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História Perdido L.S - Twenty-two


Escrita por: brunah179

Capítulo 22 - Twenty-two


Chegamos perto das seis horas ao grande teatro. Um dos lugares mais lindos em que já estive na vida. Muito luxuoso, com paredes revestidas de madeira cor de mel e detalhes dourados, o teto segurava um lustre de cristal gigantesco com centenas de velas, a balaustrada delicada coberta por mais ouro e os assentos revestidos por um tecido vermelho escuro talvez veludo — deixava o balcão onde estávamos com aspecto elegante e charmoso.

 Sentei-me ao lado de Teodora, na fila de três cadeiras da frente, com Harry bem atrás e Gemma ao seu lado.

 A viagem foi longa, demorou muito para chegar até a cidade. Não que fosse tão longe assim, mas a carruagem ficou mais pesada com quatro adultos no seu interior e se arrastava a meros quilômetros por hora.

Falei pouco, quase nada, durante a viagem. Ainda estava muito assustado com o meu comportamento — com a falta dele — no caminho até a casa de Teodora. E se alguém nos visse agarrados daquela maneira? E se Gemma tivesse visto? Apenas respondi a algumas perguntas banais que Gemma — e para minha surpresa Teodora me fizeram. Tentei muito não olhar para Harry . Não queria ver a pergunta ainda em seu rosto. Por que não vive o presente? Eu não sabia o que responder, nem para mim mesma. Entretanto algumas vezes meus olhos vagavam por vontade própria em sua direção e, em todas as vezes, encontrei seus olhos me observando atentamente.

Eu mal sabia dizer como havíamos chegado até a cidade, não consegui prestar atenção em nada além de Harry . Até mesmo Gemma notou, percebi isso depois que saímos da carruagem, quando se afastou um pouco do nosso pequeno grupo e me puxou junto com ela.

 — Você e meu irmão brigaram? 

— Claro que não, — assegurei a ela. Ela sorriu um pouco.

 — Oh! — e seu rosto se iluminou.

 — O quer dizer com Oh — Não gostei do brilho em seu rosto. 

— Não é nada. Apenas nunca vi Harry ficar tão perturbado na presença de alguém como ele fica quando você está presente. — outro sorriso, dessa vez um enorme.

 —Gemma, eu não... — mas eu não sabia o que dizer a ela, e nem tinha certeza se não queria realmente perturbá-lo.

— Não seja tolo, Louis. Você não tem Culpa se ele se apaixonou por você, tem?

Meu queixo caiu.

Tentei pensar em algo que contradissesse sua suposição, mas não fui capaz. Harry não estava apaixonado por mim. O que sentia era atração física muito forte e incontrolável, ao que parecia, mas apenas isso. Ao menos, era o que eu pensava. E depois não pude mais explicar que ela estava enganada, já que Harry e Teodora se juntaram ao nosso pequeno grupo.

Esforcei-me muito para não me virar e observá-lo de vez em quando. E dessa vez, consegui — por um tempo. Em parte porque a orquestra começou a tocar e prendeu minha atenção, mas, assim que a cortina se abriu e os atores começaram a atuar, percebi que não entendia absolutamente nada. Gemma discretamente me entregou um pedaço de papel, um tipo de programa como aqueles de desfile de carnaval que explicam as mias e alegorias que gente normal como eu nunca conseguia encontrar sentido. 

Analisei o papel sob vários ângulos. — Também está em italiano! — murmurei.

— Mas é claro que está, meu caro. Toda ópera é em italiano! — Teodora sussurrou, um pouco irritada pela interrupção. 

— Você não consegue acompanhar? — Gemma perguntou. Suas sobrancelhas quase unidas indicavam que eu deveria saber italiano. 

— Não! — rebati. — É sobre o que? 

Gemma se inclinou um pouco, recuando logo em seguida, assim que viu Harry fazendo o mesmo. Ele estava bem atrás do meu assento, ficava mais fácil se comunicar sem atrapalhar as outras pessoas. Sua mão quente nas costas da cadeira roçou em minha pele, sua boca se aproximou de minha orelha e o calor de sua respiração queimou minha concentração. 

—Trata-se de uma comedia lírica. Dom Magnífico é um homem muito ambicioso. Tem duas filhas igualmente ambiciosas, Clorinda e Tisbe, e uma enteada gentil e bondosa. Angelina, da qual trata como criada. O príncipe Ramiro... 

Harry continuou dizendo alguma coisa, mas meu cérebro não assimilava mais as palavras. 

Registrei apenas o tom rouco de sua voz, seu calor sapecando minha pele, seu cheiro delicioso — um misto de madeira e ervas extremamente sensual — me entorpecendo.

 — Arrã. — resmunguei quando ele terminou sua narrativa. Tentei muito entender tudo o que ele havia acabado de dizer, mas não sabia ao certo se tinha conseguido. A ponta de seu nariz brincava em minha orelha e eu já não tinha certeza nem mesmo de qual era o meu nome. 

—Ainda tem mais. — ele se aproximou um pouco mais, seus dedos tocaram suavemente minha nuca. Seu toque quente e delicado fez meu coração retumbar, abafando os outros sons do teatro. Quase podia sentir seus lábios em minha pele. Era enlouquecedor!

 — O príncipe lhes comunica que dará um baile para todas as jovens do reino. Angelina vai ao baile às escondidas, vestida luxuosamente, graças à ajuda de Alidoro, o tutor de príncipe Ramiro, e deixa a todos encantado. Contudo, Dom Magnífico a reconhece e teme que todos descubram que ele renegou a Angelina todos os direitos como sua filha. Obviamente, não vou lhe contar como termina, mas creio que agora poderá acompanhar. — Ele suspirou em meus cabelos, a mão ainda em meu ombro. — Entende melhor agora, senhor? 

Eu... tentei me lembrar o que ouvi, tentei muito. Mas, pra dizer a verdade, não sabia dizer exatamente o que havia escutado. Tinha alguma coisa a ver com um príncipe e um baile e a irmã de alguém. Uma nuvem espessa cobria meu cérebro. Era impossível me concentrar em qualquer coisa com Harry sussurrando daquela forma em minha orelha.

 Virei-me para agradecer a ele, mas Harry estava perto o bastante para que meu nariz esbarrasse em seu queixo brevemente. Ele não recuou.

— Claro. Obrigado. — sussurrei atordoado. 

— Fico feliz em lhe ser útil. — um sorriso malicioso apareceu em sua boca perfeita. 

Sorri também, me virando depressa para não cometer nenhuma idiotice em local público, do tipo me jogar no colo dele e beijá-lo ali mesmo, bem ao lado de sua irmã adolescente. 

Prestei atenção ao espetáculo depois disso. Acabei me divertindo. Para minha surpresa, era uma espécie de comédia. O tal Dom Magnífico era extremamente burlesco e, depois de meia hora, achei que a história fosse um pouco familiar. 

No intervalo, fiquei exatamente onde estava, assim como todos do meu grupo. Harry e Gemma conversaram animadamente sobre a música e quão esplendido compositor o tal Rossini era.

 Eu apenas concordava, já que não tinha muito conhecimento no assunto. Teodora prestava mais atenção aos vizinhos de balcão e conversava animadamente com uma mulher coberta de joias.

Recomeçou o segundo — e final — ato, e então eu descobri o motivo de achar a história tão familiar: duas irmãs invejosas, uma criada num baile luxuoso e, quando o verdadeiro príncipe revelou quem realmente era e a garota fugiu assustada, deixando um bracelete que o príncipe decidira experimentar em todas as moças do reino a fim de encontrar sua amada, tive que rir.

 — É a Cinderela! — sussurrei para Gemma e Harry .

 — Sim, La Cenerentola. — Harry me explicou, sorrindo.

 — Você podia ter dito isso logo no começo, não precisava ter se dado ao trabalho de explicar tudo. — tentei parecer ofendido.

Harry se inclinou até que seus lábios ficaram a milímetros de minha orelha novamente. — E perder a oportunidade de sentir seu delicioso perfume tão de perto?— ele riu baixinho, fazendo todos os pelos de meu corpo se arrepiarem e minha cabeça girar ligeiramente.

Tentei ficar brava com ele, mas não pude fazer a careta de reprovação que pretendia. Eu estava muito zonzo para isso.

 — Vamos? — Perguntou Harry , tocando gentilmente meu ombro assim que o espetáculo terminou. 

— Demorou! — respondi. Harry me lançou um olhar confuso. Revirei os olhos. — Vamos, Harry.

 Ele riu e sacudiu a cabeça, me guiando para o corredor luxuosamente ornamentado. Na saída, Harry conversou com muitas pessoas, todas vestidas com roupas muito elegantes para a época e fez questão de me apresentar a todas elas. Segui os conselhos de Elisa e me limitei apenas a dizer: prazer em conhecê-lo. Bem, obrigada. Sim, gostei do espetáculo. Esqueci dos nomes assim que eles foram ditos. Eu não me encontraria com aquelas pessoas novamente. Contudo, notei mais de uma vez que, as mulheres em especial, me observavam curiosamente.

 — Harry , não posso acreditar que tenha se esquecido de entregar a cartola que deixei para Louis usar esta noite. Você notou como Lady Catarina Romanov o observou? — Gemma disse, aborrecida, enquanto esperávamos pela carruagem.

Havia uma fila delas, todas parecidas umas com as outras. Porém, uma delas se destacava, era muito grande e os cavalos usavam um adorno vermelho nas cabeças. A mulher coberta de jóias que Teodora passou boa parte da noite paparicando entrou nela.

 — Desculpe-me, Gemma. Eu me esqueci. — Harry passou a mão pelos cabelos, parecendo constrangido. 

— Você devia ter se lembrado. As pessoas notaram que ele não tinha nada para destacar a beleza de seu rosto. — Gemma cruzou os braços sobre o peito. 

— Mas ele não precisa! — Harry disse simplesmente, me fazendo corar.

 — Sim, isso é verdade, mas ainda assim... —Gemma sorriu pra mim, aparentemente esquecendo a briga com o irmão. 

No caminho para casa, Teodora estava eufórica por ter conversado com Lady Catarina sei-lá-das-quantas uma senhora muito importante, descendente de uma importante família russa, com um filho em idade adulta procurando por uma esposa . Aparentemente, o tal filho devia ser muito importante na sociedade, pois seu interesse em conhecê-lo era tocante.

Fiquei maravilhado ao passarmos pela vila à noite — já era tarde, talvez perto da meia noite. Não imaginei que já existisse iluminação pública no século dezenove. Claro que não era luz elétrica, mas um tipo de lanterna ou lamparina pendia como braços do alto das casas. Iluminava até que bem as ruas e vielas. A pequena lamparina iluminava fracamente o interior da carruagem, mas era o suficiente para que eu pudesse ver que os olhos de Harry não me deixaram nem por um momento. 

— Gostou do espetáculo, senhor Louis? — Teodora perguntou ao meu lado, quando já estávamos na estrada que levava até a casa. 

— Foi demais! Não pensei que ópera pudesse ser tão divertida. Pensei que todas fossem melancólicas e enfadonhas. 

Gemm riu.

 — Sabe que, às vezes, penso a mesma coisa? Não gosto das melancólicas também. — confessou ela. Eu assenti, sorrindo.

 — Realmente gostou, senhor? — indagou Harry , que até então estava calado, apenas me encarando.

 — Pra caramba! Foi incrível! Apesar da história ser um pouco diferente da que eu conheço, ainda assim, foi divertido demais! Eu adorava a Cinderela quando era criança. Era minha princesa favorita.

— É mesmo? — perguntou curioso.

 — Mesmo! Eu pegava escondido os vestidos da minha mãe quando tinha uns seis ou sete, vestia um sobre o outro para que ficasse tão volumoso quanto estes. — como a vida podia ser surpreendente! — Passava horas brincando de princesa, esperando que o príncipe viesse me buscar com o cavalo e... — parei de falar assim que a lembrança vestido com seu casaco comprido montado em seu cavalo, invadiu minha cabeça. De uma forma estranha, eu estava vendo o meu faz-de-conta.

Sacudi a cabeça, pensando se, de repente, eu não teria uma fada madrinha em algum lugar que poderia ajudar a resolver minha vida. Mas, como eu bem sabia, na vida real, contos de fadas não se realizam com frequência. 

— E? — Harry instigou.

 — E eu cresci! Aprendi que contos de fadas só acabam bem nos livros. — dei de ombros e suspirei.

— Contos de fadas podem se tornar realidade, Louis. Basta que a princesa não lute contra a própria felicidade. — sua voz intensa. 

Gemma e Teodora se entreolharam sem entender, mas é claro que eu sabia bem ao que ele se referia.

— Às vezes, ela não tem outra escolha. Às vezes, não é possível que ela possa querer ser feliz, porque ela está no lugar errado, ainda que o príncipe... — pareça ser o certo eu quis acrescentar, mas não fui capaz. — Talvez ela queira muitas coisas, mas não tenha o livre arbítrio para poder decidir nada.

 — Então, talvez ela devesse lutar pelo que quer. — Encarei-o por um momento, sem saber bem como responder. Por que eu queria ficar com ele, mas também queria voltar para minha casa. Então, lutar como? Como conciliar duas coisas tão incompatíveis?

 —Talvez ela nem mesmo tenha essa opção. — sussurrei, sentindo meu coração se apertar dentro do peito. As cabeças das garotas se viravam de um lado para o outro, como num jogo de pingue-pongue.

 — Talvez não sozinha, mas talvez o príncipe pudesse se ela o permitisse. — seus olhos brilhavam, mesmo na luz fraca da lanterna.

— Não dá! Ela tem que resolver sozinha. — tentei ser firme. 

— Talvez a princesa esteja sendo muito teimosa! — ele disse sarcasticamente.

— Talvez o príncipe não saiba a história toda para poder julgá-lo!

 — Como ele pode conhecer a história toda se ela não confia nele o suficiente para contar sua história? — sua sobrancelha se arqueou desafiadoramente. 

— Não é falta de confiança, Harry. — sacudi a cabeça. Estava exausto, emocionalmente. — Eu... Ela não pode contar porque nem ela mesma sabe o que está acontecendo. 

— Não acredito nisso!  

— Você é tão cabeça dura! — retruquei um pouco irritado.

— Sim, eu sou. Eu luto quando sei o que quero!

— Eu lutaria também, se soubesse o que eu quero! — disse um pouco mais alto do que pretendia. 

Ele sorriu, divertido com minha raiva. Cruzou os braços sobre o peito largo e esticou as pernas no pequeno espaço que restara no interior da carruagem. A ponta de suas botas se esconderam nos meus vans.

 — Não acredito nisso também. 

—Ah, não? 

— Não! Você sabe bem o que quer e está com medo de admitir. — concluiu, muito seguro de si. 

Urgh! Ele era tão teimoso! 

— Falou o senhor sabe tudo! — rebati acidamente. 

— Sabe, senhor, posso lhe assegurar que conheço seus sentimentos melhor que você mesmo.

 — Eu devia ter quebrado seu nariz quando tive a chance! — cruzei os braços sobre o peito.

Harry gargalhou. O som de seu riso fez coisas estranhas em meu corpo.

— Nunca é tarde para reparar um erro. — acrescentou carinhoso. — Estou à sua disposição, senhor.

— Vocês estão brigando! — Gemma exclamou, assustada. 

— Não! — Harry e eu respondemos ao mesmo tempo. 

Olhei para ele, que me encarava com ternura e diversão e fui incapaz de continuar irritado. Rimos juntos e as duas garotas nos olharam como se nós dois fossemos malucos.

— Não estamos brigando, Gemma. Apenas estamos tentado chegar a um acordo sobre um assunto de mútuo interesse. — ele disse à irmã, mas seus olhos não deixaram meu rosto, o sorriso ainda em seus lábios. — Não se preocupe. Essa não é a primeira vez que o senhor Louis  ameaça quebrar meu nariz. E ouso dizer que não será a última. 

Tentei não rir, mas foi impossível não corresponder ao seu sorriso. 

— Não gosto de vê-los discutindo. Estimo demais aos dois, não poderia suportar se brigassem. — Gemma sacudiu a cabeça, aflita.

 — Não é uma briga, Gemma. De verdade. É que seu irmão sabe como me perturbar como ninguém, é tipo um dom! — me perturbar de todas as formas possíveis e imagináveis. 

— Posso dizer o mesmo sobre você! — o brilho prateado se espreitou em seus olhos.

 Tentei respirar normalmente. 

Teodora se hospedou mais uma vez na casa de Harry e Gemma. Assim que entramos, desejei boa noite e praticamente corri para o quarto. Não queria correr o risco de me encontrar com Harry pela casa e, de repente... Não queria correr o risco! 

Quando cheguei ao quarto, corri para meu celular, que estava apagado como quase sempre. Eu tinha a estúpida ideia de que algo estaria ali — uma mensagem — depois do incidente com Harry na carruagem, mas não havia nada. Minhas suposições estavam falhando, ao que parecia.

 

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