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História Perdido L.S - Thirty-nine


Escrita por: brunah179

Capítulo 39 - Thirty-nine


 

A primeira coisa que vi quando abri os olhos foi o teto branco. Um bip constante perto de minha cabeça me acordou. 

Olhei em volta e percebi que estava num quarto de hospital.

Como foi que eu vim parar aqui? 

— Louis? — uma voz suave perguntou.

 Virei-me para o outro lado e a vi sentada numa cadeira ao lado da cama. 

— Liam? O que estou fazendo aqui? — perguntei ainda confuso. Quando consegui focalizar seus olhos, a memória me invadiu.

 — Liam! — gritei me atirando em seus braços surpresos. Eu o abracei com tanta força que poderia ter quebrado uma costela. Meus olhos arderam e senti as lágrimas descerem por meu rosto. — Senti tanto a sua falta! Você não pode imaginar a confusão em que me meti! 

— Posso imaginar, sim! Pode me explicar onde estava todos esses dias e porque estava usando aquela roupa? E porque deu piti numa loja? A sorte foi que o Zayn viu te colocarem na ambulância e me ligou avisando. Ele está lá em baixo resolvendo toda papelada. Por falar nisso, cadê seus documentos? 

 O Zayn estava ali também?

 Eu o soltei para poder ver seu rosto. 

— O que aconteceu? — perguntou, parecendo preocupado. Endireitei-me na cama.

 — Liam, é uma história muito longa e eu prometo que vou te contar. Mas só depois que eu sair daqui, está bem? 

Sua testa se enrugou. 

— Por que? — perguntou desconfiado

 — Porque é uma história complicada e meio... Doida. Você pode querer não me tirar daqui. — tinha aprendido minha lição.

 — Claro que não vou te deixar aqui! E nós temos tempo. Você não vai sair do hospital antes que o médico o libere. Então, vê se desembucha logo, — seu tom duro e, ao mesmo, tempo preocupado. 

—Liam, eu estou bem... — Mentalmente porque eu sabia que só ficaria bem de verdade se pudesse estar com Harry outra vez. — Eu tenho que sair daqui logo. Tenho que procurar uma pessoa. 

Suas sobrancelhas se arquearam. 

— Uma pessoa? — repetiu, a voz baixa e desconfiada. 

— Sim. E você vai me ajudar! — afirmei, sem dar a ele a chance de decidir se ajudaria ou não um amigo aparentemente surtado. 

— Está bem. — Liam falou, cauteloso — Eu te ajudo, depois que você me disser tudo o que está acontecendo. 

Suspirei. Encarei Liam por um longo tempo, decidindo se contava ou não. Ele era meu irmão em muitos sentidos, merecia saber a verdade depois da preocupação que causei — totalmente sem intenção. E ele não me internaria, eu quase tinha certeza disso. 

— Tudo bem, Liam. O que eu vou te contar não é uma história fácil de engolir. — ele assentiu, o rosto sério. — Tente manter a mente aberta, tá?

 — Está me deixando preocupado, Louis. Fala de uma vez!

 — Lembra-se da noite em que fomos ao Toca e meu celular caiu na privada? ele assentiu.— Começou aí! No sábado, eu acordei cedo e fui comprar um novo, você sabe que eu não sabia viver sem ele. — fiz uma careta ao pensar nisso. Quantas coisas inúteis pensei serem tão importantes a ponto de não poder viver sem elas! Sacudi a cabeça, desgostosa. — Então, quando cheguei à loja...

 Contei tudo o que aconteceu na loja, depois na praça e como fui parar no século dezenove. Nesta parte, suas sobrancelhas se arquearam, mas eu não parei. Disse a ele tudo que passei por lá, a casinha, o pé de alface, a carruagem, as pessoas que conheci, as roupas e falei sobre o principal.

 Harry. 

Não pude conter as lágrimas que rolaram continuamente em meu rosto. Falar dele triplicava a dor intensa que eu já sentia. Narrei como acabei me apaixonando por ele sem me dar conta disso, sobre seu bom humor e seus modos educados, a forma carinhosa com que tratava a irmã, como cuidou de mim quando estive doente, a noite mágica que passamos juntos. 

Precisei de alguns minutos para continuar, a dor que invadiu meu peito me tirou o fôlego. Só consegui soluçar e tremer por um tempo. 

Liam passou seus braços em mim, tentando me acalmar, mas eu não conseguia nem mesmo respirar. Quando olhei seu rosto e vi que ele também chorava, fiquei ainda pior, pois eu não sabia se ele chorava por minha dor ou se chorava por mim ou pela perda da minha sanidade.

 Continuei com a história: a noite do baile, o ataque de Santiago, minha fuga. Contei absolutamente tudo, da dança final perto da pedra até minha volta para cá e o pouco que me lembrava sobre a confusão na loja. 

Quando terminei, fiquei sentado tentando me controlar. Tentei muito não pensar em Harry, mas toda vez que eu piscava via seu rosto assustado, sua mão esticada tentando me alcançar, atrás de minhas pálpebras. Um pesadelo que se repetia a cada vez que eu fechava os olhos. 

Liam ficou em silêncio por alguns minutos, me observando, analisando meu rosto retorcido pela dor. 

— Louis, preciso te fazer uma pergunta. — sua voz séria, assim como seu rosto. Apenas a encarei. — Você está usando drogas? 

— Ah! Liam! Você também não! — eu gemi. 

— Desculpe, Louis. Mas o que acaba de me contar é... — ele me fitou, tentando encontrar a palavra certa. 

— O que? Surreal? impossível? Maluco? História da carochinha? — ajudei. 

Ele sacudiu a cabeça concordando.

 — Mas é a verdade, Liam. Você viu a roupa, não viu?

 — Vi, mas... Como? Por quê? 

— Não sei! Não faço ideia! Acho que, se eu conseguir encontrar a vendedora, talvez ela me explique e me ajude. — por que ela tinha que me ajudar, não tinha? Ela havia armado a confusão e agora iria consertar! Ah, se ia! 

Liam não disse nada, vi a história se repetir de novo e de novo em seus olhos castanhos, tentando encontrar sentido.

 — O que você vai fazer agora? — ele perguntou horrorizado depois de um tempo.

Suspirei de alívio. 

— Vou procurar por ela. Vou fazer com que arrume as coisas... Que me mande de volta. Ela vai ter que consertar isso. De uma forma ou de outra! — eu disse firme, secando meus olhos. 

— Você pretende voltar? Me deixar aqui sozinho?

 — Você não está sozinho. Tem o Zayn, tem seus pais. — seria muito difícil nunca mais ver Liam. Éramos tão unidos que, com exceção da minha viagem para o passado, eu não tinha uma única memória que não o incluísse. Mas ele estaria feliz, eu sabia disso. Estaria ao lado do amor de sua vida, teriam filhos lindos, brigariam pelo resto da vida e se reconciliariam todas as vezes, como sempre foi. Não precisaria me preocupar com ele.

 Ainda assim, seria doloroso não tê-la por perto.

 — Não é a mesma coisa. E meus pais não falam comigo, você sabe disso. — retrucou tristonho.

 — Eu sei! Mas eles podem mudar de ideia e você pode vê-los quando quiser. E você tem o Zayn, que é maluco por você. Imagine se... Imagine se ele precisasse ir morar na... Groenlândia e nunca mais voltasse a pôr os pés aqui. Se tivesse a chance de ir com ele, você iria? 

Ele não respondeu imediatamente. E nem precisava, eu sabia a resposta, assim como ele.

 —Você entende, Liam? Eu preciso dele! Claro que eu sentiria uma saudade louca de você, mas, ao menos, saberia que está feliz. Além disso, se eu não voltar, ele... — era insuportável imaginar. Doloroso demais imaginar que eu nunca mais voltaria a ver Harry. Nunca mais ver Gemma, Madalena e todos os que deixei para trás. Minha nova família. E eu não tinha uma há muito tempo. 

— Também morreria de saudades! — ele tocou minha mão gelada. — E tudo o que eu quero é te ver feliz. Mesmo que... nunca mais...Vou te ajudar a encontrar a tal mulher e vamos obrigá-la a te mandar para lá! Nem que eu tenha que usar a força! —Liam era tão exagerado! Mas dessa vez eu estava com ele. 

— Onde estão minhas coisas? 

—Tudo que me entregaram foi isto e aquela roupa estranha. — ele levantou o celular. 

— Ficou tudo lá com ele. Tudo! — a dor me deixou quase cego, pontos negros embaçavam minha visão. 

— Como foi com o Zayn? — perguntei, tentando me distrair para não partir em dois. 

— Foi maravilhoso! Bem, quase. Eu estava muito preocupado com você. Não sabia o que tinha acontecido... Te procuramos em hospitais e até em necrotérios! 

— Desculpe,Liam! Não dava pra te mandar um bilhete. Acho que os correios ainda não fazem esse tipo de entrega. — e sorri, secando os olhos com as costas das mãos. 

— Seu maluco! Não podia se meter em nada menos complicado, pra variar? — ele sorriu também. 

— Ah! Liam! — Estiquei os braços e a abracei bem forte. 

—Estou tão feliz por você e o Zayn!

 Ele me abraçou também. Depois me olhou espantado. 

— Está chorando? Não tinha percebido. 

— É que eu... Não imagina como estou feliz por vocês dois! Serão tão felizes juntos! São perfeitos um para o outro.

 — Já chega! Quem é você? Onde está meu amigo? — ele disse com a testa enrugada, depois sorriu.

 — Você tem razão. Não vai acreditar em como eu mudei. Sou um outro Homem. Um que é romântico, chorão e melodramático. Tudo que eu nunca fui. Sou um EMO! 

— Claro que não é. Só está apaixonado. — elo sorriu, depois seus olhos se estreitaram. — Pela primeira vez!

 — Fala logo, — eu resmunguei.

 — O que? — perguntou inocente. — Eu te disse? Que tipo de amigo eu seria se tripudiasse de seu sofrimento dessa forma? 

— Obrigada. — suspirei.

 — Mas eu te avisei! É diferente de eu te disse.

 Precisei fazer um teatro para o psiquiatra do hospital, inventado que tinha bebido demais e estava com stress de trabalho para poder justificar ter pirado, saído na rua vestido daquele jeito, invadido lojas e agredido pessoas. Prometi procurar um psicólogo para me ajudar a aliviar o stress. Ele até me deu o telefone de um especialista.

Saí do hospital com as roupas que Liam levou para mim, meu terno e o celular estavam dentro na sacola de plástico. 

Tive que suportar as piadinhas de Zayn durante todo o caminho até meu apartamento.

 Você estava doidão, hein, Louis? O que você usou? Me arruma um pouco! Não seja fominha. Divide o bagulho! 

Entrei em meu apartamento e tudo estava exatamente como eu havia deixado: de pernas pro ar. Foi estranho entrar ali de novo. Tanta coisa tinha mudado. Eu tinha mudado. A sensação de estar em casa não existia mais. Era apenas um apartamento. 

—Tem certeza de que está bem? —Liam perguntou pela milésima vez.

 — Tenho! Pode ir. Vocês têm muito o que fazer agora. — eu disse, lhe dando outro abraço. 

— Se precisar, me liga. A qualquer hora! 

Assenti, mas eu precisava ficar sozinho um pouco. Queria botar os pensamentos em ordem, descobrir alguma pista de como encontrar a mulher.

Zayn não largou sua cintura em momento algum. Eu sorri. E depois ele me surpreendeu me abraçando — sufocando — antes de sair. 

— Se cuida, garoto. — ele disse, antes de fechar a porta, já era noite. Fiquei contemplando meu apartamento vazio. Tão vazio quanto eu. Tudo que era meu ficou com Harry minha mochila com meus documentos, meu livro, minha nova família, meu coração, minha alma. 

Peguei o terno e o aproximei do rosto. O cheiro dele ainda estava impregnado no tecido. Respirei fundo, deixando seu aroma inundar minha cabeça. A única lembrança concreta que restou. A única coisa que me fazia crer que eu não tinha imaginado tudo. Que ele era real. Que o que vivemos foi real. Ficava cada vez mais difícil acreditar nisso, estando ali no apartamento repleto de geringonças modernas. 

Tomei um banho para me livrar do terrível cheiro de hospital, sem me importar com o chuveiro ou a privada. Não senti o alívio que imaginei que sentiria ao entrar num banheiro outra vez. Nada mais importava. Embrulhei-me com a toalha e fui pro quarto, incapaz de me conter por mais tempo. Deixei-me cair num canto e não impedi as lágrimas nem a dor dilacerante que rasgou meu peito me tirando o fôlego, nem fui capaz de conter o tremor que se espalhou por meu corpo. 

Fechei meus olhos e abracei meus joelhos. Repassei mentalmente cada instante que vivi com ele, como um filme. Ao menos, eu tinha isso. Ao menos, eu tive isso. Um amor tão profundo e sincero, mesmo que por poucos dias, que muitas pessoas jamais experimentam durante uma vida inteira.

 Eu tinha Harry pra sempre, guardado em minhas lembranças. Cada traço de seu rosto, cada expressão de seus olhos verdes, cada sorriso divertido, cada linha de seu corpo perfeito. Até seu cheiro estava presente em minha memória e fazia meu corpo se arrepiar toda vez que pensava nele.

 Quando dei por mim, o sol já batia na janela e eu ainda estava ali, sentado no chão, tremendo. A luz clareou o quarto e também minha cabeça. 

Eu tinha que fazer alguma coisa. Não podia ficar ali parado e chorando. Não podia viver apenas de lembranças. Eu queria mais!

 Eu iria lutar!



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