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História Pedaços Transformados - Perdido


Escrita por: KurohimeYuki

Capítulo 84 - Perdido


perdido

CALUM, 13 ANOS. LUKE, 12 ANOS.

-Você... – Calum tossiu, coçando a garganta. – Você ouviu? – perguntou, os olhos pinicando, embora soubesse que era desnecessário, (é claro que Luke ouviu!), mas alguma parte dele tinha esperanças que não.

Esperanças era a última que morria e Calum estava determinado a se agarrar nela até que... Até que ela se quebrasse em pedacinhos, pedacinhos microscópicos, e fosse soprada pelo vento e... E, ainda sim, Calum se agarraria a ela.

Esperanças era a última que morria e Calum não podia perdê-la.

Não podia perder Luke.

-Ela gosta de você – murmurou Luke.

Calum lambeu os lábios, os mordeu, sorriu, tentou falar algo, mas não sabia o que dizer, o que fazer.

Ele respirou e sentiu que tremia, toda a adrenalina do seu corpo ia embora e nem a felicidade de ter ganho o jogo deixava-o feliz. Porque Luke não estava.

Luke estava sentado no chão e olhava para frente, distante, perdido, com os olhos vagos, para o local que Berkeley não estava, para o local que ela tinha se declarado para Calum.

Seu amigo Calum.

Para o local que tinha visto tudo isso acontecer.

Qual era o problema consigo? Por que não podia ser ele? Por que ele não era como Calum?

-Eu não gosto dela – desculpou-se Calum rapidamente. – E não é como se ela me conhecesse realmente para que pudesse gostar de mim. Quer dizer, se ela soubesse, ela não... ela não...

-Se ela soubesse – disse Luke, apertando as unhas fortemente contra sua mão – tenho certeza que estaria ainda mais apaixonada.

Calum abriu a boca.

Luke tinha dito aquelas palavras tão casualmente que Calum não poderia estar mais sem palavras. O ato de fechar a boca teve que ser intencional, porque Calum estava boquiaberto. Luke não tinha dito aquilo para colocar a si mesmo para baixo ou porque tentava levantar a autoestima de Calum, Luke apenas tinha dito aquelas palavras e Calum não poderia estar mais feliz – mesmo que não fosse para estar feliz, porque uma garota que ele mal conhecia e que seu melhor amigo gostava tinha dado em cima dele, Calum estava.

Calum fechou a boca.

-Desculpe – disse fracamente.

-Não é sua culpa, Calum – mentiu Luke, sabendo que na verdade falava a verdade.

Não era culpa dele. Não era culpa de Calum. Calum não iria colocar a amizade deles em risco por uma garota. Por uma garota. Ga-ro-ta. Não era culpa de Calum. Luke sabia que não era, mas se ressentiu mesmo assim.

-Mas... Desculpe – repetiu Calum, sentando-se ao lado dele, cansado. – Eu não queria que isso acontecesse, eu não achei que ela fosse... Eu pensei que ela soubesse que eu não gostava de...

-É.

Luke riu, porque era o que sua irmã faria se estivesse ali, porque era engraçado, porque a atitude de Calum foi engraçada, porque rir era a única coisa que poderia fazer e mesmo isso estava quebrando-o por dentro.

-Isso não é engraçado – apontou Calum, mas os cantos dos seus lábios estavam indo para cima.

-Sim - concordou Luke.

Deveria ter sido horrível para Berkeley, todavia ele não podia parar de rir e começar a chorar, a gritar, a fazer algo que não queria, porque, embora a culpa não fosse de Calum, não fosse de ninguém, isso ainda tinha acontecido.

Seu primeiro coração partido.

Luke achou que estava levando até que bem a situação.

-Então... – Luke balançou a mão. – Como foi sua primeira declaração?

-Quem disse que foi a primeira?

Luke abriu a boca, surpreso, porque... Uau. Calum estava certo. Calum nunca disse que alguém tinha se declarado para ele, então Luke tinha assumido que ninguém nunca tinha se declarado para ele, mas Calum não iria sair espalhado isso. Seu amigo não era desse tipo.

Uau, o que mais Luke não sabia?

-Me lembre – comentou Calum depois de um tempo - para nunca mais seguir ninguém até o telhado da escola.

-O que? – balbuciou Luke, então se lembrou que... Ah, sim. Berkeley. Calum. Declaração. – Não foi romântico o suficiente para você?

-Acho que sou do tipo tradicional.

-Cartas, flores, luz de velas? – sugeriu Luke.

Calum inclinou a cabeça, refletindo, seus cabelos pretos tocando nos ombros de Luke, e Luke pensou o quanto sentiu falta disso nesses poucos dias, o quanto sentiu falta de Calum.

E era um sentir falta diferente de quando ia para o acampamento, porque lá... Lá, Luke sentia falta, mas estando cá e não estando com Calum, Luke sentia-se péssimo, porque Calum estava sozinho, porque não tinha Julie com ele, porque Luke sabia que se eles parassem de ser teimosos e pedissem desculpas um ao outro, tudo ficaria bem.

Bem, não realmente, se Calum tivesse dito qual era o problema, Luke o resolveria e tudo ficaria bem. E, embora ainda quisesse perguntar agora o que foi, Luke manteve os lábios lacrados, porque...

Calum estava ali.

Havia um silêncio estranho e um pouco incomodo entre eles, algo que nunca existiu antes (o silêncio sempre era silencioso e confortável e familiar), mas Calum estava ali. Calum estava ali e Luke não o perderia, faria qualquer coisa que fosse, fingiria que não estava incomodado, porque não queria que ele fosse embora novamente.

-Não sei. Acho que não. Acho que... – Calum olhou para suas mãos, tentando não pensar em si mesmo declarando-se, porque era uma péssima idéia, aquele não era o momento e, qualquer fosse o momento, aquela ainda seria uma péssima idéia. – Não sei. Acho que quando é alguém que você se importa – Calum tentou dar uma resposta sincera, sem ser sincero demais – não importa o que seja, você gosta mesmo assim.

Luke assentiu, seriamente, porque sabia que era verdade, porque era verdade, porque se via gostando de coisas que não gostava apenas porque Julie gostava e estava feliz e Luke não podia se ver amando alguém mais do que sua irmã.

Nem mesmo Berkeley.

Principalmente Berkeley.

-Você...

Calum tossiu, como tinha feito antes, coçando a garganta, e Luke o interrompeu, empurrando-o com o ombro, porque não queria ouvir "você está bem?", porque não sabia a resposta e nem queria saber, porque, embora não soubesse, Calum sabia e Luke não queria ouvir, ser chamado de mentiroso ou... apenas saber.

Luke não queria saber.

-Vamos ficar aqui mais um pouco – disse, porque talvez ele não gostasse tanto assim de Berkeley como achava, mas ainda doía.

Talvez não fosse um coração partido o que tinha, mas seu coração ainda estava machucado.

Talvez tudo não estivesse bem com Calum, mas Calum ainda estava ali.

Calum havia voltado.

Luke não o tinha perdido.



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