Sasuke toma fôlego antes de bater na porta. Duas batidas altas e secas são ouvidas de dentro do escritório, Fugaku levanta sua cabeça deixando de lado alguns papeis por instantes. Um “entre” cordial e reservado é dito pelos lábios do mais velho e a porta se abre.
- Então finalmente está de volta. – Fugaku sorri maldoso.
Seus olhos estão cansados, o paletó pendurado em um cabide no canto e um copo de uísque está em sua mão esquerda. Ele afrouxa a gravata, passa a mão tirando os cabelos que caem sobre a testa, observa o filho fechar a porta da sala.
- Estou.
Sasuke vira-se para ele, anda a passos largos e decididos pela sala, larga-se na poltrona de couro preto de frente para a escrivaninha do pai. Fugaku senta-se mais ereto, apoiando os cotovelos à mesa de madeira escura e bem polida.
- Não me venha com esse tom insolente.
Sasuke sorri divertido, ele ama ver o pai daquela maneira. Cansado, frustrado e com um copo de bebida nas mãos, a verdadeira fachada por trás do grande empresário do meio automobilístico. Um homem belo, porém, devastado.
- Importa-se? – pergunta retirando colocando um cigarro entre os lábios, acendendo-o.
Fugaku balança a cabeça recostando-se na sua cadeira, abre uma gaveta de sua mesa, retira um charuto e um cortador, dentro de segundos está tragando grandes nuvens de fumaça que sobem no ar e juntam-se as menos espessas que Sasuke solta.
Por segundos a fio eles só encaram-se, relaxados em seus próprios pensamentos. Fugaku apesar de cansado tem um brilho no olhar que anuncia sua vitória, já Sasuke é pura malicia. A soberba faz parte do sobrenome Uchiha é o que todos dizem, e acredite quando alguém diz isso não é em vão.
Os dois Uchihas e até mesmo as mulheres que adquiriram esse sobrenome carregam o fardo dele com elas.
- Sasuke pedirei educadamente pela última vez. – traga profundamente, solta a fumaça e continua: - Você pode parar de tentar manchar o nome da família?
- Eu não vejo assim...
- Só escute o que tenho para dizer Sasuke, estou cansado de ter que lidar com você. Eu não lhe odeio, pelo contrário se o odiasse já teria me livrado de você a anos, porém, você continua aqui. – Fugaku bebe um longo gole de seu uísque. – Entenda Sasuke o que você faz por ai, não me fere. Só fere a você mesmo.
O brilho nos olhos do mais jovem vai morrendo aos poucos, como uma lâmpada velha que cansou de funcionar. O orgulho faz a raiva borbulhar em seu interior pelo simples fato de que o seu pai está certo, mas, de que adianta ter orgulho sem dinheiro, sem sua moto e sem lugar para ficar depois de ter discutido com Ino.
A verdade é essa, ele tornou-se uma máquina de destruição em massa, ferindo a todas as pessoas ao redor e impedindo de outras aproximarem-se.
- O que você faz respinga em mim, porém, um dia eu não estarei mais aqui. A empresa que você tanto amava será sua e tudo o que lhe restará será um resto de homem que se perdeu em drogas e fodeu com putas para irritar o papai que já morreu. – Fugaku sorri fraco por entre o charuto.
O outro está sentado, estático. Agarra com tanta força os braços da cadeira que suas juntas estão brancas, o cigarro esquecido entre os dedos. Os olhos negros e opacos mechem-se nervosos. É um nocaute ao vivo e a cores, Sasuke não tem chance alguma de defender-se.
- Sabe Sasuke sua mãe era uma puta desgraçada... – ele solta uma risada maldosa. – Mas, ela era inteligente isso não posso negar. Será que não herdou esse traço dela? Vamos parar de brincadeira, você é um homem formado e vai colocar na sua cabeça agora mesmo uma coisa... – aponta o charuto na direção do peito de Sasuke. – Ou. Está. Comigo. Nessa. Ou. Contra. Mim. Decida.
*********
Ele entra no quarto pela varanda como sempre. Sakura está de costas para as janelas, fitando-se no espelho de corpo inteiro, na porta do closet. Sasuke observa parado entre as cortinas, ele prende a respiração quando vê ela levantar a camiseta de futebol americano que usa para dormir.
Sakura vira-se na frente do espelho, de um lado para o outro na ponta dos pés, puxando a barra da blusa, tocando suavemente as marcas nas coxas e bunda. Elas são apenas sombras do que foi há dois dias, não ardem mais e estão perdendo rapidamente a coloração arroxeada.
Uma brisa fria enche o quarto, balançando as cortinas de tecido claro, enchendo o ambiente com o cheiro cítrico do perfume de Sasuke misturado ao odor de cigarro.
Pelo reflexo do espelho, Sakura o vê pela primeira vez em dias.
- Meu Deus Sasuke! Mais que droga! Não sabe bater? – Ela coloca as mãos sobre o peito, vira-se para encara-lo.
- O que foi isso? – Pergunta enquanto aproxima-se dela.
Ele fita as pernas de Sakura, um olhar tão escuro quanto frio, a linha do maxilar tensa e as marcas em seu rosto deixam-na desconcertada.
- Eu perguntei o que foi isso. – Ele repete mais ríspido. – Deixe-me ver.
- Não, é claro que não. – Sakura exaspera-se.
Sasuke enche o quarto com sua presença, Sakura sente-se pequena e incapaz outra vez. É ele, ele faz com que ela sinta-se assim.
Ele aproxima-se e tenta abraça-la, mas, ela esquiva-se andando em direção a penteadeira branca. Deixando-o com uma cara de quem comeu e não gostou.
- Vamos lá, me mostre. Não a nada ai que eu já não tenha visto. – ele revira os olhos, cansado.
- Nossa Sasuke, parabéns. – Ela ironiza vestindo seu robe de seda azul. – A sua sensibilidade me toca, sabia?
Ele passa as mãos pelos cabelos repedidas vezes, Sakura sabe que algo está o incomodando e pergunta-se mentalmente se deve ou não continuar agindo daquela maneira.
Que se dane! Eu também estou incomodada! Sakura pensa.
- Somos irmãos Saky... – ele tenta outra vez.
Sakura ri de modo sádico. Deixa Sasuke assustado com sua atitude fora de normal, ele a observa sentar de frente para penteadeira, segurar o cabo de uma escova de bronze e levanta-lo para pentear os cabelos ainda rindo.
- Realmente. Agora somos. – ela fala entre risos.
- O que quer dizer com isso? O que aconteceu?
- Eu paguei as consequências do meu erro Sasuke, nosso pai me bateu. Foi isso que aconteceu aqui.
A voz dela é como um soco no estomago dele, prefere que Sakura grite como fez naquele dia em seu quarto. Não gosta dessa nova versão, seca e má dela. Sasuke fica estático, sente-se em uma experiência astral fora do corpo. Olha ao redor mais nada enxerga, é como se cada uma de suas terminações nervosas estivesse sobre carregada.
- Como assim nosso pai? – pergunta lentamente.
Ela para de escovar os cabelos, vira-se para ele e fixa o olhar no seu. Verde no preto, mesmo a distancia ondas de eletricidade passam por seus olhos.
- Ele me adotou. Eu sou uma Uchiha agora.
Não consegue falar ou processar nada do que ela fala, não parece real. É como se tudo fosse apenas ruídos, chiados de um radio velho demais. Tem vontade de quebrar cada uma das pequenas e belas coisas que o cercam ali, sair quebrando tudo do quarto dela até a sala de visitas.
Ela levanta-se e anda até ele, parando na sua frente. Os cabelos tão bem escovados chegam a brilhar como ouro liquido, o cheiro que ele tanto sentiu falta dançando em torno dos dois, misturando-se ao dele.
- Você apanhou outra vez.
É uma afirmação, ele não precisa responder está explicito em seu rosto inchado que sim. Sakura toca a linha tensa de seu maxilar com a ponta dos dedos, um afago inocente que o faz arfar alto.
- Não acredito que ele fez... – Sasuke tenta organizar as palavras em sua mente, fazer os seus pensamentos formarem uma frase qualquer.
Ela o interrompe. Coloca os dedos que antes acariciavam sua bochecha, sobre seus lábios calando-o. Um gemido vindo do fundo de sua garganta protesta. Ele necessita de mais, mais do toque dela, mais de sua voz ou de qualquer outra coisa que ela possa vir a dividir.
É complexo, é estranho e é proibido.
Porém, tudo o que ele sente em relação a ela é assim. Não consegue decidir entre ficar ao seu lado e sair correndo na direção oposta, não pode colocar em palavras o que sente vontade fazer para mantê-la a salvo.
Sasuke está sempre tendo que decidir por alguma coisa ao lado dela. Agora mesmo ele briga mentalmente, a vontade de abraça-la vence e assim ele faz.
Apertando-a contra si mesmo, ignora a dor que parece partir suas costelas quando ela o aperta de volta. É um abraço como deve ter sido o primeiro dos abraços do mundo, cheio de saudades, palavras não ditas e sentimentos não sentidos.
Mais do que um corpo pressionado contra o outro, é um encontro de almas tão intensas e parecidas. Aquele toque diz o que nenhum dos dois consegue dizer, “Eu reconheço a dor em você por que também a tenho dentro de mim.”.
Ele beija o topo de sua cabeça, apertando os olhos. Inspirando profundamente o cheiro inebriante de flor de laranjeira que o acalma, sua mente volta aos poucos a funcionar.
Ela apanhou, porém, está inteira. Está aonde deve estar, segura entre seus braços.
O grande problema de abraços como esses é que eles têm de acabar. E esse também acaba, por que Sasuke sente uma necessidade imensa de olhar para ela, ele necessita ter certeza de que ela está bem.
Segurando-a pelos ombros com delicadeza desnecessária ele afasta-a, olha para o seu rosto procurando por imperfeições inexistentes. Sakura enrubesce sobre seu olhar, a raiva dela se esvai aos poucos e os olhos se enchem de um brilho caloroso e desconhecido para ele.
- Está bem? – a voz dele sai rouca, ele limpa a garganta e repete. – Quer dizer você está mesmo bem?
- Sim, estou bem. E você? – a voz dela é quase um sussurro.
- Agora sim. – Ele sente a verdade nas palavras assim que elas saem de sua boca. Não tinha ideia do que estava sentindo antes, mas, agora aquele peso no peito que o perseguira em todos os instantes longe de casa tinha desaparecido.
- O que vai acontecer com você agora que voltou?
Ele sente a ponta de preocupação na voz dela, então a puxa para outro abraço dessa vez mais breve que o outro. Sasuke beija o vinco entre as sobrancelhas dela de leve, como Mikoto fazia com ele.
- Vamos dormir. Eu morri de saudades da sua cama sabia? – Ele fala.
Puxando-a para a grande cama de dossel no meio do quarto. Ela sorri do tom de voz dele, sobe na cama jogando as cobertas de lado.
- Não estou brincando. Você vai ficar preso outra vez? – ela pergunta, socando o travesseiro.
Sasuke retira as botas e meias, anda pelo quarto.
- Não, o velho é inteligente. – fala trancando a porta. – Ele sabe que estou sem ter para onde ir.
Ele volta para a cama e acomoda-se do lado dela. Eles se viram na cama, ficando um de frente para o outro, bem próximos. Sakura apoia a cabeça sobre o braço, eles trocam olhares singelos em silencio. Conhecendo um ao outro mais afundo, gravando os traços do outro na memoria.
Em nenhum momento a falta de palavras é incomoda, ao contrario ela é calmante e satisfatória.
- Você troca mensagens com o Naruto?
Sakura molha os lábios com a ponta da língua, é um movimento rápido que não passa despercebido ao outro. Ela suspira lenta e profundamente antes de responder, a voz suave e sincera.
- Eu o adoro, ele é um ótimo amigo. Manteve-me informada sobre você.
Sasuke concorda com um aceno.
- Eu encontrei sua namorada hoje ou ela que me encontrou... não sei dizer bem.
- Karin não é nada minha. – Ele é curto e grosso, porém, verdadeiro.
- Não foi o que ela disse, mas, enfim a coloquei em seu lugar. Sinto muito por isso.
Ela pega a mão dele, entrelaça os dedos nos seus em um aperto reconfortante, ergue-a mão trazendo a dele junto aos seus lábios e deposita um beijo suave nos nós dos dedos, um de cada vez.
Sasuke fecha os olhos, inspirando e expirando pela boca. Parece refletir sobre alguma coisa, Sakura espera que pacientemente até que ele abra os olhos outra vez.
- Seu cheiro é maravilhoso, sabia? – Ele a olha com os olhos ardentes.
Ela ri nervosa, todo o seu sistema nervoso entrando em estado de alerta.
- Seu corte abriu outra vez? – desconversa. Aponta para o curativo na sobrancelha dele com o queixo.
- Gosto do visual. Me faz parecer sexy, não acha? – ele fala provocante, inclina-se e beija o topo de sua cabeça.
- Está flertando comigo Sasuke? – ela boceja.
- Está funcionando Sakura? – pergunta com um sorriso torto.
Eles trocam olhares divertidos, Sasuke a beija. Um beijo doce e suave que aquece o sangue nas veias faz a pulsação desacelerar e conforta o coração. É nesse beijo que ele decide que quer mudar de vida, um passo de cada vez, por ela. Por que só Sakura poderia consertar pequenas coisas dentro dele, e esperava que pudesse fazer o mesmo por ela.
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