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História Perdido L.S - Eighteen


Escrita por: brunah179

Capítulo 18 - Eighteen


Para me distrair, tentei me concentrar em coisas mais simples mantendo Harry longe dos meus pensamentos.

Coisas mais simples como fazer um condicionador. Contudo, não era tão simples assim conseguir um no século dezenove.

Uma vez, numa das muitas maluquices de Liam — na primeira viagem que ele fez para o exterior, o doido resolveu que tinha que ser para a Indonésia —, ele cismou que o condicionador caseiro que as indonésias usavam era muito melhor que os caros de perfumaria.

 Servi de cobaia na época e o resultado até que foi satisfatório. Nem de longe tão bom quanto os cosméticos que eu usava, mas para o que eu estava usando — detergente sem nada para hidratar—, a gosma de Liam era melhor que nada.

 — Madalena, você conhece leite de coco? — eu já tinha encontrado as outras frutas.

— Leite de coco? Leite? 

— Já vi que não! — sem leite de coco.

 Humm...

Mas tinha coco na imensa fruteira! E a água de coco era hidratante — pelo menos os médicos a indicava em caso de diarreia — e, se a água era capaz de hidratar por dentro, por que não por fora? Valia a pena arriscar!

 — Errr... você pode furar este coco para mim, não sei fazer isso. — me desculpei, estendendo a fruta. — Só preciso da água. 

— Claro. — disse ela, desconfiada. — Não sabia que o senhor pretendia cozinhar! 

— Madalena, não vou cozinhar. Eu nem sei como fazer isso, já te falei! — assegurei a ela. — Mas preciso fazer um pouco de condicionador pro cabelo. Daqui a pouco, você pode me confundir com um leão e atirar uma panela de água quente em mim.

 — Condicionador? Para o cabelo? — sua testa se enrugou. Suspirei. 

— Sim, veja como está seco. Preciso hidratá-lo ou vou acabar parecendo uma vassoura velha.

Enquanto ela abria o coco, adiantei meu trabalho. Amassei meio abacate e uma banana, misturei bem até virar uma papa grossa. Madalena me passou uma caneca com a água. Sob seu olhar curioso, fui adicionando o líquido aos pouquinhos e mexendo até que a consistência ficasse parecida com a de um condicionador de verdade. O cheiro era bom, muito melhor que o xampu com aroma de azeite.

 — Pronto! — exclamei quando a meleca estava no ponto certo.

 Madalena me olhava de um jeito estranho, parecia não entender o que eu faria com aquele mingau esverdeado.

 — Quer experimentar? — ofereci. Ela ergueu o dedo timidamente, passou na papa e depois lambeu. 

— Não, Madalena, no cabelo. Quer experimentar para usar no cabelo? Ela me lançou aquele olhar de “você é doido?”

Revirei os olhos.

 — Funciona assim, você lava o cabelo com o xampu. Depois de enxaguar, aplica uma quantidade mais ou menos assim... peguei um punhadinho na mão — ... espalha no cabelo e enxágua de novo, vai ficar macio e desembaraçado.

Ela não pareceu convencida.

 — Eu nunca ouvi falar disso!

 — Eu sei! É por isso que eu tive que fazer! — poxa vida! As pessoas podiam se esforçar mais para me entender. Eu não era louco. — Vou deixar um pouco para você, fiz o bastante para duas. Você usa e amanhã me conta o que achou, certo? — coloquei um pouco dentro de uma xícara.

 Ela ainda parecia desconfiada. 

—Tudo bem, Madalena. Se não quiser usar, não tem problema. Mas eu realmente preciso tratar esta palha. — toquei meu cabelo ressecado. Pensei que poderia virar pó se o apertasse muito, de tão seco que estava. 

— Vou preparar seu banho, senhor. — disse ela, pegando o balde enorme. 

— Obrigada, Madalena. —de repente, me lembrei. — Sabe aquele troço que os homens usam para se barbear? 

— O senhor se refere à navalha? — 

— Isso! Preciso de uma. Pode me arrumar? 

— Vou pegar uma do patrão. — a desconfiança em sua voz foi mal disfarçada. 

— A colocarei na mesa de banho. 

— Valeu, Madalena. Você é muito bacana! — e sai, para não ter que explicar o uso da navalha. 

Minha barba e minha virilha estão bem, obrigado! — graças ao meu depilador elétrico — mas minhas axilas... Nunca consegui depilá-las com ele. Os pelos precisavam ter um certo comprimento e eu não suportava deixar qualquer pelo ali. Usava lâmina de barbear todos os dias. Assim que os pelinhos começavam a aparecer, coçava e irritava demais a pele delicada das axilas. E desde sábado, eu não tinha uma gilete a mão.Acho que lá não e comum homens depilarem certos lugares, mas eu já fazia isso a tanto tempo que não consegui ficar sem fazer.  

A situação estava crítica! 

Me perdi no corredor — outra vez! — e acabei numa sala com alguns instrumentos. Lá estava o piano que Harry havia mencionado e uma grande harpa de madeira escura.

Curioso, passei delicadamente os dedos pelas cordas. O som saiu mais alto do que imaginei que sairia. Era um som agradável, ainda que não se parecesse com música. Vi muitas partituras sobre o piano — daquele sem cauda, que parece uma escrivaninha quando está fechado, pena que eu não soubesse tocar! Um pouco de música me ajudaria a acalmar os nervos e colocar meus pensamentos em ordem.

Voltei para o corredor e segui em frente até chegar à sala principal. Estava vazia. Gemma e Teodora não deviam ter voltado ainda. Não vi sinal algum de que Harry estaria por perto. Daquela sala, ficava mais fácil encontrar meu quarto, já tinha feito o percurso várias vezes. 

A banheira já estava quase cheia quando cheguei. Esperei que os empregados terminassem de arrumar tudo e os agradeci fervorosamente Agora eu sabia o quanto custava tomar banho. 

Meus braços ainda doíam um pouco. 

Depois de lavar os cabelos, peguei meu condicionador caseiro e espalhei a gosma esverdeada por todo o cabelo, exagerando um pouco. Caprichei principalmente na ponta da franja que estava mais ressecada. Com muito cuidado, deslizei a lâmina sobre o local já ensaboado e uma pequena linha lisa apareceu. Redobrei o cuidado nas curvas, não queria me machucar — principalmente porque não tinha certeza se o pronto-socorro já existia. Terminei de usar a lâmina e a coloquei de volta na mesa.

Encostei-me na banheira e deixei meus pensamentos voarem, enquanto esperava que o condicionador fizesse milagres no meu cabelo. Não tinha desistido ainda de resolver o mistério livro-Harry-Santiago-celular. Entretanto, não tive tempo de começar uma única linha de raciocínio, pois a porta de repente se escancarou, fazendo muito barulho e Harry irrompeu o quarto como um touro bravo. 

— O que está fazendo? — perguntou, me procurando com os olhos por todo o cômodo. 

Quando me encontrou na banheira parou imediatamente. 

— O que acha que estou fazendo? Estou tomando banho! — cobri minhas oartes baixas com as mãos, não conseguiria pegar a toalha sem me expor ainda mais.

Harry me encarou por um segundo, depois seus olhos desceram um pouco até onde estavam minhas mãos, sua boca se abriu e ele corou violentamente.

 — O que você está fazendo aqui? — inquiri furioso e constrangido ao mesmo tempo. Tentei me afundar mais na água esbranquiçada, mas não consegui descer muito. A água estava baixa

 — Eu... — ele olhava para os próprios pés agora o vermelho não havia deixado seu rosto. — A Senhora Madalena... Disse-me que o senhor pediu uma navalha e eu pensei... Pensei que depois do que lhe fiz esta tarde... — seu constrangimento o impedia de falar claramente.

 Levei alguns segundos para entender sua quase-explicação.

 Oh!

 —Você pensou que eu tinha a intenção de... Me machucar só porque você me beijou? 

—Bem... — ainda olhando para o chão. — Perdoe-me, senhor Louis. É que já ouvi falar sobre jovens que... 

— Pois eu não sou desse tipo. Nem sou covarde! — se bem que naquela mesma tarde, eu agi como um. — De toda forma, eu precisava da navalha para... assuntos particulares. E agora, se me der licença...

 — C-claro, senhor. — ele olhou rapidamente para meu rosto, voltou a olhar para o chão e depois de volta para mim. Seus olhos analisavam minha cabeça curiosamente. — Por que seu cabelo está verde?

Por puro reflexo, levantei a mão e toquei meu cabelo cheio de gosma verde.

Ai! Droga!

 Com a confusão, acabei me esquecendo do condicionador. 

Claro que as heroínas dos meus romances, quando eram surpreendidas por seus... Amores, amantes, cachos, ficantes ou o que fosse, sempre estavam naturalmente deslumbrantes e gloriosamente vestidas. E lá estava eu, ensopado, nú e com o cabelo verde e gosmento.

 Minha mão ainda estava em meu cabelo, quando vi Harry ruborizar ainda mais e arregalar os olhos, os baixando logo em seguida. Percebi que a parte do corpo que minha mão cobria até segundos antes estava totalmente exposta.

— Fora! — gritei ultrajado. 

Ainda olhando para o chão, ele se inclinou e, sem dizer uma palavra, deixou meu quarto. 

Meu rosto ardia de humilhação. 

Porque sempre que era importante, eu acabava numa situação embaraçosa? 

Terminei o banho, furioso e mortificado. Não só havia beijado Harry, como depois chorado, fugido e agora ele havia me visto nú — realmente nú, não com as roupas que insistia que não cobriam nada — e, pra piorar, com o cabelo coberto de meleca verde. 

Poderia ficar pior? 

Descobri que sim, podia ficar pior! Logo que cheguei à sala percebi que podia ficar muito pior.



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