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História Perdido L.S - Twenty-five


Escrita por: brunah179

Capítulo 25 - Twenty-five


Ficamos na sala de música até que o almoço foi anunciado. Harry não estava à mesa. Madalena e mais dois empregados apareceram com os braços repletos de bandejas e travessas.

 — Oh! Senhorita Gemma! Mandei avisar seu irmão que o almoço seria servido, mas ele disse que não sairá do quarto até que termine o que está fazendo. — sua voz agoniada. — Ele nem tomou o café hoje! Estou preocupada que ele esteja doente! 

Gemma ficou alarmada. Assim como eu. Ele não estava bem? Estaria realmente doente? Tinha algum remédio naquele lugar atrasado? Mas ele pareceu tão normal e bem disposto quando nos vimos pela manhã!

 — Eu vou chamá-lo — eu disse, apressado. Os olhos das três mulheres me observavam. — Talvez consiga convencê-lo a comer alguma coisa para não deixá-las tão preocupadas.

 — Por favor, faça isso. — Gemma me disse.

 Fui para o corredor quase correndo, mas tive que voltar quando estava na metade. — Err... Eu não sei onde é o quarto dele—. Falei desconcertado. 

—Três portas à esquerda do meu. —Gemma se levantou, — Se quiser, posso ir até lá com você.

— Não precisa! Sei chegar lá. Acho que talvez um amigo possa argumentar de forma mais persuasiva que própria irmã. — sorri amarelo. Minha desculpa soou esfarrapada até pra mim.

Sai apressado para o corredor que levava até a sala principal. Eu só conseguiria encontrar o quarto de Gemma se partisse dali. Apressei o passo, enquanto pensamentos desagradáveis teimavam em entrar em minha cabeça. Ele estava doente? Mas parecia tão normal de manhã. Corado e saudável e lindo e forte e cheiroso e... Talvez estivesse mal e não tenha dito nada para não me preocupar. Harry não parecia ser um daqueles homens resmungões que precisam de morfina quando uma unha do pé encrava.

Encontrei o quarto de Gemma. Contei três portas à esquerda. Bati. Não ouvi som de passos ou resposta. Bati novamente, ficando impaciente.

 Senti um pouco de alívio quando ouvi passos e, depois a voz abafada de Harry . — Senhora Madalena, eu já lhe disse que não estou... — ele abriu a porta e me viu. — Com fome. — terminou confuso 

— Oi.                                                                                                                                                                                    Analisei atentamente sua fisionomia Ele não parecia doente. Pelo contrário, parecia esbanjar saúde com seu cabelo desarrumado, uma mancha de tinta rosa em sua testa. Não vestia o casaco habitual apenas uma camisa branca os dois primeiros botões desabotoados permitiam entrever os pelos castanhos de seu peito. As mangas enroladas até a altura dos cotovelos e pequenas pintas coloridas decoravam todo o redor. Nunca o vi mais lindo!

 — Está tudo bem com você? —consegui falar, depois de recuperar o fôlego. 

— Mas é claro que está. Por que não estaria? — sua testa se enrugou. Vestido daquele jeito, com camisa e calças escuras, ele parecia um rapaz comum não por sua aparência, Harry era lindo demais para ser considerado comum, mas comum como um rapaz do século vinte e um. Qualquer homem ainda usava camisas e calças. 

— Madalena pensou que você estivesse doente. Ficamos preocupados e eu vim até aqui para ver se você estava bem. E, caso estivesse bem, te arrastar até a mesa e obrigá-lo a comer. 

Ele bufou.                                                                                                                                                                              — A Senhora Madalena sempre se preocupa desnecessariamente. Eu estou bem, apenas quero terminar o que estou fazendo e depois vou comer.

 — Está pintando? 

— Estou. — respondeu exasperado. — Minha governanta não sabe manter a boca fechada.

 — Ela não fez por mal. Posso ver? 

— Não! — disse ele, um pouco alto demais. Assustei-me com sua reação exagerada ao meu pedido simples. — Quero dizer, ainda não. Não está pronto.

 — Ah! — exclamei frustrado. — Então, vamos almoçar?

 — Eu pretendia terminar o que estou fazendo primeiro.

— Oh! — murmurei infeliz. — Vou até a vila com sua irmã e Teodora para pegar os trajes esta tarde.

 — Estão prontos? Que ótima notícia. Assim, não terá nem uma desculpa para não dançar comigo no baile. — ele sorriu maliciosamente e meu coração disparou.

 — Não quero desapontá-lo mas provavelmente não sei dançar o tipo de dança que você conhece — recuei um comecei a voltar para a sala.

 — Te vejo depois então. — dei de ombros. Não pude evitar ficar decepcionado. 

— Espere. — sua voz um pouco mais alta. — Me dê apenas um minuto. 

— Mudou de ideia? 

— Sim. — ele abriu a porta do quarto. — Apenas preciso me livrar de toda esta tinta primeiro — me mostrou mãos coloridas e entrou fechando a porta outra vez. 

Esperei no corredor, observando alguns quadros, brincando com uma das flores do imenso buquê no vaso sobre um aparador. Depois de um curto período, Harry saiu do quarto mais alinhado, seu cabelo estava levemente úmido, uma camisa limpa embaixo do casaco. — Assim está melhor— disse ao se aproximar.

 —Não sei se eu concordo... gostei muito de vê-lo mais desalinhado. Muito mesmo!

 — Perdoe-me, o que disse? — ele franziu a testa. A mancha rosa ainda estava ali. 

Mordi o lábio para não rir.

— Sua testa está rosa. Se Madalena te visse agora, iria pensar que é algum tipo novo de doença que faz as pessoas mudarem de cor. 

— Onde? — perguntou levando a mão a testa. 

— Bem aqui. — toquei sua testa e friccionei levemente, mas a tinta não saiu. — Acho que terá que lavar com sabão, a tinta está seca. 

Rápido como o bote de uma cobra, seus braços me envolveram e, de repente, eu estava colado a ele. Tentei empurrá-lo para me livrar do abraço, mas Harry era mais forte que eu. 

— Agora, senhor, me diga exatamente quanto! — e sorriu.

 Tentei mover suas mãos de minha cintura, mas não consegui mover nem mesmo um de seus dedos. — Pare de brincadeiras, Harry . Alguém pode nos ver. — Pedi inquieto. Seu sorriso se alargou.

—O soltarei assim que me disser o quanto. — seus olhos brilhavam como duas esmeraldas, o sorriso de fazer meu coração parar de bater. 

— Quanto o que? — perguntei exaurido. Se Gemma viesse procurar por ele e nos visse agarrados daquele jeito, depois de tudo o que contei a ela... 

— O quanto gosta de mim! — disse divertido. — Você me disse que gosta e que eu nem imagino o quanto!

 — Harry ! Me solte e pare de brincadeira. — estava ficando com medo. Meu corpo começava a perder o controle outra vez. E estávamos sozinhos no corredor cheio de portas e com quartos cheios de camas. —Gemma pode aparecer... 

— Então, me conte! — pediu com a voz intensa e suplicante. A diversão em seus olhos foi substituída por alguma emoção que não pude ler. — Por favor, me diga. 

— Não digo até que me solte! —proferi desesperado. Minha pele pinicava, meu nariz cheio do aroma de sua pele (tão masculino) turvava meus pensamentos.

 —Louis. — ele sussurrou, se inclinando rapidamente para me beijar.

Tentei detê-lo, mas seu súbito ataque me pegou de surpresa e não consegui afastá-lo a tempo. Obviamente, quando sua boca encontrou a minha, meu corpo reagiu imediatamente e minhas boas intenções caíram por terra. E lá estava eu, outra vez, agarrado a ele de forma nada educada, sem me importar se o mundo fosse acabar ou se alguém nos veria. Parecia que a cada vez que ele me beijava, uma nova parte de mim despertava. Eu era inteiramente novo, uma outra pessoa, uma pessoa mais feliz e completa.

 Não sei bem como acabei presa entre ele e a parede, a parede cravada em minhas costas, mas fiquei extremamente satisfeito. Suas mãos deixaram minha cintura e deslizaram por meu corpo, subindo e descendo por minhas costas, rodeando a lateral do meu quadril, descendo até minhas coxas. Instintivamente, levantei minhas pernas e as prendi em seu quadril. Ele me apertou ainda mais contra a parede fria. Tudo ao meu redor começou a girar enquanto seus lábios brincavam em meu pescoço. 

— Harry. — arfei, trazendo sua boca de volta para minha. 

Minhas mãos — por vontade própria — desvendavam a musculatura firme de seu peito, sua barriga chata, seus ombros largos. O calor que irradiava dele me queimava, me deixando completamente maluco e eu queria desesperadamente que sua camisa se desintegrasse. Ele encontrou um caminho por dentro de minha camisa, sua mão subiu lentamente pela lateral de minha cintura e apertei ainda mais minhas pernas em seu quadril, o trazendo para mais perto. 

Preso a ele daquela forma, eu não tinha para onde escapar. Eu não quis escapar! Desci minhas mãos por sua barriga, procurando pelo botão, e acabei encontrando outra coisa. Uma coisa muito maior que um botão! — Harry gemeu. 

Seus beijos se tornaram mais sérios, ainda mais urgentes e fiquei feliz demais quando ele tentou alcançar os botões da minha calça.

 — Rã-Rã...

De repente, Harry me soltou. Escorreguei pela parede e acabei no chão.

 — Ah! Desculpe-me, Louis. Digo, senhor Louis. — senti suas mãos tentando me desembrulhar. Sua voz estranha.

 — Harry ... — tentei me apoiar nele. — O que... 

— Desculpe-me, senhor, — quando pude ver alguma coisa, vi apenas as costas de um homem mais velho. O mordomo. Gomes, me lembrei. — Não tive a intenção de interrompê-los. Vim avisá-lo que as bebidas para o baile acabaram ser entregues. Pensei que gostaria de conferir a qualidade como é seu costume. 

Ai, droga! 

Droga! Droga! Droga! 

— Err.. Eu... Vou num minuto, Gomes. — Harry não sabia bem o que fazer: se me acudia ou se levava o homem dali. — Apenas vou... ajudar o senhor Louis chegar até a sala e me encontro com você na adega. 

Ainda de costas, o homem disse: — Sim, senhor. — e se retirou rapidamente.

Harry estendeu as mãos para me ajudar a ficar de pé. Aceitei sua ajuda sem hesitar. —Você está bem? — perguntou preocupado. Suas mãos separaram as mechas de cabelo que cobriam meus olhos.

 Não, eu quis dizer. Não estou bem. Não estarei bem até que me beije outra vez! 

— Ótimo! — ofeguei. Arrumei o terno e passei as mãos pelos cabelos, tentando me recompor. Estava claro que esse tipo de coisa — Harry e eu sozinhos em qualquer lugar — não estava dando certo. 

— Você acha que ele vai contar pra alguém? — perguntei preocupado com Gemma. 

Ele tocou delicadamente uma mecha de cabelo que teimava em cair nos meus olhos e a colocou para trás. 

— Não se preocupe com isso. Gomes é muito discreto. Faz parte de seu trabalho ser discreto. — e sorriu.

Afastei-me um pouco dele. — Não quero te causar problemas— recuei um pouco mais.

 — E não causou. Se me lembro bem, fui eu quem começou isso. — ele me observava atentamente. — Por que está se afastando como se eu fosse perigoso? 

A distância agora era de alguns passos. — Por que dessa forma, poderemos conversar civilizadamente sem acabar... Do jeito que acabou agora pouco. — falei envergonhada.

 Ele riu. — Acho que tem razão. — correu uma das mãos em seus cabelos castanhos. — Creio que precisamos conversar sobre o que está acontecendo entre nós dois. Você não pode mais fugir do que sente. 

— Eu sei, — concordei, pensando na conversa que tinha tido com Teodora na sala de música. Ele precisava saber da minha história, toda a história, para poder entender que eu não era livre para decidir nada. — Preciso te explicar muita coisa. Mas não agora,Gemma está me esperando e você tem que ver as bebidas... 

Eu estava preso à parede outra vez. Dessa vez, apenas pela parede. Ele não pareceu satisfeito em adiar a conversa. 

— Outra hora, então, — disse, solenemente — Vou acompanhá-lo até a sala de jantar para que Gemma não se preocupe mais. — ofereceu-me seu braço.

 Sacudi a cabeça. Suas sobrancelhas arquearam. 

— Você vai daí — indiquei a outra parede— E eu vou daqui. Essa casa tem muitos corredores iguais a este, — esclareci meio sem graça.

Ele sorriu

 — Não vou atacá-lo, Louis. 

— Mas talvez eu te ataque. — sorri também. — Melhor não arriscar!

Ele assentiu, ainda sorrindo. Andamos alguns passos em silencio. Eu espiava seu rosto de vez em quando e sempre encontrava seus olhos me observando. Depois de um tempo, Harry resolveu falar.

 — Então irá até a vila esta tarde? — perguntou casualmente.

 — Vou. Acho que Gemma não me deu outra opção.

— Pode ficar aqui comigo se quiser. — ele se aproximou 

— Já prometi que iria — menti. Era melhor evitar a tentação de ter a casa só para nós dois outra vez.

Ele continuou andando, colocou as mãos no bolso e se aproximou um pouco mais. —Talvez depois do jantar possamos conversar. — sua voz mais baixa me causou calafrios. 

— Talvez. Ou amanhã durante o dia, num lugar onde não tenha portas nem paredes. — com certeza, seria mais prudente se, pelo menos, não tivéssemos a facilidade de tantos quartos ao alcance das mãos. 

Ele se aproximou mais, as mãos ainda dentro dos bolsos, mas nossos cotovelos se tocavam. De repente, um pensamento desagradável encheu minha cabeça. Eu parei e o puxei pelo braço fazendo com que ficasse de frente para mim.

 — Harry , preciso te dizer uma coisa!

 — Diga!

 Observei seu rosto atentamente. — Você já sabe que eu... dormi com alguns homens. Não muitos, — me apressei, ainda observando sua reação. — Mas alguns. 

Seus olhos ficaram tristes. Não era bem o que eu estava esperando. — Por acaso, você não estaria imaginando que eu me comporto com todos os homens que encontro pela frente da mesma forma que ando me comportando com você, estaria? 

Seu rosto escureceu, como uma tempestade de verão. — Acha que estou querendo me aproveitar de você pelo fato de saber que já foi de outro homem? — rosnou, trincando os dentes.

 — Conheço muitos tipos de homens. Não seria uma surpresa se fosse assim, afinal. 

Ele agarrou meu braço com força — mas não a ponto de me machucar —, me impedindo de sair do seu campo de visão. 

— Não sei que tipo de homem você conhece, mas eu não sou um aproveitador! Você é tão cego assim, Louis? — a fúria e o desespero em sua voz me deixou alarmado. — Não pode ver o que eu sinto por você? Eu jamais a trataria de forma tão desonrosa se eu não estivesse tão.., tão... 

Ele parou e sacudiu a cabeça, depois soltou meu braço e recuou. Eu fiquei paralisado, de medo, de espanto e de ansiedade também. Queria que ele concluísse. Se eu não estivesse tão... 

Apaixonado? Assim como eu estava?

 — Desculpe-me. Parece que não estou sendo muito claro com você. E nem posso culpá-lo por não entender o que eu sinto. Não depois de tê-lo tratado de forma tão abominável. — ele me encarou, a raiva ainda em seus olhos, mas agora se misturava com angústia. — Realmente, precisamos ter uma conversa definitiva!

 Concordei com a cabeça, incapaz de dizer qualquer coisa. Ele se virou para o corredor, andou apenas um passo e depois voltou rapidamente até onde eu estava, ainda estarrecido e grudado no chão. 

— Perdoe-me, Louis. — ele disse, tocando o local em meu braço onde sua mão esteve agarrada até alguns segundos atrás. 

—Tudo bem, — sussurrei — Não me machucou, nem nada disso, Harry sorriu tristonho.

 —Não estou me saindo muito bem. Mas essa é a primeira vez que me apaixono. — e sorriu timidamente.

 Senti um tremor percorrer cada centímetro de meu corpo. A emoção que me dominou me deixou entorpecido. E, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, antes mesmo de poder piscar, suas mãos se encaixaram em meu queixo e seus lábios pressionaram os meus delicadamente. Então me soltou, cedo demais pro meu gosto, e suspirou.

 — Até depois.

Ele estava apaixonado por mim!

Por mim! 

Ele me queria tanto quanto eu o queria e, assim como eu, era a primeira vez. Tentei recuperar o fôlego pra poder dizer que eu também estava louca por ele, contudo, não consegui responder a tempo. Quando finalmente o ar voltou aos meus pulmões, Harry já tinha desaparecido no corredor. 

Ele estava apaixonado por mim!

 A alegria era tanta que eu queria sair gritando para os quatros cantos. Respirei fundo algumas vezes para me recompor, meu sorriso imenso e involuntário se espalhou em meu rosto.

 Ele estava apaixonado por mim!

Não conseguia parar de repetir as palavras, meu coração quase explodindo de tanta felicidade. Um novo tipo de felicidade, muito mais intensa, prazerosa, importante e maravilhosa! 

BSS. BSS. BSS.

 O zumbido fraco, quase um sussurro, mas que eu conhecia bem, ecoou no corredor. Disparei para o quarto, quase derrubando a porta ao entrar. Corri para o celular. Minha mão tremia. 

Fase três: completa.

 Bem vinda ao novo nível.

 Esteja preparado.

Ah! Não!Ah! Não! 

Não agora! Não agora que Harry ... 

Estava apaixonado por mim! 

Horror, dor e medo me invadiram de uma só vez. O que foi que eu fiz? Iria magoá-lo tanto! E eu sabia disso! Sempre soube disso! E por que novo nível? Eu nem sabia o que tinha feito para acabar o nível anterior! Já não sabia mais o que eu queria de verdade. Mas tinha certeza do que eu não queria. E eu não queria machucar Harry.Não sabia ao certo o que “esteja preparado” significava, mas minha intuição me dizia que era minha volta para casa. Um bolo no estômago me impediu de respirar, me agachei perto da poltrona abraçando os joelhos e deixei que as lágrimas corressem livremente, enquanto uma dor profunda e cortante atingia meu coração.

 

Tenso!!!

 



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