História Pequena História - Primeiro dia

Tudo estava perfeito. Exatamente onde deveria estar, minhas roupas organizadas em cores, meus livros em ordem alfabética, minha cama arrumadinha... Tudo perfeito. Eu não era uma pessoa muito organizada no dia-a-dia, mas quando o assunto era o meu quarto... Acho que você já entendeu. 

-Alice! Está na hora, querida. Vamos, se não vocês irão se atrasar. Minha mãe me chamou da sala. 

-Mas um dia... Peguei minha mochila, coloquei Coldplay para tocar e desci correndo as escadas. Minha mãe e meu irmão já estavam no carro, só fiz entrar e fechar a cara, como todos os dias. 

-Que cara é essa, irmãzinha? Victor, meu irmão, perguntou. Olhei para ele com a mesma cara de todos os dias, zangada com um pequeno sorriso de lado. Ele riu e olhou para a janela. 

-Preparado para o ultimo ano, filho? Minha mãe perguntou animada, sorridente. As vezes, eu queria ter esse humor que ela tem todos os dias, como se nada estivesse errado, como se ela esquecesse os problemas... 

-Devo estar sim, mãe. Muito animado...  

-Ah, claro. Victor está animadíssimo esse ano... Eu disse rindo. 

-Cala boca, Ali.  

-Vocês dois não tem jeito mesmo... São os melhores filhos que uma mãe poderia ter. Rimos alto no carro enquanto ela estacionava em frente a escola. -Tchau, meus amores. Tenham um ótimo dia. Que tudo dê certo. Amo vocês!  

-Tchau, mãe. Também te amo. Respondi e sai do carro já com a cara fechada de sempre novamente. Mas então Victor chegou ao meu lado e eu voltei a sorrir. Realmente, nós não tínhamos jeito. 

-Pronta para arrasar, maninha? Ele disse me abraçando 

-Arrasar? Que dia eu arraso, Victor?  

-Sempre, tenha um bom dia. Vou falar com Camila. 

-Só falar? Perguntei com aquela carinha. 

-Você sabe que não... Ele respondeu já se afastando e chegando perto de Camila que já estava sorrindo para ele. 

-Ah, o amor... Lara, minha melhor amiga, chegou ao meu lado dizendo isso. 

-Pelo menos você vive um. Respondi indo em direção a sala com ela. 

-Ah, que nada... Gustavo é um chatinho... Mora lá nos infernos! Af! Ela disse rindo, mas de um jeito triste. Eu entendia, fazia meses que ela não via o Gusta, devia sentir muita falta dele. Na mesma hora, as bruxas apareceram.  

Para você que não sabe "As bruxas" é um apelido carinhoso que eu e Lara demos a duas garotas (ou demônios, ainda não foi confirmado) da nossa escola, desde que eu entrei aqui, elas fazem da minha vida um inferno. Elas passaram por mim me empurrando, fazendo minha mochila cair. 

-Olha por onde anda, pirralha. Valéria, a sul-coreana, alta, bonita, magra, olhar de cobra, ricas, roupas chiques e cabelo super hidratado disse e riu com Carla, sua amiguinha inseparável. 

-Pirralha é você, que parece estar precisando, além de beleza, um óculos. Lara respondeu vermelha de raiva. 

-O que você disse? Valéria perguntou a Lara com o olhar mortal e o sinal tocou. -Acho bom você ficar na sua, Lara. Você não quer acabar com a sua vida e da sua amiguinha não é mesmo? Ela disse e foi para sala, que graças a Deus, não era a minha. 

-Fica de boas, Lara. Ela é uma troxa. Eu disse entrando na sala. -Bom dia, professor.  

-Bruxa, isso sim. Ainda acho que elas são ET's enviados a Terra para fazer um inferno. E assustar crianças pequenas com aqueles olhos de demônio. Ela disse sentando na cadeira e nós rimos. 

Era sempre assim. Todos os dias. Nada mudava. Eu acordava, me arrumava, olhava se meu quarto estava arrumado, brincava com meu irmão, falava com Lara e falava mal das bruxas e elas me abusam e assim seguia meus dias da semana. E no final de semana eu assistia series, obviamente.  

Meus dias eram chatos e entediantes, mas eu gostava. Não curtia mudanças, nem nada do tipo. Gostava das coisas do meu jeito, organizadas e num horário certo. Se eu sou chata? Só um pouco.  

Eu estava voando, quando Lara me cutucou com a cara super assustada, eu fiquei boiando por uns segundos até que olhei para frente e entendi. Tinha um garoto ao lado do nosso professor, sorrindo. Eu nunca tinha visto ele. Era alto, mas não tão alto. Cabelos pretos e olhos castanhos claros como mel e um sorriso incrível, daqueles que você só vê em fotos no Tumblr ou algo do tipo. Notei que as meninas da minha sala estavam suspirando, sorrindo ou cochichando. 

-Bom turma, este é Fabrício Silva, novo aluno. Ele veio de fora, da Irlanda, peguem leve com ele, ok? Conte-nos um pouco sobre você, Fabricio. O professor falou sorrindo.  

-É... Bom, eu tenho 19 anos, eu fui para Irlanda com 4 anos, mas nasci em Brasil e meus pais decidiram voltar para cá agora... Acho que é só isso. E meu português não é muito boa, me desculpem. Ele disse sorrindo com um sotaque incrível. Ele tinha 19? Eu era bem mais nova que ele, tenho apenas 16... Quer dizer... Ainda vou fazer, sou a mais nova da turma. 

-Ele deve ter perdido de ano... Lara falou no meu ouvido e eu ri. 

-Ou entrou tarde, do mesmo jeito que eu entrei cedo demais.  

-Ah, Alice. Você é um caso a parte, tio Victor é professor e tia Lili também... Provavelmente, você e Victor também serão. 

-NÃO! Eu disse alto demais como sempre, o que tirou toda atenção do Fabrício para mim...  

-Não o que, Alice? Meu professor perguntou serio. 

-N-nada, n-nada não professor, estava só pensando alto. Ri nervosa e olhei para Lara com raiva, ela segurava o riso. Olhei para Fabrício que olhava para mim estranhamente.  

-Sim Alice, entendo. Ele riu. -Aproveitando que já apresentei você, Fabrício, a nossa pequena Alice, pode senta-se na frente dela, o único lugar livre por hoje. Seja bem-vindo ao Colégio Eriko Kart.   

-Obrigado. Fabrício respondeu sorrindo e vindo na minha direção. A cada passo dele, era uma batida forte do meu coração. Ele era alto demais, para mim. Como o professor disse, eu era a pequena Alice. Pequena, tímida, branquela, sozinha... 

NARRADOR ON

Mal sabia nossa pequena Alice, que isso mudaria daqui para frente... 

NARRADOR OFF