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História Pedaço da Lua - Capítulo VI


Escrita por: Downdownbaby

Notas do Autor


Então... Eu acho que o plano de voltar logo não deu muito certo /cry

~Enjoy it

Capítulo 7 - Capítulo VI


De alguma forma, Jongdae tinha gotas de suor deslizando pelo rosto bonito. Tremia e murmurava coisas desconexas enquanto se contorcia sobre os lençóis da cama onde Sooyoung pediu que o deitassem. Os companheiros lhe olhavam com perplexidade. Se não conhecessem as artimanhas daquele patife, acreditariam que ele ficara doente de verdade em meio à atuação.

Como Kai instruiu, eles bateram à porta e pediram abrigo e ajuda para Jongdae, um pobre elfo enfraquecido nos braços de Chanyeol.

Quando a porta de madeira deslizou até abrir uma fresta não tão grande, quem os recebeu foi Yerim, uma humana muito baixa, de cabelos clarinhos e olhos castanhos, grandes e desconfiados. Pelo que tinham ouvido ela era a mais jovem das duas irmãs. Kai havia garantido que ela sabia do plano e que Loofhi convenceu-a a aceitá-los, mas não era o que parecia quando aquele par de orbes assustadoramente analíticos os encarava profundamente enquanto a mente imprevisível parecia debater em seu interior sobre a decisão de deixar ou não o grupo de criaturas altas demais entrar em sua pequena cabana.

Por mais que Loofhi reforçasse que eles eram confiáveis, ela não queria ninguém perto de Sooyoung.

E se a chamassem de louca quando ela começasse a falar de seu reino? E se fizessem perguntas demais? Não gostava de arriscar a paz que ela e a irmã construíram naquele refúgio. Sooyoung estava tão feliz vivendo ali que ficava claro que o melhor era deixá-la longe de estranhos e todas as suas regras sobre verdade e mentira.

Fechou a expressão e ia bater a porta na cara do homem de cabelos brancos quando Sooyoung surgiu atrás de si e olhou para o elfo que tremia nos braços do outro. A mais velha estava tão absorta na tarefa de separar e triturar ervas secas para colocá-las em seu estoque particular que nem ao menos ouviu as batidas na porta, por isso ficou curiosa ao ver a irmã menor olhando pra fora. Mal pode crer em seus olhos quando avistou o grupo de visitantes, mas teve a sua alegria quebrada quando viu que um deles estava doente. Antes que Yerim pudesse contê-la, a mais velha saiu da cabana sem se importar com os próprios pés descalços em atrito com o exterior e foi até Chanyeol. Seus olhos castanhos observaram a face de Jongdae, compadecidos do estado dele. Ousou afastar uma mecha dos cabelos compridos que caía sobre o rosto dele.

– Por Ehllona… O que houve com você? – perguntou mesmo que soubesse que ele estava inconsciente e não lhe daria resposta.

– Sooyoung, ele não está doente. – Yerim alertou a irmã, pegando em seu braço e tentando trazê-la de volta para o interior da cabana. Cada viajante daquele grupo prendeu a respiração quando Sooyoung olhou para eles em dúvida, logo voltando a estender a palma sobre a bochecha corada de Jongdae.

– Não seja assim, Yerim. – advertiu a menor e se livrou do aperto – Eu conheço um doente quando vejo um.

– Também não sabemos que tipo de mal caiu sobre ele. A febre persiste há dias. – Livre da tensão anterior, Chanyeol tentou soar convincente, apesar da falta de prática com mentiras.

– Temos medo que ele não resista até chegarmos ao nosso reino, não sabe o alívio que senti ao encontrar Loofhi e saber que aqui vivia uma rainha tão talentosa com a medicina da floresta.

Foi Kyungsoo quem surpreendeu a todos com a dramatização e conseguiu convencer as duas a deixá-los ficar. Sooyoung por compaixão do enfermo. Yerim por ver que eles estavam dispostos a cooperar e não questionar o reinado de Sooyoung.

– Loofhi é muito gentil. Eu apenas aprendi a preparar alguns chás. Tudo bem que esses chás salvam vidas. – sorriu em falsa modéstia, obviamente esperando mais elogios às suas habilidades – Mas não deixam de ser chás. – Kyungsoo reparou que o ritmo das palavras e entonação que ela usava nestas lembravam Sooyoung, a ninfa. – Venham, entrem.

Yerim deslizou as duas folhas da porta para que todos pudessem passar. O interior da cabana era consideravelmente pequeno e muito bem organizado. O lado por onde entraram tinha apenas as duas portas grandes e a parede decorada com flores e cristais pendendo de barbantes trançados com fibras naturais.

À esquerda deles havia uma parede com três janelas altas e estreitas, onde se apoiava uma mesa de madeira rosada e dois bancos de pernas finas e compridas. A bancada estava coberta pelas ervas secas que Sooyoung tratava antes, os utensílios usados na tarefa - um pilão pequeno o bastante para caber na mão da humana, garrafas, um fogareiro, uma balança e seus pesos, uma tesoura e um conjunto de facas - também descansavam ali.

Mas era olhando para frente que se encontrava a parte que mais chamava pelos olhos. A parede tinha prateleiras de uma extremidade à outra, cheia de livros antigos, velas, pergaminhos, caixas com fechaduras douradas e garrafas de todos os tamanhos e formas imagináveis com ingredientes em seu interior. Alguns facilmente identificáveis - flores, folhas, areia, asas de insetos -, mas outros de aparência duvidosa - Kyungsoo esperava que estivesse enganado e aquilo dentro de uma das garrafas não fossem bicos de aves de verdade. Por último, à direita, havia a cama forrada com lençóis e almofadas de tecido nobre e bordados coloridos e elaborados. Kyungsoo teve uma forte desconfiança que aqueles artigos também foram furtados pelos lobos em alguma aldeia ou reino vizinho.

Sooyoung apontou para a cama enquanto falava com Chanyeol:

– Deite-o aqui enquanto eu preparo um purificador neutro. Eles ajudam com a maioria das infecções e não existe contraindicação porque leva apenas ervas naturais. Yerim, querida. – chamou a irmã mais nova – Busque algumas lascas de canela pra mim, por favor. Acho que vou precisar fazer um energizador cinza pra ele e o gosto não é dos melhores.

Dito isso ela foi até a estante e puxou uma das caixas, pousou-a na bancada depois de liberar um pequeno espaço ali e abriu a fechadura com uma chave dourada que estava presa com uma fita de seda, assim como mais algumas aparentemente iguais, em ganchos fixados na parede.

Kyungsoo se permitiu guiar pela curiosidade e espiou o interior forrado de veludo, se deparando com algumas dezenas de recipientes de vidro com mais ingredientes ali. Parecia que Sooyoung passava os dias preparando aquelas ervas para eventuais situações onde precisaria delas.

– Você gostaria de saber mais sobre as plantas, meu jovem viajante? – ela perguntou sem olhar para Kyungsoo.

O elfo olhou em volta para ter certeza de que era o outro interlocutor daquela conversa e não qualquer outra criatura que existisse dentro da mente da humana. Seria extremamente cômico se ela estivesse usando a expressão “meu jovem viajante” para se referir justamente à ele, que tinha quase quatro vezes o tempo de vida dela.

Elfos atingem a forma adulta muito mais tarde que os humanos e, naturalmente, vivem por muito mais tempo que os humanos.

– Eu conheci uma outra rainha que também transformava plantas. – ela continuou falando, sem parar o processo de procurar, encontrar, abrir e despejar um pouco do conteúdo de algumas das garrafinhas em uma chaleira de vidro delicado – Mas ela usava-as para fazer perfumes – O tom de voz derramou um pouco de desprezo ao citar o destino das ervas. – Veja se isso é algo que se faça com o que Ehlonna nos oferece? Podendo curar as criaturas da floresta, ela prefere fazer perfumes.

Kyungsoo sabia que ela falava de Sooyoung, a ninfa, porque era ela quem gostava de brincar com as fragrâncias e colocá-las em novas flores que se abririam na primavera seguinte.

– Talvez Ehlonna fique feliz ao ver suas florestas perfumadas. – Arriscou responder. – Ela gosta que cuidem da natureza na mesma medida que gosta de saber que admiram-na. Veja o seu jardim. – Apontou para a janelinha aberta que dava vista para o lago e muitas flores coloridas além dele. – As flores são ainda mais encantadoras porque tem perfumes e cores. A lembrança de estar num jardim como o seu é agradável porque as flores são bonitas e também porque são perfumadas.

Sooyoung parou o que fazia por um momento, pousando lentamente a garrafa aberta sobre a bancada de madeira rosa. Os olhos perdidos mirados para o jardim, apenas deixados ali sem realmente vê-lo, fizeram Kyungsoo se sentir um tanto arrependido de suas palavras. Aquela humana não era ruim, apenas perdida.

Gentilmente, ele tomou o frasco e a rolha das mãos dela, fechando-o com cuidado para depois depositar no local certo dentro da caixa.

– Mas eu devo admitir que prefiro saber como transformar a floresta em chás que curam. Não acha preferível saber manter um amigo vivo à mantê-lo perfumado?

Imediatamente ela voltou os olhos para ele, mudando o humor com tanta facilidade que só reforçava as afirmações de seu estado mental desregulado.

– É exatamente o que eu penso! – voltou a mover as mãos para acender uma vela pequena dentro do que antes parecia ser uma tigela de vidro mas se revelou ser a base da chaleira de vidro. Quando colocou a chaleira sobre a chama suave, voltou a explicar para seu observador. – Eu sei que usar uma chama tão fraca parece uma piada, mas eu sei o que estou fazendo. – sorriu doce – Se usarmos calor intenso demais, ou as ervas mais finas acabam derretendo antes que as mais resistentes possam, ao menos, começar a liberar suas propriedades medicinais.

Kyungsoo ouviu e assentiu sem saber o que dizer para dar continuidade aquele diálogo. Ele não lidava com aquele tipo de técnicas, suas magias eram diferentes das de Sooman, que passava semanas preso em livros e pergaminhos estudando cada componente para só então conseguir o resultado que queria. Kyungsoo sentia as forças em todos os lugares e dentro de si, então moldava-a e tudo acontecia. Por isso foi tão difícil controlar e por isso não conseguiu ajudar Jongin tanto quanto queria. Cerrou os punhos, repreendendo a si mesmo por deixar seus pensamentos voltarem ao elfo moreno que ele devia ter deixado no passado.

Olhou para o rosto de Sooyoung, concentrada na mistura que se aquecia lentamente. Virou-se e viu que Baekhyun e Yerim não estavam mais ali, provavelmente buscando pela canela que Sooyoung pediu. Então seus olhos se conectaram aos de Suho por um instante. Apenas por um instante. Porque era desconfortável olhar diretamente para a imensidão negra dos olhos daquele humano, então o elfo logo voltou-se para a janela novamente e se juntou a Sooyoung na contemplação à pequena chama.

– Sinto muito por não ser a melhor companhia para essa conversa. – disse depois de passarem um tempo observando a chama quase inerte em um silêncio incômodo – Conheço um velho mago que teria muitas dicas para lhe dar. Ele é muito bom com plantas.

– Pode parecer, olhando para todas essas coisas aqui – gesticulou indicando os livros, pergaminhos, cristais, artefatos e bugigangas que os cercavam –, mas eu não uso magia. Todas essas coisas já estavam aqui quando eu e minha irmã chegamos. Parece que quem morou aqui antes usava magia e eu até tentei estudar o que ele deixou, mas parece que não faz parte da minha essência usar as energias descritas naqueles livros. É muito provável que seu amigo mago não conseguiria me ensinar o que sabe. Mas diga a ele que venha nos visitar. Aqui é solitário na maior parte do tempo. Apesar de Yerim ser muito desconfiada até das sombras dos esquilos que vivem no jardim, eu gosto de ter hóspedes em nosso castelo.

Kyungsoo buscou no fundo dos olhos dela algum sinal de que soubesse que sabia que vivia uma mentira. Aquela cabana não era um castelo, o topo do morro não era um reino e que ela não era uma princesa. Mas ali dentro não havia o menor sinal de dúvida. A humana vivia completamente imersa na fantasia criada por si mesma e alimentada por sua irmã e uma matilha de lobos.

Durante toda a sua trajetória como aprendiz de Sooman, uma das frases que o velho mais repetia era “Existem muitas situações onde a realidade é descartável e até mesmo indesejável”. Ele dizia isso para que o jovem elfo quebrasse as barreiras construídas em sua mente, mas a frase parecia conveniente à Sooyoung agora.

 

|||

 

Quando Sooyoung terminou os chás, os viajantes se divertiram com a agonia de Jongdae ao tomá-los. Até mesmo Yerim não conseguiu conter o pequeno sorriso quando ele foi obrigado a tomar um líquido cinzento que ela conhecia muito bem o sabor acre.

– Tenho um pouco de pena do seu amigo – sussurrou para Baekhyun que também continha o sorriso ao seu lado. – Não tem canela que melhore o gosto dessa coisa.

– Ele tem alguns pecados pra pagar, então não é tão injusto quanto parece.

A humana sorriu mais aberto. Depois que Baekhyun a acompanhou até o jardim e habilmente confeccionou duas belas coroas de galhos secos e flores caídas no gramado, Yerim não foi capaz de manter a postura hostil. Por mais dura que tentasse ser, ainda era uma garotinha que foi facilmente encantada pelo talento do elfo.

O sorriso que Sooyoung abriu ao ver o próprio reflexo enfeitado com a coroa era a imagem mais bonita, brilhante e gratificante que tinha em sua memória.

Não dividiam o mesmo sangue, mas dividiam as memórias pintadas de sangue.

Sooyoung foi quem cuidou de si durante os piores dias de sua vida, quando o grupo de mercadores onde viajavam foi atacado a caminho do reino humano aos pés das montanhas e seus pais - sócios no comércio de ervas - foram os primeiros atravessados pelas lâminas dos ladrões. Eles não tinham pena, não hesitavam, não sentiam culpa. Mataram outras mulheres e matariam a Yerim também.

O ladrão baixo e assustador, de uma raça que a pequena nunca tinha visto mas já não gostava nem um pouco, estava a sua frente empunhando aquela lâmina larga e ensanguentada. “Onde vocês carregam o ouro, menina bonita?”, a voz esganiçada ainda assombrava seus pesadelos. Ela queria responder, queria entregar tudo o que eles quisessem se isso os fizesse parar e ir embora, mas estava presa em seu próprio pavor. Não conseguia se mover ou falar e aquilo irritou o ser à sua frente. A lâmina descia em sua direção e ela já aceitava a morte iminente quando alguém lhe abraçou e impediu que fosse atingida. Nos poucos segundos em que os dois rolaram algumas vezes até saírem da trilha onde o conflito acontecia, Yerim sentiu o cheiro de maresia nas roupas daquele homem substituir o fedor do sangue que sentia antes. Assim que estavam longe o suficiente da trilha, o jovem a soltou e ela viu outra menina escondida ali também.

– Sooyoung, – O rapaz que a salvou chamou a atenção da outra menina. – Você se lembra do que eu te ensinei, não é mesmo? – Ela assentiu com a cabeça, apesar de estar visivelmente tão assustada quanto a própria Yerim – Então eu quero que você prometa que vai correr o mais rápido que puder e não vai parar por nada, tudo bem? – outro aceno.

Ele abriu a boca para dizer algo mais, mas os três se sobressaltaram ao ouvir a voz esganiçada do ladrão que seguia os rastros deixados pelos dois no chão, ele se aproximava a passos cuidadosos e, quando o jovem viu a lâmina brilhar em meio a noite, pegou a mão das duas, uniu em um aperto forte e pediu que partissem. Naquela noite, Sooyoung arrastou Yerim floresta adentro. Mais tarde ela descobriria que aquele jovem que salvou sua vida era o irmão mais velho de Sooyoung, que sacrificou a vida para que as duas pudessem fugir.

Correram a noite toda, sempre em direção à Lua, sem olhar para trás. Quando o Sol apareceu, o cansaço fez com que diminuíssem o ritmo, mas não se permitiram param. As pernas de Yerim queimavam e a garganta ardia pedindo por água, mas Sooyoung não deixava que parasse. Atravessariam outra noite, se não Yerim não tivesse perdido completamente as forças e desabado sobre o gramado, quase inconsciente. No último fio de consciência, sentiu os braços gentis de Sooyoung lhe pegarem no colo e então desmaiou.

Quando voltou a si, estava deitada dentro do que um dia devia ter sido uma árvore gigantesca, e que agora não passava de um tronco caído e oco. Sooyoung estava ao seu lado, com água e alguma frutas. Assim que a percebeu desperta, lhe deu água e a fez comer. Chovia e estava frio, mas não seria nada bom acender fogo e atrair qualquer coisa dentro da floresta, então Yerim se arrastou para perto da outra garota que ainda não falara uma única palavra e se aconchegou em seu corpo. Juntas, as duas finalmente conseguiram se aquecer e dormir.

Sooyoung também tinha cheiro de maresia que acalmava Yerim.

Quando acordaram, a chuva havia passado e as duas recuperaram energia suficiente para avançar mais. Caminharam e caminharam até encontrar o jardim de Sooyoung, a ninfa. Foi lá que Yerim ouviu a voz da outra garota pela primeira vez.

Mas Sooyoung sou eu.

Ela queria, a qualquer custo, apagar o passado trágico e viver uma vida nova dentro daquele jardim bonito. Com o tempo, a ambição por outra realidade a levou a se convencer de que ela era a Sooyoung a quem todas as ninfas do jardim se referiam como vossa majestade. E foi ali que o período de paz foi cortado. Sooyoung, a ninfa, chamou Yerim e explicou a ela que não poderia deixar que a situação continuasse e se agravasse, então as duas precisariam partir. Estendeu-lhe uma sacola pequena feita de veludo vermelho e amarrado com fita verde e disse que era um presente para as duas, para que tivessem

Dentro do embrulho de veludo havia uma pedra oval, com flores em alto relevo e uma luz interior que nunca se apagava. Era a pequena pedra que mantinha a primavera eterna e acolhedora onde as duas estivessem, para que vivessem dentro de uma miniatura do jardim das ninfas em qualquer lugar onde fossem.

O jardim de Sooyoung, a humana.

 

|||

 

Quando a luz do dia foi se dispersando, Yerim acendeu as lamparinas à óleo penduradas nas partes seguras da cabana. O interior ganhou um brilho amarelado e acolhedor que aqueles viajantes não experimentava há dias, contrastante com o inverno agressivo que enfrentaram até chegar ali.

Depois de encenar uma melhora da doença que nunca teve, Jongdae pediu que Sooyoung sentasse ao seu lado na cama e ofereceu uma canção como agradecimento pelo tratamento. Os companheiros de viagem se acomodaram em almofadas confortáveis sobre o tablado da cabana, servidos da refeição que Baekhyun e Yerim prepararam quando a noite começou a cair.

O cair da noite também trouxe os lobos, um a um, para o entorno da cabana. A matilha sempre deixava a floresta para guardar a cabana durante as noites. Os filhotes mais apegados às irmãs entraram, deixando o espaço pequeno ainda mais cheio ao se espalharem entre os convidados. Loofhi ignorou o rosto assustado de Jongdae, abriu espaço na cama e deitou a cabeça confortavelmente no colo de Sooyoung. A jovem acariciava os pelos brancos do pescoço do animal e sorria enquanto Jongdae cantava uma canção galante que aprendeu em alguma taberna que não lembrava mais.

Gostava de cantar sobre batalhas e heróis, mas Sooyoung merecia uma canção de amor depois da dedicação que demonstrou ao cuidar de si. Os dedos dançavam pelas cordas num ritmo suave, tão suave quanto o tom baixo que sua voz tomou.

 

Nas mil guerras que lutei

Das mil espadas que enfrentei

Contra as mil feras que deitei

Essa armadura me guardou

 

Essa couraça foi inabalável

Contra mil flechas, imperfurável

Minha defesa impenetrável

Até que a lâmina mais doce, seu olhar, a perfurou

 

Um dos filhotes surpreendeu Suho ao esfregar o focinho gelado em suas mãos, choramingando sofrido e baixinho. O humano o olhou confuso, buscando ajuda em Yerim que estava sentada ao seu lado e também teve a atenção capturada pelo animal.

– Por que ele está assim? – perguntou baixo para não atrair a atenção dos outros ou atrapalhar Jongdae. O lobinho resmungou outra vez, amuado. Suho abriu mais os olhos com a possibilidade de Yerim achar que tinha ferido seu filhote. – Eu juro não fiz nada.

Yerim riu.

– Ei, ei... – chamou com a voz mais doce. – O que aconteceu? Você se machucou em algum lugar?

Ele apenas esfregou o focinho em Suho outra vez e a humana então compreendeu. Acariciou a cabeça do lupino e desceu até o pescoço, abrindo caminho entre os pelos brancos e enganchando a ponta do indicador no cordão metálico que encontrou ali. O filhote baixou a cabeça para que ela pudesse retirar o colar e estender para Suho.

– Esse é o filhote que roubou o medalhão que você e seus amigos querem. - explicou - Ele não costuma fazer isso, é só um filhotinho doce que queria dar um presente pra minha irmã e achou que seria uma boa ideia trazer algo do jardim das ninfas, esse bobo. Quando ele chegou aqui eu o fiz prometer que ia devolver isso e nunca mais roubar nada, mas ele estava envergonhado demais. Quando vocês chegaram, ficou com medo porque são grandes demais, então estava esperando encontrar oportunidade e se aproximar. Se ele veio até você é porque te achou o menos assustador de todos, então te escolheu pra devolver.

Suho pegou a peça em mãos e não precisou olhar mais que dois segundos para ver que era exatamente o que procuravam.

Ele ergueu o olhar e procurou cada um dos elfos, mas todos estavam concentrados em Jongdae. Todos menos Kyungsoo. Suho sentiu-se um pouco nervoso quando constatou que os olhos grandes já estavam sobre si antes que ele percebesse.

O olhar de Kyungsoo causava uma inquietação desconhecida dentro do humano. Ele suspeitava que fosse consequência do desespero de não conseguir se aproximar dele e completar a missão que tinha recebido. Kyungsoo e sua postura defensiva haviam tornado tudo tão difícil, tão estressante.

Engoliu toda a inquietude e mostrou a ele o medalhão que tinha em mãos. O elfo apenas assentiu brevemente, sinalizando que o humano podia manter o colar consigo por enquanto.

Suho se arriscou a sorrir em resposta e guardou o medalhão em um bolso. Acariciou o topo da cabeça do pequenino, sussurrando um “obrigado, menino” para ele. Foi tudo o que o filhote precisou para se sentir menos culpado e se aninhar no colo de Suho, aproveitando dos carinhos que recebeu dali em diante.

Enquanto Jongdae seguia com seu espetáculo, Kyungsoo mantinha os olhos sobre Suho e Yerim. A humana também não prestava atenção no artista, sorrindo pequeno ao observar o humano ao seu lado. O elfo ruivo achou graça da situação, vendo que Suho estava completamente alheio a atenção que recebia, perdido demais em mimar o filhotinho de lobo que tinha no colo. Suho parecia muito mais confortável dentro do clima quente da cabana, mas seus lábios ainda estavam rachados pela exposição ao frio intenso do inverno que reinava fora do jardim particular de Sooyoung.

– Não quero parecer invasiva, mas você é um humano? – arriscou a jovem, depois de muito tempo apenas olhando.

– Sou. – Piscou confuso. Era a primeira vez que ouvia aquela pergunta. – Por que a dúvida?

– Além de estar acompanhado de tantos elfos, seu cabelo é estranho para um humano. – apontou.

– Faz sentido. Mas essa cor é uma espécie de herança. Nada extraordinário. Ao menos que eu saiba. – Sorriu ao lembrar-se com carinho das reuniões onde toda a família vinha ao castelo. – Todos os os meus ancestrais tiveram e todos os meus descendentes terão. Alguns aldeões especularam que nossa família descende de algum envolvimento entre raças, mas nada que puderam provar. O seu cabelo - Apontou para os fios de Yerim, não tão claros quanto os seus, mas dourados como não era comum aos humanos daquela região. –, ele também é diferente do que os que eu costumava ver entre os humanos.

– Isso é uma espécie de herança também. – Sorriu, pegando uma mecha e brincando com ela enquanto explicava. – Sooyoung o deixa assim com flores de camomila.

– É uma ideia muito boa. Seu cabelo é bonito e deve ser por isso também que você cheira tão bem.

Kyungsoo arregalou os olhos, abismado com a audácia do humano. Estava claro que Yerim tinha acabado de sair da fase que os humanos consideravam infância. Como ele podia fazer um elogio ambíguo daqueles? A menina, no entanto, não se incomodou - ou talvez não tenha tomado o comentário tão profundamente quanto Kyungsoo -, apenas sorriu feliz e acenou positivo. Timidamente, pegou cheirou a mecha que brincava entre seus dedos e sorriu feliz mais uma vez antes de ver que Suho estava novamente ocupado brincando com o filhote. Com a certeza de que ali estava o fim da conversa dos dois, passou a prestar atenção aos versos de Jongdae.

 

Versos tão doces estes que não tardou muito até que o sono viesse para Sooyoung. Envolta pelo sentimento acolhedor que a voz de Jongdae aliada a vibração das cordas da harpa e a respiração calma de Loofhi traziam, seus olhos foram pesando aos pouquinhos, sendo seduzida pelo mundo dos sonhos.

Jongdae finalizou a melodia com delicadeza quando sentiu sua principal espectadora deitar a cabeça em seu ombro. Yerim se levantou e ajudou-o a acomodar Sooyoung na cama. Então preparou o piso da cabana com cobertores grossos e macios, forrando quase todo o interior para acomodar o número grande de convidados, apagou a maioria das luminárias da cabana e, enfim, se deitou ao lado da irmã e adormeceu também.

A sensação de finalmente poder passar a noite em um abrigo quente e seguro levou até os elfos a se permitirem um descanso.

Contra a própria vontade - mas por capricho dos fios do destino - Kyungsoo acabou deitado ao lado do humano. Perceber que a proximidade causava inquietação apenas em si o deixou ainda mais irritado, porque Suho apenas cobriu-se com os tecidos macios e caiu em sono profundo. O peito subia e descia quase imperceptivelmente, conforme a respiração calma escapava pela boca entreaberta e machucada.

Como os humanos podem ser tão frágeis e ainda assim tão destrutivos? Se perguntava ao observar o perfil da face inerte do homem deitado ao seu lado.

A raça humana era um paradoxo que incomodou Kyungsoo por muito tempo. Eles eram capazes de destruir tudo o que tocavam, mas também morriam com tanta facilidade - começando com o tempo médio de vida curto ao que foram amaldiçoados. Talvez os deuses soubessem que, caso tivessem mais tempo de vida, a raça humana poderia destruir tudo até que não restasse um mísero grão de areia.

 

Desviou os olhos de Suho para a janela quando um uivo alto cortou o ar silencioso.

 

Sentou-se de imediato e logo todos os outros elfos o acompanharam, buscando entender o que acontecia lá fora que levava a matilha a se alarmar. Kyungsoo sentiu os um toque em sua mão, se deparando com um humano de olhos abertos com muito custo lhe encarando.

– O que está acontecendo? – perguntou com a voz rouca de sono.

Assim que a pergunta foi finalizada, ouviu-se um rosnado nada amigável do lado de fora. O que quer que estivesse lá fora, estava se aproximando; o que quer que estivesse se aproximando, não era amigo; e o que não fosse amigo, eles enfrentariam.

– Agora vamos descobrir se tem alguma utilidade em combate, humano.

Suho optou por não se prender ao insulto subliminar de Kyungsoo quando entendeu que estavam sendo atacados. Ao contrário, pôs-se de pé e olhou o ruivo de cima antes de responder:

– Pode me dar uma espada agora e tirar suas conclusões depois, elfo.

 


Notas Finais


Já me desculpo pelos erros que devem ter por aí, porque são cinco da manhã e minha revisada não deve estar boa (vou revisar de novo mais tarde, prometo q).
Foi muito gostoso escrever esse capítulo porque as pesquisas me levavam à coisas lindinhas (parte da demora se deve à minha falta de foco e facilidade de me perder nessas pesquisas SOS) que vou postar no tumblr.
But tem uma dessas coisinhas que eu queria deixar aqui mesmo: https://youtu.be/WCRxZL5TYHU - Broken bonds é a música que eu mais gostei pra cena do Chen tocando na cama (frase ambígua oi).
Por hoje é isso ^^

~chuu


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