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História Pedaços Transformados - Nervoso


Escrita por: KurohimeYuki

Notas do Autor


E ai? Nervosos? Preparados para o que vai acontecer?

Capítulo 93 - Nervoso


nervoso

CALUM, 13 ANOS. JULIE, 12 ANOS.

Existia nervoso e nervoso e existia algo no meio que não era nem um nem outro – Calum não sabia onde estava, em qual categoria se encaixava, porque seus pés não paravam quietos e ele já começando a hiperventilar e nem tinha saído de casa ainda e tudo já era tão..

É, ele estava nervoso – não tinha outro jeito de colocar isso, não tinha outra palavra que pudesse defini-lo, não tinha...

Calum parou, porque não tinha mais fôlego e respirou fundo e expirou superficialmente, como se temesse colocar todo o ar dos seus pulmões para fora e não ter mais nada dentro de si.

Ok, ele estava nervoso.

Calum estava tão nervoso.

Parecia que hoje era o primeiro dia de aula, num local completamente novo sem ninguém que conhecesse e... Calum sentiu uma risada histérica iniciando-se, porque, ei, era verdade: hoje era o primeiro dia de aula e ele iria para um local novo e não conhecia ninguém lá.

Mas...                     

Calum tentou se concentrar no fato de ainda não estar lá, de ainda não estar num local desconhecido, cercado de pessoas desconhecidas; Calum tentou se focar no aqui e no agora e no fato de ainda estar em casa, de estar esperando Andrew para levá-lo para escola, para sua aula de violino.

Mas...

Ele não era Julie.

Calum não era Julie e não conseguia fazer essa diferença, não conseguia se preocupar com algo apenas quando se preocupar com algo fosse... Sem volta. A única opção.

Calum iria para a aula de violino.

Calum iria para a aula de violino nervoso ou não.

Calum iria para a aula de violino e nada o faria mudar de ideia, aquela era sua única opção, era sua escolha, e era sem volta.

Calum iria para a aula de violino.

Era como Liz lhe disse: era o primeiro dia de aula para todos ali, todos ali não sabia o que era para fazer, todos estavam no mesmo pé de igualdade e nervosismo e ninguém conhecia ninguém. Todos eram novos ali e iriam aprender juntos. Calum não era o único, não estaria sozinho, não tinha porque ter medo.

Calum esperava conseguir se convencer disso antes de Andrew che...

-Ei, Calum – acenou Julie da janela do carro, interrompendo seus pensamentos e fazendo-o abrir os olhos. – Você vem sempre aqui?

-Sim – disse, hesitante. OK, Calum estaria sem medo antes de chegar a sua aula de violino. – Mas não posso dizer o mesmo de você. O que você está fazendo aqui?

Quer dizer... Aquela era a casa dela e ela tinha todo o direito de estar ali, mas o que ela estava fazendo ali, dentro do carro, com Andrew? Julie não podia estar indo para o mesmo local que ele, qualquer coisa menos isso.

-Dã – zombou Julie, como se fosse obvio. E Calum esperou, ansioso e nervoso, a resposta. – Mamãe descobriu sobre o vinho.

-E? – Calum não entendeu.

-Eu bebo vinho. Às vezes.

-Às vezes – murmurou Andrew, cético.  – Às vezes – bufou, rindo. – Me pergunto quanto “às vezes” foram esses ”às vezes” porque...

-Entendemos, papai – interrompeu sua filha, revirando os olhos. – Já entendemos. Sou uma alcoólatra. Uma alcoólatra que precisa urgentemente participar de uma reunião no AA.

-Você bebe? – pronunciou-se Calum finalmente, surpreso, chocado, cético. Isso claramente não era o que ele esperava.

Julie... Calum piscou e balançou a cabeça, boquiaberto. Ela bebia? Sua irmãzinha, sua pequena e inocente... Pff, essa não era Julie, essa era a Julie de Luke, mas Calum ainda não podia acreditar que Julie bebia.

Julie o encarou, não impressionada, porque, claro, Calum ainda achava que o mundo era redondo e não achatado nos pólos, que o mundo era claramente antropocêntrico e os humanos os únicos seres conscientes dele e sempre bons, e que fadas (ela) não existiam. E Julie o amava por isso, não a parte dela não existir, mas por ele ser assim, por sempre esperar o melhor dos outros e por sempre esperar coisas igualmente boas dela, mas... Cara, quando Calum iria aprender? Julie esperava que nunca.

-Liz Hemmings – disse ela, com uma suavidade e nostalgia que não era sua – em toda a sua sabedoria, acredita que um dia longe do meu vício irá me fazer mais forte.

-Você tem que dar o primeiro passo, não? – sugeriu Calum, recuperando-se.

-Está vendo, querida? Calum é a voz da razão, ouça ele. Ouça sempre ele.

Julie bufou, cética. Hã, sim, ela iria.

-Hã, sim, pai. Eu prometo. Suba, Calum, vamos te levar para a sua primeira aula de violino. Nervoso?

Não tinha porque ter medo, repetiu para si.

-Vai dar tudo certo – disse Andrew. – Você vai ser um ótimo violonista. Eu tenho certeza. Agora entre, Calum, estamos atrasados.

Calum assentiu. Sim, ele seria. Era o que ele queria. Era o que ele esperava. Era o que tentaria.

Calum tentaria ser o melhor violonista, ele daria o seu melhor e se concentraria em algo que não fosse... Ele não iria focar sua vida ao redor de Luke e Julie e os Hemmings. Assim como Luke precisava saber que sua vida era mais do que Julie, Calum agora entendia que ele tinha que fazer o mesmo, ele tinha que fazer algo que gostava e que seus dois amigos não gostava, ele tinha que buscar algo sozinho sem ficar acomodado.

Calum tinha que fazer amigos sozinho, assim como Luke tinha feito.

Calum tinha que estar sozinho, completamente sozinho, para isso.

E, claro, aprender a tocar algo, mesmo que fosse um triângulo, era a melhor idéia que ele pode ter, porque (Luke não era o problema, não no acampamento, agora Julie...) Julie não tentaria se envolver com algo que fosse arte, porque ela odiava, segundo a si mesma, " a mente artística e subjetiva dos artistas, que não aceita a realidade".

Hum, sim, Calum não caia nessa. O que Julie realmente odiava era sua falta de talento - não que aprender algo fosse impossível, trabalho duro podia ultrapassar talento, mas sua amiga devia ter algo contrário à talento, porque o mundo acabaria antes dela conseguir entrar no ritmo. Ou na afinação.

-Calum? – chamou Andrew.

-Hã, sim? – Calum olhou para frente, para Andrew, percebendo que divagava.

-Nós já chegamos.

-Sim – concordou, mas não se mexeu.

Oh, ele não estava com medo. Não tinha porque ter medo, não existia razão em medo, medo era sem sentido, tão sem sentido.

E Calum o tinha.

Deus, era tão ruim aquela obscuridade e pensamentos depressivos, era tão algo que Calum nunca queria ter novamente; era enxergar a luz, saber que ela estava próxima, saber que podia alcançá-la, e temer nunca encontrá-la, porque ela estava tão perto, mas nunca estava ali, ao seu lado, ela estava tão perto, então porque ele não a tinha?

-Calum – chamou Andrew novamente.

-Sim, entendi, estou indo, caindo...

-Está tudo bem ficar nervoso, ter medo – disse ele. E Calum parou, com a mão na porta, porque, se tinha alguém que podia ajudá-lo, se tinha alguém que sabia o que ele podia precisar naquele momento, esse alguém era Andrew. – Mas a única coisa que você não pode é deixá-los controlá-los. Sim, você já ouviu muito isso. Todos sempre dizem isso. Mas é verdade. Não tem problema ter medo, o que não se pode é... deixar de viver, deixar que medo seja sempre a única coisa que o guia. Você vai ter medo hoje e sempre. Sempre que você fizer uma escolha, tiver que escolher algo que importa, algo que talvez mude tudo, você vai ter medo. Medo de perder tudo, medo de nada ser igual à antes, medo de estar sozinho.

-Medo de nada, nunca, ser igual a mim – completou Julie, pensativa. – É um medo válido, eu admito.

Calum riu, grato. Porque ter medo era válido, mas ele não tinha, porque... Às vezes Calum tinha medo de perder tudo, de estar sozinho; às vezes, deitado na sua cama quando não conseguia dormir, Calum pensava que num universo alternativo talvez tivesse – nada.

Talvez, num universo alternativo, ele estivesse, mas naquele ele tinha pessoas tão maravilhosas quanto Andrew e Julie e elas não iriam desistir dele, nunca iriam deixá-los sozinhos.

Talvez sua primeira aula fosse péssima, talvez não fizesse nem um amigo, mas ele tinha os que precisava – Calum não queria estar acomodado em Luke e Julie, mas era inevitável, porque, querendo ou não (e Calum agradecia por isso), eles eram a sua base, o seu apoio quando tudo estava errado, porque eles sempre estariam ao seu lado.

-Eu não estou com medo – confessou, confiante de suas palavras.  – Não tenho razão para ter medo. Estou apenas nervoso.

-Ah... Não existe vergonha em estar nervoso – recomeçou Andrew, sorrindo para ele de um jeito zombador e tão amável que Calum retribuiu.

Sim, não existia.

-Boa sorte – disse Julie. E, quando Calum pensou por um breve momento que talvez ela ainda tivesse salvação (ele devia ser uma pessoa tão ruim para querer que ela não tivesse), sua amiga completou, provocando-o: – Você vai precisar.

-Ignore-a – disse Andrew, descartando a filha com a mão. – Se eu me atrasar, ligue para Liz te buscar.

Calum não respondeu, porque era claro que Andrew iria se atrasar. Quando foi que ele não se atrasou? Provavelmente quando algo acontecia e suas crianças apareciam no seu trabalho, querendo ser remendadas – e, ainda sim, Calum via Andrew chegando com toda a paciência do mundo, cumprimentando todos que viam, enquanto Liz enlouquecia.

-Se eu me atrasar demais – corrigiu-se Andrew, vendo os olhares céticos dos seus filhos adoráveis – mais do que o normal, chame a Liz.

-Se você me dissesse para onde vamos – sugeriu Julie, piscando os seus adoráveis olhos – eu poderia te lembrar.

-Não e não. Não vou te dizer e você não iria se lembrar mesmo que eu dissesse. Principalmente se eu dissesse.

Calum pulou para fora do carro – aquela era sua deixa de ir embora enquanto ainda se sentia por cima, confiante o bastante para entrar naquela sala, fazer amigos e arrasar.

-Tchau, Andrew, Julie.

-Eu te amo – disse Andrew em retorno, no modo automático, acenando como um bom pai.

-Eu amo mais – cantarolou Julie, seguindo o embalo e entrando no modo amiga-irmã amável.

-Hum. – Calum achava que eles tinham problemas. E que não existia uma pessoa mais sortuda na face desta terra do que ele. – Eu também amo vocês.


Notas Finais


Oh, isso parece tanto com uma despedida...


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