1. Spirit Fanfics >
  2. Perdido L.S >
  3. Three

História Perdido L.S - Three


Escrita por: brunah179

Capítulo 3 - Three


Onde estavam os prédios? Onde estava a rua? Onde estava a praça em que tropecei meio minuto atrás? — perguntei-me desesperado. Eu me encontrava no chão de um vasto gramado — como um campo de futebol — apenas uma árvore de médio porte a alguns metros. Notei uma estreita estrada de terra batida onde deveria estar a rua.

 Eu devia ter batido a cabeça com muita força! Só poderia ser isso! Olhei freneticamente em todas as direções e nada estava ali. Nada! As pessoas, a cidade, tudo havia sumido. Quanto eu bebi noite passada? Talvez ainda esteja bêbado! Isso. Com certeza, bêbado! Eu não conseguia me mover, me levantar e provar que estava tão embriagado que não podia sequer ficar de pé, que estava tão doido que tinha feito tudo desaparecer. Fechei os olhos e os apertei bem forte, rezando para que, quando os abrisse novamente, tudo voltasse ao normal. Então ouvi um barulho. Abri os olhos rapidamente. Avistei um homem em cima de um cavalo marrom claro vindo em minha direção. Estreitei os olhos para entender o que estava vendo.

 Realmente era um homem e um cavalo! Continuei a observar enquanto ele se aproximava e notei que o cavalo diminuía sua corrida. Diminuiu um pouco mais até parar bem perto de onde eu estava. Olhei para o homem, completamente confusa. Suas roupas eram muito esquisitas e antigas. Muito, muito antigas! Vestia um casaco escuro e comprido, um colete sob ele, gravata — ou talvez fosse um lenço branco amarrado no pescoço — e botas pretas na altura dos joelhos. Ele estaria indo para alguma festa à fantasia? Ou um casamento temático, talvez?

 Fiquei observando o rapaz enquanto ele descia de seu cavalo com uma expressão preocupada no rosto.

 —Você está bem? — ele perguntou, se agachando ao meu lado.

 Continuei a encará-lo de boca aberta. Seus olhos procuraram alguma coisa ao redor. Assim como eu, também não encontrou nada ali, apenas a árvore, a pedra e eu, ainda caído no chão. Ele voltou a observar meu rosto, depois seus olhos avaliaram o resto de mim e sua cara assumiu um tom avermelhado quando examinou minhas pernas. Rapidamente, voltou a me encarar, sua face confusa.

 — Você está bem? — ele repetiu.

 Minha cabeça girava, me deixando tonto. 

—O-o que? — respondi pateticamente.

 — Tem um ferimento na cabeça. Está sangrando muito. — ele moveu sua mão em direção à minha testa, mas não me tocou.

 Estava tão confuso que não notei, a princípio, a umidade quente e pulsante em minha têmpora.

 — Ah! — eu disse tocando minha testa debilmente. Doeu um pouco. Então, eu não estava sonhando! Ou tendo um pesadelo.

 — O que aconteceu? Parece assustada e... suas roupas... Hã...

 — Cadê a cidade? — inquiri, com a voz quase sem som. 

— Foi de lá que o senhor veio? — sua testa franziu.

 — Como foi que eu vim parar aqui? Como tudo sumiu tão depressa? Cadê as pessoas? — disse eu, agarrando com as duas mãos a gola de seu casaco.

 Olhei em volta, procurando uma forma lógica para explicar o que estava acontecendo, mas não havia nada ali, além da paisagem rural. Estava assustado demais para entender qualquer coisa. O rapaz se espantou um pouco com minha reação. Mas o que mais eu poderia fazer, além de ter um ataque?

 — Melhor levá-lo até minha casa e chamar o médico. Depois arrumarei uma carruagem para levá-lo até sua casa. — seus olhos me fitavam de uma forma muito estranha. Era muito intenso. Fiquei zonza. Soltei seu casaco imediatamente.

 Um médico seria bom. Talvez ele me desse alguma coisa que me fizesse acordar ou sair daquele pileque mais depressa.

 — Posso ajudá-lo a se levantar, senhor? — e estendeu suas mãos, para que eu as usasse como apoio.

 Apenas assenti, confuso. Tinha certeza que não conseguiria ficar de pé sozinho, de toda forma. Meus joelhos pareciam feitos de gelatina. Estiquei meus braços para pegar suas mãos, quando o que ele disse entrou no redemoinho de pensamentos.

 — Carruagem?

 — Talvez seja mais prudente permitir que o Dr. Almeida lhe examine primeiro. Um ferimento na cabeça pode ser muito perigoso.

 — Não é nada. — afirmei. — Nem sei como aconteceu. Você também viu aquela luz? — perguntei, ansioso para poder encontrar o sentido daquilo tudo.

 Ele pareceu confuso.

 — Luz? Refere-se à luz do sol? 

— Não! —sacudi a cabeça. — A luz branca insuportável que fez tudo desaparecer!

 Ele sacudiu a cabeça lentamente.

 Eu fui o único que vi, então?

 — Vejo que está um pouco atordoado! Vamos até minha casa. Descanse um pouco e, depois que falar com o médico, prometo que farei o possível para ajudá-lo, está bem? — sua voz baixa e rouca, os olhos intensos, não me deixaram outra escolha.Eu nem mesmo tinha outra escolha.

 — Tá. — murmurei.

 Ele alcançou minhas mãos e me ajudou a levantar.

 — Não é prudente que um jovem como o senhor fique sozinho neste lugar, ainda mais com seus trajes nestas condições. — ele passou a mão em minha cintura para me dar apoio e começou a me conduzir até seu cavalo.

 Senti algo muito estranho quando ele me tocou. Tipo um déjà vu ou como se já nos conhecêssemos de algum lugar. Fiquei ligeiramente sem equilíbrio.

 — Por que está vestido desse jeito? — perguntei, tocando seu casaco. — Estava indo para alguma festa?

 — Estou voltando de uma viagem longa. — a desordem em seu rosto era parecida com a que devia estar no meu.

 Viajando de cavalo vestido daquele jeito? Ele era louco?

 — Não acha que seria melhor uma roupa mais confortável? E porque você foi com o cavalo?

 A confusão em seu rosto se aprofundou.

 — Creio que estou vestido adequadamente, senhor. E prefiro ir a cavalo. É bem mais rápido que a carruagem. — um pequeno sorriso surgiu em seus lábios, meu estômago se agitou. — Contudo, sei que é pouco prudente de minha parte. Muitas coisas mudaram nessa última década. Acredito que não seja mais seguro, com tantos vândalos e golpistas por aí se aproveitando de viajantes solitários. — e me lançou um olhar significativo.

 — Ah! Não. Eu não fui atacado por ninguém. Eu não sei o que aconteceu. — parei quando cheguei perto do cavalo, seu braço ainda em minha cintura. — Num minuto, eu estava na praça e, segundos depois, estava aqui neste... campo e tudo sumiu.

 — Tenho certeza que se lembrará assim que sua cabeça melhorar. Mas penso que foi atacado por ladrões sem escrúpulos. Seria essa a única explicação para terem deixado o senhor nestas condições! — ele desviou os olhos.

 — Que condições? — perguntei confuso pelo tom reprovador de sua voz.

 — Suas roupas. — ele murmurou. — Mal posso crer na audácia de tais vândalos!

 — O que é que tem minhas roupas? — olhei para elas, para ver se ainda existiam ou se, de repente, não tinham desaparecido como todo o resto. Havia um pouco de grama presa na bermuda e nos joelhos, mas fora isso, estava tudo normal. Pelo menos com as roupas.

 — As coisas mudaram muito depressa, como eu disse. Não acho prudente que mais alguém o veja praticamente sem... — ele pigarreou e baixou tanto a voz que quase não pude ouvir.-roupas...

— Como assim sem roupas? — de que raios aquele maluco estava falando.

 — Não se preocupe com isso! Eu lhe arrumarei algo para vestir. — ele me empurrougentilmente para mais perto do cavalo.

 Eu recuei, me soltando de seu abraço.

 — Sabe de uma coisa? Eu tô legal! — eu não sabia que tipo de maluco ele era, mas que não estava em seu juízo perfeito, isso era um fato. — Vou tentar descobrir como cheguei aqui e depois vou voltar para casa. Mas valeu pela ajuda, moço.

 Girei para o outro lado, querendo ficar o mais longe possível daquele lunático, quando parei, petrificado. Uma carruagem surgiu na estrada. Uma carruagem de verdade, de madeira, com dois cavalos na frente e um carinha sentado quase no teto vestindo roupas engraçadas.

 — Está tendo um desfile ou coisa parecida por aqui? — questionei, observando a carruagem se aproximar mais.

 — Desfile?

 Virei-me para observá-lo. Seu rosto ansioso acompanhava o trajeto da carruagem.

 — É, desfile. Onde aquele troço antigo está indo?

 — A carruagem? Não é antiga! É da família Albuquerque, eles acabaram de adquiri-la. A antiga estava causando muitos transtornos a eles.

 Apenas fiquei olhando para ele, esperando encontrar sentido no que me dizia.

— Nova? — caçoei. — Aquele troço? Deve ter uns duzentos anos! Sua testa se enrugou, as sobrancelhas arqueadas.

 — Garanto-lhe que é nova. Foi construída há apenas alguns meses. — Ah! Entendi. Ele é tipo um colecionador.

 — a carruagem se aproximava. — Colecionador? Tipo? Senhor creio que esteja um pouco desconexo neste momento. Ficarei mais aliviado após o Dr. Almeida lhe examinar.

 Então... A carruagem parou na estrada e, através da pequena janela lateral, uma cabeça usando cartola — cartola! — apareceu.

 — Está tudo bem, Senhor Styles? Algum problema? — perguntou o homem de rosto gordinho e bigode enorme, me examinando atentamente. Os olhos se arregalaram e, quando olhou para minhas pernas, ruborizou.

 O rapaz ao meu lado se colocou na minha frente, me impedindo de ver a imagem pitoresca. — Este jovem foi assaltada, Senhor Albuquerque. Vou levá-lo para minha casa. A pobre tem um ferimento na cabeça. — ele disse, um pouco ríspido.

 — Ah! Esses tempos modernos estão acabando com o sossego das pessoas de bem. — o bigodudo sacudiu a cabeça, exasperado. Por que ele também vestia roupas estranhas? — Precisa de ajuda?

 — Se puder avisar o Dr. Almeida que precisarei de seus serviços imediatamente, lhe serei muito grato.

 — Então irei imediatamente! Avise-me se precisar de alguma ajuda.

O rapaz assentiu. E, com um aceno de cabeça do bigodudo para o carinha sentado do lado de fora, a carruagem partiu apressadamente. Fiquei olhando até que sumisse de vista.

 — Podemos ir, senhor? — o rapaz me perguntou com a voz aflita. — O que está acontecendo aqui? — exigi, desconfiado que ele mentisse sobre o desfile.

 — Não tenho certeza se a compreendi. — e seu rosto pareceu sincero.

 — Por que você fala desse jeito estranho, tá vestido com estas roupas e tem carruagens passando pela estrada?

— Senhor... — disse preocupado.

 — Por favor, vamos até minha casa! Acho que pode ter tido uma lesão. A pancada que levou deve ter sido muito forte!

 — Não vou pra sua casa, ficou doido? Eu sei lá o que você pretende fazer comigo? Você pode muito bem ser um psicopata que quer me fazer em pedacinhos e me guardar dentro do freezer pra comer aos poucos.

 Não sabe em que ano estamos? — estava desconfiado que ele fosse maluco, mas ele não parecia ser um psicopata. Tinha alguma coisa diferente em seu rosto, o brilho em seus olhos verdes me parecia familiar, seus traços bonitos e fortes o deixavam parecido com um deus da Grécia Antiga. E seu tamanho — tão grande e forte, mas não bombado me transmitia segurança.

 Mas, afinal, quantos psicopatas eu conhecia para poder comparar? Nenhum. Pelo menos que eu soubesse.

 — Estamos no ano de mil oitocentos e trinta e garanto-lhe que sou um homem de bem. Não tenho outra intenção que não seja ajudá-lo! — ele respondeu, ofendido, à minha pergunta retórica.

Ele disse mil oitocentos e trinta?

 Explodi num ataque de riso histérico, não pude controlar. O rapaz pareceu perturbado.

 — Senhor, vamos...

 — Mil... Mil... Oitocentos e trinta! — eu não conseguia me conter. Respirei algumas vezes antes de poder falar. 

— Boa piada! Muito engraçada mesmo!

 — Não lhe contei piada alguma!

 — Então acha que eu tenho cara de idiota! —comecei a rir outra vez.

— É claro que não. Jamais ousaria ofendê-lo, mas vejo que está muito transtornado — falou, o rosto sério.

 — Por isso, vou levá-lo para minha casa. Então, suba logo, por favor! — e indicou a cela, obstinado.

 — Mil oitocentos e trinta! — zombei.

 — Não consigo entender o motivo que a diverte tanto— resmungou baixinho.

 — Tá bom, maluco. Vamos até sua casa. Lá no século dezenove!

 Aproximei-me do cavalo e parei. Nunca tinha subido em um antes.Parecia alto demais.

 O rapaz percebeu meu temor e gentilmente tocou minha cintura, colocando minha mão em seu ombro para apoio. De novo aquela sensação estranha de que já o conhecia me perturbou. Eu não tinha ideia de onde estava, mas ele, aparentemente sabia. Mesmo que fosse um maluco, ainda poderia me emprestar o telefone para chamar um táxi ou ligar para Liam.

 Subi com muita dificuldade no cavalo, quase caindo do outro lado por culpa de um impulso mal calculado. O rapaz rapidamente se esticou e me pegou pelo braço, impedindo que eu me estatelasse.

— Segure-se. — ele disse enquanto subia, fazendo a cela se movimentar um pouco e eu oscilar.

 Uma de suas mãos circulou minha cintura assim que ele se acomodou na cela. Fiquei incomodado com a proximidade.

 — Você precisa mesmo me apertar tanto? — perguntei asperamente. 

— Posso soltá-lo, se estiver disposta a cair e bater sua cabeça novamente.

 Olhei para o chão. Era alto demais. Segurei firme com as duas mãos o braço que me rodeava, apertando-o um pouco mais.

 Ele riu baixinho.

 — Não tente nem uma gracinha. — alertei. — Eu sei alguns golpes de Jiu-Jitsu. Quebro seu nariz em dois tempos!

 — Estou, de fato, muito preocupado com sua cabeça, senhor. — sua voz séria, sem vestígio de humor. — Não está dizendo palavras coerentes. Você precisa ver o Dr. Almeida.

 — É. — concordei, pensando na carruagem e no sumiço repentino da cidade. — Acho que você tem razão. Preciso muito. Muito mesmo!



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...