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História Peculiar history - Capitulo 8


Escrita por: _Starke

Capítulo 14 - Capitulo 8


Nós nos viramos para voltar, humilhados. Em vez de andar abaixada, abandonei o que restava da minha dignidade e fui engatinhando, na direção da luz que vinha da entrada do túnel. Nós saímos do túnel apertado do cairn e fomos para o exterior só para sermos cegados pela luz. Protegi os olhos e vi por uma fresta entre os dedos um mundo que eu mal reconheci: a mesma trilha, tudo era o mesmo de antes, mas pela primeira vez desde a nossa chegada estava tudo iluminado pela luz amarela e estimulante do sol, o céu azul glacê, sem qualquer vestígio, em lugar nenhum, da neblina esquisita que passara a definir aquela parte da ilha. Também estava quente, mais para os dias de auge do verão do que para os de seu princípio, com sua brisa fresca. -- Como o tempo muda rápido por aqui! – disse, mas jake estava tão chateado que nem ligou.

Caminhamos com dificuldade até a trilha, tentando ignorar a sensação da lama da charneca se esfregando contra a pele dentro de minhas meias, e tomei o rumo da cidade. Estranhamente, a trilha em si não tinha nenhuma lama, como se houvesse secado em apenas alguns minutos, e também não havia o zumbido permanente dos geradores a diesel. Será que a cidade tinha ficado sem combustível nas poucas horas em que nós saimos?

Mais uma coisa: por que todos eles estavam nos olhando? Todo mundo com quem eu cruzava me encarava de olhos arregalados, parando o que quer que estivesse fazendo para me ver passar. Devo parecer tão louca quanto estou me sentindo, coberta de lama da cintura para baixo e de gesso da cintura para cima, por isso baixei a cabeça e andei o mais rápido que pude na direção do pub, onde ao menos eu podia me esconder até a chegada do meu pai para o almoço.

Dentro do Buraco havia o mesmo grupo de homens embriagados debruçados sobre copos grandes cheios de espuma, as mesmas mesas surradas e a decoração cafona que eu tinha começado a considerar minha casa-longe-de casa. Mas, quando nos íamos até às escadas, ouvi uma voz desconhecida gritar:

— Aonde vocês pensam que vão?

Eu me virei, já com um pé no primeiro degrau, para ver o balconista nos olhar de cima a baixo. Só que não era Kev. Era um sujeito mal-encarado e de cara redonda que eu não reconheci. Ele vestia um avental de balconista e tinha uma “monocelha” peluda e um bigode que pareciam taturanas e deixavam seu rosto listrado. Respondi — Para o meu quarto. — Isso falado de um jeito que mais parecia uma pergunta que a afirmação de um fato.

— É mesmo? — disse ele, pousando o copo que estava enchendo. — Isso aqui, por acaso, parece um hotel para você?

Madeiras rangeram quando os fregueses viraram de seus bancos para me olhar. Examinei rapidamente o rosto deles. Nenhum era familiar. Era como se o mundo inteiro tivesse enlouquecido. Disse ao barman que obviamente havia algum engano.

— Meu pai, eu e minha irmã estamos nos quartos do andar de cima — falou Jake. — Olhe, tenho a chave — e a pegou do bolso como prova.

— Deixa eu ver isso — disse ele, inclinando-se sobre o balcão para apanhá-la da mão. Ergueu-a contra a luz fraca, olhando como se fosse uma joia. — Essa chave não é nossa — resmungou, mas guardou-a no próprio bolso. — Agora me diga o que realmente querem lá em cima. E, desta vez, não minta!

Nunca havia sido chamado de mentiroso por um adulto que não fosse meu parente antes.

— Já disse para você. Alugamos esses quartos! Pergunte para Kev se não acredita em mim! –disse Jake envergonhado.

— Não conheço nenhum Kev e não gosto de historinhas — disse ele friamente. — Não há quartos para alugar por aqui e o único que vive lá em cima sou eu!

Olhei ao redor esperando que alguém abrisse um sorriso e me deixasse entrar na brincadeira. Mas o rosto dos homens parecia de pedra.

— Eles são americanos — observou um homem que ostentava uma barba prodigiosa. Talvez do exército.

— Bobagem — resmungou outro. — Olhem para ele, é praticamente um feto!

— Mas e a capa de chuva dela? — disse o barbudo, estendendo a mão para beliscar a manga do meu casaco. — Deve ter dado um trabalhão para encontrar uma dessas numa loja. Exército... deve ser.

— Olhem — disse eu. — Não estamos no exército e não estamos querendo armar nada aqui!

— Americano o cacete! — berrou um sujeito gordo, desgrudando toda sua circunferência de um banco para se colocar entre nós e a porta, para onde estávamos lentamente recuando.

— O sotaque dele parece falso, para mim. Aposto que é um espião alemão.

— Eu não sou espião — retrucou jake sem força. — Só estou perdido.

— Vamos resolver isso — disse ele com uma gargalhada. — Acho que a gente deve arrancar a verdade deles à moda antiga... com uma corda. -- Gritos de concordância. Não sabia se eles estavam falando sério ou só me pregavam uma peça, mas eu não estava muito interessada em ficar ali para descobrir. Um resquício de instinto conseguiu se fazer presente através da confusão de meu cérebro, corra! Seria muito mais fácil tentar descobrir o que estava acontecendo sem um bar cheio de bêbados nos ameaçando. Claro, sair correndo e arrastando jake atrás de mim. Tentei dar a volta no homem gordo. Ele tentou me agarrar, mas lentidão e bebedeira não são páreo para velocidade e um medo desgraçado. Fingi que ia para a esquerda, então fintei e fiz a volta nele pela direita. Ele soltou um urro de raiva enquanto os outros homens se descolavam de seus bancos para se lançar atrás de nós, mas conseguimos escapar entre os dedos deles e corremos pela porta, para a tarde ensolarada.

Corremos durante um tempo até que viramos em um beco que seguia por trás de duas ruelas de cabanas, onde parecia haver muitos lugares para nos esconder se precisasse, alcançamos os limites da cidade. O fato de cada barulhinho ou pequeno movimento me assustar não ajudava em nada minha tentativa de agir com naturalidade. Ouvimos um ruído estranho atrás de nós, agachamos e entramos num banheiro externo pelo qual passávamos.

Por fim, um cachorro passou, seguido por um bando de filhotes de latido agudo. Soltei a respiração e comecei a relaxar um pouco. Depois, esforçando-me para manter a calma, saímos outra vez para o beco. Algo me agarrou de imediato pelos cabelos. Antes mesmo que eu tivesse a chance de gritar, uma mão veio de trás e apertou algo afiado contra minha garganta. — Se algum de vocês gritar eu corto a garganta dele — disse uma voz.

Mantendo a lâmina em meu pescoço, a pessoa que me atacava me empurrou contra a parede do banheiro e fez jake ficar do meu lado, ela deu a volta para nos olhar de frente, e para minha enorme surpresa não era um dos homens do pub. Era a garota. Ela usava um vestido branco simples e tinha uma expressão severa no rosto.

— O que são vocês? — sussurrou ela.

— Eu... hã... nós somos americanos — Jake gaguejou sem muita certeza do que ela perguntava.

— Eu me chamo Luana e esse é meu irmão Jacob. -- Ela apertou a faca com mais força contra a minha garganta, e sua mão começou a tremer. Ela estava com medo, e isso significava que era perigosa.

— O que estava fazendo na casa? — perguntou. — Por que você está me perseguindo?

— Eu só queria falar com você! — jake respondeu. — Não me mate. —eu disse.

Ela me olhou fixamente, de cara amarrada. — Falar comigo sobre o quê?

— Sobre a casa e sobre as pessoas que moraram lá.

— Quem o mandou aqui?

— Meu avô. O nome dele era Abraham Portman .-- Ela ficou de queixo caído. — Isso é mentira! — exclamou ela, os olhos flamejantes. — Acha que não sei quem vocês são? Não nasci ontem! Abram os olhos, deixe-me ver seus olhos!

— Nós somos mesmo netos dele! Estes são meus olhos! — Abri-os o máximo que pude. Ela ficou na ponta dos pés e olhou fixamente dentro deles, então bateu o pé e gritou.

— Não, seus olhos verdadeiros! Esses falsos não me enganam mais que sua mentira ridícula sobre Abe!

— Não é mentira, e esses são meus olhos! — Ela apertava minha traqueia com tanta força que senti dificuldade para respirar. Agradeci pelo fato de a faca estar cega, ou sem dúvida ela teria tirado sangue. — Olhe, não sou quem quer que você acha que nós somos — jake resmungou. — Posso provar.

A mão dela relaxou um pouco. — Então prove, ou vou regar a grama com o sangue da sua irmã!

— Tenho uma coisa bem aqui — disse ele, e enfiou a mão no casaco. Ela deu um pulo para trás e gritou para que eu parasse, erguendo sua lâmina até que ela ficasse trêmula no ar, entre os olhos dele.

— É só uma carta! — berrou. — Calma! -- Ela baixou a lâmina de volta à minha garganta e ele sacou lentamente a carta e a foto da srta. Peregrine do casaco, estendendo-os para que ela visse. — A carta é parte da razão que nos trouxe até aqui — explicou. — Foi meu avô quem me deu. É da Ave, é assim que vocês chamam sua diretora, não é?

— Isso não prova nada! — disse ela, apesar de mal ter olhado para a carta. — Diga-me apenas uma coisa. Como vocês sabem tanto sobre nós? — É que nosso avô...-- Ela arrancou a carta das mãos antes que eu pudesse acabar a frase. — Não quero ouvir mais nem uma palavra dessa bobagem! — Aparentemente, ele tinha tocado em um ponto sensível. Ela ficou quieta por um instante, a expressão retorcida de frustração, como se estivesse decidindo a melhor maneira de se livrar de nossos corpos após cumprir suas outras ameaças. Mas, antes que ela pudesse encontrar uma solução, vieram sons da outra ponta do beco. Nós nos viramos para ver os homens do pub correndo em nossa direção, armados com porretes de madeira e ferramentas de fazenda. — O que é isso? — perguntou ela. — O que vocês fizeram?

— Você não é a única pessoa que quer nos matar!

Ela tirou a faca da minha garganta, mas a manteve ao lado do meu corpo, e depois me agarrou pela gola da camisa. — Agora vocês são meus prisioneiros — anunciou ela. — E viram comigo.

Não discuti. Não sabia se minhas chances eram melhores nas mãos dessa garota desequilibrada ou nas do bando de bêbados com porretes que se aproximava espumando de raiva, mas pelo menos com ela eu achava que tinha a possibilidade de conseguir sobreviver, já que aparentemente achamos a fenda, e estamos dentro dela nesse momento, só jake não parecia notar. Ela me empurrou, nós saímos correndo e pegamos um beco. A meio caminho do fim, ela desviou rapidamente para o lado e me puxou junto, jake veio atrás e ambos nos agachamos embaixo de um varal cheio de lençóis e pulamos por cima de uma cerca de galinheiro que dava no quintal de uma casa. — Aqui — murmurou ela e, olhando ao redor para se assegurar de que não havíamos sido vistos, me empurrou por uma porta para dentro de um barracão atulhado que cheirava a fumaça. Não havia ninguém lá dentro, apenas um cachorro velho que dormia em cima de um sofá. Corremos até uma janela que dava para a rua e nos apertamos contra a parede ao seu lado. Ficamos ali parados à escuta, a garota tomando o cuidado de manter uma das mãos no braço do jake e a faca encostada em mim. Um minuto se passou. A voz dos homens pareceu sumir e então voltar outra vez; era difícil dizer onde estavam. Me perdi por um instante em meus pensamentos até que jake perguntou.

— Em que ano estamos? —  Ela o mandou calar a boca. — Estou falando sério — sussurrou. Ela olhou com estranheza por um instante. — Não sei o que você está armando, mas vá e veja você mesmo. — E o empurrou na direção do calendário. Setembro de 1940 mostrava ele. Os dois primeiros dias do mês tinham sido riscados. Uma dormência esquisita e distante tomou conta de mim, sabia que isso era alegria, pois estava a pouco tempo de encontra-lo. Até que percebi que meu irmão havia desmaiado, com certeza aquilo era informação demais pra ele. Quando a garota percebeu bateu na minha cabeça com algo que não sei bem o que era e acabei desmaiando também.

Quando acordei estava amarrada a um fogão com jake do meu lado, e encontrei a garota falando com alguém invisível:

-- Millard Nullings, às suas ordens. –Disse para Jake

— Não diga seu nome a ele! — gritou a garota. — E essa é Emma — prosseguiu ele. — Ela é um pouco paranoica, o que, tenho certeza, você já percebeu.

-- Ah finalmente acordou senhorita

— Silêncio! — sussurrou Emma. Os passos de Millard foram até a janela, e as persianas se abriram um centímetro. — O que está acontecendo? — perguntou ela. — Eles estão vasculhando as casas — respondeu ele. — Não podemos ficar aqui por muito mais tempo. — Bem, também não podemos sair! — Acho que talvez a gente possa — disse ele. — Mas, só para garantir, deixe-me consultar meu livro.

As persianas se fecharam outra vez e eu vi um caderninho com capa de couro erguer-se de uma mesa e se abrir em pleno ar. Millard cantarolava enquanto o folheava. Um minuto mais tarde ele fechou o caderno num golpe. — Como eu desconfiava! — disse ele. — Só precisamos esperar um minuto, mais ou menos, e aí poderemos sair direto pela porta.

— Você está louco? — disse Emma. — Logo teremos cinco sujeitos em cima de nós com tijolos e porretes! — Não se formos menos interessantes do que o que está prestes a acontecer — respondeu ele. — Eu lhe garanto que essa será a melhor oportunidade que teremos em horas.

Ele não falou mais nada. Fomos desamarrados do fogão e conduzidos até a porta, onde nos agachamos e ficamos à espera. Então, lá de fora, veio um barulho ainda mais alto do que os gritos dos homens, motores. — Ah, Millard, isso é brilhante! — disse Emma. Ele torceu o nariz. — E você disse que meus estudos eram uma perda de tempo. Emma pôs a mão na maçaneta e depois se virou para mim. — Segure meu braço. Não corra. Aja como se nada tivesse acontecido. — Ela guardou a faca, mas me garantiu que, se alguém tentasse fugir, tornaria a vê-la um instante antes de ser morta por ela. — Como posso saber que você não vai fazer isso de qualquer jeito? — perguntei. Ela pensou por um instante. — Não pode — retrucou. E então empurrou e abriu a porta.

A ruela lá fora estava cheia de gente que haviam parado o que faziam para ficar no meio da estrada e esticar o pescoço na direção do céu, onde lá em cima, não muito longe, um esquadrão de caças nazistas roncava em perfeita formação. Como devia ser desesperador ver de repente, no meio de uma tarde que seria comum, surgirem no céu máquinas de morte inimigas que podiam fazer chover fogo sobre você a qualquer momento. Atravessamos a rua tão despreocupadamente quanto conseguimos, com Emma segurando um braço meu com uma pressão mortal e Jake segurando o outro. Quase conseguimos chegar à ruela do outro lado antes que alguém finalmente nos visse. Ouvi um grito, nos viramos e vimos um homem partir em nossa direção. Começamos a correr. A ruela era, tínhamos percorrido metade dela quando ouvi Millard dizer: — Vou ficar para trás e fazê-los tropeçar! Me encontrem atrás do pub em exatamente cinco minutos e meio!

Os passos deles foram desaparecendo às nossas costas e, quando chegamos ao fim do beco, Emma me deteve, olhamos para trás e vimos uma corda se desenrolar sozinha e flutuar acima do cascalho na altura do tornozelo. Ela se esticou justo no momento em que eles passavam. Eles caíram de cara na lama, um sobre o outro. Emma soltou um grito de comemoração, e eu tive quase certeza de ouvir o riso de Millard.



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