História Pena Que Engravidou - ;; Ela morreu;;

 Ela morreu uma vez.

 Ela morreu quando a primeira língua espalhou que ela engravidou; “Uma adolescente sem responsabilidade, não tem idade. Na hora de abrir as pernas foi bom, ai ai! Não sabem nem quem é o pai”.

 Ela sangrou quando  a segunda pessoa concordou; “onde já se viu, dar ao primeiro que aparece? Só quero ver o que acontece! No meu tempo não era assim, mas hoje em dia não pode nem julgar, já vêm com aquele papo de ‘se ponha no meu lugar’, francamente, ela nem mesmo é gente!”.

 Ela morreu uma segunda vez.

 Morreu porque ninguém sabia da história real e ela foi julgada por um “mal” que nem culpa tinha.

 Na noite em que tudo aconteceu e aquele homem apareceu visivelmente drogado e mal-intencionado; agarrou-lhe os cabelos e forçou sua cabeça para baixo.

 Se debateu para tentar escapar; gritava, berrava e não havia ninguém para lhe ajudar.

 Que cena triste, meus irmãos, da garota jogada no chão pedindo baixo para si para que morresse ali. Suas roupas rasgadas, sua virgindade roubada – que tanto guardava para o homem que amava –, um psicológico abalado e sua alma em pedaços.

 Ela morreu definitivamente pela terceira vez quando fora no hospital e soube que carregava um bebê em seu ventre. Por que com ela, meu Deus, já não era o suficiente?

 Seus pais sugeriram abortar, ela relutou e negou dizendo: “de jeito nenhum, é meu filho e vou me responsabilizar, vou cuidar!”. Mas não era fácil; as línguas alheias assombravam a menina, que tomou a decisão, então, que acabaria com sua vida.

 Instrumentos cirúrgicos mal esterilizados, a maca suja no centro e a má iluminação faziam a garota querer desistir, entretanto, não havia escolha: teria de deitar-se ali.

 Um médico de habilidades duvidosas começou com o processo e os jornais na semana seguinte nos contavam do resto.

“Outra vítima do aborto clandestino é encontrada morta”.

 Até onde continua isso?

 E as mesmas línguas tortas lamentavam sua perda – com lágrimas de crocodilo –, olha que beleza!

— Que lastima, era uma garota tão boa! — A primeira se pronunciou.

— Pena que engravidou!