— Alice. — Ouço gargalhadas.
Ouço vozes e pisco repetidamente os olhos, minha visão está embaçada e o local muito claro dificulta ainda mais a situação. Tento me levantar, mas minhas pernas falham, meu corpo não me obedece. Lágrimas escorrem de meus olhos, então ponho as mãos no rosto, me encolhendo. Quero dizer, eu não dei esses comandos ao meu corpo, era como se ele fosse comandado por outra pessoa e eu apenas estivesse ali em algum lugar.
De repente, eu estava me levantando, e um vento circular formava um espelho, meu reflexo era o da garota com quem eu sonhava. Volto ao comando do meu corpo e toco meu rosto. Eu não me sinto assustada, na verdade, tudo isso parece normal.
Minha pele começa a descascar no reflexo e eu via Melissa, cabelos loiros e enrolados com um laço vermelho no topo, os olhos de íris distintas, uma azul e outra verde, usava um vestido branco e solto, pouco acima do joelho, que mostrava uma tatuagem de um sorriso.
Meu rosto começa a derreter e agora vejo Charlie, mas os olhos estão, um deles, azul oceano e o outro negro como uma noite sem lua. O cabelo preto e liso, abaixo da cintura.
Começo a chorar, mas minhas lágrimas viram areia e eu me encontro trancada dentro de um vidro, uma ampulheta. Meu pulso arde, levo meus olhos até ele e nele está se formando um relógio, o desenho começa a sangrar e o sangue inunda o vidro.
Entro em pânico, afundando e sem ar.
— Ah! — Acordo num sobressalto, suando por cada poro do meu corpo.
Minha cabeça dói, minhas pernas estão dormentes, e meu corpo não obedece aos comandos que dou. Limpo a garganta, chamando a atenção de Charlie, que pergunta como estou e me esforço para responder, mas não sai um som da minha boca, apenas tentativas falhas de formar uma palavra ou uma frase.
Volto a fechar os meus olhos que parecem pesar toneladas.
— Ela precisa acordar, acordar, acordar.
As palavras rondam a minha mente. Quem as falava? Pude sentir o meu corpo, ele formiga e não me obedece, alguém segura a minha mão, sinto um líquido escorrer pelo meu braço e um soluçar. São lágrimas, que escorrem quentes, percorrendo um caminho já formado.
— Me desculpa, Alice.
Acordo no sofá da sala, logo reconheço alguns rostos, enquanto pisco freneticamente, me acostumando a luz do ambiente.
— Você tá bem?
Giro meu rosto, procurando o dono da voz. Afirmo com a cabeça.
— Estou, só um pouco tonta. O que aconteceu?
— Você desmaiou faz 3 horas. — Diz Charlie.
Tomo um pouco de suco de laranja enquanto vemos TV. Ela diz que tomará cuidado e amanhã mesmo iremos ao médico. Depois de um tempo acabo por adormecer.
Acordo com o “bip” do despertador ao lado da cama. Já faltam dez minutos para às sete horas. Levanto vagarosamente, apoiando os braços na cômoda. Minhas pernas estão fracas, mas suportam o peso, me levando à cozinha, onde Charlie se encontra com sanduíches nas mãos.
— Ora, eu já estava indo acordá-la. Bom dia!
Ela esbanja alegria.
— Bom dia. — Respondo com minha melhor tentativa de sorriso
Vamos até à mesa e tomamos o café da manhã em silêncio. Logo nos arrumamos para ir ao Dr. Daniel que me receita alguns comprimidos.
Me jogo no sofá, fechando os olhos por um instante.
— Essas escadas me matam. — Comento.
— É o que parece. — Diz ela sorrindo. — Vamos comer! — Completa, tirando comida japonesa da sacola.
— Está perguntando se alcoólatra quer bebida? — Digo caminhando em direção a mesa.
Dizem que os sonhos nos trazem mensagens. Não sei que mensagem. Minha vida virou um lugar de loucos onde pareço ser sã por não o entender e louca por pertencer a ele.
Já não sei o que se passa comigo. Penso comigo mesma na banheira. Hoje chegam os meus exames. Estou me sentindo fraca ultimamente, me sinto estranha.
Saio da banheira e visto-me o mais confortável possível enquanto Charlie traz os exames.
— Abre isso pelo amor que tem por mim.
— Aqui diz que… — O sorriso de Charlie se desfaz. — Você tem leucemia, Alice. — Completa com lágrimas que parecem pesar em seus olhos.
— Acalme-se Charlie. Estarei em um lugar melhor.
— Você não vai fazer o tratamento?
Nego com a cabeça, suas lágrimas parecem dobrar.
— Me desculpe Alice, mas quando você morre, é só isso. Você desaparece. Então não diga bobagens ou eu vou... vou... — Ela soluça e suas palavras se trancam em sua garganta.
Abraço aquela garotinha, que espera a minha morte com tanta dor no coração.
— Seu tempo está acabando. — Soou em minha cabeça.
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