História Pela luz dos olhos teus... - Capítulo 9

              - Granger pegue os resultados da análise de qualidade feita no último trimestre.

            - Só um minuto. – respondeu Hermione pegando algumas pastas e levando até ele. – E então, o que vai fazer mais tarde? – perguntou como quem não quer nada. Havia ensaiado aquele momento várias vezes.

            - Tenho uma reunião com o Malfoy. – disse concentrado nos papéis.

            - Não. Quero dizer mais tarde, depois do expediente.

            - Devo ir para casa e organizar algumas coisas na biblioteca.

            - Você não pode estar falando sério! É Valentine’s day.

            - Nós dois sabemos que é só mais um data comercial.

            - Pode ser, mas também tem um significado. E não consigo acreditar que vai passar a noite sozinho.

            - Prefiro assim.

A menos é claro que você queira passar comigo.  Ele pensou internamente e cogitou convida-la para qualquer coisa.

            - Você precisa de uma namorada Severus!

Ele praticamente engasgou com aquilo.

            - Não me lembro de ter dado a srta. a liberdade para definir o que eu preciso ou não.

Ela bufou.

            - Mas é verdade, não pode ficar sozinho para sempre. Você merece algo mais. – seus olhos esbanjavam ternura e aquilo o tocou.

            - Granger, agradeço sua preocupação, mas eu estou muito bem onde estou, obrigado!

            - Certo. – disse desviando o olhar pensativa.

            - Eu conheço esse olhar Granger! Não pense em armar nada pra cima de mim!

- E quem disse que eu ia? – perguntou se fazendo de inocente.

Ele semicerrou os olhos e encarando.

- Quer sair hoje? – ela perguntou e o coração de Severus disparou.

Será que ela estava brincando com ele?

- Sair? – perguntou bobamente.

- Sim, sair para jantar. É que... bem... eu queria te apresentar uma pessoa. – disse completamente sem jeito.

            A felicidade e o calor que nasceram no peito dele se extinguiram.

            - Não. – firme e um pouco seco.

            - Mas Severus, vai ser legal. Ela é uma pessoa incrível.

            - Granger eu não vou a encontros as escuras.

            - Vamos, por favor! Eu prometo que se não der certo ou não gostar dela eu nunca mais insistirei.

            - Não.

            - Vamos. Deixe de ser tão ranzinza.

 Ele se perguntou se algum dia teria coragem de negar algo aqueles olhos brilhantes.

Ele bufou, e ela soube que conseguira.

            - Iremos àquele restaurante francês que abriu semana passada.

            - Comida francesa? Sério Granger?

Ela sorriu e fez uma careta.

            - Vai ser legal! Você vai adorar a Andy!

Ele bufou e se virou novamente para o computador somente para ser surpreendido pela voz do quarto entregador do dia. Todos trouxeram flores a Srta Granger, enviadas pelo Sr Malfoy.

Severus se amaldiçoou por sua carranca aumentar cada vez que um buquê era entregue a ela, e Hermione sorria bobamente. Apenas uma coisa ele ainda conseguia achar graça. Draco enviara vários tipos de flores, mas ainda estava longe de acertar a preferida da namorada. Sinal de que era algo que ele sabia sobre ela e que o loiro nem imaginava.

Hermione estaria ali aquela noite, não poderia ser tão ruim...

10 horas depois

- Gina foi um desastre! – Hermione contava enquanto retirava os sapatos!

- Você deve estar exagerando Mione!

- Acredite, não estou! Meu Deus, acho que não existem duas pessoas menos compatíveis do que a Andy e o Severus!

- Ah eu consigo pensar em um casal. – a ruiva disse risonha.

- Eu e Draco não somos incompatíveis. Nós só apenas não encontramos algo em que nós sejamos compatíveis.

Gina riu alto.

- É sério. Em que momento de insanidade eu pensei que um encontro dos dois daria certo?

- Não faço ideia.

 - Foi tão estranho! Severus ficou fechado a noite toda e a Andy não calava a boca. Não consigo entender, Severus é tão introspectivo, é ótimo conversar com ele, mas aquela maritaca da Andy só ficava falando de coisas fúteis, nunca havia percebido que ela é tão superficial.

- Aham, consigo imaginar perfeitamente.

- Ele merece algo melhor! Mas não sei como vou conseguir já que ele me fez prometer que nunca mais arrumaria outro encontro pra ele. E para completar Draco ficava insistindo para que nós fossemos embora.

- Mas e então, rolou mais alguma coisa entre vocês depois que saíram do restaurante?

- É... Não...

- Por que não? É dia dos namorados e tal...

- Eu sei, e parece que o Draco pensou a mesma coisa, mas sei lá, parece que ainda não estou pronta para esse próximo passo.

- Mas vocês já estão juntos há quase um mês, e ainda não rolou nada?

- Não. Na verdade...

- Ai Hermione fala logo!

- Ele me convidou para ir até a Espanha com ele em duas semanas. E seria nossa primeira viagem, e obviamente espera-se que nós iremos dormir no mesmo quarto e tudo mais. Então, acho que vai ser a ocasião perfeita.

- Own que fofo! Uma viagem para a Espanha é? Ele está diferente mesmo.

- É acredito que sim. Mas e você e o Harry?

Gina suspirou.

- Eu o convenci a sairmos e foi bem legal. Mas estou fazendo como você disse, devagar e com calma. Mal vejo a hora de levar ele para o quarto e...

Hermione a interrompeu.

- Eu não quero e não preciso saber dessas coisas.

As duas riram e deram boa noite.

            Antes de dormir, Hermione ficou a pensar na viagem que faria com Draco, nas possibilidades, no seu relacionamento. Mas seu último pensamento foi direcionado ao homem de olhos negros que tinha tanto carinho.

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Severus chegou em casa exausto.

Como se não bastasse o fato da noite anterior ter sido uma das piores de sua vida – sem exagero algum – ter que passar o dia suportando os olhares de compaixão e até mesmo pena de Hermione foram suficientes para que ele desejasse estar morto.

Ele não queria que ela o olhasse com compaixão. Não, ele não queria compaixão. Ele queria paixão, e desejo e talvez fosse pedir demais, mas porque não Amor?!

Depois que chegara em casa, passou horas acordado imaginando se no mundo existiria alguém mais masoquista que ele. Aceitar um convite para um encontro as escuras no Dia dos namorados, já é terrível. E quando esse encontro é planejado pela a pessoa que você mais ama, é quase um tiro no peito, mas passar a noite ao lado de uma língua solta enquanto fica observando a sua única razão para estar ali, sorrindo para outro cara, trocando beijos e intimidades na sua frente, bom... ele era convicto que ser queimado vivo pudesse produzir uma sensação melhor que a que ele sentira.

E tudo isso por que?

Ele simplesmente não conseguia lhe dizer um não.

Mas pelo menos uma coisa boa ele tirara daquilo tudo, além da promessa de que ela nunca mais arrumaria um encontro para ele, Hermione passara o dia no laboratório com ele. Dispensara o almoço com o loiro e ficara o dia lhe sorrindo, e se não tivessem sido os olhares de consternação, aquele poderia ter sido um dos seus melhores dias.

Ah mas não terminava ai, não... Ainda tinha a cereja do bolo. Exatamente naquele dia chegara o convite. O único convite que ele jamais esperara receber. O convite de casamento de Lilian Evans, sua ex-noiva.

Severus tomou um banho e decidiu que precisava relaxar um pouco antes de dormir. Pegou sua cópia de Pigmalião e um copo com um pouco de conhaque, apenas o suficiente para relaxar os músculos e se sentou na poltrona.

Algum tempo depois ouviu alguém tocar a campainha. Já passava das 22:00, mas ele foi atender mesmo assim. Surpreendeu-se e ao mesmo tempo se alegrou ao ver Hermione parada do outro lado. Um sorriso no rosto e uma caixa de bolinhos nas mãos.

- Oi Severus!

- Oi. – respondeu, mas fechou a cara em uma falsa carranca para repreende-la. – O que faz aqui a essa hora da noite? Seus pais nunca te ensinaram que não se deve sair sozinha depois das 20:00?

Ela revirou os olhos.

- Não sei porquê esse drama. Severus sua casa fica a 10 minutos de táxi da minha, não é como se eu estivesse andando a pé, sozinha e indefesa pelas ruas de Londres.

Ele bufou.

- Bom, eu trouxe bolinhos, mas se não quiser eu vou embora com eles.

- Não, espere! – ele pediu e ela sorriu.

- Você nunca rejeita bolinhos! – ela disse como se fosse a dona da verdade.

Mal sabia ela que na realidade ele nunca a rejeitaria, e que ele nem mesmo gostava daqueles doces, mas era sua maneira de estar ao lado de Hermione em um momento que ela queria compartilhar com ele.

- Não te culpo. Sou apaixonada por eles desde sempre.- sorriu - O que me rendeu umas gordurinhas extras no tempo da escola. – completou com ar de que não fazia mais diferenças, mas ele sabia que aquilo fizera e ainda fazia um rombo no seu coração.

 Se sentaram no sofá com a caixa de bolinhos de frente a eles. Depois de um tempo em silêncio ela decidiu se pronunciar.

- A verdade Severus, é que eu trouxe os bolinhos como uma forma para me desculpar. Não deveria ter te forçado a um encontro, ainda mais com a Andy. Eu deveria ter respeitado o seu espaço. Sinto muito.

- Não se preocupe Hermione. Nenhum dano foi feito, e a noite foi até engraçada.

Hermione arqueou uma sobrancelha, em um gesto tão dele que lhe pareceu estar diante de um espelho.

- Mas antes que essa sua cabecinha comece a imaginar coisas isso não quer dizer que eu quero sair com a sua amiga de novo. Ou com qualquer outra. Eu estou perfeitamente bem assim, obrigado.

- Tudo bem, como eu prometi sem mais encontros as escuras. Mas você precisa se abrir mais sabe? Encontrar alguém para te fazer feliz. Eu nunca te vi com amigos, e me preocupo com o fato de você ser tão solitário.

- Hermione, eu nunca tive muitos amigos, e estou bem com isso. Estou bem com a minha solidão – mentiu.

- Ninguém fica bem na solidão. Isso é só uma coisa que dizemos a nós mesmos para deixar as coisas mais fáceis. – segurou a mão dele e sorriu.

Ficaram um tempo apenas se olhando. Olhos nos olhos. Alma com alma.

- Venha. – disse ela se levantando e o puxando pela mão. – Já que não me deixa encontrar alguém para você vou tentar de ajudar de outra maneira.

- O que quer dizer com isso? – perguntou desconfiado, o coração aos trôpegos.

- Bom, vou tentar te ajudar a se aproximar das pessoas. Assim quando você encontrar alguém não vai ficar tão travado.

- Eu não sou travado.

- É eu percebi no jantar de ontem.

- Talvez eu seja um pouco travado perto de outras pessoas, mas aquele jantar não deve servir de base, e na verdade gostaria que ele não fosse mais mencionado.

Ela riu.

- Tudo bem, mas venha vai ser divertido, e instrutivo.

Ele olhou para cima pedindo paciência e força para sabe-se lá o que estivesse por vir.

Hermione se aproximou um pouco mais dele e ele sentiu o cheiro dela, se segurando para não fechar os olhos e respirar mais fundo.

- Vamos supor algumas situações. Você me conheceu e, por algum milagre, me convidou para sair. – ele a olhou feio e ela sorriu. – Nós acabamos de sair de um agradável jantar e então você...

Ele ficou mudo, principalmente porque ouvindo um de seus maiores sonhos vindos assim tão abertamente da boca dela – por mais que fosse apenas uma superstição – o deixaram atordoado.

- Severus?

- Hermione isso não vai dar certo! – disse sabendo que era verdade. Se ela continuasse se aproximando daquela maneira ele poderia agir por impulso e fazer alguma besteira.

- Ai, deixa de ser ranzinza! Tudo bem, eu me aproximo de você e seguro no seu braço. 

- Mas eu detesto que toquem em mim.

Ela bufou, mas percebeu que ele ficava um pouco mais vermelho a cada segundo e era até engraçado. Ele precisa superar essa fobia.

- Mas é preciso oras. É assim que se conecta as pessoas. Vamos, nós vamos manter uma conversa agora - ela foi se aproximou ainda mais dele - e você vai tentar arrumar uma desculpa para me tocar.

Severus em um movimento rápido a segurou pela cintura e a trouxe para próximo dele, de forma que seus corpos se encostaram e seus olhos se encontraram.

Havia fogo ali. E muito mais coisas que ela poderia imaginar.

- Isso, viu? Não foi difícil. – disse Hermione se soltando dele rapidamente e um pouco ofegante. – Ótimo corp... digo ótimo trabalho. Agora eu... eu preciso ir.

E fugiu. Sim fugiu dali porque aquilo a assustou mais que qualquer coisa. E fugir parecia ser a única coisa que ela pudesse fazer sem se quebrar.

Fugiu e o deixou ali, lutando para conter sua respiração e as batidas do seu coração. Se jogou no sofá aproveitando que o cheiro dela ainda estava em suas roupas e tentou imaginar o que ela teria feito se ele a tivesse beijado.