Lauren.
- Bom dia preguicinha. - Keana adentrou a cozinha com a cara toda amassada e olhos inchados. O cabelo todo desarrumado em um rabo de cavalo mal feito. Sentou-se na banqueta, quase dormindo no balcão novamente. – Acorda Ke. – sorri ao vê-la de olhos fechados com a cabeça escorada em seus braços que estavam esticados no balcão. -
- Hmm – gemeu frustrada ao ter acordar cedo – Bom dia Lo. – fez um bico adorável. – já disse que odeio acordar cedo?
- Todos os dias – sorri e lhe servi uma xicara de café para talvez desperta-la. Sentei na banqueta ao lado oposto que ela estava ficando de frente a ela. Keana levou a xicara ate a boca fazendo uma careta –
- Argh, eu odeio café Lo. – resmungou afastando a xicara com o café de perto dela.-
- Que pessoa em sã consciência não gosta de café? Café é maravilhoso, sente só esse cheirinho maravilhoso de café fresco.
- Prefiro meu bom e velho leite com chá – fiz uma careta. Keana levantou e foi ate a geladeira pegando a jarra com leite. Foi ate o armário, abriu a porta, para logo em seguida fecha-la - Porra Lauren, não tem chá – fez um drama colocando a mão no coração como se tivesse doendo muito o peito por ficar sem chá. –
- E agora? – ela deu ombros se sentando novamente, colocou um pouco do cereal na tigela –
- Não tem problema, depois do trabalho passo e compro. – levou a colher com o cereal ate a boca. – Ei, lembro de você ter dito de entrar de férias por esses dias.
- Uhum – assenti tomando mais um gole do café. - Amanha.
- Vai viajar? – Perguntou enquanto ainda mastigava aquele treco horrível e colorido que ela chamava de cereal-
- Não fale de boca cheia – joguei um pedaço do cookie que comia nela. Keana sorriu se desculpando ainda de boca cheia, revirei os olhos sorrindo. - Bom, vou começar a me arrumar. Vai querer uma carona? – Ela assentiu –
- Tem problema você me deixar depois do trabalho rápida no centro? Tenho que compras umas coisinhas. – Se explicou – Mas ai você só me deixa e eu venho embora mais tarde de taxi.
- Sem problemas. – Me levantei – Preciso passar na Blue Cross e levar alguns papeis, já é caminho. – Keana franziu o cenho –
- Por que vai levar papeis no Blue Cross? Achei que você já tivesse plano de saú.. – parou um segundo pensando – Ai não, não me diga que.. – me encarou e eu assenti soltando todo o ar preso em meus pulmões –
- Eu não consigo deixa-la desamparada.. Eu.. Eu a vi desesperada com a neném em hospital publico, eu não posso deixar..
- Eu estranharia se você me dissesse que não faria nada em relação a isso – levantou-se vindo ate mim me abraçando. – Tenho muito orgulho da pessoa que você é. Queria ter dez por cento da bondade e da maturidade que você tem – acariciou meu rosto, meus olhos já ardiam, mas eu não choraria- Faz o bem independente do que ocorreu – ela forcou um sorriso me soltando do abraço. – Agora vá se arrumar, assim que você terminar eu vou. – Fui em direção ao quarto. –
***
Como combinado, após o trabalho deixei Keana no centro e fui ate a empresa do plano de saúde. Consegui fazer quase tudo online, porem era necessário copias da certidão de nascimento do neném, assim como os documentos de Camila e da nossa certidão de casamento que ainda estava com Camila. Como no papel ainda éramos casadas eu conseguiria incluir a bebe no pacote do nosso plano de saúde, pagando pouco mais por isso. Era super vantajoso.
Bati na porta do meu antigo apartamento, ninguém atendeu. Dessa vez toquei a companhia e sem sinal de alguém na casa. Toquei mais uma vez e ninguém atendeu novamente. Virei as costas e fui ate a frente do elevador apertando o botão chamando-o. A porta foi aberta e ouvi meu nome sendo chamado
- Lauren? – Virei e vi Camila com sua filha no colo, a menina chorava muito em seu colo. –
- Oi, acho que não vim em uma hora – olhei para a menina se esgoelando em seu colo. Ela balançava a filha-
- Não.. Não.. Todo dia na hora do banho é desse jeito. – Se explicou – Aconteceu alguma coisa? – perguntou -
- Ela esta melhor? – fiz outra pergunta –
- Quer entrar?
- É, eu preciso falar com você.
Entrei no meu antigo apartamento, tudo estava igual, exceto por alguns objetos coloridos e infantis que eu acredito que pertença a filha de Camila.
- Senta – sentei no sofá. Ela continuou em pé balançando a menina que não parava de chorar, pelo contrario, o choro parecia aumentar. - Vou tentar acalma-la e já conversamos.
Ela ninou a criança, deu chupeta, deu gotinhas de um remédio que não consegui ver o nome e a menina continuava a chorar. Sentada naquele sofá observando a cena de Camila ninando um bebe, conversando com ele amavelmente me fez lembrar o quanto sonhei um dia de ter um filho com ela. Fez-me lembrar das varias noites que fazíamos planos de ter um bebezinho só nosso, mas isso só depois de vê-la formada na faculdade, com uma profissão. Mas o destino é mesmo sacana não é mesmo? Deu-me uma rasteira e me mostrou que nem sempre tudo ocorre como planejado.
Vi-me com lagrimas nos olhos ao pensar que tudo era pra ser diferente. Que esse bebe que a mulher que infelizmente eu ainda amo balança não é meu. E que essa mulher que eu amo já não é mais minha. Suspirei limpando os olhos vendo que a bebezinha agora já estava mais calma agarrada ao peito da mãe sugando o seu leite como se fosse um calmante.
- Se importa se eu amamentar enquanto conversamos? – Se sentou no sofá oposto ao que eu estava ficando a minha frente. – Se quiser eu posso cobrir
- Não, claro que não. – Balancei a cabeça – Bem, eu vim ate aqui porque preciso de uma copia da certidão de nascimento da sua filha, dos seus documentos e da certidão de casamento. – Camila me olhou confusa – Pesquisando eu vi que conseguiria incluir ela no plano de saúde que temos. Eu pagaria pouca diferença. E antes que se negue já digo que esse valor seria descontado do valor mensal que você recebera ate a maioridade.
Camila ficou em silencio, parecia pensar enquanto mexia nos cabelinhos da filha que ainda mamava. Permiti-me observa-la, Camila estava mais magra, a cor de sua pele já não era mais a mesma, parecia mais pálida. Já não tinha mais aquele olhar vivo, os braços pareciam maiores devido à magreza. Somente seus seios estavam grandes, cheios.
- Por quê? – A encarei – Por que você esta fazendo isso depois de tudo que eu fiz?
- A verdade é que nem eu sei a resposta para sua pergunta Camila. Me faço essa pergunta milhões de vezes ao dia. Por quê?... O que eu sei é que não consigo ser uma pessoa ruim, mesmo quando eu queria ser. – Por que, Camila? Me responde você os tantos por quês sem resposta ate agora... – Meus olhos assim como os de Camila se encheram de lagrimas. – Eu sempre dei tudo o que você precisava, e não me refiro só ao sexo não.. Eu te dei amor, carinho, um lar, uma família, o que faltava Camila?
- Eu não sei – sua voz saiu tão baixa, quase não consegui ouvi-la. –
- Quando você descobrir me diga, eu quero realmente saber onde é que eu falhei. – Meu peito ardia, minha garganta ficou seca... Meu celular tocou, era Keana perguntando se eu já estava em casa, eu disse que demoraria mais um pouco e que ela poderia ir de taxi. – Você pode pegar os documentos, por favor? – Camila assentiu de cabeça baixa. –
Ela tentou tirar Laura do peito para se levantar e buscar os documentos necessários, porem a menina começou a chorar. Camila a voltou ao peito levantando-se com dificuldade, ela continuava desastrada, isso não havia mudado nada. Foi ao quarto e voltou com uma pequena bolsa onde guardava todos os documentos. Sentou-se novamente para com uma das mãos separar todos os documentos que pedi.
- Amanha mesmo te devolvo. – Me levantei, ela fez menção em levantar – não precisa se incomodar, eu sei bem onde fica a porta. – Abri a porta, estava quase saindo, mas Camila me chamou -
- Lauren. – a encarei esperando falar algo – Eu amo você. – Seus lábios tremiam formando um beicinho era nítido que ela tentava não chorar. -
- Tchau Camila. – fechei a porta antes que eu começasse a chorar -
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