Capitulo 21
Full of despair inside a darkness
Self conscious and scared, held prisoner of war
Running out of air, buried in a sadness
Want a way out of this paralyzing world
And the sound of the cries when a family's loved one dies
(Sunrise - Our Last Nigth)
. Nuvens fofas passeavam sem destino pelo manto infinito que era o céu, um dia perfeito para fotos muitos diriam, um dia que não combinava em nada com a realidade vivida por um pequeno garotinho de três anos jogado no carpete imundo, em um pequeno apartamento no subúrbio de Nova York
Magro, debilitado, sujo e mau tratado.
Esse é Sasuke Uchiha.
O golpe que deu errado, a criança rejeitada, abandonada.
- Mamãe... – o menino geme, delirando por causa da febre alta. – Mamãe, estou com dor...
O garotinho aperta a barriga por cima da camisa suja e rasgada com as mãos miúdas, o suor escorrendo pela testa deixando os cabelos negros ensopados. Os olhos vermelhos e inchados pelo choro constante que parece nunca ser escutado por ninguém.
Sozinho, indesejado.
Sasuke tosse, uma tosse pungente e cheia de secreção. Ele dobrasse ao meio abraçando os joelhos, gemendo entre as tossidas que parecem rasgar sua garganta. Sem ar, o menino vomita no carpete sujo.
Arrastando-se ele tenta se locomover até a pequena cozinha, sabe que se sua mãe chegar e vê a sujeira ficara muito brava. Sasuke não quer deixar sua linda mãe com raiva, ele precisa se esforçar para deixa-la satisfeita, assim talvez um dia receba um afago ou um sorriso, se tiver muita sorte pode até ganhar algo gostoso para comer.
Sasuke abre os olhos ônix e encara o teto de seu quarto, o corpo crescido e visivelmente mais forte completamente ensopado, os cabelos negros bagunçados e os olhos arregalados pelo medo de seus sonhos.
Havia anos que ele parara de sonhar com isso, ele tinha trancado muito bem aquelas lembranças no fundo de sua mente, em um lugar intocável.
Passa as mãos pelos fios tirando-os dos olhos. Faz nota mental de que precisa cortar os cabelos e levanta-se da cama, arrastando os pés até o banheiro.
O espelho reflete o rosto do rapaz de dezoito anos, o corpo bem alimentado, alguns hematomas no maxilar e o corte na sobrancelha que parecia nunca cicatrizar, mas, mesmo assim algo naqueles olhos parecia lembrar o garotinho mirrado que ele fora um dia.
O preto reluz de uma maneira fria que lembra o medo, a solidão, um animal ferido, um paciente terminal. Ele não tem aquele brilho selvagem e malicioso que lhe é tão costumeiro.
A noite passada fora deveras pesada para seu subconsciente fodido, discutira com Naruto, brigara com Karin e falhara com Sakura mais uma vez. Não conseguia sair daquele ciclo vicioso que tinha entrado de destruir tudo e todos a sua volta, e logo acabaria sozinho como aquele rapaz dissera.
Odiava mais que tudo em sua vida sentir pena de si mesmo, mas, olhar para aquele rosto amassado e machucado emoldurado por cabelos desgrenhados, e o pior de tudo olhos repletos de medo e dor era como pedir para sentirem pena dele.
Ligou a torneira e encheu as mãos com água gelada, tomou grandes goles para depois molhar o rosto, os machucados arderam em protestos. Seguiu para o quarto a passos arrastados, pegou uma das camisetas que estava jogada por cima da cama e vestiu-se rapidamente.
Olhou-se no espelho do guarda roupas, que estava quebrado pela briga que tivera com a ruiva mais cedo, arrependeu-se por dois segundos, sentado na cama com os cotovelos sobre os joelhos e as mãos enfiadas nos cabelos compridos. Tinha que controlar seu gênio ruim, porém, nunca era capaz.
Lembranças da noite passada o atingiram como socos.
- Você não pode me usar assim Sasuke... – Karin cuspira as palavras em sua cara como se tivesse opinião própria pela primeira vez. – Não pode me tratar como se eu fosse descartável! Eu não sou um lixo qualquer para ser tratada desse jeito!
A fúria que sentiu naquele momento foi tão grande que sua visão ficara completamente vermelha, ele só via Karin e sua expressão de desafio. Só queria calar a boca dela e faze-la sofrer de uma maneira tão profunda que nunca mais poderia reparar. Queria quebrar tudo ao redor dela para mostrar quem mandava naquela merda de coração que ela jurava ter.
Empurrou-a contra espelho com toda a força que a raiva lhe proporcionava, pressionou-a contra o vidro que trincou com o impacto. Aproximou seu rosto do dela com um sorriso tão grande e maldoso que faria até o próprio satanás arrepiar-se.
- Engraçado, porque é exatamente isso que você é... – ele sibilou descarado, divertido. – Des-car-tá-vel.
Sasuke pronunciou cada silaba da palavra com total escarnio e desprezo, sua mão apertando o maxilar da garota com uma força descomunal. Karin choramingou e pediu para ser solta, mas, ele não ligou.
- Você está aqui exatamente para ser usada e tratada como lixo, vai me dizer que não sabe disso? – A língua dele acariciou as palavras com maldade. – Não se faça de santa agora Karin...
- Se eu for embora agora... – ela choramingou, vermelha pela falta de ar. – Nunca mais vou voltar...
Sasuke gargalhou divertido, jogando a cabeça para trás. Soltou-a e deu dois passos para longe dela indicando com um gesto de mãos a porta.
- Se for agora me fará um favor. Você era só um corpinho gostoso até pouco tempo atrás, mas, agora fala demais para o meu gosto... – o sorriso que ele deu foi como uma tapa na cara dela. – A porta está aberta. Suma daqui!
E ela se foi.
O rosto coberto de lágrimas e as peças de roupas amassadas nos braços.
Levantou-se de rompante, chateado não por ter machucado Karin, mas, por ter pedido o controle outra vez. Culpou-a pelos acontecimentos por que não conseguia assumir nenhuma de suas culpas.
Vestiu uma bermuda caqui e calçou os tênis pretos sem meias mesmo, desceu as escadas acendendo um cigarro. Surpreendeu-se com a casa lotada de pessoas arrumando a terrível bagunça, algum dos funcionários devia ter contratado uma equipe de limpeza.
Não parou para comer ou pensar em Sakura, ela estava melhor longe dele e com Naruto. Não podia dar o que ela precisava para ser feliz, só podia mesmo era prometer coisas que não ia cumprir e tentar afasta-la de si mesmo e de seu pai.
O pior era o sentimento de culpa que ia nascendo em seu peito, pois agora que estava livre de qualquer entorpecente ou estimulante no organismo ele via que a única que poderia sair facilmente machucada dali era sua adorável meia irmã.
Subiu em sua moto e arrancou pela saída de pedra da casa, driblando os trabalhadores em alta velocidade. Rodou por alguns quilômetros nas ruas ensolaradas até lembrar-se que não tinha para onde ir. Não podia ir para a casa de Naruto, não tinha dinheiro para gastar com Orochimaru e muito menos poderia aparecer na casa de Karin.
Parou a moto próxima ao calçadão, sentou-se no meio fio e observou o mar, não percebeu os minutos arrastando-se. As lembranças correndo com a mesma velocidade de seus pensamentos, deixando-o tonto. Sentia-se a pessoa mais solitária e indesejada do mundo, aquele sentimento o puxava para o mais obscuro lado de sua alma.
Era noite, uma das famosas tempestades litorâneas castigava Los Angeles, Santa Mônica estava em total escuridão, os apagões eram comuns em temporais. A casa dos Uchihas encontrava-se em meia luz, pois o gerador servia apenas para luzes de emergência no rodapé das escadas, banheiros e geladeiras.
O pequeno Sasuke Uchiha chorava encolhido entre a cama e o criado mudo, tinha por volta dos seus cinco anos. Cabelos negros e revoltos, olhos tristes e duros para a tenra idade, era demasiado pequeno para sua idade, mas, não lembrava nem um pouco o garotinho que havia chegado ali um ano atrás.
A porta do quarto abriu-se devagar fazendo com que a meia luz azulada do corredor entrasse sorrateira pelo carpete, a sombra de Mikoto Uchiha apareceu na soleira da porta. O menino estremeceu e encolheu-se ainda mais em seu esconderijo.
- Sasuke? – a voz dela era doce e calma, Sasuke segurou um soluço. – Querido está faltando energia. Você está bem?
Ela colocou a cabeça para dentro do quarto procurando-o, mas, a cama aparentava estar vazia. Mikoto sorria abertamente, calma e amorosa era a visão de uma mulher que nascera para ser mãe. O menino permaneceu escondido, apesar de ter se passado um ano desde que chegara naquela casa estranha e clara, ele ainda era arredio e por vezes agressivo sintomas que ela sabia vir de sua primeira infância traumática.
O coração de Mikoto apertava-se sempre que o menino se comportava de maneira desconfiada ao receber um afago, ou amedrontada quando achava que tinha feito algo errado. Ela que tanto quisera se tornar mãe perguntava-se como uma mulher seria capaz de fazer tanto mal a uma criança a ponto de deixa-la daquela maneira.
Ela aproximou-se lentamente da cama, puxou os cobertores azuis escuros salpicados de estrelas e revelou não só a cabeleira negra de um menino assustado e choroso, mas, também uma grande mancha escura nos lençóis que cobriam o colchão.
- Oh! – exclamou em entendimento, Sasuke abraçou os joelhos enfiando o rosto entre eles. – Você fez xixi na cama? – Ele não respondeu, ela sabia que não responderia Sasuke quase não falava. – Está tudo bem... – Mikoto deu a volta na cama sentando-se ao lado dele. – Vamos dar um jeito nisso.
Ela levantou a mão para afagar lhe os cabelos, Sasuke encolheu-se e apertou os olhos preparando-se para apanhar e mais uma vez o coração dela se contorceu em sua agonia cálida.
Sasuke fitava o horizonte com os olhos perdidos, catou um cigarro na carteira e acendeu-o evitando o vento praiano com destreza, tragou profunda e lentamente a fumaça saindo pelas narinas e subindo para os céus.
Lembrar-se de Mikoto fazia com que sentisse péssimo, e até ingrato ela dedicara toda sua atenção e cuidados nele durante seus últimos anos de vida, Sasuke sabia que não era de longe o filho que ela amava e torcia que ele fosse. Afinal, ele nunca pode devolver o amor que ela tentou lhe dar a toda maneira. E isso que causara a morte prematura de sua amável e caridosa mãe adotiva.
O sol estava escaldante aquela manhã. Sasuke agora tinha por volta de seus treze anos e subia as escadas de dois em dois degraus, eufórico, queria pegar logo sua prancha de surfe e correr para a praia com Naruto e Ino.
Tinham lido na internet que eram esperadas ondas de até quatro metros aquela tarde, todos os garotos tinham corrido até suas casas para passarem mais uma de suas tardes agradáveis na praia, como era de costume.
Tinha acabado de por os pés no corredor quando escutou a discussão dos pais, geralmente eles não brigavam tanto, mas, ultimamente vinham discutindo por qualquer besteira. Sasuke não sabia o motivo daquelas discussões, ele apenas comportava-se o melhor que podia e nunca ficava por perto para ouvir sobre o que falavam.
Porém, naquele dia as vozes estavam um tanto quanto difíceis de ignorar. Ele sabia que sua mãe estava indo a um médico, mesmo que não aparentasse ter nenhuma doença.
Fosse curiosidade ou medo, ele não saberia responder o porquê de naquele exato dia em que a praia lhe chamava para surfar ele decidira parar próximo à porta do quarto de seus pais e escutar a conversa.
- Não pode fingir que não existe Fugaku! Aconteceu, e nós vamos ter esse filho você esteja do meu lado ou não! – Mikoto parecia revoltada e magoada de uma maneira que Sasuke não podia entender.
- Nós já temos o Sasuke! – Fugaku rosnou furioso. Sasuke estremeceu no corredor, os olhos arregalados pareciam querer saltar da cara. – Ou ele não é o suficiente para você?
- Não fale bobagens. Sasuke é meu filho querido, mas, eu também tenho o direito de ser mãe! Não pode me negar o direito de gerar um filho meu, de amamenta-lo e ama-lo como amo o seu filho! – Mikoto parecia prestes a cair em um pranto ruidoso. – Não pode...
- Você não vai estar aqui para amamentar e amar ninguém! – Fugaku gritou em plenos pulmões. – Mulher fútil!
Sasuke não saberia dizer como saiu daquele corredor aquele dia, mas, ele logo se viu sentado atrás da porta de seu quarto o coração batendo tão forte contra o peito que chegava a doer. Mikoto, sua mãe queria ter outro filho.
Pior, ela teria um filho dela.
Sasuke apertou o maço de cigarros com força na mão, esmagando-o com raiva. Talvez, tenha sido ali que toda a sua raiva descontrolada aflorara, e depois um ano mais tarde Mikoto morrera. Ele lembrava-se daquele dia, do mesmo modo que se lembrava de sua música favorita. Era só fechar os olhos que podia viver toda aquela experiência outra vez, como se um filme de muitíssimo mau gosto passasse repetidas vezes por trás de suas pálpebras.
Era uma noite estrelada e quente, a brisa morna que vinha da praia fazia a camiseta dele grudar nas costas. Sasuke tinha quatorze anos, acabava de voltar de uma noite com Naruto e sua família no píer de Santa Mônica.
Lembrava que estava sorridente e satisfeito. A sombra de ser rejeitado ou trocado por um irmão mais novo não existia mais, sua mãe e seu pai brigavam menos e tudo parecia razoavelmente voltar a normalidade de sempre.
Ou talvez, sua mente criara essa ilusão na época. Mikoto não tinha o mesmo brilho nos olhos que antes, não tentava mais abraça-lo e beijá-lo sempre que estava distraído e Fugaku não parava mais em casa para os jantares e almoços em família.
Ele naquela época preferia acreditar que sua mãe estava finalmente aceitando que ele não gostava de demonstrações de afeto tão explicitas e seu pai estava cada vez mais ocupado com o trabalho. Não percebeu a crise que assolava o casamento e muito menos a depressão que afundava sua mãe em um poço de lamentações.
Estranhou chegar a casa e não encontra-la deitada no sofá assistindo alguma de suas novelas estrangeiras como de costume, por isso foi procura-la. Subiu as escadas chamando alegremente por sua mãe, não percebeu a atmosfera pesada no segundo andar.
- Mamãe... – chamou enquanto abria a porta do quarto lentamente, estava escuro e ela poderia ter recolhido se mais cedo aquela noite. – Mamãe, cheguei...
A cama estava vazia e arrumada, ele entrou no quarto e sentou-se na borda do colchão que rangeu sobe seu peso. A porta do banheiro estava entreaberta e a luz amarelada espalhava-se pelo chão do quarto em um facho que mais tarde Sasuke acharia que era o caminho para o inferno.
- Os pais de Naruto são muito legais mesmo, eles me levaram para jantar. – Ele começou a falar, achando que sua mãe estivesse tomando banho ou usando o banheiro. – Mas, não aceitei. Disse que ia jantar com a senhora como sempre fazíamos e que não queria deixa-la comer só...
Foi nesse momento que o coração dele contorceu-se. Sua mãe não ralhara com ele por ter negado um convite, e muito menos elogiara seu comportamento como bom filho.
- Mamãe? – Sasuke perguntou mais uma vez, levantou-se da cama de vagar. O coração martelando no peito. – Tá tudo bem aí?
Arrastou os pés pelo carpete e aproximou-se da porta. O cheiro pungente de sangue foi a primeira coisa que sentiu, seu corpo estremeceu e os pelos de seu corpo eriçaram-se.
Ele encostou a mão espalmada na porta entreaberta, vagarosamente a empurrou. A porta rangeu como os portões do inferno rangeriam ao serem abertos e a cena que o menino viu marcou lhe para sempre.
Fixada em sua retina para toda a eternidade como se fosse marcada com ferro em brasa, o corpo de Mikoto Uchiha branco e sem vida boiava no próprio sangue.
Sasuke balançou a cabeça com raiva, procurou um cigarro que não estivesse destroçado no maço amassado e pescou o isqueiro do bolso para acendê-lo. Aspirou a fumaça como se ela fosse seu verdadeiro oxigênio, precisava hoje da nicotina mais do que em qualquer outro dia.
Os carros passavam não muito longe dele, jogando baforadas de ar quente e sujeira em suas costas. Retirou seus óculos de armação plástica do bolso e colocou-os no rosto.
Algumas pessoas preparavam-se para surfar não muito longe dele, duas cabeleiras loiras prendeu sua atenção e mesmo que ali não fosse Ino e Naruto, o seu pensamento foi direto a eles.
Naruto que tanto sofrera com a morte de seus pais, o único amigo que ele tivera de verdade, que ficara do seu lado em todos os momentos de sua vida, estava lhe dando as costas.
Lembrou-se então da primeira vez que oferecera ao amigo um baseado, eles haviam a muito usado algumas drogas juntos, aprontado juntos e agora Sasuke agradecia a qualquer ser invisível que pudesse estar por ali o fato de não ter afundado o amigo no mesmo mundo que ele estava.
Um mundo sujo, frio e solitário. Onde o brilho de Naruto se apagaria e sumiria para sempre, um mundo que não dava para sair tão facilmente.
O loiro devia mesmo ser especial afinal, ele nunca se deixara aprofundar na lama do modo como Sasuke fizera. Ele sempre manteve os pés no chão, mesmo que a cabeça e o coração voassem.
Talvez, isso seja atribuído a uma vida de amor e viagens com os pais...
Sasuke cuspiu na areia a sua frente.
A quem ele queria enganar? Naruto sofrera tanto quanto ele. Não mais que ele, mesmo assim, tivera sua cota de merdas para joga-lo no fundo do mesmo poço que o Uchiha estava agora.
Sasuke tinha dezesseis anos, era um jovem forte e bonito. Os cabelos lisos de um negror tão profundo que chegavam a brilhar no sol, estranho para os moradores loiros da ensolarada Califórnia e mais estranhos ainda para um sufista. A pele era levemente queimada em alguns pontos, porém, alva como a de um anêmico.
Estava deitado em sua cama, relaxadamente encostado na cabeceira com um cigarro entre os dedos quando Naruto entrou em seu quarto.
Ele lembrava-se de como os olhos tristonhos do loiro haviam se arregalado, a boca levemente escancarada ao ver a cena dentro do quarto.
Karin, era a garota que Naruto gostava na época. Ela era pobre, mas, linda. E sempre vivia pendurada no ombro de algum rapaz bem de vida do meio deles, como uma bolsa de grife pronta para ser esfregada na cara dos outros.
A ruiva estava deitada de bruços com o corpo leitoso coberto apenas por um fino lençol, Sasuke só vestia uma calça jeans.
- Eér... – O loiro coçou a cabeça, nervoso e envergonhado, o rosto bronzeado vermelho. – Eu não sabia que você estava... Acompanhado.
- Relaxe aí, brother! – o moreno falou arrastado, os olhos vermelhos e nos lábios um sorriso arreganhado. – Ela já estava de saída, não é Karin?
A ruiva se mexeu incomodada embaixo dos lençóis e Sasuke deu-lhe uma tapa na bunda. Ela levantou-se, se enrolando na coberta e catando pelo quarto suas roupas disse:
- Já sim. Eu já estava saindo mesmo... – Ela sorriu, sem vergonha nenhuma da situação e entrou no banheiro.
Naruto ficara parado na porta olhando para todos os lados possíveis até ela enfim sair do quarto, só depois ele entrou, puxou a cadeira da escrivaninha para perto da cama e sentou-se.
- O que ela tava fazendo aqui cara? – sussurrou nervoso.
Sasuke sorriu debochado, Naruto sentiu-se mal, o amigo parecia debochar dele.
- Sexo? – ele respondeu com uma pergunta, ergueu a sobrancelha como se o outro fosse um idiota.
Naruto engoliu em seco, remexeu-se na cadeira desconfortável e falou:
- Tá. Não vim aqui para falar sobre sua vida sexual... – suspirou e passou a mão pelos cabelos. Sasuke continuou fumando seu cigarro artesanal sem dar muita atenção ao que o loiro falava. – Você precisa voltar para o colégio antes que... – Parou de falar quando uma baforada de um cheiro doce e picante lhe atingiu. – Que cheiro é esse?
- Ah! Isso? – perguntou retirando o cigarro dos lábios sorriu e aprumou-se na cama, cruzando as pernas uma sobre a outra. – Isso é um negócio muito bom que peguei com uns caras...
Ele estava visivelmente empolgado, mas, Naruto o cortou firme e desconfiado:
- Isso é maconha? Você tá fumando maconha?
- Sim, é sim... Quer experimentar? – Ofereceu prontamente.
- Claro que não! – Naruto respondeu rapidamente. – Onde você conheceu esses caras?
- Com a Karin.
Naruto pareceu chocado.
- Sasuke você não pode fazer isso... Matar as aulas, sair com todas essas garotas e agora esses caras...
- Para de ser careta Naruto. Já não basta meu pai e sua nova mulher enchendo o meu saco, agora você também vai me dar sermão? Não né? – Sasuke arqueou a sobrancelha outra vez, Naruto abriu e fechou a boca. – Além do mais, essa belezinha aqui me ajuda a esquecer. Sabe todas as merdas que ficam te deixando maluco? Você não daria tudo para esquecer o que aconteceu com seus pais? Nem que fosse por um minuto?
Naruto concordou com a cabeça, os olhos tão tristes como nunca estiveram. Esquecer era a única coisa que ele queria todos os dias de sua vida, ele apenas queria esquecer.
- Então essa aqui é a saída.
Ele estendeu o cigarro mais uma vez.
Aquela havia sido a primeira vez.
Sasuke achava-se tão legal por fazer coisas que outros não faziam, tão corajoso por arrumar brigas na rua e pior que tudo isso era que ele achava-se um ótimo amigo arrastando Naruto para tudo aquilo.
Porém, ele nunca percebera o quanto estava enganado com tudo isso até aquele momento. Naruto estava terminando a faculdade mesmo com todas suas dificuldades, ele que tinha uma media muito acima das outras não estava nem matriculado. Os amigos que antes lhe rodeavam como se ele fosse um tipo de Deus, haviam sumido tão de repente quanto apareceram.
As palavras de seu pai rodeavam sua cabeça como maldições.
“Entenda Sasuke o que você faz por ai, não me fere. Só fere a você mesmo. O que você faz respinga em mim, porém, um dia eu não estarei mais aqui. A empresa que você tanto amava será sua e tudo o que lhe restará será um resto de homem que se perdeu em drogas e fodeu com putas para irritar o papai que já morreu.”
Ele não podia negar que o velho tinha certa razão. Oque aconteceria quando Fugaku morresse e ele não tivesse mais objetivo nenhum?
“Estou caindo fora dessa merda, e você, deveria fazer o mesmo meu amigo.”
Naruto estava saindo, e logo ele iria ficar sozinho. Em um tempo não muito distante Ino havia lhe passado um de seus últimos sermões, conseguia ouvir a voz cheia de razão dela.
‘‘ Quando você parar de sentir pena de si mesmo e de se castigar por erros que sua mãe cometeu vai perceber que consegue seguir em frente.’’
A voz de Sakura também rondava suas memórias, acusando-o de coisas que ele não podia negar. Discriminando-o por ele ser quem era.
‘‘Cala essa boca de drogado! Se eu quiser fumar a merda de um baseado, eu vou fumar e não vai ser você que vai me impedir. Ouviu bem?’’
“Você pode parar de ser idiota? Achei que estávamos bem, uma frente unida.”
Como ela estava enganada.
Sasuke nunca estava bem com ninguém, ele nem sabia como era isso, até mesmo Karin que todos diziam aguentar tudo o que ele fazia fora embora.
O coração dele apertava-se ao pensar que poderia machucar Sakura do mesmo modo como fizera com as todas as outras que ficaram perto o suficiente, por isso e só por isso ele ainda tentava evita-la.
Contudo, estava chegando a acreditar que não era possível ficar longe dela. Havia brigado com Karin por culpa dela, e de todo o desejo que sentia em relação aos beijos que tinham trocado, não era amor, mas, era diferente de tudo o que já experimentara na vida.
O sol estava se pondo quando Sasuke levantou do batente em que esteve sentado boa parte do dia, bateu as mãos na roupa para retirar a poeira da estrada e logo foi embora em alta velocidade, cortando o trânsito em sua moto.
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