Com todo aquele cuidado e amor dedicado a mim, tu quebravas a cada riso demorado. Então não imagines que não enxergava-lhe o coração, pois eu sempre estive lá.
A escuridão lhe preencheu completamente, sem espaços vagos, e teus olhos refletiam o que ardia em ti. E talvez, só talvez, a insensatez estivesse guardada naquele cantinho da tua mente.
Acompanhou-lhe e sorriu-lhe, então eu disse-te um "oi, acho que é melhor tu não mais voltar", e tu ligou-me perguntando o que deveria cozinhar para a nossa ida ao aquário, e então tornei-me a dizer "oi, acho que é melhor tu não mais voltar, entendes?"
O quarto onde abracei-te e sorri verdadeiro não passa de cinzas, minha mãe ainda frequenta o psicólogo e nos mudados.
Teu espírito ainda dizes "eu gosto de ti", mas hoje tua presença parece mais confortável. O teu corpo enterrado naquela beira de rio, esquecido foi.
E aquela criança em teu ventre, foi-se como uma lembrança ruim. Naquele matagal, tu segredou-me que queria desaparecer, que a criança deveria desaparecer.
Acho que nós, jovens, nunca pensamos muito. E eu não pensei quando meus dedos deslizaram pela pele clara do teu pescoço, com calma e força precisa. Aquela suavidade que tu dizias encontrar em minhas mãos, inexistia.
Lhe olhei por um tempo e pensei no que poderia ter passado pela tua mente naquele instante. Gratidão, alívio, tristeza, amargor, arrependimento?
Talvez não tenha doído tanto assim.
Quando lembro-me disto a indiferença enche-me o peito e é como não sentir nada. Nada.
A consciência não pesava e era como se eu estivesse em paz. Tua a morte trouxe-me paz.
E sorri.
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