Hermione resolveu caminhar no parque próximo a sua casa, queria esvaziar sua mente um pouco antes de ir encontrar com o pai. As coisa não iam muito bem, seu estado estava piorando e a doença parecia avançar mais a cada dia. Para piorar, depois do sábado onde levara Draco para visita-lo ele parecia ter se fechado um pouco mais e eles mal se falaram durante a semana.
Caminhou apenas algumas dezenas de metros quando viu algo que a surpreendeu.
Severus Snape estava sentado em um banco no meio do parque. Não olhava para nada em específico e parecia perdido em pensamentos. Ela se aproximou sem que ele a visse, e apenas o ficou olhando. Ele parecia triste e mais solitário que nunca. Era verdade que sua amizade com ele tinha sofrido um pouco e que já não era mais a mesma coisa, mas ela odiava vê-lo daquela forma.
- Oi! – cumprimentou e ele pareceu despertar de um transe.
- Granger? O que faz por aqui? – perguntou e parecia ter sido pego fazendo algo errado. Ela sorriu.
- Eu moro há alguns quarteirões daqui. Vim correr um pouco.
- Não sabia que gostava de exercícios físicos.
- Não sou muito fã, mas as vezes são bons para acalmar a cabeça.
Ele assentiu.
- E então aproveitando bem o final de semana?
Ele não respondeu e ela achou melhor deixar de lado.
- Quer tomar um sorvete? – perguntou esperado que ele aceitasse, ela precisava de um pouco de glicose.
- Um sorvete ?
- Sim, aquele creme gelado que costumam servir com uma casquinha. – ela respondeu debochada e ele arqueou uma sobrancelha.
- Eu sei o que é um sorvete Granger.
- E então?
- Só estou surpreso pelo convite, afinal pensei que estava irritada comigo.
- Ah mas eu estou. Na verdade você sempre me irrita.
Ele tornou a arquear a sobrancelha.
- Mas acho que já me acostumei. E gosto de você, exatamente assim.
- Reconfortante.
Ela riu gostosamente e ele adorou aquilo. Há dias não recebia uma risada daquela direcionada a ele.
- E então? Vamos?
Ele assentiu e eles caminharam até um carrinho de sorvete próximo.
- Baunilha com hortelã por favor. – disseram juntos e sorriram.
- Combinação peculiar. – disse o sorveteiro – Assim como vocês! Aqui. Espero que aproveitem. São um belo casal.
Hermione viu Severus corar e sorriu. Tinha certeza que nunca o vira assim.
- Obrigada! – ela disse pagando pelos dois sorvetes e puxando um Severus ainda estático.
Eles caminharam em silêncio por um tempo.
- E então porque precisava acalmar a cabeça? Se é que posso perguntar. Problemas no paraíso Malfoy? – perguntou se segurando para não parecer irritado.
- Não. Estão indo muito bem, eu só... estava precisando respirar. E sei lá, ando precisando conversar algumas coisas com o Draco, mas não sei como.
- Algumas coisas?
- Sim, pequenas coisas que tem me irritado, mas não sei como ele vai reagir.
- Entendo. Bom, eu a conheço há alguns anos, mas não imaginava que você era um covarde. – disse com um sorriso malicioso.
Ela olhou para ele incrédula e fez algo inacreditável. Passou seu sorvete na cara dele.
- Por que fez isso? – perguntou se limpando.
- Eu não sou covarde! – disse sorrindo.
- Certo, e ao contrario do que pensam, eu não sou cavalheiro!
E passou seu sorvete no rosto dela.
- Sem graça!
Ele se aproximou dela e começou a limpar o sorvete. Se ele apenas se inclinasse poderia lhe dar um beijo, mas naquele instante o telefone dela tocou e ele se afastou.
- Alô? Sim é ela. O que? Mas como? Como vocês permitiram que isso acontecesse? Não, Eu disse que ele precisava de cuidados 24 horas. Não, eu estou indo ai.
- O que foi? Aconteceu alguma coisa? – Severus perguntou preocupado e a viu respirar fundo.
- Meu pai caiu da cadeira de rodas e cortou o supercílio. Preciso ir até a clínica.
- Vou com você. – ele se ofereceu.
- Não, tudo bem. Aproveite o seu dia de folga, eu só vou...
- Venha, podemos ir mais rápido no meu carro.
- Severus, não precisa. Eu...
Ele lhe lançou um olhar de quem não seria facilmente convencido e ela desistiu de insistir.
- Tudo bem. Você quer ir, tranquilo. Mas já vou avisando ele anda meio mal humorado perto de pessoas que não conhece. Quando Draco foi comigo visita-lo ele não disse uma só palavra a tarde toda.
Severus não disse nada e logo estavam no carro dele seguindo para a clínica em completo silêncio. Ao chegarem ele não ficou surpreso com todos olhares e palavras amorosas que as pessoas lhe dirigiam. Ela era uma pessoa maravilhosa, e fazia com que todos gostassem dela.
Chegaram até o quarto de John e Hermione entrou quase correndo, jogou a bolsa sobre uma mesa e foi até o pai.
- Oh meu Deus, olha só o tamanho desse corte! – ela olhava assustada e levemente irritada - Papai o que estava pensando quando tentou sair da cadeira?
John não respondeu.
- E por que não tinha ninguém aqui com você
- Eu fui buscar a medicação, não fiquei mais que cinco minutos fora e quando voltei ele estava no chão. – um dos enfermeiros respondeu.
Ela olhou para o pai que mantinha o olhar distante.
- Bom poderia ter sido pior papai bem pior. Me prometa que não vai mais tentar sair sozinho tudo bem? – disse o abraçando e sentindo a barba roçar seu rosto. – Papai há quanto tempo não faz a barba.
-Desde sua última visita ele não tem permitido que nenhum do enfermeiros faça a barba dele.
-Tudo bem, eu vou conversar com ele e ver se consigo convence-lo a deixar que eu a faça. Obrigada Seymor.
Ela sabia que ele ficara irritado com a visita de Draco, mas não imaginava a que ponto aquilo chegara.
O enfermeiro saiu fechando a porta. Severus observando o carinho, amor e cuidado que ela tinha com o pai.
- Venha pai, vamos até o banheiro, vou ajuda-lo. – disse empurrando a cadeira. Hermione não tinha muita prática fazendo a barba do pai, é claro que acabara aprendendo, mas não era muito habilidosa.
Chegaram ao banheiro e Hermione arrumou o encosto da cadeira para que ele ficasse deitado. Passou a espuma de barbear no rosto de John e pegou a navalha. Respirou fundo, mas antes de continuar uma voz chamou sua atenção.
- Espere Hermione! – somente então ela se dera conta da presença de Severus ali. Ele estendeu a mão para ela - Eu posso? Sr. Granger me permite?
John apenas assentiu sem dizer nada e Hermione entregou a navalha a Severus, que com uma habilidade inata e muito cuidado barbeou o homem. Terminou o limpando com uma toalha e levantando o encosto da cadeira.
- Pronto! – disse levando a cadeira para fora do banheiro.
- Obrigada! – agradeceu Hermione com um sorriso que ele nunca tinha visto. Era lindo e único, e ficou imaginando se algum dia voltaria a recebe-lo.
- Não foi nada. A propósito sou Severus Snape. – disse levando a mão para cumprimentar John que aceitou o cumprimento sem nada dizer.
Hermione o compreendia. Devia ser difícil para o orgulho de um homem tão ativo quanto seu pai ter a barba feita por outro homem.
- Bom, eu preciso fazer uma ligação, com licença. – disse Severus saindo do quarto e ela o conhecia o suficiente para saber que ele estava lhes dando privacidade.
- Papai, o que está acontecendo? – perguntou assim que a porta se fechou.
- Quem é ele?
Hermione sorriu ao ouvir a voz do pai.
- É um amigo do trabalho.
- Então você terminou com aquele mauricinho metido a besta? – perguntou sorridente.
- Não papai. Severus é só um amigo. E por favor não fale do Draco assim.
Ele bufou.
- Agora me diga, por que o senhor está assim?
- Assim como? – Hermione revirou os olhos.
- Ai papai, o que eu faço com você?
- Docinho - disse segurando as mãos da filha – Tudo o que eu quero é que você seja feliz. Eu quero que você encontre alguém que vá cuidar de você quando eu me for...
Os olho dela se encheram de água.
- Papai...
- Não, Docinho me escute. Eu quero o melhor para você, e me desculpe se não acredito que aquele loiro seja. Tenho medo que ele possa te machucar. Mas eu não vou mais interferir na sua vida. E também não vou ficar dando mais trabalho.
- Papai, você nunca me dá trabalho. Eu só fiquei preocupada. Você é tudo pra mim. Eu te amo!
- Também te amo Docinho.
Eles se abraçaram por um tempo e Hermione decidiu organizar algumas coisas no quarto e ajudar a trocar as roupas do pai, que ainda estava de pijamas. Severus ainda não havia voltado e ela imaginou que ele tivesse ido embora.
Pegou o telefone para pedir o almoço, mas antes que o fizesse a porta do quarto foi aberta.
Severus entrou com várias sacolas.
- Eu trouxe o almoço. Não sabia o que o Sr gostava, mas é impossível não gostar do Luigi’s.
Hermione olhou para o pai e eles sorriram um para o outro.
- Pode me chamar de John. – ele anunciou a Severus que assentiu, e depois cochichou para a filha – Tem certeza que não quer trocar por esse?
Hermione não conseguiu sorrir, porque de alguma forma aquela brincadeirinha não tinha tanta graça quanto ela imaginou, e talvez, só talvez porque imaginar aquilo fez borboletas se agitarem em seu estômago.
Eles almoçaram juntos e Hermione sorriu com a interação entre seu pai e Severus.
Depois jogaram xadrez e ela sorriu ainda mais ao ver o pai travando batalhas com o moreno.
- Para qual time torce Severus? – John perguntou como quem não quer nada.
- Liverpool. – disse com o foco ainda centrado no jogo, e antes que Hermione ou pai dissessem algo ele completou. – Cresci torcendo para eles, toda a minha família era um pouco fanática com o time. Mas não concordo com a forma como ele está sendo levado. E convenhamos que o United tem se destacado muito. E apesar de não gostar de algumas atitudes pouco desportivas, sou bastante fiel ao time.
John semicerrou os olhos. E Hermione esperou o pior.
- Boa resposta. – disse por fim com um sorriso. – Mas não vai salvar a sua Rainha. – completou com um movimento certeiro que fez Severus arquear uma sobrancelha.
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- Obrigada Severus... – agradeceu quando eles se dirigiam ao carro de Severus no final do dia. Ele se oferecera para deixa-la em casa.
- Pelo que exatamente?
- Por tudo. Por ter vindo comigo e ter sido legal com ele. Infelizmente a única companhia masculina que ele tem é o Harry, e ele tem estado tão ocupado com o trabalho que não pode vir visita-lo essa semana. E bem, o Draco e ele não se deram muito bem. E você abriu mão do seu sábado livre pra vir aqui. – disse e parou de caminhar o olhando nos olhos – Obrigada.
- Não tem o que agradecer, eu realmente me diverti hoje. Seu pai é um grande homem. E fez um excelente trabalho com você.
Hermione sorriu e corou um pouco.
- De qualquer forma obrigada. Quando mamãe se foi, fomos só nós dois. E ele nunca conseguiu superar direito.
- Sempre que precisar pode contar comigo. – disse abrindo a porta do carro para ela.
- Pensei que tinha dito que não era um cavalheiro. – sorriu.
- Eu tenho os meus momentos Granger.
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