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História Perdido L.S - Fourteen


Escrita por: brunah179

Capítulo 14 - Fourteen


 

Fiquei fascinado com os livros que encontrei na sala de leitura. Livros de todos os gêneros, como filosofia, história da humanidade, livros de pesquisas e clássicos, incontáveis clássicos.

 É claro que eu sabia que em 1830 diversos livros já haviam sido publicados, mas fiquei realmente impressionado ao encontrar alguns autores ali. Edgar Alan Poe, Lord Byron, Denis Diderot, Goethe, Shakespeare, Antoine Galland, muitos de Walter Scott e alguns outros que eu não reconheci. Mas um deles atraiu meu interesse assim que passei os olhos.

 Com os dizeres By a lady, London, 1811 na primeira pagina e uma capa de couro marrom, tilintando de nova. Peguei-o com extremo cuidado, não que precisasse, só era estranho demais fazer meu cérebro entender que aquele livro era tão antigo — mas, segundo a primeira página, havia sido publicado há apenas alguns anos — não iria se desfazer quando eu o tocasse.

 Folheei algumas páginas para ter certeza, e lá estava Elinor Dashwood, Norland Park, Edward Ferrars. Virei o livro em minhas mãos com muito cuidado, como se fosse feito de um fino cristal que pudesse facilmente estilhaçar-se.

 — Não é possível! — exclamei surpreso.

 — Algum problema, senhor Louis? — perguntou Gemma alarmada.

— Problema? Não, Elisa. — respondi sem tirar os olhos do livro. — Você sabe o que é isto?

 Ela ficou confusa. 

— É um livro. — disse lentamente. — Um romance. Meu irmão o comprou há alguns anos. Veio da Europa.

 — Sim. É um romance, o primeiro romance que Jane Austen publicou! — eu estava maravilhada em poder segurá-lo em minhas mãos. — É o original! Primeira edição! Veja!

 Aqui diz que foi publicado pela própria autora! 

— Jane Austen? 

— Isso. Você tem um verdadeiro tesouro aqui! — pelo menos para alguém apaixonada por livros (e por Jane) como eu era. Não conseguia passar uma única semana sem encontrar algum livro novo para ler. Claro que tinha minha autora favorita. Segurava naquele instante uma obra dela em minhas mãos e tinha outro guardado na bolsa ali no quarto.

 — Acho que ainda não ouvi falar dela. — Elisa estava sentada ao lado da mesa onde diversos livros estavam empilhados. — Você a conheceu?

 — Todo mundo conhece Jane! — então, pela confusão em seu rosto, percebi que nem todo mundo a conhecia. Ainda.—Você ouvirá falar dela, tenho certeza. Eu adoro os romances dela. Este aqui é um dos melhores!

— Gostei muito desta história também. Entretanto, demorei um pouco para terminar de lê-lo. — ela sorriu timidamente. — Meu inglês não é tão bom quanto o de Harry.

 Teodora parecia entediada. Como sempre ficava quando eu estava presente. Imaginei que este não fosse seu estado natural, pois Gemma parecia gostar dela verdadeiramente.

Passei o resto daquela tarde me deleitando com a perfeita escrita de Austen. Estava tão absorta na leitura que, quando Harry irrompeu a sala, tive um pequeno sobressalto. Eu sempre me “perdia” em meus livros. Entrava fundo nas histórias como se eu mesma fosse parte dela, fosse um romance, um policial ou um terror sobre vampiros.

 Então lá estava eu, em mil oitocentos e pouco, esperando que Elinor e Edward finalmente se entendessem quando Harry entrou na sala me trazendo de volta para mil oitocentos e pouco! 

Fiquei confuso por um instante. Era como se ainda estivesse dentro do livro! Eu ri da idiotice da situação.

 — Senhoritas, e senhor Louis, teremos um convidado para o jantar desta noite. Pensei que as damas gostariam de ser alertadas com antecedência. — Harry falou apressado.

 — Um convidado? — indagou Teodora se levantando. — Algum conhecido, Senhor Styles?

 — Sim. Pode-se dizer que agora é um conhecido. Então, se me derem licença, tenho algumas tarefas para terminar antes do jantar. — ele se inclinou e saiu rapidamente sem ao menos dar chance a Teodora de fazer mais perguntas, o que ela claramente pretendia. Saiu sem nem mesmo me dirigir um olhar.

 Não que eu me importasse com isso. 

— Oh! Senhorita Gemma, devemos nos apressar! O sol já está se pondo e, em breve, o convidado de seu irmão estará aqui! Não podemos recebê-lo vestidas desta forma! — Teodora andava de um lado para outro enquanto falava. Acabei ficando meio tonto.

 Ela estava totalmente vestida; vestida e maquiada e o cabelo ruivo arrumado num penteado complicado cheio de cachos. Ela pretendia se enfeitar ainda mais?

 — Sim. Precisamos nos apressar. — concordou Elisa, também agitada. —Você também, Louis! Seria indelicado se o convidado de Harry chegasse e não estivéssemos prontos para recebê-lo. 

Eu tinha que me arrumar porque alguém vinha jantar? Pela expressão ansiosa de Gemma, ela não estava aberta a discussões, então deixei essa passar e, suspirando, fui para a cozinha. 

Havia três empregados ali, parecendo muito ocupada correndo de um lado para o outro para ajudar Madalena nos preparativos do jantar. Observei o quadro por um tempo, pensando se o tal convidado não seria o rei ou coisa parecida. Ninguém notou minha presença. 

Andei na direção da porta da cozinha e, lá fora, havia mais empregados correndo aparvalhados.

 — Hei, moço? Onde eu pego água por aqui? — perguntei a um deles que passava com os braços cheios de pequenos tocos de madeira. 

— Perdão, senhor. Como disse? — seu rosto suado e brilhante. Ele mal me olhou.

— Onde eu pego água?

 Sua testa enrugou, mas ele não me respondeu.

 — Você entendeu o que eu disse? Quero saber onde eu posso encher o balde? — será que ele não falava a mesma língua que eu? 

— Ah... É ali, senhor, — finalmente respondeu, indicando o local com a cabeça, depois se inclinou e correu apressado para a cozinha.

 Virei-me para onde ele havia apontado. Um cano de ferro com quase um metro de altura se erguia do chão. Embaixo dele, uma espécie de cocho de pedra e uma grande alavanca de madeira na ponta, como se fosse um “L” de ponta cabeça. Voltei para a cozinha e encontrei um balde perto do fogão de lenha. Ninguém se incomodou em me perguntar nada.

 Fiquei olhando para a engenhoca por algum tempo. Toquei a alavanca suavemente. Nada aconteceu. Empurrei com um pouco mais de força e um fio de água surgiu no pequeno orifício.

 Tentei com mais vontade, bombeando para cima e para baixo, e a água começou a jorrar. 

Arrumei o balde na posição correta e voltei a bombear. Meus braços começaram a doer depois de um tempo, mas continuei sem parar até o balde transbordar um pouquinho. 

Passei as costas das mãos em minha testa e tomei um pouco de fôlego. As empregadas não precisariam se preocupar um dar tchauzinho por ali, pensei, ofegante. Meus tríceps pulsavam pelo esforço, mais doloridos que depois de puxar ferro na academia! 

Peguei a alça larga feita de couro e tentei levantá-lo.

 Caramba! Que peso!

 O balde de ferro já era um pouco pesado por seu tamanho, cheio de água, como estava, parecia pesar uma tonelada. 

Que saudade do meu banheiro!

Levantei o balde desajeitadamente e entrei cambaleante na cozinha, deixando um pequeno rastro de água pelo caminho. Quando alcancei o corredor, meus braços já tremiam. Soltei o balde com cuidado para não derramar a água e sacudi os braços tentando aliviar a dor. 

Respirei fundo e voltei a pegar a alça, mas acabei tropeçando e quase derrubei toda a água. 

Não estava dando certo!

 Desisti de levantá-lo, mas eu realmente precisava de um banho, ainda mais depois de todo aquele esforço. Sentia o tecido grosso grudando em minha pele. Eu iria tomar meu banho! 

Encarei o balde com raiva, agarrei-o pela borda e o empurrei pelo piso liso de madeira, Era mais fácil

 — porém, muito mais estrondoso — que levantá-lo. Empurrei até meu quarto, até chegar à banheira.

 Um! pensei, enquanto arqueava minhas costas.

 E seria apenas um. Não buscaria outro de jeito algum! 

Suspirei desanimado, em seguida prendi a respiração. Num último esforço, ergui o pesado balde e o coloquei dentro da banheira — não apenas água, mas o balde com a água ainda dentro dele. Peguei o jarro da mesinha, retirei minha roupa e tomei meu banho — de água fria e canequinha. Não lavei o cabelo, não havia condições para isso. Sequei-me com aquele pano que não enxugava direito, depois me enrolei nele e escovei os cabelos. Se eu tivesse ido para 1980, meu cabelo estaria perfeito, pensei um pouco irritado. Volumoso e indomado. Como sempre!

 Molhei as mãos no pouco de água limpa que restara dentro no balde e umedeci os fios. Passei a mão para tentar domá-los. Ficaria melhor se eu tivesse um pouco de creme para pentear... 

Gemma e Teodora achavam importante estarem bem vestidas, então eu não deveria envergonhar meus novos e únicos amigos. Escolhi o terno azul e me vesti. Ficou um pouco melhor, ainda longe de estar glorioso, mas pelo menos eu me parecia com um homem outra vez, e não uma vassoura. 

Dei uma olhada no espelho e gostei um pouco do resultado. A cor do terno combinou com meu tom de pele e destacou o azul dos meus olhos. Ainda me sentia muito ridículo naquelas roupas — não conseguia acreditar que eu estava realmente usando aquilo — mas pelo menos iria usar meus vans.

 Respirei fundo e sai do quarto. Andei apenas alguns passos antes de dar de cara com Harry.

 Ele me olhou de cima a baixo, me analisando. Duas vezes. Pelo visto, ninguém havia ensinado ainda que medir as pessoas daquela forma não era educado! Ele me examinou meticulosamente, me deixando constrangido. Depois de algum tempo, Harry resolveu falar. 

— Vejo que meu presente lhe caiu muito bem, senhor. — um sorriso de admiração surgiu em seu rosto.

 — Obrigado. — disse eu, encabulado. De onde vinha todo aquele embaraço quando Harry  estava por perto, eu não fazia ideia. — Já estou pronto. Estava indo agora mesmo procurar por você e Gemma.

 — E eu vim justamente saber se estava pronto! — ele sorriu. — Está encantador esta noite, senhor Louis. 

— Obrigada, Harry. — corei e baixei os olhos. De repente, eu não sabia onde colocar as minhas mãos. Eu estava agindo como um tímido adolescente.

 — Posso acompanhá-lo até a sala? — perguntou educadamente, me estendendo o braço. 

— Não precisa, Harry . O caminho para a sala eu já conheço. Este é um dos únicos em que eu não me perco. — e ri nervoso.

 — Eu insisto. — e muito deliberadamente suas mãos alcançaram a minha, colocando-a em seguida na parte interna de seu cotovelo. — Eu adoraria lhe acompanhar mesmo sabendo que minha presença lhe desagrada.

 —Você não me desagrada! De onde tirou isso? Desde que me encontrou só tem me ajudado! —    Harry era a pessoa mais fantástica que conheci ali. Talvez a mais fantástica que já tivesse conhecido em qualquer época. Tão gentil e altruísta!

— Notei que fica um pouco... Agitado... — ele não pareceu encontrar palavra melhor. — quando está comigo.

 — Agitado? — repeti como um imbecil. — Não. Não. Quer dizer, eu fico agitado, mas o tempo todo. É meu estado normal. Sabe como é, sempre tendo que fazer duzentas coisas diferentes ao mesmo tempo... O corpo se habitua e não volta ao estado normal em épocas mais calmas.

 — Já percebi isso. — um pequeno sorriso brincou em seus lábios. — Mas não pode negar que hoje à tarde você fugiu de mim. 

— Não fugi, não! — sentir seu braço sob minha mão e o calor do seu corpo ao lado do meu estava me deixando inquieto. — Eu realmente prometi me encontrar com Gemma hoje à tarde. Não teve nada a ver com você. Não teve nada a ver mesmo! — tentei parecer firme enquanto falava. 

— Não precisa se explicar. Eu compreendo — e voltou seus olhos verdes para os meus. — Você não quer ficar sozinho comigo.

 Senti meu rosto ficar todo quente. Harry  era muito perceptivo. Notava coisas demais! 

— Imagino que não queira que nos vejam juntos e tirem conclusões erradas. Entendo perfeitamente não se preocupe.

 — Não é nada disso! — eu disse, incapaz de conter a língua. — Sabe que não me importo com esse tipo de coisa. 

— E então por quê? — sua testa enrugada. 

Estávamos perto da sala. Com minha mão ainda em seu braço e me encarando com intensidade, Harry se colocou na minha frente, me obrigando a parar.

 — Por que... Eu fico meio... inquieto quando você me olha do jeito que está olhando agora. — praticamente sussurrei, completamente atordoado pela intensidade e as chamas prateadas em seus olhos. — E isso não é bom. Pra ninguém aqui! 

Seus olhos arrastavam os meus para sua órbita inescapável. Não consegui desviar, não pude deixar de encará-lo, e isso não ajudou muito a clarear minha cabeça.

 — E por que não é bom? — perguntou com a voz intensa, fazendo os pelos de meu braço se arrepiarem. 

— Por que eu vou embora logo, Harry. Não tem sentido me afeiçoar a ninguém aqui.

 — Mas você está aqui agora! — ele sussurrou e, gentilmente, levantou a mão livre para colocá-la em meu ombro. — Por ora, este é seu lugar. Seu toque quente deixou minha pele formigando. Minha respiração se acelerou, senti meus joelhos falharem. Olhando dentro de seus olhos profundos, não pude dizer que estava enganado. Não consegui dizer nada, na verdade. Por que, quando ele disse que meu lugar era ali, ao menos naquele momento, com a voz cheia de emoção, fiquei completamente perturbado.

 Parte de mim acreditou nele. Surpresa vi minha mão se erguer sem um comando consciente e se apoiar em seu peito.

Seus olhos tão verdes,mesmo escuro na luz fraca dos candelabros, me observavam intensamente. Senti o calor que emanava de seu corpo sob a palma de minha mão. Dei um pequeno passo em sua direção, incapaz de resistir ao impulso de me aproximar mais dele. Notei que sua respiração também estava alterada. Levantei meu rosto para poder vê-lo melhor, seu rosto ficou apenas a alguns centímetros do meu. Prendendo a respiração, totalmente hipnotizada pelo brilho prateado de seus olhos, me aproximei um pouco mais, meus lábios ligeiramente separados, a mão em meu braço deslizou suavemente até minha cintura e então.... 

Uma gargalhada histérica vindo da sala ecoou no corredor, me libertando do transe. 

Vi o que estava prestes a fazer e, com um movimento brusco, tirei minhas mãos dele e recuei. Harry  pareceu confuso — assim como eu —, olhando em direção à sala e depois de volta para mim, parecendo não saber o que dizer.

 Foi a coisa mais estranha que eu senti em toda a vida! Pela primeira vez, eu não tive o controle sobre meu corpo. Não sabia explicar porque minhas mãos agiram da forma que agiram, porque meus pés me levaram até ele, porque minha pele pinicava e eu desejava tanto tocá-lo outra vez.

 Era como se meu cérebro tivesse se desconectado de meu corpo e agisse por conta própria. Eu não queria ter feito aquilo. Foi como se meu consciente fosse apenas a plateia impotente assistindo a exibição de um espetáculo encenado por meu corpo.

 E claramente meu corpo desejava se aproximar de Harry. Eu já havia desejado um homem, sabia como era a sensação. Já até tinha satisfeito esses mesmos desejos, mas sempre no controle, sempre consciente do que fazia. O que eu sentia agora era totalmente diferente! Muito diferente.

 Era como se cada célula do meu ser quisesse se grudar a Harry, como se ele fosse um magneto superpotente usando sua força em carga máxima e eu fosse revestida de metal. Impossível de escapar ou resistir.

 E eu não soube o que fazer na presença de um homem pela primeira vez.

 Meu rosto queimou de vergonha, de raiva, de medo e, sem dizer uma unica palavra, marchei em direção à sala deixando Harry ainda paralisado ali no corredor, me encarando com olhos assustados. Tão assustado quanto eu estava.

Espero que estejam Gostando!!!



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