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História Pedaço da Lua - Capítulo II


Escrita por: Downdownbaby

Notas do Autor


Venci a preguiça e revisei esse capítulo \o/
KyungMyeon shippers de my heart, peço que tenham paciência com a minha pessoa. A hora de vocês vai chegar, eu juro <3

Enjoy it~

Capítulo 3 - Capítulo II


 

Os pés pequenos do gnomo ficaram suspensos no ar enquanto era pressionado pelo pescoço junto à árvore. Para o aperto, os dedos do guardião não usavam ao menos a milésima fração de sua força, mas era o suficiente para quebrar os ossos daquela pequena criatura se assim ele quisesse. O companheiro do ladrão estava inconsciente e atirado contra o solo, fazendo o que permanecia acordado temer pela própria vida. Tremia em pavor frente aquela sede de sangue latente.

Não existia, na face da Terra, um indivíduo que não se renderia ao desespero frente à forma real do guardião. Naquele instante ele ainda usava a forma humanoide, mas seus olhos iridescentes já eram tomados pela cólera.

O que antes foi o belo par de olhos hipnóticos passou a formar uma imagem aterradora quando os cristalinos se expandiram até que a pupila fosse apenas uma linha fina negra em meio à esclera multicolorida. As cores surgiam e se esvaíam conforme o rosto se movimentava em sua direção, e aquilo lhe sufocava mais do que a mão firme em sua garganta.

– Eu vou perguntar apenas uma vez, pequena criatura desprezível. E espero ouvir a resposta certa. – O guardião falou ao encarar a face contorcida do gnomo entre seus dedos. O pequeno se encolheu contra o tronco quando sentiu o hálito quente contra suas narinas. Cheirava a cinzas. Cheirava a morte. Vendo que o seu prisioneiro compreendeu a posição em que se encontrava, o guardião sorriu satisfeito. As garras afiadas foram reveladas em suas mãos, pressionando a pele do pescoço do gnomo. – Onde está o contraveneno para suas flechas?

– Os... – Tentou responder com o fio de voz que passava pelo aperto forte, mas tossiu sem ar logo que pronunciou a primeira palavra. O aperto em sua carne não cedeu, apenas manteve-se no limite entre mantê-lo no ar e não quebrar seus ossos. – Os bolsos… – cuspiu em um único amontoado de sílabas, apontando debilmente para o corpo do companheiro.

Num movimento brusco, o maior firmou a mão que sustentava o corpo pequeno no ar e atirou-o contra o tronco mais próximo que viu, ouvindo o estalo de algo quebrando dentro do corpo pequeno antes de cair sobre as folhas secas. O corpo pequeno se contorceu em uma crise de tosse frenética. Sentia o pulmão arder e o pescoço queimado e em carne viva latejar, mesmo depois de estar livre. Ainda temeroso, levantou os olhos em busca da figura assustadora que matara cinco de seus homens e parecia pretender terminar com os dois que poupara mais cedo.

Lágrimas invadiram sua visão ao perceber que ele não estava mais ali. Aquele demônio não estava mais por perto. Estou vivo! Era um ladrão experiente, e antes disso havia sido um militar experiente em combate, mas nunca estivera tão próximo da morte quanto sentiu ao inalar o hálito de cinzas. Juntou as forças que a gratidão ao seu Deus lhe deu e ignorou todas as dores que se espalhavam por seu corpo, partindo o mais rápido que podia caminhar.

 

 

||

 

 

O céu sobre a floresta anciã já era negro. As casas habitadas estavam com as luzes internas acesas e lanternas redondas iluminavam as pontes entre elas. A altitude, somada com a proximidade do rio fazia o clima sempre frio dentro da floresta. Era quase início do outono, mas a estação não afetava as árvores anciãs, que mantinham a folhagem intacta em seus galhos. Fora dos limites da floresta que protegia as montanhas, as árvores começavam a perder suas folhas aos poucos, dando ênfase à imponência da floresta que abrigava os elfos.

Era uma pena que nem mesmo a barreira natural conseguisse manter afastada a ameaça representada pelos ladrões e saqueadores que sondavam as montanhas e seus tesouros lendários. A floresta impunha desafios à sobrevivência de quem a atravessasse, mas ficava a cargo dos reinos cravados nas montanhas a tarefa de combater quem conseguisse sobreviver à fauna e flora hostis. A ordem dos esquadrões era não deixar um único ladrão vivo, para que não pudessem ajudar outros a desenvolver técnicas neutralizadoras contra os elfos defensores. Mas nem sempre as ordens podem ser cumpridas a risca, e os saqueadores voltavam cada vez mais preparados para o combate. O resultado eram soldados seriamente feridos.

– Você acha que eu devia ir procurar?

Kyungsoo estava acampado em uma das janelas de sua casa, olhando fixamente para a direção que Jongin seguiu mais cedo.

Falava com Kai, que estava empoleirado na janela ao lado mirando a mesma direção. Os olhos negros do corvo foram para os do jovem elfo para lhe transmitir seus pensamentos.

“Sair agora é perigoso. A floresta é perigosa à noite.”

– Isso é pra me fazer ficar? Se for, não está funcionando.

O elfo era consciente de todos os perigos que a floresta guardava fora do cinturão da Floresta Anciã. Mesmo dentro da área protegida pelos exércitos aliados, ladrões utilizavam toda sorte de artimanhas e se esgueiravam como serpentes letais e invisíveis. Jongin não era inútil em batalha, mas Kyungsoo nunca se sentiria seguro o suficiente para deixá-lo sozinho contra os perigos fora de suas vistas. Queria cuidar dele a cada segundo de sua vida.

“Você vai, mesmo que eu lhe diga pra ficar.” Kai apontou. Não era uma pergunta.

– Mas preciso que você venha comigo.

“Eu também já sabia que me pediria isso.”

O jovem elfo riu da arrogância de seu companheiro. Buscou a capa verde do exército e a ajustou sobre o próprio corpo, prendendo os longos cabelos avermelhados sob o capuz pesado. Prendeu também as adagas junto ao tronco e à perna destra, adicionou alguns itens à sua sacola de componentes e saiu pela porta. Kai esperou que ele tomasse certa distância para alçar voo e pousar alguns metros à frente. Esse era seu trabalho primordial: observar o caminho à frente e garantir que era seguro; por isso o jovem elfo não saía sem seu companheiro.

– Pra que lado? – Kyungsoo não precisava de mais que um sussurro pra se fazer ouvir por Kai, mesmo que estivessem à milhas de distância. O mesmo valia para a comunicação partindo do corvo.

“A fissura entre as montanhas.”

Kyungsoo estacou no lugar no mesmo instante. Jongin fora fazer o que naquele lugar? Os mais velhos deixavam claro que nem mesmo os esquadrões deveriam ir até a fissura, era parte do acordo com a floresta. As lendas diziam que os espíritos protetores originais moravam lá, por isso a fissura nunca seria um ponto cego nas defesas dos reinos. O que diabos Jongin estava pensando para desobedecer à ordens claras e se colocar em risco tão inconsequentemente?

“Medo das lendas justo agora, mestre Do?”

– Você sabe por que ele foi lá?

O corvo lhe mirou do alto do galho onde estava. Ele sabia. Kai era um dos corvos mais inteligentes dentre todos que já foram tomados como companheiros pelos feiticeiros. Era comum que feiticeiros e druidas tivessem companheiros animais que concordavam em aproveitar suas habilidades em batalha à favor de um mestre, mas geralmente eram lobos ou águias – com sorte algum felino de grande porte. Aves sábias como corvos e corujas eram muito inteligentes e por isso mesmo não se deixavam usar por qualquer um, Kyungsoo era o único que se mostrou capaz de conquistar um corvo dentre todos os soldados em treinamento.

A realidade era que Kai viu em Kyungsoo mais energia mágica do que já vira em qualquer outro indivíduo que cruzou seu caminho, por isso escolheu acompanha-lo e crescer junto a ele. Era uma troca justa quando os dois evoluiriam, juntos, quatro vezes o que evoluiriam separadamente.

No entanto, havia coisas que não deviam ser ditas por certos intermediários.

“Não é assunto onde eu tenha direito de dizer algo.”

Kyungsoo temeu ainda mais depois da resposta defensiva. Kai não era de poupar palavras consigo. O que quer que tenha acontecido a Jongin, era motivo para preocupação em dobro.

Mesmo que não estivesse consciente disso, passou a correr pelo mesmo caminho que Jongin traçou mais cedo. O acréscimo de velocidade obrigou Kai a voar pouco mais rápido também, logo à frente, sem tempo para pousar. Terminaram o trajeto sobre a ponte iluminada e mergulharam na penumbra abaixo da linha de lanternas. Elfos enxergam melhor que humanos na falta de luz e Kai nem ao menos sentia diferença entre a presença ou falta dela. Avançavam agilmente entre as árvores, guiados pelo corvo que não passava de um vulto imperceptível cortando o céu noturno.

– Desvie se algum esquadrão entrar no perímetro, não quero explicar o que aconteceu. – informou ao corvo, em um sussurro ainda mais suave do que os anteriores.

“Certamente.”

A verdade que Kai via era que Kyungsoo não fazia ideia do que diria a um soldado, se nem ele mesmo sabia o que estava lhe motivando a se aventurar pela floresta a noite. O corvo sabia do sentimento desejoso e possessivo que seu mestre desenvolveu por Jongin, via tudo com detalhes vivendo na mesma casa que os dois. Kyungsoo protegia Jongin com a devoção que um rei protege seu povo, com amor. Sim, amor.

A palavra que sempre intrigara o corvo negro. Era repetida frequentemente nos livros da biblioteca do castelo distante onde ele fora criado. O que lhe despertou interesse foi a instabilidade do que chamavam de amor. Era sempre a mesma palavra utilizada para descrever condições diferentes. Ao contrário das outras emoções descritas nas mesmas páginas, não era um comportamento padrão, se originava de formas distintas, causava efeitos incertos, se manifestava de formas igualmente díspares. O único ponto em comum era aquela agonia que via em Kyungsoo agora, correndo em direção ao perigo sem pesar perfeitamente as consequências de suas ações. A necessidade de ter Jongin por perto lhe cegava. Esse era seu pior erro.

Kai fez o que lhe foi ordenado e desviou dos dois esquadrões que captou.

“Cem metros à frente, na montanha nascente.” O corvo informou quando os dois entraram na fissura entre as duas elevações colossais de pedra.

As patas do corvo pousaram na rocha do lado de onde ficava a entrada por onde viu Jongin entrar mais cedo naquele mesmo dia e esperou seu mestre chegar até ele. Kyungsoo parou no local indicado e analisou atentamente a pedra. Não conseguiu ver nenhum sinal de abertura ou marca física com essa análise. Encarou o corvo com uma sobrancelha arqueada, mas este não parecia ter algo a lhe dizer.

Deslizou a palma branca pela pedra e sentiu um arrepio cruzar sua espinha. Aquela pedra emitiu um pulso desconhecido, que fez seu ritmo cardíaco subir no mesmo instante e o estômago revirar. Não era uma sensação ruim, longe disso. Era apenas diferente de qualquer item mágico que já tocara. Parecia algo vivo. Recuou a mão por um momento para recuperar a concentração, voltou a espalmá-la na pedra e ordenou que qualquer magia presente nela se revelasse. Uma curva fina brilhou sob a ponta de seu dedo médio e ele dirigiu a mão na direção dela, logo vendo a marca elaborada de Jongin brilhar ali. Mas não era só isso que encontrara. Algo grande estava dentro daquela pedra, sua presença mágica era esmagadora e instigante. Quem ou o que quer que estivesse ali dentro era poderoso o suficiente para esmagar a montanha se assim lhe apetecesse.

– Jongin está aqui dentro, não está?

“Sim.”

– Como eu entro?

“Não entrarás se o guardião não quiser que entres.”

Kyungsoo lhe olhou exasperado.

– Guardião? Essa coisa que pegou o Jongin é o guardião desse tesouro?

“Um deles, jovem mestre. São dois. O outro fica ali adiante.” O corvo apontou o bico negro para a montanha do outro lado da fissura.

– Então não eram apenas lendas que o velho contava pra rir do medo daquelas crianças. – Suspirou de olhos fechados, buscando equilíbrio emocional para pensar com clareza. Não era bom para alguém com seu tipo de energia perder o controle para a emoção. Não passou por anos de treinamento com Sooman para perder o controle tão facilmente. – Ele é hostil?

“Não parece ser com os aliados. Se fosse uma ameaça, Jongin não viria aqui tantas vezes.”

O elfo pensou em sua posição. Não queria iniciar um conflito desnecessário e que certamente culminaria em sua própria morte e de Kai e, possivelmente, na de Jongin. Conseguia imaginar até mesmo a possibilidade onde aquela criatura se enfurecia e expulsava os dois reinos de perto de seu tesouro. Não se arriscaria a despertar essa fúria.

O velho mago Sooman havia lhe falado sobre a lenda que cercava aquela fissura quando Kyungsoo o questionou acerca da eficiência defensiva de montar acampamentos de defesa tão distantes entre si.

O jovem feiticeiro era hábil em outras áreas além das magias, uma delas era a estratégia defensiva. Sooman lhe explicou como funcionava a divisão das áreas que os elfos defendiam e as áreas que os humanos – que viviam do outro lado da montanha de metal – deveriam guardar. Assim como a floresta anciã acolhera os elfos da floresta, ela acolheu uma tribo humana do outro lado da montanha, e agora cada raça vivia em função da proteção do tesouro daquelas montanhas. Ambos foram abrigados em período delicado, quando se recuperavam de embates longos e exaustivos. Os exércitos, ainda que vitoriosos, estavam enfraquecidos e seriam facilmente dizimados no caso de outro ataque. A floresta foi bondosa com aqueles que eram bondosos com a natureza. Agora, depois de séculos vivendo junto às montanhas, os exércitos eram revigorados e as técnicas de combate cem vezes mais arrojadas, permitindo a cada um cuidar dos setores definidos em acordo comum na reunião feita pelos generais de cada raça ainda não época em que Sooman não havia nascido.

Assim que a explicação feita sobre o mapa estendido na mesa terminou, Kyungsoo percebera que a fissura entre as duas montanhas era um ponto completamente desprotegido, não sendo incluso em nenhum setor. Era perto do irracional, levando em consideração que havia dois exércitos para a tarefa de cobrir a área. Foi então que o velho mago lhe falou pela primeira vez do guardião da montanha, as palavras usadas ainda reverberavam em sua memória com clareza: É preferível enfrentar cem exércitos a receber um golpe daquela besta que guarda o meio das montanhas. Teria mais chances de sair vivo se jogando de peito nu direto num fosso de lanças.

Agora Kai lhe dizia que eram dois.

Ótimo.

 

 

||

 

 

Kyungsoo estava sentado no chão gramado e frio, as costas coladas à pedra cinzenta da montanha onde Jongin estava. Sua raça lhe favoreceu e ele não sentia sinais de cansaço apesar da noite em claro; ao contrario de Kai, que já dormia empoleirado em seu ombro esquerdo.

A linha do horizonte visível no espaço entre as duas elevações dava sinais de que o nascer do Sol não tardaria a acontecer. Linhas luminosas solitárias despontavam no fundo azul profundo, sendo logo acompanhadas por mais luz, gradativamente decompondo aquela vastidão de azul escuro em tons mais quentes.

Os olhos grandes de Kyungsoo se mantiveram fixos no processo até que uma linha dourada se mostrou e revelou, pouco a pouco, a estrela que trazia vida a sua amada floresta. Sorriu diante da visão, feliz por ser capaz de contemplar um nascer do Sol depois de anos centrado em seus estudos. Como tinha se ocupado tanto a ponto de esquecer-se de olhar para o mundo ao redor com a calma que lhe tomava agora?

“Jongin.” A voz do fundo de sua consciência lhe soprou o óbvio. Parecia até Kai lhe falando, mas sentia que o corvo negro ainda dormia tranquilo sobre seu ombro.

Não precisava de uma análise muito profunda para aceitar que sim, era Jongin o motivo do ritmo caótico que sua vida tomara. Dividir-se entre praticar o controle de sua própria magia, ensinar o que já dominava ao moreno, treinar Kai, manter seus deveres militares e corrigir os desastres que o outro causava tornava impossível que parasse para observar um nascer ou pôr do Sol. As estações cediam lugar umas às outras e ele continuava satisfeito em dedicar seus dias a cuidar do elfo desastroso que parecia um presente enviado de alguma aldeia distante e que nasceu com o dom que não deveria – nem poderia – ser ignorado.

Sorriu com as lembranças que passavam por sua mente. Sorriso que morreu quando a retrospectiva chegou a sua situação atual, sentado em terreno proibido, esperando por algum acontecimento desconhecido que lhe ajudasse a resgatar seu aprendiz do cárcere de uma criatura que mataria os dois sem o mínimo esforço. O ímpeto de levantar-se e começar a atacar aquela pedra até que ela cedesse vinha lhe atormentando a noite toda e ainda martelava em sua mente, brigando com o lado racional e ciente de que essa atitude seria ineficaz e suicida.

Mas o que deveria fazer? Sua mente se desesperava com a possibilidade de ter perdido Jongin, de não conseguir vê-lo outra vez ou até mesmo de encontra-lo sem vida. Fechou os olhos com força e cerrou os punhos com a imagem mórbida que sua mente formou.

O vislumbre de sua rotina sem a presença de Jongin era doloroso.

Jongin não era apenas o monte de problemas que sua falta de tato causava. Na verdade, quando colocados em uma balança, esses problemas eram infinitamente mais leves. Jongin era um aprendiz disposto e entusiasmado. Aqueles olhos inexperientes e curiosos estavam cravados em sua rotina. Gentil e dócil, o moreno chegava e ser inocente demais para o combate, mas resistente aos ataques direcionados a si, afinal juntou-se ao exército depois de enfrentar dores que não merecia.

Kyungsoo o viu no dia em que foi encontrado no limite do acampamento, era difícil não ser atraído pelo corpo grande coberto de pele acobreada e dono de longos cabelos negros. Jongin nasceu com o físico de um guerreiro, era notável mesmo na situação debilitada que se encontrava quando o viu pela primeira vez. Foi uma surpresa que ele tenha sido enviado ao treinamento arcano, e outra maior ainda que ele tenha deixado o mestre desacordado após uma conjuração malsucedida ainda na primeira tarde de treinamento. Depois do incidente precoce, os mestres não queriam o moreno em suas classes. O queriam mesmo era fora do exército, mas não poderiam simplesmente envia-lo ao reino onde os civis viviam ou o velho Sooman faria daquele lugar um inferno, então adotaram posturas que pressionavam o jovem a deixar o exército. Não permitiam que ele participasse das práticas como os outros aprendizes, não lhe deram mais nem um único pergaminho e ignoravam suas perguntas como se nunca tivessem sido proferidas. Era tratado como um espírito invisível, mas se recusava a deixar de tentar.

Sooman lhe acompanhou por um tempo, lidou com algumas situações extremas e continuaria se pudesse. Mas não pode. O velho falou para Kyungsoo que recebeu um chamado de seu pai que vivia na cabana velha onde nasceu e partiu, deixando o elfo estrangeiro sob seus cuidados.

Ao fechar os olhos Kyungsoo podia reconstruir em sua mente a imagem de Jongin parado à sua porta, com a expressão confusa demais. Os cabelos longos, que eram um emaranhado sujo e seco quando chegou, agora costumavam estar bem arrumados com tiras de corda fina trançadas aos fios negros e brilhantes. Ele lhe encarava com receio esperado, não tinham trocado muitas palavras e agora lhe era dito que dividiriam o mesmo alojamento. Kyungsoo desejava fazer ele se sentir seguro, então lançou um sorriso acolhedor e abriu espaço para que entrasse. Jongin respirou aliviado e sorriu de volta. Foi ali que ele percebeu que Jongin sorria tão bonito.

“Não é momento apropriado para dormir.” Kai lhe advertiu.

– Não estou dormindo.

“Então não feches os olhos. É uma brecha e tanto”.

– Ninguém vem aqui.

“Diga-me isso de novo de olhos abertos.”

Tão logo Kyungsoo abriu os olhos apressado, seu corpo agiu rápido, levantou e se colocou em posição defensiva, a mão esquerda voou até a adaga presa a sua perna, pronta para sacar a arma e lutar. A sua frente estava um homem alto que se passaria por humano se não fosse dono de uma beleza exótica mais notável que a de qualquer elfo que Kyungsoo tenha visto na vida.

Havia o conhecimento de senso comum entre as raças quanto ao poder de atração que cada uma exercia sobre as outras. Elfos eram geralmente os mais atraentes, junto às ninfas, e abaixo apenas de seres místicos. Com corpos altos e imponentes, cabelos compridos e brilhantes – comumente adornados e exibidos com orgulho –, pele uniforme e rosto de traços suaves e elegantes, os elfos eram figuras facilmente reconhecidas pelas orelhas peculiarmente pontudas na extremidade superior da hélice. Aquele parado à sua frente, lhe encarando com olhos cor de prata, não era um elfo. Poderia passar por humano, mas era apenas aparência, claramente aparência. Primeiramente, nenhum humano que ele já viu na vida poderia portar o magnetismo que aquele sua frente tinha.

A pele branca parecia reluzir em contato com a luz matutina. Seus cabelos curtos reforçavam isso com a cor dourada que lhes dominava. Trajava-se de tecido grosso e cinzento, mas não tinha sapatos, tocando os pés descalços tão brancos quanto o restante do corpo diretamente na grama ainda úmida. Apesar de estar curvado frente à Kyungsoo, parecia alto. Os lábios finos traziam consigo um róseo suave, destacado pela palidez do restante do rosto. Mesmo diante de todas as pequenas partes que lhe faziam parecer uma peça de arte que merece ser apreciada durante todo o dia, os olhos sobressaiam-se sem dificuldade. Eram finos, donos de um formato que lembrava um felino atroz e de uma cor que Kyungsoo só fora capaz de ver antes em sua vida em peças de prata. Via cinza, mas estava longe de ser como as vestes monocromáticas que lhe cobriam o torso. As íris se assemelhavam a um caldeirão usado para a fusão da prata, com metal líquido se movendo ao redor da pupila negra.

Kyungsoo sentia a energia mágica esmagadora que emanava dele, parecia ter garras e lhe prender no lugar como uma presa indefesa. E expressão de seu inimigo nem ao menos demonstrava intenção de lhe atacar. Ele lhe olhava com curiosidade e calma, parecia esperar alguma reação de sua parte. Pena que o pequeno elfo estivesse pasmo demais para falar naquele momento. Aquela situação agonizante estenderia por mais tempo, mas o ser a sua frente preferiu agir primeiro.

– Faz muito tempo desde a última vez que vi um soldado por aqui.

Sua voz era suave, mas parecia que ele a fazia assim. Kyungsoo perceberia uma criatura mágica com aquele poder destrutivo à milhas de distância, estava confuso com o fato de não ter o sentido se aproximar. Mesmo estando de olhos fechados, não deixaria passar.

“A menos que a presença desta criatura tenha sido ocultada intencionalmente desde o início, jovem mestre.” A voz de Kai soou dentro de sua mente.

E ele deveria ser o único capaz de ouvir o que seu corvo lhe informava. Isso tornou o simples olhar que a criatura direcionou a Kai um sinal aterrorizante. Ele poderia ouvir o que passava pela ligação psíquica do feiticeiro e seu corvo? Como poderia ter a mínima chance de fuga contra alguém que neutralizava até mesmo sua melhor arma?

– Bem observado. – Se dirigiu ao corvo com a mesma inexpressão. Então voltou o olhar a Kyungsoo e estudou a expressão assustada que ele apresentava. Viu a mão que estava pronta para sacar a adaga afiada a qualquer momento e preferiu evitar que isso acontecesse. Aprumou a postura, revelando ser tão alto quanto Kyungsoo presumiu. – Eu sei que você é um soldado dos elfos da Floresta Anciã, não precisa se preocupar em empunhar essa adaga inútil. No entanto – Pôs o indicador em riste –, exijo que me diga por que está aqui. Lembro-me de ter deixado claro ao seu rei que não mandasse seus soldados a esta área.

A mão que se preparara para buscar a adaga desceu lentamente de onde estava deixando ambos os braços ao lado do tronco. Não pode deixar de sentir-se aliviado ao saber que sairia vivo dali.

– Não fui enviado. Vim em busca de outro membro do exército. Tenho consciência de que, assim como eu, ele não deveria estar aqui, por isso vim procurá-lo e levá-lo de volta para o acampamento. Foram-me deixadas pistas que me trouxeram até esse ponto, não foi minha intenção invadir seu território. – Curvou a cabeça em reverência. – Peço desculpas por isso.

– Entendo. Há um elfo nessa fissura, mas ele não está perdido e tem permissão para estar aqui. Você e seu pássaro podem voltar agora. – Ele indicou a direção de onde Kyungsoo viera antes.

Permissão? Jongin poderia estar ali quando não era permitido para nenhum outro elfo na floresta? Nem mesmo os generais de alta patente podiam. O que diabos estava acontecendo ali?

– Eu quero vê-lo. – Retesou os músculos ao receber um olhar irritado dos olhos de prata quente. – Eu preciso saber o que está acontecendo para reportar aos superiores.

– Você acabou de dizer que não foi enviado. - rebateu.

– Mas eles darão falta de um soldado e me questionarão. É bom que eu já tenha um relatório, assim não precisarão fazer buscas e mandar um esquadrão todo até aqui.

Kyungsoo usou sua observação rápida sobre a criatura para argumentar à altura. Era claro que ele não gostava de visitas, então a menção da possível vinda de mais elfos até à fissura deveria surtir algum efeito. A expressão dele não demonstrava pistas sobre sua inclinação a aceitar ou não o argumento, permanecia inabalada. Apenas seu silêncio denunciava que ele ponderava a fala do elfo.

Era isso que pensava o feiticeiro enquanto a realidade era que criatura a sua frente comunicava ao irmão dentro da caverna que o elfo estava ali e queria ver aquele que ele mantinha consigo.

Dentro da montanha, o outro parecia hesitante em sair de perto de seu elfo ainda enfraquecido, mas fora convencido quando a possibilidade de mais elfos circulando na fissura foi levantada. Tudo o que queria era aproveitar a companhia daquele que despertou o calor que há muito tempo estava apagado dentro de si. Por que tinha que lidar com tantos obstáculos quando deveria ser fácil. Tudo era muito fácil para ele desde a sua criação, Jongin era a primeira coisa pela qual teve apresso a ponto de sentir medo da perda, e era também a primeira coisa que lhe rendia tantos problemas.

Acabou cedendo, colocou o corpo moreno sobre um amontoado de tecidos para mantê-lo aquecido, depositou um beijo sobre os lábios ainda opacos e se levantou para sair.  Esquivou-se entre as rochas e passou pela entrada escondida pelo feitiço ilusório milenar que fora conjurado ali por seu antigo mestre. A verdade era que era sim possível entrar, mas precisaria encontrar a entrada para isso e ele e seu irmão eram os únicos capazes de ver o local exato da entrada pelo lado de fora. Ao sair avistara as costas do elfo visitante, mas sua atenção desviou-se rapidamente para seu irmão parado de pé mais adiante.

Kyungsoo sentiu a presença mágica surgir às suas costas e virou-se já consciente de que era pertencente ao segundo guardião.

Este era pouco mais baixo que o primeiro, mas ainda mais alto que si. Tinha cabelos dourados e compridos, olhos tão vivos quanto os pertencentes ao primeiro com apenas a cor para diferencia-los. O novo guardião tinha o cristalino iridescente e, se possível, ainda mais hipnótico que a cor de prata quente.

Kyungsoo teve um momento de fragmentos de informação se chocando dentro de sua mente. As peças vinham de todos os lados e se colavam muito rápido, criando uma linha temporal com figuras conhecidas, palavras ouvidas, imagens

“Cristal e metal.” Kai sussurrou-lhe pela primeira vez desde que percebeu que poderia ser ouvido. Não gostava da sensação de ser ouvido por outros que não seu mestre. Por isso voltou a resignar-se quando o novo guardião lhe encarou curioso.

– Parece que você sabe bastante sobre essas montanhas, corvo. – O recém-chegado lhe encarou fixamente. A ave deixou claro que não responderia então ele dirigiu-se a seu irmão. – O que fazia aqui fora Jaejoong, não é imprudente sair da montanha em plena luz do dia?

– Achei que fosse um ladrão como aqueles de ontem, mas quando saí vi a insígnia da floresta no broche. – Apontou para a peça de metal delicadamente forjada com o símbolo do reino de onde viera e que agora prendia a capa de Kyungsoo. – Ele veio procurar pelo elfo que está com você.

Então, sob a menção de Jongin, o guardião finalmente deu atenção ao outro elfo presente ali. Observou os olhos negros e redondos com minúcia, deliberadamente intimidador. Não tinha a intenção de entrar em conflito com os elfos da Floresta Anciã, entretanto, deixaria claro para aquele pequeno ser que Jongin não sairia de perto dele por outro motivo que não fosse vontade própria. Tudo o que almejava era que o moreno abandonasse o acampamento e vivesse consigo nas montanhas. Jongin, em suas idas à caverna, contava ao outro tudo o que lhe afligia. Todas as vezes que foi subestimado pelos mestres, cada pequeno desastre causado por sua imperícia, a culpa que sentia ao ver seus amigos assumindo as penalidades pelo que ele causava. Todos julgavam-no quando o erro era deles, e só deles, desde o início. Era claro que aquele acampamento não era o lugar certo para seu elfo de cabelos negros, seu lugar era nos braços de quem estava disposto a lhe acolher sem nenhuma exigência.

– Sou Kyungsoo da Floresta Anciã, companheiro de Jongin. – Curvou a cabeça em reverência respeitosa. – Minhas pistas me indicaram que ele está aqui e gostaria de vê-lo para informar meus superiores sobre seu estado. Ele está bem?

O guardião hesitou surpreso antes de suavizar a expressão em um sorriso discreto.

Jaejoong, vendo aquilo, franziu o cenho confuso com a reação. Seu irmão não sorria para alguém que não fosse Jongin há alguns milênios. Aquele elfo era o quê?

Ele não tinha consciência de que aquele nome foi ouvido repetidamente durante o tempo que passou com Jongin. Era ele, Kyungsoo, o elfo que protegia Jongin de todas as consequências maiores de seus desastres. Sua postura defensiva se esvaiu completamente ao saber que era ele à sua frente. Podia considerar que desenvolveu certo apreço pelo elfo de cabelos vermelhos que Jongin considerava tão respeitável. Devia agradecimentos sinceros à ele pelo tempo que passou ao lado do moreno, quando ele mesmo não podia estar.

– Ele está seguro, Kyungsoo. Mais seguro aqui do que no acampamento onde seus superiores não lhe ajudam a evoluir. – Se esforçava para não usar sua postura altiva habitual, queria passar a mensagem certa ao elfo. – Lhe agradeço por cada vez que você esteve ao lado de Jongin quando ele precisou. Ele me falou de você com carinho que eu cheguei a invejar, então foi realmente importante para ele. Há algum tempo que peço à ele para viver aqui, para continuar o treinamento adequado sem precisar cruzar a floresta infestada de ladrões todas as vezes que vem até mim. Você foi de grande ajuda em todos os sentidos, mas agora é o momento onde ele seguirá comigo.

Kyungsoo sentiu o peito apertar ao ouvir o tom do guardião. Aquela suavidade que tomara seu rosto bonito ao começar a falar de seu aprendiz denunciava o carinho e cuidado que mantinha por ele. Aquele cuidado era assustadoramente parecido com o que o próprio Kyungsoo guardava no peito. A vontade de proteger Jongin contra qualquer mal que o mundo pudesse lhe direcionar, se fosse necessário criaria um abrigo com os próprios braços e impediria que ele saísse dali pelo resto da eternidade, mataria quem mostrasse a mínima intenção de machucar seu corpo ou coração. Era tudo o que Kyungsoo fazia por Jongin e aquele guardião se mostrava disposto a assumir dali em diante.

Seria possível que Jongin tenha desenvolvido esse tipo de relação com uma criatura tão poderosa e, muito provavelmente, imortal?

– Eu quero vê-lo. – A voz de Kyungsoo tremeu sem que ele pudesse controlar. Sua natureza orgulhosa gritava para que parasse de se comportar tão pateticamente, mas Jongin valia mais do que isso. – Por favor.

O guardião notou a agonia que o elfo à sua frente transparecia, tanto pelos olhos molhados quanto pelas mãos e voz trêmulas. O simples fato de estar ali, se arriscando em território proibido a procura de Jongin, já deixava claro que tinha sentimentos mais intensos que amizade por ele. O fato de um elfo se prostrar a um pedido submisso como ele fazia agora era prova de que esses sentimentos eram muito mais fortes do que julgara. Com a consciência de que Kyungsoo era um possível rival, não deixava de sentir-se ameaçado e com medo de que ele pudesse convencer Jongin a partir. No entanto, devia muito a ele. Precisaria confiar na decisão de Jongin.

 

 

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O verão finalmente deu lugar ao outono. E depois o outono cedeu lentamente sua floresta acolhedora para o frio do inverno.

Os elfos do acampamento da Floresta Anciã agora seguiam suas rotinas entre o tapete branco, úmido e frio.

As rondas pela área de proteção ficavam mais difíceis entre a neve, com as botas afundando na camada grossa de gelo e que por vezes se misturava à lama, com o frio castigando os ossos mesmo por baixo das vestes cinco vezes mais grossas.

Apesar disso, o inverno trazia vantagem para os generais que guiavam os jovens em treinamento. O treinamento físico fora reforçado para aproveitar o efeito das baixas temperaturas no corpo dos guerreiros.

Chanyeol era um desses guerreiros, pressionando os músculos até a exaustão no ar congelante. Ele, assim como os outros guerreiros divididos em duplas de prática naquele campo de treinamento, vestia trajes feitos de tecido que seriam facilmente ignorados em uma equação de resistência térmica.

Estavam naquele campo desde o amanhecer – mesmo que o Sol não fosse visível entre as nuvens densas –, divididos em duplas e colocados frente a frente para executar a sequência de vinte movimentos demonstrada por Kangta – general do exército dos elfos da floresta anciã – e Changmin – um de seus soldados mais habilidosos – apenas uma vez. As ordens bradadas pelo general do exército precisavam do dobro de esforço para cortar o vento frio, sendo seguidas pelos soldados ao que estes se moviam agilmente e em sincronia perfeita.

– Do início! – Gritou em plenos pulmões.

Chanyeol, que tinha a espada pressionada sobre o escudo de seu parceiro, recolheu a lâmina e os dois se colocaram em guarda.

– Ataque!

As lâminas voaram contra a neve que caía incessante em movimentos ritmados, ocasionando sons abafados de metal contra metal e das botas amassando a mistura de neve e lama sob seus pés. Chanyeol era rápido e eficiente em cada golpe, e fazia seu parceiro ter dificuldades em acompanhar seu ritmo.

Estava cansando-se de reprimir seus movimentos para igualar-se aos outros guerreiros em treinamento.

Em uma inversão para posição de defesa, o outro elfo não conseguiu se posicionar à tempo e foi obrigado a livrar-se do escudo pesado e recuar para não acabar com a lâmina atravessada no próprio ombro. A espada de Chanyeol atingiu com força a grama quase morta abaixo da neve, enquanto o escudo do outro caiu ao seu lado com um baque surdo.

O som jamais seria ouvido acima dos ventos violentos, mas pareceu um gatilho estrondoso ao que fez todas as outras duplas pararem o que faziam e olharem a imagem. Alguns se perguntavam se o guerreiro caído fizera algo errado, outros desconfiavam de Chanyeol e seu hábito de mostrar suas habilidades superiores para afrontar o general. Mas todos alternavam em olhares apreensivos para o general Kangta.

O elfo mais velho estava de pé ao lado de Changmin a pouco mais de cinquenta metros de onde Chanyeol ainda arfava com a espada cravada na terra. Seu olhar tão inexpressivo e a postura tão altiva quanto em todas as vezes que seus subordinados o viram. Ao notar que todos haviam parado o que faziam, saiu do lado da árvore que o protegia do vento e caminhou até os dois guerreiros que desordenaram sua turma. Os cabelos negros e lisos que desciam até a base da coluna se agitavam numa desordem quase artística contra o cenário branco. Chanyeol se apressou em colocar-se de pé assim que os pés de Kangta entraram em seu campo de visão.

Chanyeol era um guerreiro alto e de boa constituição, mas parecia uma figura frágil próximo à Kangta. O general era mais alto que qualquer elfo já nascido no reino da floresta anciã, e forte, muito forte. Seu tronco e membros eram cobertos por músculos potentes, compondo a figura grande e intimidadora.

– Parece que sua velocidade melhorou em sua última viagem, Chanyeol. – observou com a voz linear de sempre. – Não acho que possa encontrar alguém no mesmo nível entre seus companheiros. – Dirigiu o olhar ao outro elfo ainda caído sobre a neve por um momento curto, logo se virando para o restante dos guerreiros e dispensando-os com uma ordem alta. – Você fica. – Ditou à Chanyeol quando ele fez menção de acompanhar o grupo e caminhar para dentro da floresta, em direção ao acampamento.

Chanyeol obedeceu, permanecendo de pé contra o vento e a neve que caía mais intensamente agora. Seus lábios estavam começando a queimar e ele perdia a sensibilidade dos dedos por ficar imóvel, apenas perdendo calor para o ambiente.

– Pegue sua espada. – Kangta não tinha a intenção, mas tudo o que saia de sua boca soava como uma ordem.

Não foi preciso muito esforço para Chanyeol entender o que o general queria. O maior dos dois também empunhou uma espada e um escudo de treinamento do grupo, girou a lâmina no ar para reconhecer seu peso e então posicionou-se em frente ao aprendiz. Ao ver que seu superior estava pronto, Chanyeol também se pôs em guarda e esperou a ordem de Kangta. Quando o sinal foi proferido, os dois começaram a sequência. Kangta ergueu a espada e desceu em um movimento tão rápido que Chanyeol quase não viu a lâmina se direcionando ao seu peito. Foi por muito pouco que conseguiu posicionar o escudo antes que fosse atingido.

– Mais rápido, Chanyeol!

E o guerreiro acatou. Era sua única opção, já que estava em uma luta com um oponente muitos níveis acima do sua habilidade de combate. Não existia a possibilidade de vencer aquele combate e, a menos que quisesse sair dele morto, era melhor dar tudo de si e rezar para que Kangta pegasse leve.

Ajustou a posição dos pés e executou seu próximo movimento, desenhando uma meia lua no ar e atingindo a lâmina da espada de Kangta. Aquele movimento não estava na rotina, Kangta devia ter usado o escudo para se proteger. Não teve tempo de questionar, pois logo a lâmina do general forçou a sua a deslizar com um silvo agudo e voltou em direção a suas costelas com mais velocidade do que o primeiro golpe. Chanyeol não conseguiu usar seu escudo, então soltou-o no chão e usou as duas mãos para empunhar a espada e firmá-la para bloquear o golpe. Tremeu um pouco pela diferença de força física entre os dois, mas obteve êxito em defender-se. Kangta não demonstrou, mas estava internamente satisfeito com o raciocínio do jovem elfo. Seus planos para Chanyeol eram grandes, era ótimo vê-lo atendendo à suas expectativas.

 

||

 

Baekhyun estava deitado despreocupado, com a cabeça apoiada nos braços, os olhos fechados, concentrado apenas no som das cordas da harpa de Jongdae. Haviam chegado a pouco tempo do treinamento com arco no campo leste e aproveitavam o calor do alojamento. As pedras faziam o ambiente se tornar acolhedor e muito mais atrativo do que o inverno que reinava do lado de fora.

Jongdae sentia falta de sua harpa quando saía para treinar tiro, então buscou logo o instrumento quando chegou e tocava uma melodia delicada desde então. Seus dedos eram finos e habilidosos, puxavam cada corda com total domínio das vibrações que provocaria nelas. Era meigo e calmante.

Tudo que Chanyeol precisava quando atravessou a porta, deixando uma rajada de vento frio atingir o interior do alojamento. Ele arrastava a perna direita e tinha um corte no braço, pouco abaixo do ombro, mas ainda tinha um sorriso estranho nos lábios quase azuis de frio. Baekhyun levantou-se em um pulo ao notar o estado de Chanyeol e se colocou ao seu lado na intenção de servir de apoio. Chanyeol o dispensou com um gesto simples e se forçou caminhar sozinho até a própria cama. Baekhyun odiava o orgulho desenvolvido pelos guerreiros com todas as forças, mas aprendera a ignorá-lo para conviver bem com o guerreiro com quem ele dividia o alojamento. Se limitou a aquecer um pouco de água e colocar no chão, aos pés de Chanyeol, com um tecido suave dentro para que ele limpasse os próprios ferimentos.

– Ora, ora... – Jongdae foi o primeiro a quebrar a tensão entre os dois. – Não era Park Chanyeol o melhor guerreiro em treinamento dessa floresta? Quem foi o deus que desceu aqui e te deixou em pedaços assim, grandão?

O maior retirou a parte superior de suas vestes, pegou o tecido e torceu o excesso de água.

– Eu estou feliz por estar vivo, Jongdae. – Pousou o tecido no corte, pressionando para que a água quente transformasse o sangue seco em líquido novamente. – Quem me deixou em pedaços foi o general Kangta.

Jongdae e Baekhyun soltaram exclamações surpresas e o bardo torceu a feição em uma expressão dolorida.

– O que você fez de errado?

– Nada. Eu apenas não quero mais me conter para acompanhar o avanço da equipe onde fui colocado. Acho que ele quis testar até onde pode me pressionar.

– Isso parece sinal de uma promoção para a guarda do reino. – Jongdae concluiu e o guerreiro sorriu.

Guarda do reino era o próximo cargo na escala militar de guerreiros. Começavam como classe de iniciação às técnicas de combate, quando dominavam o necessário passavam para patrulha da floresta, então para expedições em nome do reino, em sequência a guarda do reino esculpido na montanha e após isso a escalada passava para cargos de liderança que só exigiam novos ocupantes em casos extremos. Ser elevado à guarda do reino era o objetivo de Chanyeol, não queria precisar substituir seus líderes.

– Espero que sim.

– Aproveite que vai ao reino e diga ao Rei que ordene ao velho Sooman para vir até aqui e tirar Kyungsoo da concha onde ele se enfiou.

Baekhyun sentou-se ao lado de Chanyeol com um copo de chá anestesiante fumegando e ofereceu a ele. Chanyeol deixou o pano molhado e sujo dentro da água e aceitou agradecido. Baekhyun não parecia ter a intenção de desistir de cuidar de um guerreiro que não queria ser cuidado, era um traço estranho da personalidade daquele pequeno de cabelos castanhos. Tomou um gole curto antes de perguntar:

– Kyungsoo ainda não saiu? – Baekhyun negou com a cabeça, o fazendo suspirar.

Desde a partida súbita de Jongin, Kyungsoo se fechou dentro do próprio alojamento e não saia mais de lá. Viam que era Kai quem buscava mantimentos para ele, mas era bem provável que o corvo estivesse agindo por conta própria para garantir que seu mestre não definhasse até a morte. Era muito tempo para ficar trancado, isolado, ignorando todas as convocações feitas por superiores. Mandaram um dos mestres até o alojamento para exigir que ele cumprisse com suas obrigações, mas encontraram apenas uma barreira impenetrável. A proteção criada por Kyungsoo não era conhecida pelos mestres em magia do acampamento, não cedia nem mesmo aos seus amigos mais próximos e somente Kai era capaz de atravessá-la. Tentaram capturar o corvo e usá-lo, mas aquela ave detinha mais inteligência do que todos os elfos da Floresta Anciã possuíam juntos. Logo ficou claro que ninguém conseguiria tirar Kyungsoo de lá sem que ele quisesse sair.

Ninguém exceto Sooman.

O velho mestre foi quem ajudou Kyungsoo a entender os próprios dons quando ele era um feiticeiro em fase de descoberta. As chances de ter sido Sooman quem ensinou a Kyungsoo o processo de criação da barreira que protegia seu alojamento eram muito altas, então ninguém melhor do que o velho para tirar Kyungsoo de lá.

Seria simples, se a última notícia sobre o mago não datasse de duas primaveras atrás.

 


Notas Finais


Por hoje é isso, estrelinhas <3
Beagle line é um amor, né nom? Pelo meu próprio bem, não confirmo nem nego o que rola dentro desse alojamento que eles dividem *moonface* Sintam-se livres para imaginar ~

Pra quem quiser visitar e obter algumas informações extras: https://www.tumblr.com/blog/pedaco-da-lua


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