História Pensamentos Proibidos - Avanços

Sakura fica estática, olha durante segundos para o aparelho de televisão recém desligado. Espera que Sasuke assuma o controle do que está por vir. Afinal, mesmo que eles se conheçam por pouco, mais que uma semana, e mal tenham trocado dúzias de palavras, os segredos e feridas tão profundos que um partilhava do outro era o suficiente para aquela cumplicidade imensa que se formava, mesmo sem que eles conseguissem identificar de onde ela vinha.

Ele por sua vez depois de passada a raiva e o baque inicial, vira-se de costas e senta-se em sua mesa de escrivaninha, abrindo gavetas e retirando coisas totalmente estranhas de dentro dela.

A garota levanta-se de seu lugar no carpete e aproxima-se dele na ponta dos pés, ela não entende bem o motivo de tanta cautela ao aproximar-se dele, mas, por alguma razão tem medo que o Sasuke de minutos atrás volte.

Aquele Sasuke que em menos de dois dias apareceu para ela três vezes seguidas e assustou-a bastante. Batendo em Sasori na praia como um verdadeiro animal, mesmo que tenha sido para defender sua honra. Aparecera brigando com ela depois quando estava em casa, vermelho de raiva gritando com ela mesmo que não fosse realmente sua culpa.

Ela ainda recuperava-se de sua mais recente aparição na cozinha, quando havia tomado à droga que ele tinha em mãos. Dessa vez ela também gritara com ele, chamara-o de coisas que não podia voltar atrás quando o filtro entre seu cérebro e língua parara de funcionar.

Não ela não quer de modo algum que aquele Sasuke tomasse conta da situação. Ela quer o Sasuke de olhar penoso, porém verdadeiro. O Sasuke que lava seus cabelos e segura todas as pontas enquanto ela desmorona. O irmão que sente suas dores e a pega no colo.

É esse o Sasuke que ela quer durante todos os momentos, tão quebrado e fodido quanto ela própria, mas, cuidadoso e atencioso.

Sasuke pega uma latinha de metal verde berrante, ela olha por cima do ombro dele.

Parece uma lata de pastilha para mau hálito, apesar de Sakura ter provado de sua boca há pouco tempo e ter a certeza de que ele não precisava daquilo. Tinha um símbolo estranho desenhado na tampa, um triângulo com uma gota distorcida e dentro dela, dois traços ondulados como ondas.

Ele desenrosca a tampa, coloca-a de lado em cima do tampo de madeira polido da mesa. Totalmente alheio a garota fantasma parada as suas costas.

Sakura pega a tampa nas mãos, abaixo do símbolo um conjunto de letras de forma gritam SQUADAFUM, ela não sabe o que significa.

O interior da tampa é feito de dentinhos pontudos, como um triturador de alho daqueles que uma vez ela usara nas aulas de economia domestica quando ainda estudava em New York.

A outra banda também é cheia dos mesmos dentinhos, percebe.

- O que é isso?

Ela sussurra antes de conseguir controlar sua língua, sem saber o porquê de está sussurrando ou porque está tão nervosamente calma. Deveria esta pensando em como se livrar do tsunami que estava por vir, tsunami esse que tinha nome e sobrenome: Mebuki Uchiha.

- E um dichavador. Serve para triturar erva. – Sasuke nem pisca ao responder, aparentemente ele não sente a mínima vergonha de está enchendo a latinha com uma erva que Sakura sabe imediatamente ser maconha.

- Não Sasuke. Você não vai fazer isso vai? –Pergunta frustrada.

Ele assente com a cabeça em afirmação, tomando a tampinha de sua mão e fechando-a lata. Gira a tampa do dichavador algumas vezes, sem nem se importar com as caretas de desaprovação que Sakura dá a suas costas.

Ele arruma a erva recém-triturada em um papel específico, enrolando-o como um cigarro com bastante facilidade, Sakura faz nota mental que ele deve ter praticado bastante.

- Isso é nojento! – ela sentencia, quando ele leva o cigarro artesanal aos lábios e lambe-o papel para fecha-lo.

- Hum rum... – Sasuke responde com o baseado entre os lábios.

Ele pega uma bimba de cigarro no cinzeiro ao lado, esticando o braço, acende a bimba com um isqueiro para depois leva-la até o cigarro que tem entre os lábios.

- Porque não acende logo essa merda com o isqueiro?

Ele traga o fumo profundamente, a erva densa e adocicada coça no fundo de sua garganta, Sasuke da uma tossida discreta e sorri.

- O melhor modo para se acender é assim... o isqueiro queimaria metade do meu fumo... – ele para de falar, solta uma baforada de fumaça densa e doce que enche o quarto. – Mas, você não precisa saber disso.

- Claro que não, não pretendo começar tão cedo.

Sakura não sabe dá onde encontra animo para debochar dele. Tem certeza que a fumaça densa que parece encher o quarto cada vez mais tem algo haver com isso.

- Você não entendeu Saky. Você nunca vai começar.

Algo no modo como ele fala aquilo, ou talvez, no modo como ele gira na cadeira de rodinhas para fixar o olhar mais profundo que alguém algum dia lançou, faz com que os músculos dela tremam.

Tudo bem, ele abalava algo dentro dela. Desde a primeira vez quando pousou os seus olhos escuros e enigmáticos nela ainda no aeroporto.

Mesmo assim, ela ainda tinha um gênio forte, escondido em algum lugar no meio de tantos cacos. E aquela frase simples e cheia de promessas dele, não abalara apenas o seu emocional carente, mais também mexera com seu lado pirracento e irracional.

- Você acha mesmo que tem alguma moral para falar que alguém pode usar drogas ou não? – Sakura arqueia uma sobrancelha, cruza os braços na frente do corpo e desafia.

Sasuke abre a boca por alguns milésimos de segundo, chocado com sua audácia. Ela aproveita sua surpresa e continua ainda mais afiada que antes:

- É muita hipocrisia para uma pessoa só. Primeiro vamos deixar umas coisinhas bem claras aqui... – Agora é sua vez de andar pelo quarto, e jogar umas verdades na cara dele. – Em primeiro lugar você não é nada meu... – ela para e pontua com os dedos, gira nos calcanhares e prossegue: - Em segundo lugar eu não te devo a mínima satisfação de nada, então não vou ouvir seus gritos de raiva e muito menos suas broncas sem sentido. E em terceiro, eu faço o que bem quiser na hora que quiser e com quem eu quiser...

Porque ela está com tanta raiva?

Não sabe. Pode ser pelo fato de já ter gente demais mandando em sua vida, em seu corpo, em absolutamente tudo. Passara a semana ouvindo oque deveria comer como deveria senta-se, como deveria sorrir e respirar.

E quando o final de semana em fim chegou, e enfim provara um pouco da liberdade disfarçada que tinha em New York. O chão desabara sobre seus pés, sem aviso prévio.

Em um momento ela estava feliz e plena, em outro momento completamente diferente, estava perdida e sentia-se a pessoa mais deprimente do mundo.

Fora arrastada para casa, chorara todas as lágrimas que não tinha e ainda ouvira milhões de acusações vindas de uma pessoa que não tinha a mínima moral para acusar alguém.

Sentira-se tão diminuída e infeliz que tentara algo de que se envergonharia por toda a vida. Porém, naquele momento parecia ser a única saída para tanta dor.

- Você tá...

Sasuke tenta falar algo, mas, ela não deixa.

- Cala essa boca de drogado! Se eu quiser fumar a merda de um baseado, eu vou fumar e não vai ser você que vai me impedir. Ouviu bem?

Ele sorri primeiro um breve repuxar de lábios, depois um sorriso descarado de dentes arreganhados. Um sorriso estranho demais no rosto de Sasuke Uchiha.

Um sorriso de pura alegria e satisfação.

Sakura admira aquele sorriso mesmo em meio a sua fúria repentina. Sasuke estende o baseado pela metade em direção a ela, oferecendo-o e desafiando-a.

- Muito bem, pegue. De uma tragada, experimente e mostre que pode fazer o que quiser...

Sua voz é risonha, desdenhosa. Sakura pisca os olhos perdida, sem saber o que fazer o cigarro ali entre eles.

- Agora eu não quero... – murmura, como uma criança birrenta.

- Vamos lá, Sakura. Pegue.

A voz dele é dura agora, mas, o divertimento ainda brilha no fundo de suas íris dilatadas.

- Mais agora você está me mandando pegar, eu não quero.

Ela retruca cruzando os braços.

- Eu não quero que você fume Sakura, nunca. Mas, se você quer tanto, que seja algo que eu mesmo preparei e que seja na minha frente.

A voz carregada de cuidado outra vez, o olhar dançando do rosto dela para o cigarro que ainda queima entre seus dedos.

Sakura aproxima-se dele com passos vacilantes, tonta pela fumaça e cheia de coragem pela raiva. Pega o cigarro dele, leva-o aos lábios com cautela demasiada. Puxa o ar com força como quem suga um canudo, de repente esta tossindo forte. Dobrando-se sobre sua barriga em um ataque de tosse exagerado demais.

- Respire Sakura.

Ela simplesmente não consegue algo doce demais e picante demais coça no fundo de sua garganta. Como se uma dúzia de gatos brigassem por território arranhando toda a sua garganta.

Sasuke apanha o cigarro que ela derrubou no chão, pisando em cima de uma pequena queimadura que ele fez ao cair no carpete. Ele oferece suco de laranja para ela que bebe direto da caixa, enquanto passa a mão em suas costas.

- Isso é horrível... como você pode...

- É sua primeira vez, as primeiras são as piores. Sakura olhe pra mim.

Ela ergue os olhos, ele está parado ao seu lado próximo demais. Como não pode notar sua proximidade antes? Ele sempre irradiava ondas de tremores sobre os músculos dela?

Sim, desde o primeiro dia.

Sasuke era tempestade, porque ele a entendia e sentia na pele o mesmo que ela, mas revoltava-se e brandia com força contra o teto de vidro que sustentava suas vidas. E Sakura era a calmaria, lidava com tudo aquilo dentro dela e ainda acalmava-o e embalava-o em meio a sua fúria.

E quanto mais eles se aproximavam, mais podiam ouvir os cacos se reunindo dentro de si mesmos.

Sasuke segurou o rosto dela entre as mãos, a boca entreaberta e tão próxima que coçava para tocar na dela. Um comichão desagradável demais para não ser notado.

- Eu não quero que use droga nenhuma Saky, porque é nojento demais, sujo demais...

- Mas você...

Ela murmura nervosa. Sasuke a cala com um dedo, sentindo a maciez de seus lábios com ele. A mesma maciez que sentiu momentos antes com os lábios e quer tanto sentir outra vez.

- Eu já sou sujo, Saky. E se você fizer isso... – Sasuke não encontra palavras para continuar, balança a cabeça e fala: - Eu não serei aquele que a deixará em pedaços...

- Eu já fui quebrada antes...

- Eu sei, mas se você seguir esse caminho. Ficará sozinha com todos os seus segredos e arrependimentos não use nenhuma droga Sakura, só não use.

Então, como se o olhar de ônix dele tivesse o poder de mover o mundo ela sente as placas tectônicas se abalarem sob seus pés. Para manter-se firme ela o abraça, Sasuke retribui, pois o seu mundo também fora abalado.

                                                                                                              .........

"Eu preciso ser forte, o mais forte que puder." Sakura, pensa.

Está sentada há vários minutos no piso frio do seu banheiro, abraça as pernas enquanto a água quente jorra em suas costas. Sentira vontade de recorrer a sua lâmina outra vez, só para conseguir organizar os pensamentos sem aquela angústia no peito.

Mas, a experiência de quase suicídio ainda fresca na mente fez com que ela adquirir-se uma recente aversão à lâmina.

Então, ela se prepara para o que vem a frente. Sabe que é bem mais fácil lidar com a imprensa do que com Mebuki, e mesmo que tudo tivesse desandado loucamente em tão pouco tempo ela era Sakura Haruno. Sabia lidar com aquilo.

- Eu não vou ficar me apoiando em ninguém... A imagem é o que importa. - Sakura resmunga, enquanto seca o cabelo em frente a sua penteadeira.

Ela está certa, parece que enferrujou um pouco nesses dias que passaram. Também não era para menos, Sasuke e o aeroporto, a surra de Sasuke e o jantar, aprender a ser modelo com a mãe farejando em sua nuca e o sumiço de Sasuke. Sem contar no final de semana.

Sasuke havia consumido todas as suas energias. Ele é fodido demais com todas as suas mudanças de humor repentinas.

Em minutos ele está todo fofo e cuidadoso, em outros, furioso e agressivo. É demais para qualquer ser humano, até mesmo para Sakura que se julgava uma ótima perfilhadora.

Estava tão cansada de lidar com tudo aquilo, que simplesmente desistiu, mesmo que por pequenos momentos pensou em deixar Sasuke tomar conta de tudo. Porque em sua concepção ele era forte, mas, percebeu que ele precisava mais dela do que ela dela.

- É isso! – Sakura fala ao terminar de escovar os cabelos. Já vestida em seu pijama de panda. – Eu vou ajudar Sasuke... Se conseguir o fazer melhorar, posso provar para mim mesma que consigo ser uma boa psicóloga.

Primeiro ela cuidaria do problema imprensa e depois começaria sua nova tarefa. Com calma, ela tiraria Sasuke daquela vida de desgraças constantes.

Sakura digita uma mensagem rápida em seu twitter. Ela sabe que primeiro sua mãe não vai prendê-la em casa, porque ela é uma figura publica agora, e segundo, não vai marca-la de modo algum.

Ela tem uma sessão de fotos na praia em poucos dias, seu corpo tem que está perfeitamente alvo e sem manchas. O engraçado é que ninguém se importa com as pequenas cicatrizes em seus pulsos. Ninguém pergunta nada.

A equipe de maquiagem simplesmente cobre o que dá, e o que não dá é removido no photoshop.

Sem preocupar-se mais com nada, ela deixa o cansaço vencer e fecha os olhos caindo em um sono pesado e escuro.