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História Perdido L.S - Fifteen


Escrita por: brunah179

Capítulo 15 - Fifteen


— Senhor Louis! — Gemma se levantou do sofá. — Está muito elegante! 

Eu ainda estava chocado demais para poder falar, apenas olhei para Gemma e tentei sorrir.

 — Mas ainda reluta em usar todos os itens do vestuário, pelo que vejo. Seu terno ficaria mais elegante se usasse, as botas. —Teodora acrescentou secamente. — Usar o traje dessa forma a deixa com o aspecto de um simples criado!

 — Não concordo com isso, Teodora. Acho que Louis está muito bonito, de uma forma muito original! — então Harry entrou na sala, ainda atordoado. — Não concorda, Harry? Não acha que Louis está muito bonito com o terno que escolhi para ele? 

Assim como eu, Harry ainda não havia se recuperado totalmente. Pudera! Duvidei que alguma garoto naquele fim de mundo alguma vez tivesse tido a audácia de quase beijá-lo! O que eu estava pensando? E por que disse a verdade a ele? O que havia de errado comigo? Eu não podia estar interessado nele, por razões óbvias que não precisavam de maiores explicações. Dois séculos nos separavam. Dois Séculos! Então o que tinha de errado comigo? Não consegui encontrar a resposta. Concentrei-me em parecer normal — o meu normal pelo menos.

 — Está sim, Gemma. Ouso dizer que ele está muito bonito, realmente — disse ele, desviando rapidamente os olhos quando encontrou, os meus. 

— E agora, meu caro. — Teodora se aproximou de Harry e colocou as duas mãos em seu braço, exatamente onde estava as minhas estava minutos atrás. — Será que pode nos dizer quem é o convidado misterioso? 

— Não é misterioso, senhorita Teodora. Eu apenas estava muito atarefado para poder dar-lhes mais detalhes — retrucou ainda perturbado — É um novo habitante da vila. Conheci-o esta tarde. Seu nome é Raul Santiago, está hospedado na pensão da viúva Herbert e não tem conhecidos aqui. Pensei que seria educado oferecer-lhe um jantar. 

— Oh! Já ouvimos falar dele hoje pela manhã na Maison de madame Georgette. —Teodora se apressou. Fiquei alerta. — Parece que o pobre foi assaltado! Assaltado, Senhor Styles. Veja a que ponto chegamos— ela exclamou, horrorizada.

 Eu, entretanto, não me choquei. Apesar de desconfiar que ele não fosse um pobre homem do século dezenove, mas sim um cara do século vinte e um, mesmo que tivesse sido assaltado, ainda assim, não me surpreenderia. Assaltos eram tão comuns quanto respirar.

 Suspirei, desanimado. Como eu queria me chocar também! Queria que assaltos e violência não fizessem parte do meu cotidiano.

— É mesmo? — perguntou Harry, fingindo inocência. Ele sabia bem a história toda. Eu já tinha contado a ele naquela tarde no estábulo. — Que feliz coincidência! De toda forma, encontrei o cavalheiro esta tarde quando fui à vila... Resolver alguns problemas. Pelo que entendi, ele havia acabado de chegar de algum lugar. Então o convidei para conhecer minha família.

 Notei que ele me fitou rapidamente quando disse isso.

 Então, ele foi procurar o estranho sem mim. Mas por quê? De toda forma, estava agradecido por ter ido. Eu precisava falar com esse Santiago, não me importava onde ou como. 

— Com sua licença, Senhor Styles, o Senhor Santiago acaba de chegar. 

— Mande-o entrar, Gomes. Não o deixe esperando.

 O mordomo saiu apressado e, em seguida, um homem moreno e de estatura mediana entrou na sala.

 — Como tem passado, Senhor Styles? — o homem, que era mais velho do que eu havia imaginado, se inclinou para cumprimentar Harry. Ele aparentava ter trinta e cinco ou quarenta anos, pele morena, barba curta e rala, cabelos castanhos lisos e compridos. Se não fosse pelas roupas antigas, poderia se passar por um roqueiro quarentão. Era até bonito, na verdade.

 — Estou muito bem, Senhor Santiago. Deixe-me apresentá-lo à minha irmã Gemma — Gemma se inclinou ligeiramente, — Estes são a senhorita Teodora Moura e o senhor Louis Tomlinson. Santiago se inclinou dizendo: — É um prazer conhece-los.

 Analisei o quadro com desconfiança.

 Ele não se comportava como eu esperava. Na verdade, se comportava como se fosse dali, daquele século. Talvez tenha entrado no clima mais facilmente que eu. Aposto que nem se importou com a casinha! Ou talvez já estivesse perdido ali há vários dias.

 — Está apreciando a região, Senhor Santiago? —Teodora perguntou, como se fosse a anfitriã. 

— Para ser honesto, senhorita, ainda não pude admirar a beleza do local. — seu rosto ficou sério por um instante. — Não tive tempo para me familiarizar com a região. 

— Soubemos de seu infortúnio, senhor. Foi lastimável! Gemma disse, com a delicadeza de sempre.

 — Sim, senhorita Gemma. Foi terrível. Ainda estou muito surpreso. Tudo aconteceu tão depressa! 

Minhas sobrancelhas arquearam.

 Aquilo estava ficando bom! 

— Pretende ficar aqui por muito tempo? — perguntei, ansioso.

Seus olhos encontraram os meus. Pensei ter visto alguma coisa neles, mas não pude dizer o que foi. 

— Na verdade, pretendo voltar para casa assim que puder! — seu rosto moreno me analisava atentamente. Pensei que procurasse por alguma coisa em especial. Então fui me sentar no sofá, cruzando as pernas e deixando um de meus tornozelos a mostra. Vi quando seus olhos se fixaram em meus tênis, pois se arregalaram um pouco e a cor de seu rosto mudou. 

Tinha que ser ele!

 — Espero que consiga voltar para casa o mais breve possível. — disse eu, enfático. 

— Sim. — ele ainda contemplava meu tênis. — Também espero. Este lugar é um pouco díspar do que eu estou habituado.

 — Nem me fale! — falei revirando os olhos.

 As garotas me observaram com espanto. 

Fomos alertados pelo mordomo que o jantar seria servido. Seguimos até a sala de jantar e eu ainda estava desconfiada das maneiras de Santiago. Ele tinha se adaptado muito bem aos costumes daquele século! Harry se sentou no lugar de sempre, com sua irmã de um lado e Santiago do outro com Teodora a reboque, querendo mostrar a Harry que sabia entreter um convidado, supus. 

Sentei- me ao lado de Gemma e observei os modos de Santiago à mesa. Ele era muito educado, se comportava como Harry, só que com menos elegância. 

— De onde disse que veio, Senhor Santiago? — Perguntou Harry, me ajudando com o interrogatório.

 A testa de Santiago se franziu um pouco.

 — De um lugar muito longe. Não acredito que já tenham ouvido falar dele. — A-Rá! — Amanhã à tarde precisarei partir em uma pequena viagem para resolver tudo. Tenho coisas importantes me esperando em casa. Preciso voltar logo. 

Era ele. Tinha que ser ele. Mas onde ele estava indo? Resolver o que? 

— E volta quando? — perguntei inquieto.

Gemma e Teodora me observavam espantadas. Harry não se surpreendeu. Tive a sensação de que, depois do que aconteceu entre nós dois no corredor, nada mais que eu fizesse o surpreenderia.

 — Na sexta-feira, creio eu. — ele me encarava fixamente 

— Extraordinário! Assim poderá vir ao baile. É claro que já foi convidado, não foi? — Teodora não esperou que ele respondesse. — Será um baile maravilhoso, Senhor Santiago. Todas as pessoas importantes da região estarão aqui. 

Só na sexta? Mas eu tinha tanta coisa para perguntar a ele!

 — Então, eu estarei aqui, senhorita. — ele respondeu e depois voltou a me encarar.

 Como de costume, Teodora se apoderou da conversa. Prestei atenção para ver se Santiago me daria alguma dica, no entanto, ele não disse mais nada que fosse relevante, repetiu a história do assalto e ficou me fitando durante o resto do jantar. Talvez porque eu o encarasse também.

 Voltamos à sala de visitas, onde Teodora nos ofereceu licor fala sério, licor? — e a conversa ainda estava animada, mas não para mim. Eles conversavam sobre a beleza da região, o quanto ele iria apreciar as famílias que residiam ali, impedindo que Santiago me dissesse algo mais específico. Tentei desesperadamente falar a sós com ele, mas não tive chance. 

Teodora!

 Suspirei derrotado. 

Já estavam sendo feitas as despedidas e eu não tinha encontrado outra forma de falar com ele, então interrompi alguém — Harry, percebi tarde demais e perguntei sem rodeios.

 — Ainda estará aqui no sábado? — e lancei um olhar conspiratório. Seu rosto surpreso pareceu satisfeito.

 — Sim, estarei, senhor. — e sorriu de forma estranha. 

— Tem certeza? — estava desesperado pra perguntar tudo, mas com tanta gente ali, eu não podia.

 — Sim. Prometo que estarei aqui. Até sábado devo ter conseguido tudo o que preciso e, talvez, possa voltar para casa. — e me olhou significativamente.

 Bom, eu achei que fosse significativo.

 — Ótimo. Então vou esperar por você. Talvez me conte mais sobre o lugar de onde vem. — levantei apenas uma sobrancelha. 

— Será um imenso prazer. — ele se inclinou, sorrindo.

 Logo depois da saída de Santiago, comecei a entender algumas coisas. Fosse o que fosse, ele sabia o que devia fazer para poder voltar. E no sábado talvez já tivesse resolvido tudo. Eu o pegaria no baile, nem que fosse à unha, e o obrigaria a me contar tudo o que sabia. 

Gemma e Teodora conversavam animadamente sobre ele. Que educado! Que elegante! Uma lástima ter sofrido tamanha selvageria! Um cavalheiro tão distinto... 

— Acredita que ele possa ser a pessoa que procurava? — sussurrou Harry, bem ao meu lado.

 — Arrá! Você não ouviu? Ele também não sabe como voltar. Parece que se adaptou ao modo de vida daqui mais rápido que eu, mas acho que é ele. — sussurrei também. — Você viu como ele me olhou? Ele sabe que não sou daqui! 

— Sim, eu vi como ele o olhou durante todo o jantar. — o tom de sua voz trazia uma pitada de alguma coisa. Tipo... Irritação. 

— Você me leva até a vila amanhã bem cedo? Talvez sem a Teodora por perto eu consiga falar com ele e descobrir se ele pode me ajudar com alguma informação.

 — Eu já havia lhe prometido isso.

— Valeu, Harry! 

— Fico feliz em lhe ser útil. — mas seu rosto não parecia feliz.

 — Harry?

 — Sim? — e me olhou de um jeito que fez minha respiração voar.

 — Obrigado, de verdade! Obrigado por tê-lo trazido aqui.

 — Não me agradeça, senhor. — e sorriu um pouco.

 — Não tem ideia de como isso é importante para mim! — estava tão feliz por sua ajuda!

Harry parecia ser um presente dos céus no meio daquele pesadelo! 

— Eu sei que é importante. Por isso fui até a vila esta tarde. Depois que você me disse que talvez este cavalheiro pudesse ser o mesmo que procurava fui tentar descobrir alguma coisa e acabei o encontrando por acaso. — ele falava muito baixo, me aproximei um pouco para não perder nada. — Achei que seria mais prudente que se encontrassem aqui em casa do que em um quarto de pensão, não quero que você, senhor, se exponha dessa maneira.

Olhei dentro de seus olhos completamente maravilhado! 

—Você não queria que eu me encontrasse com ele sozinho? — e lutei para não sorrir.

 — Acho extremamente inadequado que fique a sós com um total desconhecido. — seu rosto estava sério, os olhos opacos. 

— Você é incrível, Harry! — A seu modo, tentava me proteger de um estranho do qual não tinha nenhuma informação, fiquei um pouco emocionado. — Você foi a melhor coisa que encontrei aqui, sabia?

 Então seus lábios se abriram num sorriso de tirar o fôlego, seus olhos brilharam e achei que meu coração fosse parar de bater.

 Oh-oh! 

— E você foi a melhor coisa que encontrei em toda minha vida. — seus olhos queimaram nos meus, sua voz baixa e rouca me provocou arrepios, minha cabeça girava e meu coração acelerou o passo de tal forma que temi que pudesse saltar do peito.

 Ah, não!Ah, não! 

Isso não pode estar acontecendo!

 Não podia!

 — Eu... Hã... Eu... — tentei dizer alguma coisa, qualquer coisa, mas não saiu nada.

 Estava perplexo demais com a intensidade do que eu estava sentindo. Do que estava e que não deveria estar sentindo. Fiquei olhando dentro de seus olhos escuros, incapaz de desviar os meus. Senti uma força irresistível me puxar para ele. 

— Eu... Preciso resolver algumas coisas. — ele disse, parecendo desnorteado também. — Resolver alguns assuntos. 

— Tá. — ainda chocado pelos sentimentos que me assaltaram, não consegui pensar em mais nada para responder. 

Minha cabeça girava, meu estômago cheio de pedras de gelo era o que parecia, minhas mãos suavam e eu queria muito, muito mesmo tocá-lo.

 Ai, não!

 — Boa noite, senhor Louis. — e, como na noite anterior, pegou minha mão e a beijou delicadamente, fazendo meu coração bater tão forte que achei que minhas costelas pudessem se partir ao meio.

 — Boa noite. — tentei dizer, mas acabou saindo apenas um murmúrio.

 Só algum tempo depois de Harry ter deixado a sala, consegui me recompor o suficiente para dizer que estava cansada e que queria dormir. Estava presa numa espécie de transe, minha mente não conseguia se concentrar em nada.

 Nada além do sorriso de Harry. 

Como permiti que isso acontecesse? Por que não fui embora naquela manhã em que discutimos? Por quê?

 Eu não podia me apaixonar por ele, por razões que eu conhecia bem. Como eu poderia me apaixonar se logo iria embora e nunca mais o veria? E eu iria embora, de uma forma ou de outra. Como permiti que a enrascada na qual me meti aumentasse ainda mais? 

Harry era diferente dos caras que eu conhecia, sempre tão educado e atencioso. Mas assim eram todos os homens daquele século. Alguma coisa naqueles olhos escuros me fizeram confiar nele, aceitar sua ajuda, querer falar com ele e... querer tocá-lo de forma nada educada! 

Um tremendo erro!

 Um erro que depois me machucaria muito. Precisaria ser cuidadosa e evitar ficar sozinha com Harry. E precisaria, acima de tudo, manter minhas mãos bem longe dele!

 Nesse momento, meu celular vibrou, só então me dei conta de que já estava em meu quarto. Por um breve segundo, me perguntei como aquilo funcionava. Como ainda tinha bateria, como captava o sinal, como funcionava apenas para receber — mensagens ou ligação — e nunca para o meu uso?

 Apertei a tela e lá estava outra mensagem. Dessa vez, não me assustei tanto.

 Fase um: completa. 

Fiquei confuso. Imaginei que a mensagem seria enviada quando eu tivesse acertado o alvo, me guiando para o caminho certo. Tipo tá frio, agora tá quente, quente, quente, pelando... 

Mas eu estive na vila pela manhã e a mensagem só chegou ao final da noite. 

Eu não sabia o que pensar. Só sabia que tinha dado um passo na direção de casa. Havia feito alguma coisa certa e que logo voltaria. Uma sensação muito desagradável na boca do estômago me atingiu. Não pensei mais nisso. Fui para a cama, ainda atordoado, e tentei muito não pensar em Harry.

 

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