História Pela Primeira Vez - Único

E, pela primeira vez, um anjo caiu dos céus.

Sua aura era vermelho-carmesim, tão sedutora e perigosa para qualquer um que ousasse chegar perto e se envolver com o anjo caído dos céus. Ninguém ousava se aproximar do sedutor e infame Chara, dos mais tolos dos mortais até os mais poderosos deuses daquele reino abaixo da superfície.

Mas, pela primeira vez, um mortal chamou a atenção de Chara.

Gracioso e singular, Chara viu em Frisk um brilho único, cujo anjo caído só havia visto nos mais puros dos seus antigos conterrâneos. Ele não dançava conforme a música; ele a cantava.

E, pela primeira vez, Chara não sentiu luxúria.

Ele viu, dentro de si, a chama do amor, mais ardente do que nunca vira. Aquele que as pessoas chamavam de "demônio que vinha quando seu nome era chamado", um sociopata e corrompido anjo, havia se apaixonado por um mortal puro e inocente.

Então, pela primeira vez, Chara dançou conforme a música.

Frisk continuou a cantar sua canção, e Chara dançou junto com seu amado. Juntos, os dois conquistaram os outros mortais, e até os deuses pararam para ver aquele espetáculo, caracterizado pelo amor do anjo caído.

Então, pela primeira vez, Chara perdoou e foi perdoado.

Frisk havia conseguido purificar um demônio que pensava-se que não tinha mais salvação. E Chara, com seu novo semblante pacifista, foi redimido perante os deuses.

E, pela primeira vez, aquele que chamavam de puro matou o primeiro mortal.

Chara era o caos e Frisk era a ordem. Enquanto Chara se purificou por conta de Frisk, o seu amado foi se corrompendo mais e mais por sua presença, e então o sangue tingiu aquelas terras que passavam por tão bons momentos. O anjo redimido, então, isolou-se nos céus, arrependido do que havia feito.

E, pela primeira vez, Chara chorou.

Quando Chara encontrou Frisk novamente, ele não viu nada nos olhos do seu amado. Não havia felicidade. Não havia tristeza. Não havia nem mesmo ódio. Apenas uma escuridão repulsiva, um descaso com aqueles que Frisk havia tirado o prazer de viver. Apenas o sorriso malicioso em seus lábios e a roupa ensopada de sangue era o que Chara via, horrorizado com as ações de Frisk.

E, pela primeira vez, Chara teve repulsa de seu amor.

Com medo do que havia criado, do que havia corrompido, Chara tomou uma atitude desesperada, a qual lhe tiraria aquela pureza que conquistara, aquele lugar de honra entre os deuses como anjo redimido, mas que salvaria inúmeras vidas e traria paz para as outras.

E, pela última vez, Chara derramou o sangue de um mortal.