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História Peek - Ataeru


Escrita por: fleur_dhiver

Notas do Autor


Apareci mais uma vez com as surpresas desse mês de Novembro. Outra fanfic feita com base no tema do SSMonth, terceiro dia: Por outros olhos.
Essa fic vão ter quatro capítulos que serão postados ao longo desses dias. Espero que vocês gostem uma boa leitura a todos;*

Capítulo 1 - Ataeru


"Desculpe-me, Sakura, por tudo"

Naruto viu quando o lábio dela se comprimiu em uma linha, tremeu junto com os olhos, mas lágrima nenhuma escorreu, porém principalmente sentiu a leve oscilação de chakra que essas palavras produziram. Permaneceu a fita-la, vendo-a lutar bravamente contra as emoções que se digladiavam em seu interior. A vida inteira ele teve dificuldades em compreender sentimentos, ainda tinha para ser sincero, no entanto Sakura, aos seus olhos, tinha se tornado um livro aberto. Quando ela abaixou a cabeça e deixou que os fios rosados cobrissem sua vista, ele percebeu que estava na hora de desviar o olhar. Se ela fosse chorar não precisava de testemunhas, para ser bem sincero, depois de tudo, ele também queria muito chorar. 

Nós conseguimos. Nós o temos de volta.

Queria ter dado um tapinha confortador na perna dela, mas, bem, lhe faltava uma parte do braço e precisava de muito esforço e energia que ele não dispunha para erguer o outro. Poderia ter feito uma piada, mas não o fez também. Ficou quieto, estranhamente quieto, apreciando a fluência do chakra de Sakura, nada invasivo, apenas uma coceira ligeira que o deixava em uma moleza sem precedentes. Virou a cabeça para Sasuke, pronto para fazer um comentário que morreu na ponta de sua língua. Sasuke estava ocupado, é claro, deleitando-se com a visão que lhe foi privada por tanto tempo. Parecia concentrado. Não, concentrado não; analítico, também não; absorto, preso, cativo, focado, contemplativo... sedento, estava aí, talvez a opção mais próxima.

Se um cego recuperasse a visão estaria como ele, a diferença é que o cego estaria sedento pelo mundo inteiro e Sasuke por apenas uma pessoa. O rosto uma massa de cansaço, o olhar indecifrável acompanhava cada gesto mínimo que ela fazia. Quando ela afastou uma mecha de cabelo da frente de seu rosto, voltando a erguer a cabeça, Naruto prendeu o ar ao perceber que o olhar de Sasuke tinha se demorado na última mecha que foi roçando de leve o contorno do rosto dela.

Na verdade Sasuke era exatamente como o cego e estava matando sua sede pelo mundo inteiro. Perturbado, Naruto voltou a fitar Sakura por seus próprios olhos. Ela estava fazendo a expressão costumeira de concentração absoluta, qualquer resquício do que sentiu com as palavras do Uchiha a minutos atrás tinha sido posto de lado.

Sakura era bonita e a concentração dela era admirável, tão ferrenha e profunda, ninguém levava tão a sério o trabalho quanto ela, mas Naruto duvidava que apenas o talento inato da companheira de time mantinha Sasuke tão absorto, ou melhor ele sabia que não era só isso. Ainda podia sentir como uma presença cravada na pele dela o olhar dele, sua mente ainda trabalhava com a ideia de como Sasuke a via e como era desconcertante enxerga-la dessa forma. Talvez devesse desculpas aos dois, aquele era um momento que não deveria compartilhar, virou o rosto para o outro lado, fechando os olhos e não demorando muito a se entregar ao sono. 

Eu entrego a você o que sempre lhe pertenceu: meu coração.

Tirou a garrafa d'água de cima da mesa, enfiando-a embaixo da axila, tentando a todo custo fazer com que a tampa girasse. Deveria ter pensado que manter a garrafa deitada não era uma boa, principalmente quando fazia tanta pressão para mantê-la firme, mas não pensou. O resultado foi o jorro de água que molhou a ele e as cobertas, ficou ensopado e o som semelhante a uma risada de Sasuke não ajudou. 

— Cala a boca, teme — jogou a garrafa vazia em cima da banqueta, afastando a roupa de hospital de seu corpo. — Deveria ter me ajudado. 

— Você é um fiasco, nem para abrir uma garrafa serve. — O tom de escárnio não passou despercebido. Interessante que o maldito tivesse humor quando era para rir de sua desgraça. Procurou entre as cobertas o botão para chamar as enfermeiras, desesperando-se por não conseguir acha-lo. 

Hey, como vocês estão... Oh! — Sakura parou a porta, fitando um encharcado Naruto. Com uma risadinha ela retrocedeu, chamando as enfermeiras para o auxiliarem. 

Após as cobertas dele serem trocadas e a roupa também, Sakura entrou no quarto sentando em uma banqueta entre as duas camas. Ela pegou uma garrafa de água sobre a mesa e a abriu, oferecendo o objeto a Naruto. 

— Se estiver com dificuldade não precisa se envergonhar em pedir a ajuda das enfermeiras. — Ele se empertigou. Após uma golada generosa devolveu a garrafa para que ela fechasse. 

— Não me envergonho. — E não se envergonhava mesmo, mas Sasuke conseguia abrir a água dele sozinho. Fitou, com amargura, o amigo do outro lado do aposento hospitalar. Sasuke observava Sakura e ao notar o olhar de Naruto sobre si desviou, passando a prestar atenção na parede oposta. 

— Vocês estão se recuperando tão bem, isso é muito bom — o sorriso dela foi luminoso e Naruto a acompanhou não com o mesmo fervor, porém um sorriso animado. Apesar do braço sabia que dos males aquele era o menor, a guerra tinha acabado, a paz voltado. Agora ser feliz era mais que uma opção. — Tsunade já está vendo meios de criar um braço protético, mas vocês vão ter que ser pacientes — o olhar dela vagou de um ao outro.

Sakura colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, juntando as mãos em frente ao corpo, soltando-as logo em seguida. A cabeça abaixada, estava nervosa, ansiosa com relação a alguma coisa. 

— As... as enfer... — pigarreou, remexendo-se em seu assento. Quando foi a última vez que a viu gaguejar? Ele não lembrava. — As enfermeiras disseram que você está indo muito bem com a sua recuperação, Sasuke-kun. — Ela sorriu outra vez, porém, apesar de ver os pontos luminosos nos olhos claros, sua expressão vacilava, o sorriso era contido, quase incerto.

Era tão estranho vê-la acanhada nos últimos tempos que Naruto não conseguia parar de prestar atenção. Encolheu-se na cama e se focou em Sasuke, este apenas assentiu em resposta ao comentário dela. Os olhos negros focados na figura feminina, não desviou o olhar, não virou a cabeça, queimava como ferro em brasa e o Uzumaki prendeu a respiração. Naruto podia jurar ver um brilho diferente, mas estava distante demais para garantir. Quando Sakura se virou na direção dele teve a certeza de que Sasuke também estava tão incerto quanto ela em busca de palavras, Naruto ousou pensar que Sasuke não sabia o que dizer. 

— E você, pare de rejeitar a comida do hospital, ou eu venho pessoalmente enfia-la goela abaixo. — Naruto fez um muxoxo, afundando em seu colchão.

— Quero lamen. 

Ela bufou, levantando-se indignada e saindo do quarto com um par de olhos a seguindo. Assim que Sasuke percebeu que era o objeto de observação de seu companheiro, bufou, fechando a cara. 

— Você não tem mais o que fazer, dobe

— Infelizmente não. — cruzou o braço atrás da cabeça.

Bem queria que isso fosse apenas uma alfinetada no amigo, mas ele realmente não tinha mais nada. Seus dias se resumiam entre aquele quarto, as visitas que recebiam, tentar fazer as coisas com um braço só e fracassar, na maioria das vezes, e agora a observar a inaptidão de Sasuke para manter uma conversa. Se ele se achava ruim na maioria das interações, ver Sasuke fazia com que mudasse completamente de perspectiva. Vê-lo fracassar despertava em Naruto um toque de felicidade, uma euforia, uma vontade de rir sem razão, finalmente pode entender o que era sentir vergonha alheia. Não, ele não se regozijava com insucesso de seu melhor amigo, mas era tão incomum que ele fosse ruim em algo que não podia deixar de se divertir ao reconhecer que o senhor perfeição, não era tão perfeito assim.

Todos os dias ele o observava batalhar para dizer algo, batalhar para demonstrar mais do que apatia quando Sakura olhava para ele, lutava fortemente em busca de respostas, mas não dizia nada. Sempre parecia que quando ele finalmente tinha chegado à conclusão de algo, a Haruno já estava em outro tópico e o que ele tinha formulado já não servia de nada. Ele desistia, preferindo voltar a observa-la e responder como monossilábicos ou respostas genéricas que serviam para qualquer coisa. Sakura costumava entrar e falar de seu dia, comentar algumas coisas corriqueiras, ficar sem jeito com relação a Sasuke e esperar uma resposta interessada que não vinha, mas ela aceitava de bom grado o que ele tinha a oferecer.

Seu papel de telespectador tinha um lado maravilhoso, ele conheceu um lado de Sakura que nunca tinha notado, ou melhor, que não lhe cabia notar. Se viu prestando atenção em detalhes que ele nunca tinha percebido, mas por Sasuke perceber, ele os notou também. Como o ronronar que a risada dela fazia logo ao final; o pequeno vinco que a sobrancelha dela formava quando falava de algo que a irritava; as diversas facetas que o sorriso e olhar dela possuíam; o movimento dos lábios; a ginga suave. Detalhes, tantos detalhes se perguntava como eles tinham passado despercebido antes.

Sim, ela era luminosa, sim seus olhos eram turbulentos, sua risada cristalina, mas ali naquele quarto ele viu um prisma tão vasto, tão rico que lhe tirava o fôlego. Mas seu fôlego não era perdido por ela, por sua beleza, por suas facetas, mas por Sasuke que se embriagava de cada nuance como um viciado, sedento, desesperado.

Naruto viu e sentiu através dos olhos dele e se acanhou, por abrir aquela janela, por espiar dentro daquela vastidão tão profunda. E por essa razão observa-lo aceitar apenas a dose primária começava a enerva-lo.  Ele queria desesperadamente que Sasuke falasse algo, que se jogasse de uma vez. Ele não conseguia ver que era o que ela esperava? Uma iniciativa, umazinha sequer. Por que ele não falava? Sakura responderia, afinal era Sakura e ele era Sasuke. O que tinha para toda essa tensão?

O ponto alto foi quando Sakura ajudou Naruto a comer, por um momento jurou que Sasuke ia levantar da cama e impedi-la, mas ele não o fez. Ficou a fita-los estupefato e quando seus olhos negros se tornaram turbulentos ele virou para o lado oposto, permanecendo dessa maneira durante todo o restante do tempo em que Sakura ficou dentro do quarto. Enquanto ela volta e meia se virava para o amigo turrão tentado puxa-lo para conversa e se ressentido pelo distanciamento imposto. Sakura não iria ter a iniciativa só para ser rechaçada, e apesar de agora Naruto saber que nada do que ela servisse seria jogado ao chão, não podia fazer nada, porque não cabia a ele e Sasuke não dava abertura. Queria puxar os cabelos e juntar a cabeça dos dois.

Sasuke ficou um dia de mal humor e quando as coisas melhoraram Lee apareceu para uma visita e acabou indo embora junto com Sakura, além de tê-la monopolizado o dia inteiro. A irritação de Sasuke estava sem procedentes, por fim quando estavam os dois a sós e todas as enfermeiras desistiram de perguntar se queriam jantar Naruto decidiu colocar um fim naquela agonia, com o óbvio: 

— Você podia simplesmente dizer: "Oi". — fitou as costas do amigo que não se mexeu. — É uma palavra pequena e não tira pedaço, Sakura vai responder e todo o resto vai fluir.

— E depois? — Naruto franziu o cenho, observando Sasuke virar-se na direção dele. — Não começo algo que não posso prosseguir.

O semblante do Uzumaki se tornou pesado. 

— Ora, por que não poderia? É só uma conversa.

— Ela está diferente —o tom dele soou baixo e distante, um toque de incerteza tão improprio aquele timbre —, eu estou diferente. Não nos conhecemos mais, provavelmente não passaríamos dos cumprimentos cordiais... 

— Ela vem aqui todos os dias e conta sobre o dia dela, suas amigas, o avanço da prótese, diversos assuntos variados. Além do que você tem a mim e pode perguntar o que quiser. — Sasuke o fitou por um longo tempo antes de voltar a se virar para a outra extremidade. 

Quando Sakura entrou na manhã seguinte os dois se agitaram, porém ela trouxe Hinata e por mais que Naruto tenha ficado feliz com a presença da Hyuuga uma outra parte sua estava frustrada. Mais um dia tinha se passou e as coisas não mudaram. No dia seguinte Sasuke não estava interessado em levar os conselhos do amigo a sério, nem nos outros que vieram. Uma semana inteira se passou, o Uzumaki já tinha perdido as esperanças, para então o Uchiha resolver tomar uma iniciativa.

— Naruto, não é possível. É um pote de pudim! — Sakura o observava se entorta todo para comer a sobremesa.

— Ele não fica parado para que eu possa enfiar a colher direito — Ela revirou os olhos, por fim foi segurar o potinho em cima da bancada, ou aquilo se estenderia até ele se irritar e jogar tudo para o alto.

— Sakura — o chamado de Sasuke atraiu a atenção dos dois, ele tinha uma maçã na mão acorrentada a lateral da cama, semi estendida na direção dela —, você poderia descascar para mim? — Sakura ficou estática por alguns segundos até estender a mão e pegar a fruta, ainda perplexa com o pedido. 

— Claro... eu... — engoliu em seco, observando o prato e talheres de plástico sobre o balcão móvel de Sasuke — eu vou pegar uma faca decente. — Saiu do quarto ainda desorientada, Naruto observava ao Uchiha com um sorrisinho faceiro que Sasuke fingia não ver. 

— Aí, ai. De nada.

— Cala a boca. 

Quando Sakura voltou não tinha mais constrangimento em sua fisionomia, em vez disso ela reluzia tão brilhante quanto o sol. Puxou a cadeira para perto de Sasuke e engatou em uma conversa animada, cheia de sorrisos, a típica Sakura de volta. 

— Acho que já está na hora de dar um tempo nas refeições de hospital. — Já não era sem tempo, resmungou Naruto do outro lado do quarto. — Você quer algo de especial Sasuke-kun? 

— Não... a comida do hospital está boa para mim. 

— Eu quero. — Naruto foi sumariamente ignorado.

— Eu posso fazer o seu prato favorito ou qualquer outra que...

— Nossa, Sakura, você leu minha mente... — mesmo assim ele não se abateu com a indiferença da melhor amiga.

— Eu e a Ino começamos um curso de culinária e modéstia à parte eu ando cozinhando muito bem.

— E o que o Naruto-kun quer? Não conta? — Sasuke fez uma careta fuzilando o amigo com o olhar, mas Sakura deu de ombros. 

— Você quer lamen, já sei. 

— Nossa quanto descaso, posso morrer aqui no leito ao lado que ninguém vai se importar. Por que agora temos o Sasuke-kun — as bochechas, de Sakura, vermelhas de raiva e constrangimento deveria servir de alerta, mas ele ainda a fitou indolente. — Na minha lapide vai estar: ele só queria um lamen.

— Meu Deus! Fala, Naruto, quais sabores você quer? 


Notas Finais


Narutinho fico timido ao ver a intensidade do amor do nosso Uchiha. KKKKKKKKK Não é para menos, quando Uchihas amam não tem para ninguém ;x
Espero que vocês tenham gostado. O próximo é do Kakashi. ;D
Não deixem de me dizer o que acharam. Até breve;*


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