História Pequena Consequência - Capitulo 24- Extra

                      Pov Camila

Nunca em toda minha vida eu imaginei que a maternidade fosse uma tarefa tão difícil. Enfrentar tudo isso praticamente sozinha torna-se um desafio um pouco maior. Já era difícil com Laura, agora multiplique isso por três.

Uma das coisas que mais me deixavam de cabelo em pé era com certeza a parte financeira. Por mais que Dinah me ajudasse com dinheiro nunca era suficiente.  Além dos gastos mensais da casa; energia, agua, condomínio, comida, tinham os gastos com as crianças; roupas, leite, fraldas, medicamentos, eu já falei fraldas? A quantia que o pai das crianças julgava necessário para passarem o mês não dava para metade dele.  Mas só me liguei na dimensão do meu problema quando o leite faltou para meus filhos. Tive que me virar, sai à procura de um emprego, e encontrei um de atendente de farmácia, não pensei duas vezes em aceita-lo. Confesso que não era o emprego dos sonhos, e que se eu não tivesse realmente necessitada não estaria nele ainda. Lidar com pessoas não é fácil, da mesma forma que existem pessoas simpáticas e educadas, existe as mal educadas e grossas que não desejam nem um bom dia.

Tive que colocar as crianças em uma creche de período integral, exceto pelo meu menor, Ben, que ainda não tinha a idade permitida para frequentar o berçário. Dinah ficava com ele, enquanto eu trabalhava.

Após o expediente fui para casa direto ao ler a mensagem de Dinah falando que Ben estava febril, ela se encarregou de buscar Laura e Amellie na creche.  Depois de dar algumas gotinhas de um antitérmico para Ben sentei para amamenta-lo e não muito tempo depois a porta foi aberta por Dinah que carregava Amellie nos braços e Laura vinha logo atrás com um bico nos lábios.

- O que foi Laura? – perguntei ao ver ela emburrada no canto –

- A tia disse que ela mordeu dois coleguinhas hoje na escolinha, dois!

Arregalei os olhos, Laura nunca tinha dado trabalho na escola, nem em casa.

- Laura, por que você mordeu o coleguinha?

- Feia! – mostrou a língua pra mim –

- LAURA! – chamei atenção brava, ela cruzou os braços e me olhava em fúria -  Vem aqui, Laura. – chamei-a, Ben ainda mamava, não tinha como eu levantar e ir ate ela. Dinah saiu com Amellie para a cozinha.

- Chata – fez bico de choro e não se movia, nem tirou a mochila das costas. Franzi o cenho ao vê-la fazendo malcriação, tirei Ben do peito e coloquei-o no carrinho e fui ate ela.-

- Não pode fazer malcriação, Laura. Vai ficar pensando no cantinho por esse motivo.

- Não. – gritou se afastando –

- Vai sim! Vai ficar porque fez malcriação para mamãe e porque mordeu o coleguinha.

Fui ate ela que começou a se debater contra a ir para o cantinho do pensamento. Com dificuldade tirei a mochila de suas costas e levei-a ate o cantinho forçando-a se sentar.

- Não qué mamãe, não qué! – se debatia querendo levantar –

Dinah olhava para a cena encostada no batente da porta da cozinha que era divisa com a sala. Ben se remexia no carrinho, provavelmente tinha acordado com o choro de Laura. Amellie sentada no cadeirote tomava a mamadeira que Dinah havia dado a ela.

- Laura, não dificulte! – Aumentei o tom de voz enquanto ainda tentava faze-la se sentar no cantinho. Eu a colocava sentada e ela levantava soluçando de tanto chorar. – Vai ficar aqui no canto nem que eu tenha que ficar te segurando.

- Diii – começou a chamar por Dinah estendendo os braços para Dinah pega-la. – Tii – fez biquinho em meio ao choro. Forcou-se a levantar, segurei-a mais forte impedindo que ela se movesse. Ela ainda tentou se livrar do meu aperto, mas viu que não conseguia e acabou se rendendo.  

Ao ver que ela já não tentava se levantar soltei seus bracinhos vendo que tinha exagerado na forca, eles estavam bem vermelhinhos. Ela ainda fungava baixinho de cabeça baixa.

- Só vai sair do cantinho quando a mamãe permitir, ouviu bem?

Magoada ela não me respondeu. Continuou de cabeça baixa cutucando o cantinho de sua unha. Levantei-me indo ate a cozinha onde Dinah ainda estava com Amellie.

- A psicopedagoga da escola quer falar com você amanha. – suspirei assentindo -  Disse que assim que você deixar ela na creche é só ir a direção e dizer que esta procurando por ela.

- Certo. – me servi de um pouco de café. Olhava fixamente para o liquido dentro da xicara, tentando ser forte para não desabar –

- Má – Amellie tentou chamar minha atenção. Só então percebi que não tinha dado atenção a ela. Ela ainda era uma bebe, a diferença de idade dela e Ben era pouca. –

- Oi meu amor – peguei a no colo deixando beijos no seu rosto – Esta tomando todo seu leitinho? – ela assentiu mexendo a cabeça sorrindo orgulhosa – Isso mesmo, mama tudinho para crescer rapidinho.

- Você quer que eu te ajude com o jantar? Vou ter que ir para casa mais cedo, tenho que ajudar minha mãe a emitir umas notas na loja ainda.

- Pode ir amiga, você já me ajuda tanto. Fica tranquila que eu faço o jantar.

- Descongelei a sopinha da Amellie, ai você só se preocupa em fazer algo pra você e para Laura.

Me levantei ainda com Amellie no colo para acompanha-la ate a porta, ao sairmos da cozinha me cortou o coração ver Laura dormindo no chão, ainda no cantinho que eu havia colocado para pensar. Senti meus olhos arderem e a vontade de chorar, mas segui direto ate a porta despedindo-me de Dinah.

- Ate amanha amiga. – me abraçou. Logo fechei a porta. – Amor, fica aqui quietinha que vou colocar sua irmã para dormir, ta bem? – Amellie não deu a mínima pra mim. Coloquei-a sentada no tapete rodeada de brinquedos. Fiz uma mamadeira para Laura e a peguei indo ate o sofá. Ao pega-la no colo ainda dormindo ela fez biquinho suspirando.

-  Lala – chamei-a baixinho – toma a mamadeira – coloquei o bico em sua boca, logo ela começou a mamar –

Enquanto ela mamava adormecida no sofá eu estava de olho em Amellie babando nos brinquedos e ao mesmo tempo atenta a qualquer movimento do carrinho onde Bem dormia.

Aproveitei que Ben e Laura dormiam, e Amellie estava quietinha para fazer o jantar. Só aqueci a sopa da menor e fiz macarrão que é a comida preferida de Laura. Ao terminar já dei comida para Amellie que dormiu assim que terminou de jantar. Aproveitei esse tempo que todos dormiam para tomar meu banho, não demoraria muito para todos acordarem e começar toda a correria de novo.

A maternidade é exaustiva. Eu nunca acreditei no cansaço que seria passar noites inteiras sem dormir. Sempre achei exagero ouvir de algumas mães que o tempo para você passaria não existir mais. Só ao me tornar mãe vi que isso realmente era verdadeiro. Mal tenho tempo de respirar, de ir ao banheiro. Eu amo meus filhos, mas sinto saudades da tranquilidade da vida que eu tinha antes deles.