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História Penumbra - Capítulo Único


Escrita por: Canim

Notas do Autor


Fanfic do “Primeiro Concurso de FanFics Héteros de K-Pop promovido pelo Jornalecos”

Faz muito tempo que eu não escrevo e foco no romance não é meu forte, mas está aí
Eu gostei do resultado
A fic é do Dean e uma personagem original, só usei a Hwasa do Mamamoo na capa porque essa mulher é poderosa e ela me lembra a personagem tanto de corpo como de personalidade

Eu quero agradecer ao @Jornalecos pela ideia do concurso
Ao pessoal que leu e me deu sugestões, foram muito importantes para mim
A @TroubleMaker que betou a fic para mim
E a @Amn que fez as capas

Só para esclarecer no universo da fic existem os anjos e eles podem cair, ou seja, deixar de obedecer o céus, mas eles não perdem seus poderes angelicais. Os anjos podem ter sua angelicalidade (graça) tirada e assim eles se tornam humanos, como acontece com ele na fic, a graça é como uma fumacinha azul

As partes em itálicos são Flash Backs

É isso, agradeço também quem ler, obrigada pessoal
Boa leitura

Capítulo 1 - Capítulo Único


Fanfic / Fanfiction Penumbra - Capítulo Único

A mala estava feita e próxima a porta, as passagens sobre a mesa. Brasília parecia um futuro promissor para uma cria demoníaca recuperar sua maldade, toda aquela corrupção que gerava pobreza e ignorância, poucas coisas poderia fazer um demônio tão feliz, sem contar aquele calor que a lembrava seu local de nascimento.

O pequeno frasco de vidro com uma névoa azul e brilhante estava em sua mão, ela pensava que finalmente encontrou algo positivo em ser filha de uma demônio, sua mão não estava tremendo e, com certeza, estaria se fosse humana.

Voltou seu olhar para o homem que dormia profundamente na cama de casal. Quando anjo ele dormia dessa forma sobre as nuvens? Riu de sua imaginação, anjos não dormiriam dopados sobre montes de algodão como nas decorações infantis.

Se aproximou e sentou sobre o lado vazio da cama, arrumou o braço engessado dele confortavelmente. Olhou o frasco em sua mão, logo não haveria mais fratura, dor ou homem. Em breve seria um anjo dopado e uma criatura nascida no inferno fugindo para reencontrar sua crueldade.

Ele sentiria falta dos doces? Sentiria falta dos seus sentidos? Sentiria falta dela? De como ela o tocava e das sensações que tinha quando a via corada e suada entre os beijos?

Não

Como um anjo, seus desejos carnais se tornariam quase nulos e ele voltaria ao senhor gentil e sério com quem ela adorava flertar, aquele que a tirou de seu modus operandi maligno e despertou o sangue humano que corriam em suas veias. Ela continuaria nem demônio nem humana, uma humana que adora o sofrimento e a discórdia e ao mesmo tempo uma demônio que já amou, que já fez sexo não apenas pelo prazer ou para ver alguém sofrendo, mas até despertou o amado com café da manhã e um post-it escrito o quanto o corpo dele continuava bonito mesmo depois das três pizzas de ontem e que gostaria de repetir a dose no chuveiro. Um demônio que matava outros demônios e salvava humanos que vendiam comida.

~~~

Ela estava encharcada.

Entrou em sua casa e balançou o guarda-chuva inútil na tempestade e o guardou no espaço ao lado da porta, ligou o interruptor enquanto tirava os sapatos e meias, não sentia frio, ela estava sempre muito quente pra se sentir assim, até gostava de chuvas, o choro celeste disfarçava o cheiro de enxofre que saia de sua pele.

A mestiça olhou para cima e teve uma surpresa, ao contrário dela o homem em sua cozinha tremia ensopado.

Ele a encontrou.

E pegou muita chuva para estar alí. O coração dela acelerou como nunca, era tão bom vê-lo, mesmo que azulado e com olheiras enormes. Não ser mais um anjo estava fazendo tão mal a Dean, uma pequena satisfação cresceu dentro dela, afinal, ela avisou que aqueles humanos que ele salvou não valiam sua graça, ele fez aquilo por que quis e agora pagava o preço por ser tão burro.

- Está gostando de sentir? Gostou da chuva – ela disparou o veneno, iria apreciar mostrar pra ele todos os sentidos ele tinha perdido por todo esse tempo e o que voltaria a perder muito em breve, quando recuperasse sua graça e voltasse a ser um anjo.

- Estou com frio – a voz angelical dele sairia firme se seu queixo parasse de tremer.

- Já tomou um banho? Minha ducha está quentinha e é maravilhosa – Não importa o que ela falasse, sua voz sempre soaria sexy e convidativa.

Ele teria enrubescido se não tivesse tremendo de frio, ela gostou, finalmente o sangue dele reagia a ela como o dela reagia a ele. Se aproximou, quis ouvir se o coração dele estava acelerado. Ela nunca foi capaz de nutrir sentimentos complexos como saudades, mas como um humano ele tinha essa capacidade e ela queria que ele tivesse sentido saudades dela.

- Estou com fome – A proximidade dela o aqueceu, seu queixo parou de bater e seu coração acelerou mais ainda, ele se perguntava como isso é possível, como os humanos vivem dessa forma?

- Primeiro o banho, depois a comida – Ela tirou o casaco ensopado dele fazendo questão de roçar seus braços desnudos sobre os dele, teve a impressão que ele se arrepiaria se o frio já não tivesse feito isso com seu corpo – Não me respondeu, está gostando de sentir? Acabei de recuperar sua graça, é bom aproveitar enquanto pode

- Não quero voltar a ser um anjo ainda – ele a encarou firmemente e viu o sorriso dela crescer, ela parecia uma maníaca, uma maníaca muito desejável, um calafrio o percorreu.

- Então gostou, o que você já experimentou? Vamos lá, essa noite vou te dar outra dimensão dos prazeres da vida – Ele tremeu, ela sentiu o corpo dele esquentar e sua pele ganhar uma cor mais saudável – Mas primeiro o banho quente. Duvido que tenha comido doces – ela fez som de reprovação com a boca enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro – Vou fazer churros, você vai adorar – virou o corpo dele e o guiou para o banheiro – Você vai provar o melhor de ser humano essa noite – a voz sexy enganava, não iria o seduzir agora, ele provavelmente era virgem e tinha muitas coisas a provar antes de se provarem, talvez nem dormissem juntos, se ele não a quisesse essa noite ela aceitaria e apenas o voltaria a sua condição natural.

 

O chocolate derretia em banho maria, o doce de leite amolecia com leite na panela e a massa já estava no óleo quente, ela preparou sobre a mesa da cozinha confetes, granulado, castanhas, canela com açúcar, e tudo que podia pensar para ele experimentar com os churros. Enquanto fritava a massa ela pensou se ele preferiria e apenas sentar juntos para conversar ou se talvez ele quisesse comer na frente da TV vendo algum filme, os humanos gostam disso, não é? Ele era um humano agora, será que tinha os mesmos gostos que eles ou seria apenas o velho anjo, mas com o poder de sentir?

O cheiro do seu sabonete invadiu sua narina quando dois braços fortes a apertaram por trás. Definitivamente ele estava muito humano, o velho Dean nunca faria isso, talvez estivesse experimentando algo que viu em algum filme. Um beijo no pescoço fez o corpo dela se arrepiar por inteiro, sentir o corpo forte dele praticamente a cobrindo por trás com certeza a faria queimar os churros. Ela o afastou delicadamente.

- Vai me fazer queimar a comida – ela estava pegando fogo, ele já corado depois do banho sorriu – Lembrei que tinha pizza e vinho. Qual o seu nível de tolerância ao álcool?

- Médio – ele sorriu e ela correspondeu ao ouvir aquela voz magnífica de novo. Ele precisava falar com ela sobre eles, mas queria tanto aproveitar esse momento juntos – Por que você sumiu? Por que quer tanto que eu volte a ser um anjo? - o tom sério a lembrou do velho Dean, se não soubesse de sua condição humana poderia pensar que estava falando com o anjo agora que ele não sorria mais.

- Vamos lá, você ainda não me respondeu. O que já fez nesse mês enquanto era humano? - passou a mão sobre a camisa de flanela que ela o emprestou, ele sentiu seu sangue correr mais rápido enquanto seu coração acelerava.

- Como pegou minha graça de volta? - ela queria fugir do assunto, ele diria o queria dizer e ela não o impediria.

- Matei o demônio que pegou ela – a resposta pareceu óbvia saindo dos lábios dela, mas para uma demoniopata era óbvio. Dean finalmente olhou para a fêmea que odiava a própria espécie e percebeu que ela ainda usava as roupas molhadas de quando chegou. Se ela ficasse doente não poderia curá-la como um humano, e não queria voltar a ser um anjo, ele amava ser um anjo, mas a amava e queria senti-la, queria fazê-la se sentir normal, que ela sentisse que tem escolha. Como ele se sentiu escolhendo ela.

- Eu vou ficar aqui com você e não vou voltar a ser um anjo – Ele a segurou entre seus braços e fitava seus olhos. Seu olhar escorregou para a boca dela e a viu sorrir, ela apreciava o prazer de vê-lo reagir como ela sempre o instigou a fazer, mas enquanto anjo se negava.

- Isso é um pedido de namoro? Porque se for para a diaba ser a pessoa romântica do relacionamento, nós estamos ferrados – ela ria quando se desvencilhava das mãos dele e se virava novamente para o fogão para desligar o fogo e tirar os últimos churros que tinham ficado prontos no óleo quente.

Ele se sentia como se tivesse em chamas e ela brincava com tudo. Queria agarrá-la e convencê-la a ficar com ele de uma forma bem humana, mas ela tinha muito mais experiência que ele, então só o restava entrar no jogo dela.

- Como eu deveria fazer então? - Se aproximou e tentou seu sorriso mais sexy, pela risada dela não foi muito feliz.

- Primeiro você se senta – ela o empurrou pelo peito até o banco alto que ficava em volta da mesa da cozinha, e sentiu o coração dele aos saltos como um touro furioso – então você prepara um churros para mim e pergunta se eu quero o seu corpinho por mais que essa noite – um sorriso divertido despontou nos lábios dela substituindo o comum sorriso sexy.

- Você não é nada romântica – toda aquela conversa parecia tão familiar e estranha ao mesmo tempo, se fosse o anjo ali, com certeza, não flertaria com ela, mas o humano queria aquilo, queria muito mais que aquilo. Ele pegou um dos churros que ela colocou na mesa e quebrou ao meio, colocou um pouco de chocolate na bisnaga, como já a viu fazer outras vezes para seus amigos humanos e encheu o churros com o doce como ela gostava, passou o chocolate sobre o churros e colocou confetes coloridos – Aceita meu amor e me permite sentir você, todos os dias daqui em diante? - Ele perguntou a fitando seriamente enquanto levava os churros até os lábios dela.

Ela provou o doce e se surpreendeu quando os lábios dele se aproximaram dos dela enquanto ele mordia o outro lado, como em um jogo de pepero. Ambos se incendiaram com aquele ato. Amou tudo isso e entendeu boa parte dos sentimentos humanos quando olhou para os olhos dela, assustados e, ao mesmo tempo, desejosos.

- Todos os dias? Não costumo fazer planos para tão longo prazo – ela terminou de comer o pedacinho que faltava do presente dele e lambeu os lábios, ele sorriu com a visão – Mas eu quero que você sinta, quero muito

Eles decidiram deixar o romance para depois, em vez disso se sentaram e conversaram como velhos amigos enquanto comiam, ele contava do mês comendo em postos de combustível com os amigos enquanto procuravam por uma bruxa no norte. Ela ria, era bom vê-lo descontraído, se sentiu estranha quando lembrou dos parceiros, talvez sentisse falta deles, ela não sabia, não tinha experiência com sentimentos bons.

- Então consegui rastrear você e descobri que você estava morando aqui – ele terminou a história analisando pela primeira vez o chalé quase sem paredes que ela vivia no momento – E decidi vir morar aqui também, esse é um ótimo lugar para um casal sem filhos viver.

O coração dela esquentou com o jeito doce que ele olhou para ela. Não dormiria com ele essa noite, também não devolveria a ele a graça por enquanto. Ele veio do paraíso, ela do inferno, não havia um paraíso para ela, quando morresse ela voltaria para onde veio e tinha muita gente que a odiava lá, os demônios não eram as criaturas mais afetuosas existentes, mas mandou muitos “irmãos” de volta para o lar dos capetas e seu gosto pela tortura a fazia prever uma recepção muito dolorosa. Ela decidiu, ele seria seu paraíso, pelo menos enquanto durasse, aceitaria ser amada e cuidada por seu ex anjo.

Mas faria isso devagar, sair do gelo que era viver como um anjo para de repente queimar com uma demônia era muito para uma noite, e ela queria um romance daqueles de livros, com flores, jantares, beijos inocentes além de sexo. Ela sabia que ele era capaz de dar isso a ela, e sabia que isso que ele queria também.

- Você está indo tão depressa, já falou de filhos no primeiro encontro. As mulheres vão todas correr de você – ela ria da própria piada, ele permaneceu sério enquanto a observava

- Que corram, não quero uma mulher, quero apenas minha capetinha – ela se dobrou sobre a mesa rindo, ele podia estar sem graça, mas estava aprendendo a fazê-la rir. Dean se aproximou quando ela se ergueu novamente puxando o ar para recuperar o folego, seu peito chamava atenção subindo e descendo sob a camiseta, ele olhou para os lábios dela, estavam muito próximos dos seus, se aproximou mais e encostou eles de leve, voltando para seu lugar logo depois com um sorriso no rosto.

Pela primeira vez ela se sentiu abobalhada, ela costumava menosprezar os humanos e os demônios por serem tão bobos, mas se sentiu bem daquela forma, naquele momento. Gostou da sensação dos lábios dele e da doçura do primeiro beijo do seu novo namorado, gostou de ser a primeira mulher dele e reconheceu o ciúmes quando imaginou ele com outra. Não queria que existissem outras, queria ser a única a sentir os lábios cheios dele, queria mais daqueles lábios.

- É bom elas correrem, agora você não tem direito a nenhum beijo que não seja meu – ela se aproximou dele e eles sentiram suas respirações se misturarem fortes, ela parou e esperou por ele que passou seu braço por trás do pescoço dela a puxando para si. O beijo foi terno e carinhoso, algumas humanas nomeariam como um beijo de anjo.

Depois desse beijo se seguiu outro e mais outro, passaram a noite nos braços um do outro jogados sobre a cama, que agora seria dos dois, com beijos cada vez mais quentes até dormirem abraçados.

~~~

Ela tocou o lábio dele, queria senti-lo pela última vez antes de ir. Afastou sua mão, mesmo que ele estivesse anestesiado com remédio para dor não queria correr o risco dele acordar e perceber o que ela estava fazendo.

Ela o escolheu para ser seu paraíso e não podia definir a relação dos dois de melhor forma, ele era doce e a fazia sentir coisas boas, sentimentos complexos, ela quase se sentiu uma humana por todo esse tempo. Um ou outro demônio para matar de vez em quando, mas quando ela chegava ele estava esperando com todas aquelas flores brancas e comida. Ele era gentil até na forma de disfarçar o cheiro de enxofre dela, talvez ela adotasse isso na sua nova vida, talvez apenas comprasse sprays perfumados para não se lembrar dele.

~~~

Entrou no chalé e sentiu o cheiro forte de enxofre, mesmo com todas aquelas flores brancas, havia outro demônio na casa. Correu até a cozinha e encontrou seu humano coberto de sangue, o desespero tomou conta dela, ele sorriu e apertou mais o lenço que segurava o sangramento na cabeça dele.

- Desculpe, vai ter que dançar com um lenço a menos hoje – ele deu um sorriso amarelo.

Ela foi até ele atrás da mesa da cozinha e encontrou o corpo próximo ao seu namorado, o alívio que sentiu ao perceber que todo aquele sangue não era dele. Dean, como ela, tinha experiência em matar demônios, mas estava machucado agora, mesmo que fosse apenas um pequeno corte na testa, isso não aconteceria se ele fosse um anjo. Ele teria já teria se curado do corte, se ainda fosse um anjo, nem teria sido pego pelo demônio.

- Você vai morrer – Só o que ela podia sussurrar, já tinha enfrentado monstros dos mais fortes, mas vê-lo todo ensanguentado a fez entrar em pânico.

- Foi só um cortinho, se precisar eu lavo seu lenço depois – ele ria para acalmá-la, ele precisava acalmá-la, cada vez mais ela pensava em devolver a graça a ele e acabar com tudo, ele não queria isso, eles podiam continuar juntos por muito mais tempo, ela só precisava se acalmar e perceber que eles tinham escolha, ele só precisava fazê-la escolher por ele de novo.

- Você é um humano, se ainda fosse um anjo não teria deixado ele te machucar – Ele deixou o lenço sobre o balcão – Você vai morrer, como todos os humanos, você vai ficar velho, pode ficar doente, pode se machucar – a voz dela soava estridente, eles não podiam ignorar isso, era o futuro

- Eu sou jovem, saudável e forte, olha ele se escondeu e me bateu. Eu acabei com ele, você está vendo – ter uma dr em frente ao corpo de um demônio era algo que só acontecia entre os dois, aquilo parecia tão cômico em outro momento – Meu amor, eu vou ficar com você, será que você não pode esquecer o futuro e pensar nesses dois meses? Você não está feliz todo esse tempo?

- Onde você escondeu sua graça? Você percebe o quanto isso é infantil? - A voz dela estava cada vez mais alta. Quem se importa se os vizinhos podiam ouvir, eles já ouviam tanta coisa daquela casa.

- Eu não vou voltar, você não vai fazer isso comigo, eu quero você, eu escolhi você – Ele se aproximou de sua mulher e a segurou entre seus braços – Eu te amo, você não percebe? Eu sei que você tem sentimentos bons, que você me ama, você não é como eles, você é meio humana, seu avô é um anjo, não desista de tudo isso, por favor – Ele a abraçou forte, o cheiro dele nunca mudou, ele ainda tinha o cheiro de paraíso, mesmo que tentasse disfarçar com perfume masculino.

- Você joga na minha cara que você tem escolha. Todo mundo tem escolha, os humanos podem se tornar bruxos, podem ser monstros e podem matar monstros, os anjos podem ser anjos caídos, podem se tornar humanos, podem voltar a ser anjos – ela reclamava com voz cansada agarrada ao ex anjo que fazia carícias em seus cabelos, ela não podia fugir de si mesma, ela seria eternamente um demônio. Ela odiava demônios, eles eram tão ridículos competindo para ver quem era mais mau, eles machucavam uns aos outros por diversão, nenhuma raça conseguia ser tão burra, a humana estava entrando no páreo, mas apesar de não serem sua raça preferida, mas ainda eram capazes de criar, de fazer as coisas apenas para ver o outro feliz, demônios nem tinham razão de existir, sua raça era apenas uma punição aos anjos desobedientes, e por isso eles perdiam boa parte de sua existência sabotando uns aos outros, uma hora todo esse jogo ficava entediante – eu nasci no inferno, vou voltar um dia para o inferno e viverei como uma demônio, o máximo que eu posso escolher é fingir ser uma humana muito má. Não importa o que você diga, eu gosto de ver as pessoas brigando, gosto de torturar e de violência. Eu não posso mudar o que sou, e você não pode disfarçar isso com o perfume dessas flores. Ele respirou fundo e ela sentiu o peito dele subir e descer.

- Nós temos que nos livrar do corpo – ele fugiu de novo do assunto, os dois riram, em pouco tempo o cheiro ia ficar pior do que estava.

- Eu faço isso – ela se abaixou e colocou o demônio de 1,95 no ombro como um saco de cebola muito mais fedido – Você limpa essa bagunça e coloca o sorvete que eu trouxe na ferida para desinchar.

- Seu avô ligou, ele quer falar com você

- Eu ligo pra ele quando voltar. Esteja vivo – Ela saiu levando o defunto.

~~~

Ele podia ser genial em assuntos sobrenaturais, mas não era bom escondendo coisas, ela achou a graça dele entre suas meias dois dias depois. Eles pareciam duas crianças nesse jogo de esconder, ela já estava até se divertindo com todas as falhas dele. O que ele faria com a casa e a floricultura que ele montou? Provavelmente venderia, não quebraria nada, anjos não são afeitos a arroubos de raiva.

Ele a procuraria, será que seu avô o ajudaria? Com certeza, ele voltaria para junto dos meninos e a procurariam entre uma missão ou outra. Pensou em outros lugares para ir, o Brasil é um país grande e ela poderia viver por muito tempo lá sem ser pega. Tirou a franja dele do olho e pensou que gostaria de ser pega. Essa era a vida dos dois, um jogo, um labirinto onde um procurava o outro sem poderem se ter de verdade, ele podia se enganar, mas aquilo tudo era uma mentira, ele era um caçador e ela a caça, um dia ele morreria tentando protegê-la, ou usariam ele para pegá-la, ou ela machucaria ele.

~~~

Ela realmente desprezava humanos, eles são tão escandalosos, frágeis e em grande maioria meio burros, odiava quando os diabos vinham se divertir com eles e eles berravam e imploravam socorro, ela não sabia como seus irmãos não sentiam dor de cabeça com toda aquela gritaria. Seu humano não, apesar da mão quebrada, não gritou ou foi grosseiro com ela.

As pessoas passavam e disfarçavam risos, essa devia ser mesmo uma cena engraçada, os pulsos do homem estavam vermelhos, a pele dos dois brilhava suor e os lábios continuavam inchados. Ela deveria tê-lo amarrado mais frouxo, ou ter ido mais devagar, qualquer coisa, que não machucasse o corpo frágil. Apesar de tudo ele continuava de olhos fechados com a cabeça erguida encostada na parede e um sorriso divertido no rosto.

- Está doendo? - quebrar ossos doía, por que esse idiota estava sorrindo?

- Não, ainda tenho muita ocitocina no sangue – Ele riu virando para olhá-la sem desencostar a cabeça da parede – Esses hormônios humanos são incríveis, queria que você provasse – a risada divertida a irritou mais ainda, ela machucou o homem que amava, e logo quando estavam se divertindo e ele ria dela, ela segurou a vontade de quebrar a outra mão dele.

~~~

Arrumou o cabelo dele para trás como ele sempre faz, verificou mais uma vez se ele estava confortável, olhou os remédios sobre o criado-mudo, ele não precisaria mais deles, nem dela, colocou a mão sobre a tampa do recipiente que guardava a graça dele. Um último beijo? Ela seria a desgraça dele se o tocasse depois que voltasse a sua natureza, mas ela merecia um último beijo? Ela estava se sentindo culpada, quando ela ficou assim? Ela já foi uma demônia tão boa em ser má, um dos piores seres que já nasceu no inferno e agora estava preocupada se ela merecia um último toque nos lábios dele? Brasília a faria bem. Ficar a meio planeta de distância dele a faria muito bem.

A tampa do frasco foi colocada sobre o criado-mudo junto aos remédios dele, a mão dela guiou o frasco até a boca levemente aberta e o conteúdo angelical voltou para o anjo.

Ela se levantou, foi até a mesa onde estava as passagens e seguiu para a porta. Agora era o fim, não podia mais tocá-lo como um casal, eles não eram mais um casal. Ele voltou a ser a luz e ela sempre foi a escuridão, não existiria mais o meio termo.

Era o fim da penumbra

~~~

O dia no escritório tinha sido cheio, a cabeça dela estava explodindo, na volta ela passou no mercado encontrou um irmãozinho e precisou eliminá-lo, estava suja, com dor de cabeça e exausta. Mas a taça de vinho sobre a mesinha de chaves realmente fez o coração dela aquecer. A voz angelical do seu namorado cantava algo na cozinha, ela podia ver ele preparando petisco para os dois, ele olhou para ela, sorriu e ergueu sua taça como em um brinde, ela respondeu e deu um gole indo até ele.

Ele se apoiou na mesa para selar os lábios dela, ela segurou ele ali apreciando o cheiro dele um pouco mais.

- Dia difícil? - ele agora corria seu nariz pela pele do rosto dela beijando pontos estratégicos. Ela apenas acenou com a cabeça aproveitando das carícias – Continua linda pra mim

Eles sorriram um para o outro como se partilhassem uma piada secreta. Ele se distanciou novamente e fez um sinal com a cabeça para ela olhar para a sala, onde um colchonete saiu de dentro de uma barraquinha feita com lençóis.

- Saiu a nova temporada daquela sua série, pensei em a gente maratonar ela hoje – ele se aproximou novamente dela e a beijou com carinho, quando se separaram ela olhou para o banheiro e ele entendeu o recado – Depois do seu banho é claro – eles riram e ela o beijou com fervor

- Você não fica naquela floricultura, não? Está sempre cedo em casa – ela brincou indo para o banheiro

- O que me interessa dinheiro? Ele não me mantém vivo, você me mantém vivo, então eu preciso de você – eles riam enquanto ela se enfiava debaixo da ducha quente.

~~~

A porta estava aberta, a mala e as passagens na mão, o sentimento de estar esquecendo algo a perturbou, ela deixou as passagens sobre a mesinha das chaves e largou a mala. Fechou a porta, deu de ombros e correu até o amado.

- Eu sou a menina má mesmo

E selou os lábios dele com força antes de deixar seu anjo.


Notas Finais


É isso
Espero que tenham gostado

Só peço se tiver algo fora das regras por favor me avisar porque eu li, mas eu não sou acostumada a postar

Agradeço quem leu
Beijos


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