Sexta-feira, 16 de Dezembro de 2016.
-Eu tô fodida - disse rindo.
-Sim você está. Belleh e eu sofremos um acidente, mas já estamos quase 100% recuperadas. Depois das férias nossas vidas voltaram ao normal. Faculdade e trabalho. E a sua?
-Vordadeee! - Exclamou Belleh com a boca cheia de brigadeiro.
-Espero que até fevereiro minhas memórias voltem. Na verdade, o quanto antes melhor.
-E se nunca voltarem?
-Bom... Aí terei que ver um novo rumo para a minha vida.
-É. - Ambas concordaram quase juntas.
-Vamos repassar nossas vidas - peguei uma colherada de brigadeiro e continuei a falar - Anabelleh: Enfim deixou o passado no passado e está pronta para novos amores.
-Ou não... - Sussurrou baixinho.
-Letícia: Reencontrou o amor da sua vida e transou com ele enquanto suas amigas estavam em coma. E agora está evitando-o.
-Isso mesmo... Nossa, e mesmo você não se lembrando de quem era a "você" dos últimos dois anos, você continua a mesma. Isso é meio incrível.
-Lucy: Não lembro de porra nenhuma. Mas tenho uma vida ótima. - Finalizei pegando outra colher de brigadeiro. - Ainda bem que não esqueci de vocês.
-Ainda bem que nenhuma de nós morreu - olhamos para a Leh e concordamos em silêncio.
-Que horas o Gustavo vem? - Perguntou a Belleh.
-Às 10h.
-É? Já são 9h43.
-Quê??? - Assim que perguntei a campainha tocou, o que me fez levantar rapidamente e ir correndo para o banheiro.
...
-O apartamento de vocês ficou muito bonito.
-Né.
-Alguma coisa aqui do teu quarto te trouxe alguma lembrança?
-Não. Olhei cada foto, li cada palavra que escrevi sobre nós... Sobre tudo. Eu sinto o que minhas palavras descrevem, mas é como se elas não fizessem sentido.
-Entendo. E a pulseira?
-A dos pingentes? Eu estava usando ela quando sofremos o acidente. Ela se perdeu nos destroços, minha aliança também e qualquer outro acessório que estava usando. Desculpa - falei me sentando ao seu lado em minha cama.
-Não precisa pedir desculpas. Não era ela ou o anel que realmente importavam.
-...
-Engraçado.
-O quê?
-Você perdeu suas memórias, mas continua a mesma, Lucy.
-As meninas falaram a mesma coisa... - Falei sorrindo e olhei para ele. Seus olhos verdes me encaravam e ao encara-lo de volta, meu coração acelerou me fazendo desviar o olhar. - Mas é como se faltasse algo, não é?
-...
-Quero que minhas memórias voltem - sussurrei.
-Sabe, eu estava pensando... E se fossemos em algum lugar marcante? Sei lá. Talvez te faça ter um flashback ou algo do tipo.
-Isso! Gostei da ideia. Eu li o diário que comecei a escrever quando te conheci. Podíamos ir... Ah, para aquela paria onde você disse pela primeira vez que me amava. - Ele sorriu.
-Então vamos?
-Okay! Só vou organizar algumas coisas para levarmos!
...
Algumas horas depois chegamos em Ilha Comprida. Eu enxergava exatamente o que o diário descrevia. Um lugar incrivelmente lindo.
Ele estacionou e fomos para a praia. Estendi uma toalha de piquenique e nos sentamos.
-Esse lugar é incrível.
-Eu sei - falou sorrindo. Fiquei olhando seu rosto enquanto sorria. Os olhos ficavam bem enrugados e suas covinhas surgiam em suas bochechas. Ele olhou para mim e tentei disfarçar.
-Quando foi a última vez que veio para cá? - Perguntei sentindo minhas bochechas corarem.
-Na última vez que brigamos - disse suspirando.
Não estava um dia muito quente. O sol se escondia atrás das nuvens e uma leve brisa passava por nós.
-Não consigo me lembrar. E tenho a leve sensação de que nunca conseguirei.
-É meio desconfortante imaginar que você nunca mais irá se lembrar de tudo que vivemos juntos.
Ficamos um bom tempo em silêncio. Apenas observando o mar, o céu e as poucas pessoas que se divertiam ao nosso redor.
-Quer entrar no mar? - Perguntou quebrando o silêncio.
-Pode ser. Mas antes vou passar protetor e você devia fazer o mesmo. - Falei sorrindo.
-É. - Concordou desviando o olhar.
Ambos passamos protetor solar. Ele passou em minhas costas e eu nas dele.
-Pronto?
-Sim, vamos.
Entramos no mar lentamente. A água estava incrivelmente refrescante. Dei três mergulhos seguidos e quando subi até a superfície, Gustavo estava um pouco longe de mim.
-Lucy! Cuidado, atrás de...
Antes que pudesse ouvi-lo completar sua frase, senti uma enorme onda me atingindo por trás. Quando consegui voltar para a superfície novamente, percebi que estava de volta na beira da praia. O Gu estava saindo do mar quando me viu e começou a andar em minha direção. Enquanto vinha, primeiro me olhou com alívio, depois arregalou os olhos e olhou em volta. Com um pouco de dificuldade para respirar parei onde estava para tentar entender o que tinha de errado e então percebi. Eu estava sem a parte de cima do biquíni. Senti meu rosto começando a ficar vermelho e rapidamente cobri meus seios com as mãos. Naquele momento várias pessoas me encaravam.
-Ei Lu, vesti minha camisa. -Disse esticando-a para eu pega-la. A vesti o mais rápido que pude.
-Pronto. Não tem mais ninguém olhando - falou enquanto me abraçava.
-Obrigada.
Assim que chegamos aonde estavam nossas coisas começou a chover.
-Não podia melhorar.
Gustavo rio.
-Por favor, não ria.
Quando chegamos ao carro, encharcados, a chuva estava muito mais forte e com ventania. Ao entrarmos no carro granizos começaram a cair sobre o mesmo.
-Está começando a chover granizo. Não é perigoso a gente ir embora com essa chuva?
-Quer ficar em algum lugar?
-Acho melhor.
Saímos do estacionamento e Gu dirigiu até chegarmos em uma pousada. Para a nossa sorte tinha um quarto vago.
-Pode ir tomar banho primeiro.
-Okay.
Depois de tomarmos banho pedimos o jantar no quarto.
-Talvez o dia não tenha sido como o esperado.
-É - concordou rindo.
Jantamos e depois nos sentamos no sofá para assistir alguma coisa. Estava passando um filme de terror antigo.
-Posso deitar e apoiar minha cabeça em suas pernas? - Perguntou.
-Claro. - Respondi sentindo meu coração se acelerar enquanto se aproximava.
45 minutos depois ele estava dormindo.
"Desde quando... Meu coração passou a bater com tanta força, toda vez que ele se aproxima de mim?"
...
Quando acordei, estava deitada na cama e lá fora garoava. Me sentei.
-Bom dia. Uma moça acabou de servir o café da manhã. Está com fome?
Seu cabelo estava todo bagunçado e seus olhos brilhavam.
-Sim. - Respondi sorrindo.
Me levantei, sentei na mesa e começamos a comer.
Mais tarde arrumamos as coisas e voltamos para a estrada.
...
-Gustavo, quer entrar ? - Perguntei na frente da porta do apartamento.
-Não. Na verdade, nem avisei que ia passar a noite fora.
-É. Nem eu.
-E... Me chama de Gu.
-Desculpa. - Falei abaixando o olhar.
-Então eu vou indo.
-Ah... - Dei um passo para frente e o abracei. Ele me abraçou de volta. - Tchau Gu - Falei me afastando, mas sem querer solta-lo.
-Tchau Lucy Marmeid. - Disse ele por fim, com um sorriso meio triste.
Esperei ele entrar no elevador e entrei em casa.
Quando cheguei na sala as meninas começaram a me encarar. Elas estavam sentadas no chão com cara de "NOS CONTE TUDO", como se tivessem ensaiado por horas aquele momento. Sorri e então falei:
-Oi meninas.
(...)
"Posso não me lembrar de como eu te amava, mas com certeza estou me apaixonando por você".
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