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História Pela Fotografia - Sobre o lar partido


Escrita por: deheoney

Capítulo 1 - Sobre o lar partido


- Aimee! Aimee!
Virei-me a modo Princesa Diana e sorri com o canto de boca para onde o flash não me cegava. Talvez pegassem um bom ângulo do meu vestido, um Victoria Beckham avaliado em quarenta e cinco mil dólares apenas na bainha.
Ser filha de um falecido empresário português não era uma tarefa fácil. Dentre todos os compromissos, entre fiscalizar vendas e escritórios pelo mundo, ainda precisava ir àquele tipo de evento, onde eu tinha de apresentar o prêmio mais famoso da noite: o de Melhor Cantor do Mundo.
Permita-me a apresentação. Meu nome é Aimee Lee, da Lee Productions, e tenho uma fortuna pessoal avaliada em trezentos trilhões de dólares. Sou filha de Matthew Lee, um famoso empresário musical, que faleceu no ano anterior, vítima de envenenamento. Só Deus sabia como sentia falta do meu pai! Não por ter de assumir todos os seus negócios e deixar de viver minha vida em campus universitários, bebendo até cair; eu era uma filha carinhosa. Minha mãe havia falecido no parto e meu pai me mimava até não poder mais. nunca havia me faltado nada: estudei em escolas caras, sempre tive os carros que queria e posterguei o ensino superior como pude.
Meu pai havia criado uma premiação similar ao Grammy e ao Oscar, uma mistura dos dois, que colocava no mesmo patamar todos os cantores do mundo e estes poderiam representar seus respectivos continentes, ao final de um ano de peneira. Ele era o primeiro ano que eu assumiria o pedestal do prêmio principal e me sentia muito nervosa.
- Srta. Lee, como se sentiu ao ter de apresentar o L Music Awards pela primeira vez sem seu pai?
Finquei a unha no espaço livre do vestido na cintura e sorri com compaixão, mais flashes estourando em meus olhos.
- Saudosa. Mas sei que meu pai esteve me guiando de onde estiver.
- Srta. Lee, está mesmo correndo perigo? É verdade que recebeu ameaças de morte nos últimos dias?
- Claro que não, que ideia! - ri. - E, mesmo que tivesse, tenho uma equipe capacitada para me proteger.
Jennifer Lopez surgiu na minha frente, puxando-me pela mão e sorrindo, comentando entre dentes para que não desse corda, que todos os repórteres só queriam o sangue da situação. Como uma novata no ramo, tomei suas palavras como as certas.
Fizemos algumas poses antes de seguir a fila. Vários repórteres me chamaram mas preferi não voltar. Falar de meu pai, por mais dolorido que fosse, me irritava. Só queriam saber de mim, o que eu comia, o que deixava de comer, de beber. Por que eu havia deixado de lado minhas roupas de couro e usava tons mais claros? Por que caralhos eu não tinha um namorado. Com quem eu estava transando? Era verdade que Ryan Gosling pensava em largar a esposa por minha causa?


Bom trabalho, Aimee!, uma voz na minha cabeça fez. Cocei os olhos, borrando a maquiagem de quatro horas no Hotel Sheraton, antes de bocejar e deixar que o som do motor macio me embalasse a um estágio de semi sono. Tirei os sapatos e olhei as gotículas de chuva que batiam na janela, lembrando-me de quando eu saía do cinto de segurança, pulando dos braços do meu pai e dizia que o céu estava chorando.
Não era uma vida ao todo, ruim. Eu acordava às seis todos os dias, e, às sete, estava no estúdio de gravação, conhecendo novos artistas pessoalmente. Por volta das seis da tarde, que é quando eu tinha um descanso e poderia almoçar, eu entrava no carro e viajava para algum local como o Japão, para ter uma reunião com algum selo que quisesse o patrocínio da L Productions. Voltava para o hotel às duas da manhã e tudo recomeçava. Havia sido assim pelos últimos seis meses, desde que meu pai faleceu. Tive de largar a faculdade de Administração (imposta, diga-se de passagem), as festinhas universitárias e meu consumo desenfreado de bebidas alcoólicas e estimulantes. Falava três idiomas, inglês, português e francês, e compreendia bem o japonês, coreano, mandarim e italiano, tantas viagens fiz em tão pouco tempo. Eu sempre fui conhecida por ser baladeira, mas, depois dos últimos acontecimentos, o baque me fez lembrar que já tinha 23 anos e não poderia viver de festinhas para sempre. Com a ajuda de uma renomada relações públicas, consegui desvincular minha imagem aos poucos. Mas ainda me perguntavam coisas como "Onde estava na noite passada?" e "É verdade que Justin Timberlake quer fazer uma música com você?". Era estressante.


Entrei em casa, um apartamento com quatrocentos metros quadrados, minha mini Versalhes - vazia e gelada, segurando meus sapatos. Eu não tinha bichos de estimação porque não teria tempo para cuidar, mas, quando era pequena, tivera de tudo. Cachorro, gato, papagaio, um periquito e até um hamster, que morreu depois que meu periquito bicou sua cabeça com força. Mas eu morava sozinha, comigo mesma, naquele palácio de Alladin, e dormia em cima de uma pintura de Velasquéz original.
Joguei os sapatos em cima da mesa e, indo até a cozinha, vi um bilhete com minha letra.
"Viagem para a Coreia do Sul às quatro da manhã. Mala pronta na porta e roupa de aeroporto, na sala de jantar. Você arrebenta, A!"
Sorri, pegando o bilhete. Era costume meu de sempre organizar as coisas com antecedência e me congratular por isso. Não teria mais ninguém para tal.
Abri a porta do quarto e me joguei na cama, onde só iria acordar dali a duas horas.

Mas não consegui pregar o olho.
Havia um som muito alto vindo da minha varanda e, mesmo cansada, abri os olhos para entender o que acontecia. Ouvi sons de estampidos e palavras de ordem seguidas de palavrões em um rádio, ao que entendi como mais uma operação de proteção. Eu tinha um empresário muito nervoso, seu nome era Joseph Seten. quando meu pai estava em seu leito de morte, apontou para Joseph e todos entendemos que ele iria cuidar de mim. Ele é esse cara de uns quarenta anos, grisalho nas têmporas e bastante alto. Não tinha gostado nem um pouco do fato de eu dar uma pausa no trabalho (e, consequentemente, ele ter de cuidar de tudo presencialmente) para que eu pudesse tirar uma semana de férias. Escolhi meu destino fazendo o famoso jogo do globo, girando o brinquedo de cento e vinte dólares e pousando o dedo onde seria meu destino. E o destino quis o único país asiático que eu ainda não havia visitado.
- Com licença, Aimee, - Joseph entrou no meu quarto e eu me escondi debaixo do edredom de bichinhos. Ele tinha essa facilidade por ser quase um tutor para mim e por também ser meu padrinho de batismo. Eu confiava cegamente nele. - mas temos um problema. - ele passou a mão livre pelo cabelo, ligando a luz do meu quarto. - Você não trocou de roupa? Enfim, sobre sua viagem para a Coreia do Sul, deve cancelar.
- O que, mas por que? - me levantei, tropeçando na cauda do vestido carésimo. - Eu planejo minha folga há duas semanas, eu mereço!
- Sei que merece, mas recebemos outra ameaça. - ele me entregou um papel dobrado, cujo texto, com letras cortadas de revistas e jornais, dizia que, caso não fizesse as exigências da carta anexa, eu seria sequestrada e pedaços meu iriam ficar jogados por toda a costa oeste. Li o outro papel. Coisas como "tirar Donald Trump da presidência" e "instaurar a anarquia por todo o mundo" eram algumas das coisas estapafúrdias do texto. Ergui as sobrancelhas e amassei o papel.
- Eu vou viajar, sim.
- Não vai!
- Se você é a última família que eu tenho, dê seu jeito. Mas eu vou viajar porque eu preciso de um tempo longe dessa loucura. Eu preciso e você sabe disso! - meu antigo "eu" havia voltado e Joseph cruzou os braços. - Agora, saia do meu quarto porque preciso acordar em dez minutos para ir para o aeroporto! Quer saber? Eu não vou mais dormir, são vinte e quatro horas de vôo, posso muito bem tomar um remédio para dormir.
- Você não vai mais tomar nada que não seja receitado pelo doutor Fernandez! - ele bateu de frente. Apertei os olhos, ainda enrolada em meu edredom de bichinhos e vestido vermelho tubinho Victoria Beckham. - A não ser que você tenha uma guarda especial em suas férias.
- O que quer dizer com isso?
Outro estampido e o grito de "peguei!" ecoaram da minha varanda e Joseph apontou para fora.
- Isso! Vou contratar uma guarda para você e não comece a reclamar porque sua vida está em jogo! - estreitei os olhos de novo. - E nem me olhe com essa cara, você leu o que estavam pedindo na carta. Lembra-se do último requisito? Não quero que aquilo te aconteça. Agora, vá se arrumar e esteja lá embaixo daqui a pouco. Eu te levo para o aeroporto.

.x.

O avião tinha acabado de pousar em Seul quando meus olhos se abiraram por trás do protetor de panda. Todos os flashes haviam me dado dor de cabeça e eu precisava de um remédio o mais rápido possível. Provavelmente seria difícil, porque estava por minha conta e vida, a não ser que Joseph tivesse cumprido com sua promessa e contratado uma guarda "real" para mim, o que não me animava nem um pouco.
- Com licença - ouvi na minha frente, enquanto me espreguiçava. Uma menina de no máximo oito anos, um dente de leite faltando, me esticava um papel. - você é aquela produtora famosa, não é? Posso pegar seu autógrafo?
- Sang Jin, deixe a moça! Desculpe por isso! - uma mulher mais velha puxou a garotinha. Sorri.
- Tudo bem, sem problemas! - peguei seu papel e assinei. - Sangi Jin seu nome, não é? Aqui está. Mas não conta para ninguém que estou aqui, ok? Nosso segredo! - a menina beijou os dedos da mão e pulou no corredor, segurando seu autógrafo. E, por um momento, me senti feliz. Como se aqueles anos de vida desregrada tivessem ficado, finalmente para trás.
Sai do tubo rumo ao desembarque, segurando o celular até ele reconhecer a capital sul coreana. Meus óculos escuros voltaram a ser muito úteis quando flashes espocaram em meus olhos. Será que alguém sabia que eu estava lá?
Olhei para trás, a tempo de ver várias meninas gritando nomes que eu não conhecia e um segurança me empurrar sem dó, por estar no caminho. Tinha me esquecido que estava na Coreia do Sul, a terra do novo pop mundial.
- Srta. Lee? - uma voz grave atrás de mim me assustou. Virei-me como pude, vendo homens de todas as alturas e tipos com óculos tão escuros quanto os meus. Seus ternos eram impecáveis e todos estavam sérios demais. - Permita-me me apresentar. - o mais alto deles deu um passo a frente, deixando os outros perfeitamente alinhados. Me encolhi um pouco, assustada. Estava em outro país, sem seguranças nem equipe. Eles poderiam simplesmente ser da gangue que queria me sequestrar e me espalhar pelo país. - Meu nome é Son Hyun Woo. Fomos contratados pelo sr. Seten, afim de oferecer proteção para a senhorita.
Então Joseph tinha mesmo cumprido com sua palavra! Soltei o ar, aliviada, aceitando o copo de frappuccino do Starbucks que o segundo mais alto deles me entregava. Sério.
- Que susto! - ri. - Eu sinto muito, mas o J não me disse se tinha ou não contratado segurança particular. Em todo caso, eu não preciso, sei me virar sozinha. Muito obrigada. - cumprimentei, dando meia volta e tentando passar pelo alvoroço das fãs descompensadas e histéricas, levando outro empurrão do segurança brutamontes. Prontamente, dois dos rapazes alinhados vieram ao meu socorro, deixando-me um pouco sem graça.
- Tem certeza de que não precisa? - um dos rapazes que me ajudou a levantar deu um breve sorriso, ou eu havia visto demais? Sorri de volta.
- Certo, rapazes. - olhei para minha blusa branca, agora manchada de chantilly. Tentei limpar com um lenço que outro havia me entregue, mas sem sucesso. Son Hyun Woo havia voltado para a fila e eu poderia dizer que era um par muito sério. - Se vocês foram contratados pelo meu padrinho, só peço que me deixem descansar o quanto puder. Não quero pensar ou ir para o trabalho e quando digo isso, espero que saibam onde sejam todos os estúdios dessa cidade. Me impeçam.
- Temos um novo número para a senhorita. - o mais baixo esticou a mão, apresentando um chip de celular, sob o olhar atento do mais alto, Hyun Woo. - Para sua segurança e descanso.
- Nossa. Obrigada. Me desligar de trabalho têm sido difícil. - virei o chip amarelo em minhas mãos e sorri. - Certo, agora preciso ir.
- Iremos com você. - Hyun Woo se apressou e os outros seguiram em fila. Senti vontade de rir. Nenhum outro time de seguranças agia daquela forma, ou será que era só na Coreia do Sul. Todos tinham speakers conectados no ouvido e seus saptos brilhavam na luz. Definitivamente contrastavam com meu look, tênis, calças jeans e a infame e errada blusa branca, agora suja de chantilly.
Hyun Woo abriu a porta de um carro preto para que eu entrasse, enquanto outro colocava minha bagagem no porta malas. Me acomodei no banco de trás, uma breve lembrança de meus dias de universitária, entrando no carro dos colegas para fugir das aulas e ir para a praia, que agora pareciam ser anos antes. <br>
- Está bem? - o mais magro deles ajeitou o retrovisor e olhou para mim. Seu olhar era penetrante e senti-me bastante intimidada para dar uma resposta verbal. Sua sobrancelha se levantou e ele retesou os olhos quando concordei com a cabeça. - Meu nome é Chae Hyung Won. Pode confiar em mim.
- Certo... - engoli em seco, sentindo um olhar à minha esquerda. E na minha direita. E mais alguns na minha frente. E um último em minha nuca. - Vocês estão me assustando.
- Não precisa ter medo de nós. Conhecemos sua estória. Nós mesmos precisamos passar credibilidade em nossos semblantes. - comentou o que estava atrás de mim.
- Sim. Nós costumamos usar o espelho muitas vezes, para treinar essas caras de durões. - disse o que estava na minha frente. Todos olhamos para ele, enquanto o barulho do motor do carro ainda em descanso reclamava. - Perdão. - ele pigarreou.
- Sabe, vocês não precisam usar essas caras comigo. Eu vim para descansar e relaxar pela próxima semana. - bocejei, ainda cansada. - Só me levem para o hotel, por favor.
E cochilei novamente, enquanto o final da noite preenchia o céu.



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