invisível de duas almas perdidas se reencontrando em um beijo.

 - Hermione... – sussurrei ainda inebriado com o sabor de seu nome, de olhos fechados e com a testa apoiada na sua, o rosto quente e úmido pelas lágrimas pronto para perguntar a coisa mais ridícula que eu já perguntara na vida – Eu posso te amar?

                Não sei se ela me respondeu com os lábios, com a voz embargada, com os olhos brilhantes ou com seu corpo diminuto, mas sua resposta foi “sim”. E, naquele instante, fui absolvido de todos os meus pecados. 


Notas Finais


Olá, pessoal!! Aqui estou eu, uma alma que ficou se coçando para postar esse capítulo a semana inteirinha e agora, finalmente, sucumbiu ao desejo. Bom, esse capítulo foi um pouco difícil de escrever, é complicado colocar o Draco numa posição tão frágil e, ao mesmo tempo, não perder sua essência. Acredito que consegui, e, se não, eu tentei meu máximo, e espero ter agradado todo mundo, ou uma grande parte de vocês kkkkk <3
Agora a questão é: eu poderia terminar a fic bem aqui e "tchau, brigada?" Poderia. Eu poderia sim, e era meu plano original, já que está tudo fechadinho e bem costurado ~nem tão original assim, visto que o original era fazer uma one~, MAS adivinhem quem se empolgou muito e continuou escrevendo? Pois então, eu mesma. Então, nos próximos capítulos que virão, estarei respondendo a algumas perguntas: como eles entraram nessa fria, pra início de conversa? O que aconteceu com Draco e Astoria? E com a Hermione e o Ron?
Se tiverem alguma teoria, aqui estou eu para recebê-las! Vejo vocês na semana que vem!! E muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito obrigada para todxs vocês que acompanham!! Sem vocês, nunca teria passado do primeiro capítulo <3


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