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História Pecado Original - Dramione - Das trevas, fez-se luz


Escrita por: ckai

Notas do Autor


Hellous, everyone! Não sei se vão me amar ou odiar pela notícia, mas, pelos próximos capítulos, entraremos em uma série de flashbacks. O primeiro é este, e eu espero que aproveitem! Outro detalhe: este capítulo, e, até o presente momento, apenas ele, foi narrado na terceira pessoa por questões de praticidade. Eu necessitava da onisciência durante esse capítulo, e não achei que ele seria bem feito se adotasse uma única perspectiva, como de costume. Bom, é isso, aproveitem <3

Capítulo 7 - Das trevas, fez-se luz


Hogwarts, Baile de Inverno do Torneio Tribruxo

- Granger! Granger! Granger, não finja que não está me escutando!  – Os passos dela pararam por um instante, deixando o corredor mal iluminado sem qualquer ruído senão a respiração ofegante do menino que a seguira pelo salão a fora aos tropeços. A garota pensou em continuar de costas, não dar a ele o gosto de sua expressão tristonha, mas não se conteve: virou-se com uma determinação surgida de algum lugar nas profundezas de seu ser, e encontrou a sua frente um Draco Malfoy arfando, deixando uma nuvem de ar quente, proveniente de sua respiração entrecortada, ao seu redor. 

- Malfoy, eu não quero sua presença, se não notou. – disse ela, arrebitando o nariz redondo e vermelho para dirigir-se ao loiro, que riu, perplexo com a atitude alheia. Aquele riso fino não a abalou minimamente, e ela continuou firme em sua posição, cruzando os braços defronte o corpo como se para mostrar que ele não a incomodava, mesmo que isso fosse uma mentira deslavada. Havia algo na presença daquele menino que arrepiava os pelos de sua nuca, e não de um jeito bom.

- Acha que ligo para o que pensa, Granger?  – respondeu ele com escárnio, aproximando-se pouco a pouco. A luz das janelas indo e vindo sobre seu corpo coberto de preto fazia com que ele parecesse uma miragem banhada de azul, o que fez Hermione se contorcer no lugar: era esquisito vê-lo sumir nas sombras e retornar de repente, angelical. O garoto ainda recuperava-se da corrida sem sentido: não fazia ideia da razão de ter seguido a sangue-ruim até ali, mas, como Pansy deixara de ser interessante, resolvera ir até lá quando notou a deixa. E ali, tão perto da morena, foi quando percebeu a contragosto o tanto que ela estava linda. Seus cabelos caiam em cachos perfeitos ao redor de seu rosto, terminando no colo desnudo e brilhante, a visão daquele decote trazendo-lhe uma sensação esquisita. Rapidamente ergueu os olhos para a face da menina, tentando desviar a própria atenção, mas foi nocauteado pela visão de seus lábios rosados e projetados para frente em um bico. Tentou mais uma vez, escapando do descompasso em seu peito, e tudo o que conseguiu foi ficar preso dentro de olhos cor de mel e no formato de perfeitas amêndoas, um tanto avermelhados por conta do choro recente. Ele franziu os lábios, incomodado com aquela situação toda - Pare de chorar, Granger, vão achar que você é estúpida por derramar lágrimas por aquele inútil. 

Suas mãos teriam se projetado para frente e secado aquela face delicada, não tivesse a morena tomado a atitude antes, tirando os traços negros do rosto para revelar bochechas coradas pelo frio e pelo esforço de ter seu coração arrancado do corpo, mesmo que apenas uma parte bem pequena dele. Ele a agradeceu mentalmente por privá-lo de parecer um idiota: onde estava com a cabeça para querer tocá-la? A prova de que ela estava mal, muito mal, era que não o xingara por chamar o amigo dela de "inútil". Draco não compreendia como ela podia sequer cogitar gostar daquele ignóbil com cabeça de cenoura, mas aquele era um assunto no qual não entraria. Não queria entender o que os trouxas tinham na cabeça quando se tratava daquele aspecto ou de qualquer outro. Mas ali estava ele, de qualquer forma. Ele estava ali simplesmente por estar, parado a frente da menina com as mãos no bolso das vestes caras, observando-a com um interesse sutil, percorrendo sua silhueta pouco a pouco com os olhos cinzentos. A manga de seu vestido azul estava torta. Inconscientemente ele levou seus dedos até o ombro alheio, mas foi prontamente impedido de fazer qualquer coisa por um tapa certeiro no dorso de sua mão. 

- Mas que infernos... – começou, retesando a mão para si e a olhando de forma inquisitiva. Quem ela pensava que era para tocá-lo e, ainda por cima, com violência? Ah, se o pai dele ficasse sabendo... Se o pai dele ficasse sabendo que tinha corrido atrás de uma sangue-ruim sem motivo aparente e tentado encostar em sua pele, primeiramente, ele estaria morto. Sentiu o peso de seu ego e seu preconceito descer por sua garganta amargamente. Ele tinha de se controlar. 

- Não preciso de sua ajuda para nada, Malfoy. Que isso fique bem claro. – rosnou Hermione com seus olhos faiscando para o menino, ela própria puxando a manga de seu vestido para cima e cobrindo o ombro desnudo. Seus seios subiam e desciam com a rapidez da respiração, e ela não conseguia fazer nada para entender aquela cena esquisita na qual Draco Malfoy estava estático a sua frente após segui-la do salão; não ter uma resposta para aquela situação começava a importuná-la imensamente, de forma que colocou as mãos nos quadris e perguntou, olhando-o de baixo, tentando compensar os centímetros que ele a ultrapassava, mesmo sendo mais novo do que ela - Então, mal lhe pergunte, mas a que devo sua honrosa presença? 

Draco abriu a boca, mas nada saiu dela. Como aquela criatura ousava lhe dirigir a palavra daquela forma? Sua face estava contorcida em desgosto, embora algo tenha se agitado em seu corpo quando ela lhe olhou nos olhos, adentrando a imensidão cinzenta que o rodeava. Não estava acostumado a ninguém lhe olhando diretamente, e o gesto o pegou desprevenido, tal qual a pergunta que não fazia ideia de como responder, optando então por deixar seu ego tomar o controle. – Você devia parar de me questionar isso e simplesmente aproveitar o fato de eu estar tolerando sua presença ao meu lado, Granger. – a menina bufou, revirando seus olhos, gesto impensado que fez com que as pernas de Draco bambeassem ao mesmo tempo em que se enchia de ódio por ela, aparentemente, não levá-lo a sério. Como ela podia... Quem ela pensava que era... Só porque tinha cabelos bonitos? Só porque tinha olhos divinos? Só porque quando ela passava ele se esquecia de quem era e onde estava? Era só por isso que aquela sangue-ruim achava que podia tratá-lo daquela forma? 

- Claro. Estou adorando ter você ao meu lado como eu adoraria ser engolida por um hipogrifo. Creio que a sensação deve ser deveras semelhante, Malfoy, mas vale dizer que o hipogrifo seria mais suportável. – de seus lábios saiu um sorriso sarcástico que abalou as estruturas emocionais do loiro, e serviu para dar à Hermione uma dose de força que não tinha até alguns segundos. Saíra daquele salão arrasada, pensando o pior e sabendo que tudo o que sentia pelo Weasley não era correspondido. E, como se não bastasse sua desolação, tinha sido seguida por aquele traste que lhe exigia alguma dose de respeito. Para ela, era demais. Para Draco, no entanto, a noite parecia estar apenas começando, e a julgar pelo seu rosto vermelho, não acabaria muito bem.

A verdade era que, mesmo a presença de Hermione sendo detestável, ele vinha reparando na menina ultimamente, e fora impelido por sua curiosidade que a seguira até ali. A inteligência, perspicácia e audácia daquela garota o desconcertavam de um modo intrigante que seu coração juvenil desconhecia. Seus olhos faiscando para ele eram a prova de que ela não o temia minimamente, e isso o deixava desconcertado com o mundo e com aquelas íris brilhantes. Qual era o segredo daquela sangue-ruim? Será que ela tinha algo capaz de fazê-lo se sentir... Diferente? Novo? Draco olhou para os lados, como se procurando alguém capaz de ler seus pensamentos e delatá-lo de alguma forma. O que ele estava cogitando, afinal? Não fazia a menor ideia. Cada vez mais irritada com a ausência de palavras do loiro, Hermione cruzava e descruzava os braços defronte o corpo, começando a sentir o frio da noite invadir sua pele, como se não bastasse o frio que estava sentindo por dentro.

- Escute aqui, Malfoy, se você acha que ficar aqui, parado na minha frente, vai me trazer medo, saiba que não vai adiantar, e eu sou tão boa em feitiços quanto você, então... – ela começou, e foi só sua voz começar a preencher os ouvidos do sonserino que ele franziu o cenho, encarando-a com uma expressão confusa e incrédula. Quanto mais ela falava, mais o vinco em sua testa aumentava, e ele não era capaz de reparar em nada além de como seus lábios se mexiam delicadamente e como aqueles olhinhos pequeninos pareciam repletos de fúria. Não, não aceitaria aquilo jamais.

- Ah, cale a boca, Granger! – resmungou ele em alto som, dando um passo para frente, ficando perigosamente perto do corpo da menina sem, no entanto, encostá-la. Seus olhos eram da cor do céu invernal do lado de fora do castelo, e a forma como a luz chegava ao seu rosto apenas de um lado lhe dava um ar misterioso, como se metade dele fossem sombras, e a outra, luz cristalina. Estando tão perto assim da morena, não precisou erguer sua voz em muito mais do que um sussurro para continuar falando, cada vez mais inebriado por aqueles olhos castanhos e o perfume... Nunca tinha sentido aquele perfume antes, o que seria aquele aroma? – Eu vim aqui, eu corri atrás de você pela merda do castelo inteiro depois que o santo Potter e o vestes-de-segunda-mão te trataram igual lixo e te deixaram chorando, e é assim que me retribuiu? Eu não quero te ajudar, mas você não precisa ficar por aí chorando sozinha, então eu peço que pelo menos me diga um “Obrigada, Malfoy”, por não ser um idiota como seus amigos.

Assim que acabou de falar, Draco percebeu que seu coração palpitava com força no peito, trazendo uma sensação acalorada para todo seu corpo, o rubor em sua face intensificando ao mesmo tempo em que, na face de Hermione, surgia um tom vermelho pela vergonha e talvez pela raiva de constatar que ele tinha dito algumas verdades. Definitivamente, ela não fazia ideia do que estava acontecendo ali, das razões que levaram o loiro a segui-la, mas em alguns pontos ele estava certo: onde estavam Harry e Ron? Ela não fazia ideia, mas ele estava ali, prostrado a sua frente com sabe-se lá quais intenções, mas estava. Seu coração batia forte no peito. Impelida pelos bons modos e nada mais, deixou-se murmurar, um tanto boba – O-obrigada, Malfoy. – o rapaz assentiu uma vez com a cabeça, dando um passo para trás logo em seguida e cruzando os braços defronte o corpo, assim como ela. E agora? E agora, o que faria? Não tinha para onde ir, não tinha para quem voltar, e estava conversando com a sangue-ruim por mais tempo do que jamais conversara com alguém da Grifinória em toda sua vida. E por quê? Talvez porque ela tinha olhos brilhantes, ou porque aquele vestido era muito, muito bonito, ou ainda porque ele tinha a impressão de que, desde que ela o desferira um soco no ano anterior, ficava cada dia mais encantadora. Não. Não, Draco Malfoy não pensava nada do tipo sobre Hermione Granger.

A menina mordeu o lábio inferior, sentindo o gosto daquelas palavras na boca, sem entender a razão de ter agradecido ao loiro. Via o rubor da face alheia esmaecer pouco a pouco, e não pode deixar de observar que nunca antes tinha visto o herdeiro Malfoy corar de vergonha, ou por qualquer outra coisa senão raiva. Ela se perguntava se sequer conhecia aquele menino a sua frente. Ficou feliz quando ele retomou a distância entre os dois, e começou a dar sinais de que iria embora, voltaria para sua sala comunal e tentaria a todo custo esquecer aquela situação esquisita. Deu um passo para frente, aproximando-se dele com cuidado extremo para não encostar em sua pele ou em suas vestes, o que não passou despercebido pelo loiro, que deixou um sorriso escapar de seus lábios finos. – Quer ir embora, Granger? Vai voltar para os preciosos amiguinhos?

Na voz dele havia, além do escárnio habitual ao se referir àquela escória que era o “trio de ouro” de Hogwarts, um toque sutil de ciúmes. Sim, ciúmes, e isso revirou em seu estômago até que parasse em sua garganta, puxando um calafrio enorme em seu corpo. Ele estava com ciúmes da sangue-ruim com os patetas? Não admitiria isso jamais, mas sim, ele estava, e isso lhe trouxe um ódio profundo. No tempo em que demorou para reconhecer e negar esse sentimento, já estava Hermione Granger, após revirar os olhos e soltar algum muxoxo com o que parecia ser um xingamento, pronta para se afastar dele, levando seus pés pelo corredor escuro e sem retratos do castelo. Draco não pensou. Se tivesse pensado, nunca teria feito o que fez, levado por aquela coisa esquisita em seu peito e pelo sentimento horrível em sua mente.

Nunca teria segurado em seu pulso fino e recoberto por uma fita azul. Nunca teria visto o olhar surpreso no rosto de Hermione. Nunca teria jogado para longe seu nojo por estar tocando aquela pele. Nunca. Draco Malfoy, em sua plena consciência, nunca teria puxado uma sangue-ruim até que ela estivesse próxima o suficiente para encontrar seus lábios.

No momento em que o fez, em que sentiu a boca pequena e macia contra a sua, foi o mesmo em que seu corpo inteiro entrou em choque e desligou, entregue àquele único beijo roubado, onde nem mesmo o ladrão sabia a razão do furto. Ele simplesmente não parecia aceitar a ideia de que Granger estivesse com aqueles dois, e não com ele: ele era muito melhor, não era? Ele estava beijando-a agora, não estava? Ele. Ele, não os outros: ele. Ele queria que ela o beijasse e que o pertencesse. Não sabia se o que sentiu no peito, se aquele pássaro maroto enjaulado era felicidade ou medo, ou tudo junto. Sabia que gostara dele batendo suas asas dentro de seu corpo, e sabia que...

Uma mão pequena atingiu seu rosto como uma bala, e o estilhaçou de fora pra dentro.

Draco largou o pulso da garota e levou sua própria mão à face, que ardia com o toque recente. Quem ela... O que ela... O que ele havia feito? Arregalou os olhos para a Granger, e preferia ter visto a morte ao olhar de nojo que ela o lançou, limpando a boca com a mesma mão que lhe desferira um tapa. Mesmo menor que ele, ela parecia gigante, enquanto o Malfoy não passava de um rato encolhido no escuro. A garota parecia estar tão furiosa que não conseguia encontrar as palavras certas, titubeando e se enrolando com as vogais apenas para torturá-lo – Nunca mais!  Você não ouse, nunca mais, tocar em mim, Malfoy. E você... Você nunca... Não me ame, porque eu te juro que nunca serei capaz de te amar de volta.

Não houve tempo sequer para assentir, para retrucar. Do mesmo modo que ela chegara correndo, agora também ia embora, sendo engolida pelos corredores e pelos archotes que trepidavam sua luz vez ou outra, o eco de seus passos sumindo lentamente. Deixou que ele ficasse ali, sozinho, encarando o vazio que antes era preenchido por seu corpo. O pássaro em seu peito levara um tiro e agora se contorcia em espasmos finais, soltando lamúrias doídas, o sangue lhe manchando as penas esmeralda, deixando apenas a gaiola vazia. Fria e de ferro. Era aquilo, então. Era aquilo que ganhava quando tentava ser diferente. Não valia a pena. Draco pensou em chorar, em gritar, esmurrar a primeira coisa que lhe viesse à frente, mas não tinha vontade de nada daquilo. Da mesma forma que ela, passou a palma por sua boca, tirando o gosto daquela menina de si, cuspindo os últimos resquícios dela no chão ao seu lado. Qualquer coisa que começasse a nutrir por ela sumiu de repente, substituído por um ódio errante por não poder tê-la. Sua mente mesquinha achava um absurdo que aqueles dois patifes pudessem, e ele não. Ele não podia nem chegar perto, porque ela não o queria. Estúpida. Sangue-ruim. Sabe-tudo. Todos os outros xingamentos que podia encontrar passaram por sua cabeça enquanto ele dava meia volta e tomava o caminho oposto ao dela, onde não havia janela alguma para banhá-lo com luz.

Ele achou que Hermione Granger poderia ser luz, mas ela fora a maior escuridão que já encontrara.

 

 


Notas Finais


Então é isso, por hoje!!! Espero que tenham gostado, de verdade!
Aviso aqui que esse capítulo também será postado como uma one-shot, intitulada "Nox", sem nenhuma alteração, apenas porque pensei que ele poderia ser utilizado dessa forma. Até semana que vem, pessoal, obrigada por acompanharem!


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