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História Pensão 1990 - Faixa XIII: Back at one


Escrita por: galaxymaars

Notas do Autor


Oi pessoal! Pois é, cheguei num recorde, não é? Hoje, ou ontem mais cedo, recebi recados muitos fofos num grupo de fanfics do facebook, e internamente estava dando risadinhas porque nenhuma das preciosas pessoas que me encheram de amor por lá fazia ideia de que eu iria postar esse capítulo hoje, hahaha! Bom, chegamos ao fim, não é? Primeiramente, preciso dizer que ri muito dos comentários do capítulo anterior. Vocês foram absolutamente incríveis ficando putos com Minseok e YiFan, juro!
Eu preciso agradecer por todo o carinho que essa história recebeu de vocês. Eu não me lembro muito bem como as ideias surgiram e eu coloquei tudo isso no papel, e realmente, existem muitas outras coisas que eu gostaria de abordar, de histórias individuais do pessoal da pensão até mil historinhas que voavam na minha mente. Isso pode ficar para uma próxima, hm? Deixem Pensão 1990 na biblioteca de vocês, hahaha! Enfim, muito obrigada por tudo isso, por esse tanto de leitores, por esses comentários lindos, sejam eles aqui ou nas redes sociais. Muito obrigada por me encherem de alegria com tudo isso.
Eu realmente me impressiono muito com a quantidade de pessoas que leem o que escrevo, sabe? Realmente. Eu fico muito feliz, e espero que vocês possam ficar também.

Sem mais... Boa leitura! ♥

Capítulo 14 - Faixa XIII: Back at one


Fanfic / Fanfiction Pensão 1990 - Faixa XIII: Back at one

“It's undeniable that we should be together

It's unbelievable how I used to say that I'd fall never

The basis you need to know, if you don't know just how I feel

Then let me show you now that I'm for real

If all things in time, time will reveal”

(Back at one, by Brian Macknight)

 

Deplorável. E meio bêbado também. Ele nem cabia direito naquela cadeira de plástico, mas parece que a solução para todos os seus problemas estava naquela garrafinha de vidro verde em cima da mesa vermelha. Yifan não costumava ver k-dramas e coisas assim, mas uma vez acabou se sentando ao lado de Sehun e Yixing para matar o tempo, e notou que os coreanos gostam mesmo de beber Soju e comer Tteokbokki numa dessas barraquinhas de rua.

Quando ele estacionou o carro na vaga daquela pracinha, sua única vontade era respirar o ar frio da noite e admirar o Rio Han banhado pelas luzes noturnas, mas acabou por ver uma daquelas tendas famosas, e achou que a melhor coisa a se fazer seria comer e beber. Primeiro porque comida com certeza é o melhor consolo para um coração partido, e álcool ajuda a levar as coisas mais na esportiva, não é mesmo? Ele só não esperava que Soju fosse uma bebidinha tão fácil de fazê-lo ver a senhorinha atendente triplicada. Mas tudo bem. Ele tinha um prato cheio de comida, e mais umas três ou cinco garrafas em sua mesa, mas deste segundo item ele já não tinha certeza total da quantidade.

— Ele não precisava ter feito aquilo, sabe? — Agarrou a garrafinha verde que já estava vazia, tentando fixar o olhar na enorme ponte a sua frente. — Ele podia ter fa-... fa-... falado! Isso! Ele podia ter falado comigo. — Suspirou, percebendo que a garrafa estava vazia e pegando outra disposta pela mesinha de plástico. — É muito difícil gostar das pessoas, não importa a nacionalidade delas... — Olhou para um garoto, de provavelmente devia ter uns dezessete anos e que estava sentado na mesa ao lado. — Ouviu garoto? Não se apaixone. Só tem gente filha da puta nesse mundo.

Foi ignorado, é claro. Estava prestes a beber um gole de sua nova amiga, a quarta da noite, quando uma mão cheia de anéis bonitos (e indescritíveis no momento) puxou a garrafa de sua boca.  Já ia protestar, e fez força para levantar a cabeça e fitar aquele sem coração que havia roubado seu tão precioso álcool.

— Você é mais que isso. — Zitao com certeza tinha a melhor expressão de desprezo que sequer um dia Yifan seria capaz de imitar, e olha que a seriedade de nosso protagonista era admirável quando medida por questões faciais. — Se levanta, vou te levar pra casa. — Ordenou entediado, encarando o moreno de cima.

— Não quero.

— Puta que me pariu, viu. — Ralhou o modelo, e nem precisou de muito para se dar por vencido. Sentou-se ao lado do amigo e tomou um generoso gole de sua garrafa. — Vocês são uns idiotas e eu que tenho que bancar a babá de bebum.

— O que você ‘tá fazendo aqui, Tao? — Resmungou, pegando outra garrafa e abrindo cuidadosamente, sendo completamente julgado pelo modelo.

— Nem beber você sabe, gege. — Disse. — Estou te procurando, querido. Não sei se notou, mas são exatamente... — E ele parou, erguendo o pulso para olhar em seu relógio. — 01h32 da madrugada, e tem uma galerinha aí preocupada, a fim de saber se você faleceu ou não entre as ruas perigosas de Seul.

— Já cheguei mais tarde que isso e ninguém nunca falou nada... — Contestou rebelde, causando um revirar os olhos em Zitao.

— É porque antes a gente sabia que você estava psicologicamente apto para se cuidar sozinho.

— E agora não estou? — Kris murmurou, apoiando o queixo na boca da garrafa e voltando a olhar para a ponte ao horizonte.

— Provavelmente nós dois sabemos a resposta para essa pergunta. — Zitao suspirou, bebendo mais um pouco. Depois de um curto silêncio onde só se escutava o som da bebida descendo a garganta daqueles chineses, ele continuou. — Eu avisei que te encontrei quando o vi aqui na barraca. — Yifan resmungou alguma coisa, e arrancou uma risada debochada do mais novo. — Se quer saber, ele estava te caçando como louco por essa cidade.

Kris sentiu um pouquinho de culpa depois de ouvir isso, mas nada que não fosse superado com mais uma garrafa de soju. Ele havia refletido um pouco sim, é claro, e sua mente o dizia que era melhor ter escutado o que Minseok tinha para lhe dizer, mesmo que fosse apenas um pedido de desculpas, porém ele era orgulhoso o suficiente para negar que estava completamente errado, mas também não se absolvia totalmente de sua culpa naquela história.

Estava na verdade se sentindo idiota. Muito idiota. Mas a bebida o envolvia e ajudava a lidar com essa merda toda que estava empacotada em sua mente.

— Sabe... Eu não sei se você quer falar sobre isso... — Murmurou Zitao, e Yifan o deu atenção, porque pela primeira vez em todo o tempo que conhecia o rapaz, nunca o vira ser cauteloso com as próprias palavras. — Mas acho que a gente pode bater um papo reflexão se você quiser...

Yifan riu, espetando um dos Tteokbokki e o enfiando na boca, voltando a olhar para a ponte.

— Não seja ignorante comigo. — Zitao ralhou, bufando logo em seguida. — Tá, tá, Kyungsoo disse que eu deveria ser calmo. Vou ser calmo. — E o loiro inspirou e respirou profundamente. — Sabe, se tem uma coisa importante nessa vida, gege, é diálogo. Você e Xiumin precisam conversar.

— Eu não quero conversar agora. — Resmungou amargo, preocupando-se em comer.

— Mano, eu vou te dar uma tapa se você continuar sendo trouxa assim. — Ameaçou o mais novo, fazendo o Wu dar uma risadinha derrotada. — Gege... Olha... O Xiumin é uma pessoa muito boa, mas ele não está desqualificado de ter defeitos, sabe? Ele também passou por um relacionamento do caralho, talvez ele não saiba como agir agora, e é exatamente por isso que vocês dois precisam conversar com calma sobre... Sobre o que aconteceu aí...

Yifan encarou Zitao calmamente. Ele queria dizer que estava tudo bem, e quando ele se sentisse melhor, iria atrás de Xiumin e eles conversariam sobre as coisas que os perturbavam, mas agora, naquele exato momento, Kris só queria beber seu álcool, talvez até fumar um cigarrinho à beira do Rio Han, e fingir que nada o incomodava, absolutamente nada.

— Obrigado, Tao. — Murmurou, tentando dar um meio sorriso. — Mas agora eu quero ficar aqui.

— Yah! — Zitao protestou, mas depois de um ou dos suspiros pesados, apenas se limitou a recostar as costas na cadeira de plástico velha. — Posso ao menos comentar que sequer imaginava que você era viado? Ou virou viado, sei lá o nome disso... Bi? — Resmungou, fazendo uma careta e tomando mais um gole de soju. — Quanto mais que pegava o Xiumin, nossa. Foi um choque quando cheguei lá em casa e Baekhyun estava contando a historinha na sala.

— Todos sabem agora? — Sussurrou, meio desnorteado.

— Bem, meio difícil não saber depois do barraco que deu.

— Todo mundo agora sabe quem é o alguém sem importância... — Yifan murmurou triste, distraído. — Espera. Que barraco? — Ergueu a cabeça, fitando um Zitao que parecia bastante entediado.

— Do Lay, ué. — Continuou Tao, mas logo notando a dúvida na expressão do moreno. — Tenho a leve sensação de que você não estava presente nessa parte da história, não é?

— Mas que merda aconteceu, Zitao? — Dessa vez foi Kris quem ralhou, perdendo a paciência com o modelo.

— Tipo... — Zitao começou, achando graça no desespero do outro. — Lay meio que ficou irritado com as coisas que o Minseok disse, e você sabe como é, não é? O Lay não conversa, ele impõe a opinião dele. — Ele sorriu, balançando a garrafa quase vazia na mão. — E Minseok hyung não estava lá num dia muito bom, não é mesmo? E aí eles começaram uma briguinha que deu para ouvir lá do primeiro andar, mas tudo okay. Ninguém saiu ferido até porque Xiumin é da paz. — Completou. — Mas ele chorou. Porém... Yixing não parecia muito culpado por isso não. E aí o hyung começou a ficar nervoso porque você não chegava, deu uns cinco minutos de “vou atrás do meu homem” e saiu por aí, todo lindo e belo de pijama, te procurando pela rua.

Yifan até precisou tomar mais um gole daquela pinga horrorosa para saber lidar com aquele tanto de informação despejada em sua cabeça. Mesmo estando puto da vida, não queria que Lay e Minseok tivessem discutido, tecnicamente, por sua culpa, quanto mais desejava preocupar o mais velho e fazê-lo sair a sua procura.

— Você o avisou que estou bem...? — Murmurou meio contraditório, fazendo Zitao rir.

— Avisei. E ele está vindo para cá. — Comentou calmamente. — Já deve até estar chegando, para falar a verdade.

Muito bem, de todas as coisas incríveis de sua vida nada pacata, Wu Yifan jamais pensou que iria se afogar com um pedaço de massa de peixe, quanto mais que beberia soju para tentar fazer aquela porra descer, e que não conseguiria, obviamente, e Zitao teria de dar tapas tão fortes em suas costas que ele realmente pensou que seu pulmão sairia pela boca.

— Co-como as-ass-assim vindo pra cá, Zitao? — Estava em pânico, levantando-se da mesa tão precariamente que nem conseguia firmar os pés direito. — Não dá risada!

— Ele se negou a ir para casa! Disse que viria à pé atrás de você se fosse necessário, mas Chanyeol deu uma carona. — Respondeu, observando como o mais velho cambaleava para afastar a cadeira e andar. — Ei, volta aqui.

— Vou embora.

— Vai bosta. Vem cá! — Gritou para o chinês que ia andando torto pela rua. — Eu não vou pagar a sua conta, porra! — Berrou, mas já era tarde demais e a senhorinha o olhava atentamente. — Eu vou pagar sim, relaxa, ahjumma.

 

 ...

 

Conseguiu chegar vivo até a vaga onde deixara seu carro estacionado. Deu uns tropeços na quina da calçada, mas graças a Deus seu reflexo era bom, mesmo com a mente toda perturbada e o cerebelo meio alcoolizado. A pracinha em frente ao Rio Han era um pouco distante dali, mas dava uma visão muito bonita da ponte, e foi passando por ali que ele resolveu estacionar e dar uma volta a pé, mas agora estava tão vazio que ele poderia cair de boca no chão que ninguém assistiria sua vergonha.

Apoiou-se no retrovisor e devagar se sentou na calçada. Precisava primeiramente tentar achar a chave do carro num dos seus bolsos, mas tudo o que conseguia pensar era como ele podia ser um azarado do tamanho do mundo, tanto que dava até vontade de chorar. Claro que era a bebida que molhava seus olhos, mas porra, ele gostava para caralho de Xiumin, e agora ele não tinha coragem nem de encarar o mais velho. Não tinha coragem para nada nessa vida. Zitao estava certo, ele era muito trouxa. Um completo covarde.

— Yifan...!

Ergueu os olhos para a pessoa que gritara por si. Ele estava meio longe, e mesmo com a visão péssima, Kris sabia quem era. Sabia pela voz, pelo jeito como ele corria até si, com os cabelos tingidos de loiro esvoaçando, o peito arfante e a expressão assustada. Ele ofegava, e a cada passo que chegava mais perto, o mais novo notava que ele realmente vestia seu pijama, aquele moletom feio que usava para dormir, com aquela camiseta branca quase amarelada, e que provavelmente só enfiara os tênis e saíra como louco a sua procura.

Estava se sentindo culpado, porém não fez menção de fugir de Minseok. Na verdade, agarrou no retrovisor e pacientemente tentou se levantar, firmando os pés no chão e dando alguns passos à frente, a fim de ficar mais próximo do menor, que chegava arfante até si.

— Oi... — Respondeu quando o mais velho parou a sua frente, respirando acelerado pela recente corrida.

A primeira coisa que Minseok fez, depois é claro, de esboçar sua melhor expressão de alivio, foi tropeçar na guia da calçada ao se aproximar de Yifan e tentar se apoiar nele, não contando que a bebedeira faria o chinês dar três passos perdidos no chão de pedra e, por mais incrível que possa parecer, levar mais do que dois segundos para tombar no chão, o que é realmente um feito muito grande se levar sua sobriedade em conta. Mas isso não importa agora.

Imediatamente Minseok tentou segurar o bêbado ao se equilibrar, o que deu errado o suficiente para ir ao chão de joelhos junto com ele. Quando conseguiu encontrar seus olhos e acalmar a respiração, começou a balbuciar de modo eufórico:

— Você foi embora... — Xiumin disse amargurado, encarando o grandão que o olhava confuso. — Não me deixou explicar. Foi afobado. E principalmente... — Murmurou, a voz masculina e ofegante invadia os ouvidos de Yifan. — Duvidou dos meus sentimentos por você.

E sem esperar por alguma reação tardia do Wu, o coreano agarrou seu pescoço e o beijou. Mesmo que Kim Minseok estivesse em pânico por tomar aquela atitude impulsiva e ser rejeitado, Yifan não moveu um músculo em protesto, e quando os lábios do menor escorregaram sutis sobre os seus, ele deixou a abertura necessária para que as bocas se encaixassem facilmente. Ele queria aquilo. Esperara por aquilo o dia todo. Um simples beijo e já estava desnorteado novamente, e com certeza Minseok estava muito mais envolvido nessa tragédia sentimental do que o álcool que corria por suas veias.

Quando se separaram, Yifan notou que ainda estava no chão, e Minseok abraçado aos seus ombros.

— Me perdoe por ser um idiota... — Murmurou, apertando-o mais nos braços. — Eu não devia ter dito aquelas coisas... Eu só queria despistá-los... Eu não sabia... Quer dizer, eu sabia... — Ele começou a balbuciar nervosamente de novo, e o Wu acabou por o afastar para olhá-lo nos olhos.

— Sabia de quê? — Sussurrou o moreno, mais gentil do que esperava aparentar.

 — Eu não sabia que você gostava tanto de mim... — Minseok respondeu sincero, apertando os joelhos.  — Não me olhe dessa maneira, Yifan. — Murmurou, encarando o mais novo. — Nós... Nós estávamos juntos... Conversamos, beijamos, fizemos sexo... — Sussurrou, um pouco envergonhado. — Mas nunca falamos sobre o que sentíamos um pelo outro. Eu... Eu não sabia se era... — Ele parecia tão pressionado, que o próprio Wu se sentiu extremamente culpado. — Se você sentia o mesmo...

— Não diga. — Murmurou, surpreendendo o coreano.

— O que? — Xiumin o contestou, encarando-o nos olhos. — Que estou apaixonado por você?

A reação não foi de cinema. Na verdade, a culpa assolava os sentimentos de Yifan. Ele tinha certeza de que ambos não sabiam de absolutamente nada, e por isso estavam tão confusos. Eles nunca haviam conversado sobre o que sentiam desde que decidiram experimentar entender o que eram aquelas malditas sensações e reações que tinham um pelo outro. O olhar penalizado do chinês se envergonhava perante o rosto confiante e ao mesmo tempo perturbado do Kim.

— Eu não queria causar isso. — Kris se ajeitou no chão de pedra. — Eu sinto muito. 

— Sente pelo quê? — Minseok estava a ponto de surtar. — Pelos meus sentimentos? Por eu gostar de você? — Alfinetou, enfiando os dedos nos cabelos curtos. — Eu não sei mais o que está acontecendo.  Eu vou ficar maluco... — Murmurou olhando para o lado oposto da calçada.

— Sinto por ter causado essa confusão toda... — Yifan corrigiu sua fala, erguendo os olhos para o mais baixo. — Eu não queria te pressionar a dizer essas coisas. — Completou calmo. — Sinceramente? Eu não queria que você tivesse dito que está apaixonado por mim depois desse vexame de cair bêbado na calçada... — Ele riu baixo, massageando a própria coxa, deixando os olhos recaírem sobre o Kim. — Eu queria que tivesse sido mais bonito que isso, mas... Eu realmente gosto de você. — Ele sussurrou. — Eu realmente sinto que estou me apaixonando por você.

— Mesmo depois de eu ter te derrubado sem querer? — O vislumbre de um sorriso percorreu os lábios finos, e de repente o Wu não se importava com nada.

— Mesmo depois dessa vergonha. — Murmurou.  — Que ‘tá doendo um pouco. — Reclamou de repente. — Você podia ter me segurado, sabia?

Ele não foi contestado. Xiumin tomou a iniciativa novamente, e quando notou, eles já se beijavam no chão de pedra daquela rua vazia que tinha cheiro de rio. As mãos encontravam seu lugar, as bocas sabiam como acarinhar uma a outra, e todo o amargor se esvaziava em sentimentos que sequer pensavam em discutir agora. Minseok e Yifan estavam sentindo, e aí se acabava a discussão deles. Já estava de bom tamanho um tombo e alguns gritos, e eles definitivamente não gostariam de receber aquela dose de sofrimento novamente, mesmo que ela tenha sido pequena.

— Eu não sinto vergonha de você. — Xiumin começou baixinho, a boca ainda praticamente colada a do Wu. — Eu juro que não. Eu só não queria que você se sentisse desconfortável... Eu tinha medo... Eu não soube escolher minhas palavras... — Ele tentava se justificar, mas Yifan arrancou mais um beijo de seus lábios.

— Sinto muito por ter te pressionado tanto, por te acuar daquela forma. — Disse depois de uma parada para tomar fôlego. — Devia ter sido mais paciente antes.

— Você só não tinha que ter ido embora... — Minseok choramingou baixo, agarrado aos seus ombros. — Me desculpe pelo empurrão, foi acidental — Disse baixinho, beijando a bochecha do moreno.  — Mas você mereceu. — Ele riu, e o chinês choramingou.

— Eu mereço beijos... — Murmurou manhoso, ouvindo a risada de Xiumin e o observando levantar-se.

— Vamos para casa. — Disse o coreano. — E eu dirijo. — Sorriu, tentando fazer o moreno levantar-se com muita dificuldade, já que a proporção gigante somada ao desequilíbrio da bebedeira dificultava, e muito, as coisas. — Qual seu problema? Precisava beber tanto? — Debochou, cruzando os braços e arqueando a sobrancelha.

— Você não tem o direito de desdenhar da minha fossa, Kim não-é-ninguém-importante Minseok.  — Defendeu-se Kris, arrancando uma gargalhada do mais baixo. — Não sei onde coloquei as chaves... — Ele suspirou, encostando as costas na porta do carro.

— Você perdeu?

— Não faz cara feia para mim, Minseok.

— Aish!Xiumin se aproximou, passando as mãos pelas costas do Wu e descendo até o quadril, apalpando os bolsos traseiros. — Não estão aqui... — Murmurou, mas acabou corando quando seus olhares se encontraram. Yifan poderia ser sensual apenas o lançando um olhar, e ele precisava mesmo ser tão bonito?

— Você está se aproveitando de um estrangeiro alcoolizado. — Fez piada, dando seu sorrisinho de canto, mas mantendo o olhar flamejante para cima do coreano.

— Cala a boca. — Minseok resmungou em resposta. As mãos escorregaram para os bolsos da frente do jeans, apalpando para tentar encontrar as benditas chaves. — Você olhou na jaqueta? — O chinês apenas balançou a cabeça, e Minseok sentiu um arrepio frio quando ele passou o braço em volta de sua cintura. — Segura a onda, bebum... — Riu, enfiando as mãos no bolso falso da jaqueta. — Achei.

— Eu fui rejeitado e ainda por cima levei um chute do meu cara. — Choramingou. — Preciso de um consolo. — Minseok o fitou sem expressão, fazendo o mais novo rir. — Preciso de um chocolate.

— E um banho. — Reclamou. — Tá fedendo a perfume caro, bebida e... — Ele aspirou o cheiro da jaqueta de Yifan, fazendo uma careta em seguida. — Peixe frito.

 

 ...

 

Primeiro ele enfrentou três lances de escada e um coreano que custava o ajudar, mas passava mais tempo rindo de sua cara. Só por vingança, jogou as roupas fedorentas em sua cara à base de protestos, e entrou no chuveiro. Na verdade, agora ele tinha a melhor sensação do dia, porque apesar do relógio marcar 03h21 da madrugada, ele não se importava, ainda estava desperto, e por algum motivo, sem sono algum — mesmo depois de, de acordo com Zitao, cinco garrafas e meia de soju. Mas ele desconfiava que duas ou três delas pertencessem ao modelo.

Quando ele enfim saiu do banheiro, de cuecas e uma toalha em volta do pescoço, andava sem cambalear, apesar da tontura eminente. A Pensão 1990 com certeza o fizera mais resistente ao álcool, realmente. Ele afastou os cabelos molhados da testa e entrou em seu quarto, não esperando encontrar aquele tufo de cabelos loiros enrolado entre seus cobertores.

— Será que... — Perguntou Minseok depois que a luz do abajur foi acesa. — ...posso dormir aqui? — Ele sequer olhava para o analista, que se limitou a esboçar uma risadinha.

— Sabe... — Comentou distraído, tentando enxugar os cabelos na toalha já meio úmida. — Eu queria ser seu namorado. — Completou distraidamente, no fundo estava nervoso, mas não o suficiente para não dizer o que desejava. — Eu posso ser um bom namorado, sabe? — Ele riu, olhando fixamente para a cordinha que pendia de dentro do abajur. — Eu sou meio ciumento às vezes, mas costumo aprender com meus erros. — Sorriu, deixando a toalha pender sobre os ombros novamente.

— Você está me pedindo em namoro? — Ouviu o murmúrio de Xiumin, e depois de alguns segundos aquiesceu.

Ele já sabia que Minseok passava longe do conceito de delicadeza, e estava constantemente aprendendo a lidar com isso. Quando o Kim enrolou os dedos na toalha e o puxou pelo pescoço, ele não esperava que fosse receber um beijo tão repleto de sensualidade, e ao mesmo tempo tão recheado de desespero por colar aqueles pedacinhos que foram quebrados naquela noite.

— Vou levar isso como um sim. — O chinês sorriu, enrolando-se por cima de Minseok, afundando o nariz em seu peito nu, sentindo o cheiro que desprendia de sua pele enquanto os dedos do rapaz se enroscavam em seu cabelo.

— E eu diria não para um partido como você? — Brincou, recebendo uma dentada no peito. — Falido, carente e hétero... Quem negaria um cara como esse? — Ele estalou a língua, rindo. — Só um maluco não vê que você é o cara perfeito.  — Sussurrou sincero e sem ironias, e aos poucos assistiu o sono pesado de Yifan ganhar a cena.

Depois de não aguentar mais segurar o grandão nos braços, o jogou para o lado no colchão, e se agarrou nele, como sempre faziam, e provavelmente acordaria com a cama toda tomada para si e Yifan quase caindo no chão. Mas não importa, ele o puxaria de volta e eles voltariam a embolar pernas, braços e cobertores macios, esperando só o sono ir embora de vez e a vontade de beijar reinar por completo nas primeiras horas da manhã.

 

 ...

 

— Você entra na minha casa, come da minha comida, lava a bunda com a minha água e não tem coragem de me contar que torce para o mesmo time que eu, seu filho da puta?

Jongdae parecia realmente transtornado durante o café da manhã. Obviamente que Yifan e Xiumin viraram o assunto da 1990, e casualmente não era devido ao fato de que o ocorrido da noite anterior causara a revelação do casal, mas principalmente pela briga entre o dono da pensão e o nosso querido Zhang, que parecia muito satisfeito tomando seu copo de leite puro, do outro lado da mesa. Yifan soube que a discussão deu o que falar, mas nunca realmente soube o que Yixing disse ao melhor amigo, e até preferia não saber.

— E nenhuma dessas bichas teve a coragem de me dizer um fato importante como esse. — Chen continuava resmungando ao lado de Junmyeon. — Nem meu namorado. — Olhou com amargura para o mais velho, que decidiu ignorar todo o seu discurso de afetado desde a noite anterior. — Certo que nunca tive um radar muito bom, mas isso não é justo. Você já era gay quando a gente se beijou no Natal? — Arriscou, olhando esperançoso para o chinês a sua frente.

— Supera, gay. — Reclamou Baekhyun depois de um bocejo. — Vocês são uns manés. Olha só como esse gigante olha pro Umin hyung... Tsc, você me decepciona, Park Chanyeol. — Enviou um olhar de desprezo ao namorado, que apenas riu, logo depois tentando apertar as bochechas do Byun.

— A mais afetada nessa história toda fui eu. — Começou Zitao, repetindo essa frase pela décima vez durante aquela manhã. — Perdi dinheiro e poder.

— Dinheiro e poder? — Questionou Kyungsoo.

— Claro. Se eu trabalhasse menos e passasse mais tempo nessa casa, teria notado essa porra toda de namorico deles. — Desdenhou o modelo, apontando o copo de detox na direção do casal. — E eu poderia ter me aproveitado disso, porque eu não sou trouxa como vocês. Eu sei extorquir as pessoas por dinheiro.

— E onde é que o poder se encaixa nisso? — Kyungsoo já havia desistido, mas Sehun decidiu prosseguir com o assunto.

— Ia poder esfregar na cara de todos vocês que eu já sabia que o hyung come o hétero.

Depois de cuspir quase todo o seu suco de laranja, Yifan precisou trocar de camisa. Era divertido para ele, de qualquer forma. Apesar dos comentários indecentes, todos pareciam apoiar completamente o seu relacionamento com Xiumin, e queriam arrancar deles, a qualquer custo, na opinião do chinês, informações sobre sua vida sexual.

Minseok não era lá muito de falar sobre os dois para os demais, ficava corado, desconversava e dava um sorriso — Yifan o achava extremamente fofo nesses momentos. Já o próprio grandão ficava de boa, ele sempre fora assim mesmo. No entanto, a primeira vez que deu um selinho no mais velho antes de sair para o trabalho, ainda naquela manhã, gerou um surto geral. Baekhyun saiu berrando pelos quatro cantos da casa sobre como eles eram o casal gay mais lindo da comunidade LGBTQIA+, e Sehun quis tirar fotos com seu celular, mas foi controlado por Luhan e seu bom senso de camaradagem com os amigos nascidos em 1990.

Yifan não podia negar que estava feliz. Ele e Minseok acordaram aos beijos, e aquele papo todo dos moradores da pensão o divertia. Fazia algum tempo desde que ele se sentiu acolhido num lugar, numa casa, num lar.

— Fiz um investimento. — Comentou Lay durante o almoço no restaurante chinês.

— Sobre o novo emprego?

— Yep.

— E qual seria? — O moreno se recostou na cadeira, observando atentamente o amigo que na noite passada quase descera o cacete em seu namorado.

— O de não aceitar o novo emprego. — Yixing esboçou um sorriso calmo, remexendo seu creme chinês com a colher. Yifan o olhou atentamente, e notando que ele parecia sereno, mas o Wu não o conhecia o suficiente para saber o que se passava em sua mente. — Eu não seria feliz longe de vocês. — Murmurou, e o coração mole do grandão se derreteu todo por estar incluso no que ele sabia que o Zhang considerava sua família.

— Lay. — Chamou o mais velho. — Sabe que está perdendo uma grande oportunidade, não é?

— Sei. — Disse simplista, dando de ombros. — Mas eu sou bom no que faço, sei que outras apareceram.

E realmente apareceram. Exatamente duas semanas depois, Lay estava ali, naquele mesmo restaurante que almoçava com Kris todos os dias desde que ficaram próximos, mas desta vez ele não se sentava à mesa junto do rapaz, e sim preparava o seu prato, como chef. Yifan acabou perdendo sua companhia de almoço, mas não se importava, porque Lay fazia questão de aparecer e sentar-se com ele para apreciarem alguma sobremesa juntos, e isso já bastava para Wu, principalmente porque o cozinheiro parecia muito feliz.

Era sexta-feira quando Yifan chegou em casa e, depois de um banho e roupas confortáveis, desceu para fazer companhia para Minseok e ajudá-lo com o jantar. Kai e Zitao também estavam por lá, empoleirados no balcão.

— Mas e aí? Você tá pegando ele? — Perguntou Jongin, com sua costumeira cara de sono, logo se apoiando em Kris quando ele se sentou ao seu lado.

— E eu sou lá de pegar coreano, Kim Jongin. — Debochou o loiro.

— Ele gosta dos gringos. — Explicou o mais novo ao notar a dúvida nos olhos de Yifan. — Kyungsoo tem uma queda pelo Orlando Bloom. — Comentou distraidamente.

— E você sente ciúmes? — Perguntou o modelo.

— Sinto. Mas quem ‘tá namorando ele sou eu, né? — Riu, fazendo Yifan sorrir. — Amanhã vamos completar três semanas. — Disse animado. — Ele foi me buscar na padaria ontem pela primeira vez... Foi tão legal... — E suspirou apaixonado, fazendo Yifan rir e arrancando uma careta de Zitao.

— Vocês parecem todos uns retardadinhos quando se apaixonam. Credo. — Resmungou, tomando um gole de sua cerveja.

Depois de mais alguns comentários ácidos sobre como o amor era uma ferramenta para fazer as pessoas serem idiotas, e de como ele, Huang Zitao, nunca cairia nessas armadilhas ingênuas da sociedade, Minseok despachou os mais novos para arrumarem a mesa, já que milagrosamente todos estavam presentes para o jantar. Ele havia cozinhado algo especial, já que Lay estava de emprego novo e Luhan finalmente conseguira sua promoção, com direito a menos horas de trabalho, ao contrário do que Sehun esperava.

— Parece que tudo está nos conformes, não é? — O Kim se aproximou, deixando suas panelas no fogo baixo para poder se enroscar no pescoço de Yifan.

— Acho que só falta nós nos casarmos e enchermos a casa de crianças para que Tao possa chutá-las em algum momento. — O Wu sorriu, fazendo Minseok gargalhar. — Mas podemos pular essa parte para que eu possa te contar uma coisa. — Completou, brincando com os dedos do mais velho.

— E o que seria?

— Meu chefe me deu permissão para voltar ao Canadá. — Comentou sério, concentrado nos dedos de Xiumin, que instantaneamente ficaram duros.

O silêncio foi inevitável. Minseok não retirou o braço apoiado em seu ombro, mas também não fez mais movimento algum. Ele não sabia bem o que dizer, porque pensava que não tinha lá muito direito de pedir que Yifan ficasse. Ele pensava em mil coisas ao mesmo tempo, tanto que sua cabeça até mesmo começara a doer, e sua respiração pesar. Realmente... Realmente Kim Minseok não esperava que fosse desejar tanto a presença de Wu Yifan em sua vida, em sua pensão.

— Sua expressão de infelicidade faz meu ego inflar. — Desviou os olhos para o moreno alto que sorria, acabando por rir da confusão momentânea do Kim. — Eu não aceitei, Minseok. — Disse, apertando os dedos presos em sua mão. — Eu não tenho muito para o que voltar em Vancouver, e eu gosto do meu trabalho aqui, gosto da pensão, dos meus amigos... — Ele o olhou nos olhos, sorrindo sem dentes. — Gosto de você.

— Você tem cincos segundos para fugir dos tapas que quero te dar.

— Não pode ser um beijo?

O Wu riu da careta de Xiumin, mas não ganhou nem tapa e nem beijo. Na verdade, foi um abraço mesmo, bem apertado, e acompanhado de uma fungada discreta no pescoço que acabou por fazer o mais alto se arrepiar. Ele enrolou o namorado nos braços e aspirou seu perfume masculino, imaginando como sua vida havia virado de cabeça para baixo em tão poucos meses, e que de repente, ele nunca se sentiu tão satisfeito com tantas mudanças estranhas, absurdas, e que realmente o faziam feliz. Sinceramente feliz.

— Toda a noite é a mesma coisa. — Ouviram a voz de Jongdae entrando pela porta dos fundos, e Xiumin soltou seu pescoço, sentando-se na perna esquerda de Yifan. — Eu chego em casa e esses dois tão se comendo na cozinha.

— Não seja exagerado, Dae. — Suspirou Suho, que chegara junto do moreno de lábios de gatinho, balançando a pasta de trabalho nas mãos. — Isso tudo é inveja. — Junmyeon piscou para o casal, caminhando calmamente para a sala, a fim de dar seus parabéns a Luhan e Lay.

— O meu humor não estaria assim se você não me viesse com essas greves de sexo, Junmyeon. — Resmungou irritado, fazendo Xiumin gargalhar. — Espera só até seu hétero ter uma dessas ideias. Quero só ver o nervoso que tu vai passar, hyung. — E foi embora pisando duro, deixando os dois para trás.

Pobre Jongdae, mal sabia ele que naquela noite iria tirar todo o atraso sexual da greve sem motivo de Junmyeon. Logo depois Kyungsoo chegou, sendo agraciado com a manha habitual de Kai, que veio o puxar para sentar com ele no sofá, pronto para receber os carinhos que ansiava a semana toda, já que o Do vivia ocupado. Kris estava pronto para calçar seus chinelos novamente e sentar-se à mesa para o jantar quando Minseok o questionou detrás do balcão:

— Por que você nunca desmente?

— Desmentir o que? — Perguntou confuso, observando o mais velho encará-lo enquanto enxugava as mãos num guardanapo.

— Sobre o sexo. — Explicou. — Todos acham que eu sou o ativo.

Yifan o encarou por mais uns segundos antes de sorrir, encostando a cintura no balcão e cruzando os braços rente ao peito.

— E tem algum problema nisso?

— Não. Nenhum. — Minseok apressou-se em dizer. — Só gostaria de saber o motivo, já que até hoje, eu fui o único passivo. — Deu de ombros, pendurando o guardanapo.

— Então acho que precisamos mudar essa rotina, não? — O moreno sorriu malicioso, e Minseok o encarou, sentindo o estômago afundar só de olhar para a beleza magnifica daquele chinesinho indecente.  Deu a volta no balcão, abraçando a cintura do namorado e erguendo o rosto para beijá-lo.

— Até que você tem uma bundinha muito gostosa. — Sorriu sacana contra sua boca, escorregando a mão para apalpar o mais novo.

Me mostre o que você sabe fazer, Kim Minseok... — Sussurrou com sua voz grave, deixando os pelos do dono da pensão completamente arrepiados.  — Mas só depois do jantar.

Assim dizendo, deixou o mais velho para trás, enfiando as mãos nos bolsos e caminhando calmamente até ao seu lugar na mesa. Riu quando ele o chamou em protesto, mas continuou seu trajeto mais do que desejado até à mesa, porque Minseok poderia ser muito bom de cama, mas não mudaria o fato de que ele era excelente no fogão, e Wu Yifan jamais negaria sua comida, de jeito nenhum.

E o jantar tinha aquela bagunça de doze rapazes esfomeados e divertidos, que sempre faziam a vida de Yifan parecer uma novela.

Ou um k-drama, é claro.

 


Notas Finais


Espero que tenham gostado! Muito obrigada por ler, desculpem-me pelos erros e até a próxima! ♥
Quem quiser conversar, eu estou no twitter como @galaxymaars. ♥


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