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História Perdido L.S - Five


Escrita por: brunah179

Capítulo 5 - Five


Toc-toc!

 Observei a porta com o telefone ainda pressionado em minha orelha. Não podia ser real! Aquilo não podia estar acontecendo! Quem era aquela criatura? O que eu fiz pra merecer isso? Por que eu? Que jornada era essa? E o que eu tinha que encontrar pra ela? O que eu iria fazer agora? Eu estava mesmo em 1830? Mas era loucura! Como era possível que eu tivesse viajado no tempo? Não era possível!

 As perguntas giravam em minha cabeça, me deixando tonta.

 Toc toc!

 — Senhor? — perguntou uma voz masculina. 

Guardei o telefone na mochila e me virei para a porta. Eu tinha a intenção de ir até ela e abri-la, mas minhas pernas não obedeceram.

 — E-Entre — esforcei-me para que minha voz saísse com um pouco mais de volume. Harry entrou. Tinha nas mãos uma bandeja com alguma coisa fumegante.

 — Perdoe-me, senhor Louis. — disse, assim que pisou no quarto. — Eu mesmo trouxe seu chá. Pensei que já estivesse assustado o bastante para que outro desconhecido o trouxesse. Sente-se um pouco melhor?

 — Chá? — indaguei ainda zonza. — Não tem nada mais forte? Algo com bastante álcool, de preferência? — ou talvez éter ou cianureto. Meu cérebro já parecia estar derretido mesmo!

 Suas sobrancelhas escuras se arquearam.

 — Forte? Um vinho talvez?

 Vinho?

 Suspirei. Era melhor que chá! 

— Vinho tá bom.

 — Esse vinho é muito bom. Vai se sentir melhor rapidamente.

 Duvido muito! 

Ele deixou a bandeja numa mesinha. Pegou uma garrafa toda trabalhada de cristal e serviu o vinho numa taça, aproximou-se lentamente de onde eu estava — ainda grudada no assoalho de madeira como uma árvore — e parou a um passo. Esticou o braço, me oferecendo o vinho.

 Fiquei feliz ao notar que meu corpo começava a responder aos comandos de meu cérebro. Peguei a taça, um pouco hesitante, as mãos ainda tremendo, e virei tudo em um só gole. 

Ele me observava atentamente. Alguma coisa em seus olhos — verdes como esmeraldas me deixavam inquieto.

— Melhor? — perguntou suavemente.

 — Sim — respondi quase num sussurro. 

Não era inteiramente mentira. Nada faria com que eu me sentisse bem estando ali, mas o calor do vinho correndo nas veias afugentou o frio e um pouco do tremor.

 — Ótimo. — ele sorriu um pouco. — E agora... 

Ah! claro. Ele queria saber o que havia acontecido comigo e, com certeza, que eu desse o fora de sua casa o mais rápido possível. 

— Eu... estou... perdido. — o que mais eu podia dizer? Escuta só cara, eu acordei hoje de manhã no ano de 2010 e, depois que tropecei numa pedra e meu celular criou uma coisa tipo uma Surper nova, eu vim parar, sabe-se Deus como, no século dezenove. Que doideira! — Eu vim de... outro lugar. Não sei bem como aconteceu, mas quando dei por mim, já estava aqui. E não sei como voltar. — era toda a verdade que dava pra contar a ele.

Harry continuava a observar meu rosto.

 — Então a senhor está aqui sozinho?

 Como olhos tão verdes podiam brilhar tão intensamente?

 — Estou. — sozinho e desesperado, eu quis acrescentar.

 — Se me disser como, posso levá-lo de volta para sua casa. — sua voz gentil, seu rosto amigável.

 — Mas o problema é esse! Nem eu mesma sei como voltar! — apenas sabia que teria que encontrar uma coisa que eu não fazia ideia do que era. — Mas eu vou descobrir. — disse mais para mim mesma que para o rapaz gentil que tinha me ajudado gratuitamente até agora.

 -Entendo. — disse ele, mas tive a impressão que não entendia nada.

 Não o culpei. Eu mesmo tinha dificuldades para compreender.

 — Pensei que tivesse dito que vinha da cidade.

 — E eu vim da cidade! Mas tenho certeza absoluta que não é a mesma cidade a que você se refere. Eu vim... De um lugar distante. — não gostei de dizer meias verdades a ele.

 Que estranho! 

— Então não há lugar algum aonde eu possa levá-lo? — constatou. 

 Para onde eu iria naquele fim de mundo? 

— Acho que poderia me indicar uma pensão ou um hotel. Não conheço nada aqui. — dei de ombros, imaginando se as pensões já existiam e se aceitariam um cheque pré-datado para 65.475 dias.

 -Pensão? Seria um imenso prazer poder hospedá-lo em minha casa enquanto descobre como voltar para a sua. 

Olhei pra Harry chocado. Chocado e desconfiado. Ele me conhecia há menos de uma hora e me oferecia sua casa como hospedagem! Estranhos não ajudam pessoas que acabaram de conhecer. Não no século vinte e um.

— Eu... Não posso ficar aqui. Você nem me conhece! E eu... — mas pra onde eu iria?

Harry ficou muito sério.

 —Eu não o conheço, realmente, mas... Fiz algo que o desagradou, senhor Louis? Pelo que pude entender, o senhor não tem conexões aqui, ninguém a quem recorrer. No entanto, parece relutante em aceitar minha ajuda.

 — Não. Não é isso. Agradeço muito por sua ajuda! Você foi ótimo! É só que, de onde eu venho, estranhos não ajudam pessoas que não conhecem sem ganhar nada em troca. — soltei e observei sua reação.

 Ele me olhou com alguma coisa parecida com indignação.

 — Lugar estranho, esse de onde você vem. No entanto, eu ficarei feliz em ajudá-lo. Sem receber nada em troca. — ele enfatizou. — Apenas quero ampará-lo.

 — E por quê? — é claro que eu estava desconfiado. Quem não estaria? Eu cresci ouvindo “nunca aceite nada de estranhos!” Mas, naquele caso em particular, eu não tinha outra alternativa. 

Ele abriu um sorriso.

 Uau! 

— Eu tenho uma irmã caçula, senhor Louis. Não gostaria de vê-la numa situação parecida com a sua. E ficaria imensamente grato se alguém a ajudasse em uma hora de dificuldade.

 Sem saber o que fazer — e o que pensar — apenas respondi: 

— Então, aceito sua ajuda, pelo menos até eu ter uma ideia de como voltar pra casa. 

— Excelente! — um sorriso enorme se espalhou em seu rosto. Meu estômago se agitou. Talvez fosse culpa do vinho.

Harry me deu uma rápida olhada e desviou os olhos, parecendo constrangido outra vez.

— Hã... Pedirei à senhora Madalena que traga algumas roupas. Você parece ser um pouco menor que eu, mas, ainda assim, será melhor que ficar... vestido dessa forma. — seus olhos caíram no chão.

 — Eu não estou sem roupa! As pessoas se vestem assim de onde eu venho. Pare de dizer que estou pelado! — era constrangedor ver que minhas roupas (ou a falta delas) o deixavam tão perturbado.

Harry arregalou os olhos quando eu disse pelado e depois corou. Nunca tinha visto um homem corar tantas vezes em toda minha vida. Não até hoje de manhã.

 — Compreendo. —Harry disse cauteloso. — Mas veja, aqui não estamos... habituados a esse tipo de traje. Então, seria mais apropriado se o senhor pudesse... Se pudesse se vestir de forma mais... Tradicional. — ele não me olhou enquanto falava.

 — Eu... hã.... — talvez minhas roupas fossem mais estranhas pra ele que as dele eram para mim. Homens usavam ternos em escritórios, em casamentos e festas, não para cavalgar, claro, mas eu já tinha visto homens em trajes formais milhares de vezes. Ele, no entanto, não estava habituado a ver pernas, ao que parecia. Eu vi a mulher de cabelos cinza logo que entrei na casa imensa. Ela vestia um daqueles vestidos volumosos e longos de filmes antigos. Será que foi por isso que ela arfou quando me viu? Pela minha falta de roupas? Pensei que fosse por ter uma estranha sangrando no meio da sala. Humm... 

— Então, se fizer a gentileza de vestir as roupas que ela trará, poderá sair do quarto sem impressionar ninguém. Gemma está ansiosa para conhecê-lo e eu poderia mostrar-lhe minha casa. Já que se hospedará aqui, precisará conhecer as dependências, caso precise de alguma coisa.

 Seu rosto era tão gentil, tão sincero!

 — Está bem. — concordei, impotente. Eu não poderia encontrar a tal jornada trancada naquele quarto. E seria melhor não chamar muita atenção, de toda forma. — Valeu, Harry. Por... se preocupar.

 — Valeu? — um pequeno v se formou entre suas sobrancelhas. 

— É o mesmo que obrigado, de uma forma mais casual.— e ri sem graça.

 Ele sorriu, depois fez uma reverência — exatamente como nos filmes! — e deixou o quarto dizendo apenas: — Com sua licença, senhor.

  Precisava encontrar muitas respostas. Precisava pensar no que ela havia me dito, palavra por palavra, e tentar encontrar qualquer coisa útil. Mas, fosse o que fosse, eu tinha certeza que não estaria naquele quarto. Eu tinha que encontrar uma pista pra poder voltar pra casa. Por mais gentil — e estranhamente familiar — que o rapaz fosse, eu não tinha intenção de me demorar ali. 

Toc-toc!

 — Senhor? — chamou uma voz feminina.

 Dessa vez, talvez por causa do calor do vinho, consegui me mover até a porta. A mulher baixinha e rechonchuda, com o mais vivo tom de escarlate no rosto, me olhou de soslaio. 

Soslaio?

 Eu já estava entrando na brincadeira! Daqui a pouco estaria chamando as pessoas por seus sobrenomes e corando, o que todo mundo ali parecia fazer.

 — Senhor, o patrão pediu para que eu trouxesse estas roupas.

 Fiquei olhando a pilha que ela tinha nas mãos.

 — Valeu, dona. 

Completamente Vestido — e me sentindo muito ridículo —, saí do quarto procurando refazer o caminho por onde entrei. Passei por um longo corredor cheio de quadros bonitos — paisagens em sua maioria —, tentando encontrar a sala. Notei que haviam muitas portas no corredor. Comecei a ouvir vozes (não de fantasmas, era só o que me faltava!) e segui o som. Acabei encontrando a sala gigantesca.

 Harry estava ali, além de mais as duas garotas. Parei assim que os vi, sem saber exatamente o que deveria fazer. Para minha sorte, Harry veio ao meu encontro, sorriu um pouco enquanto examinava minha roupa e sacudiu levemente a cabeça.

— Parece estar muito melhor agora, senhor Louis. — seu sorriso descontraído me deixou ainda mais envergonhado. Eu estava realmente muito ridículo!

— É. Eu tô melhor. Obrigada, Harry. — respondi, com as bochechas queimando levemente. 

Ele tossiu, ao mesmo tempo em que as duas garotas se entreolharam e depois se voltaram para Harry com cara de assombro. O que foi que eu disse?

Harry apenas se limitou a sorrir para as duas.

 — Senhor Louis, permita-me apresentá-lo a minha irmã, Gemma — a garota de cabelo loiro inclinou levemente a cabeça, — E nossa amiga Teodora Moura. — a mais baixa e ruiva também inclinou a cabeça, fazendo uma reverência.

 — E aí, tudo bem? — perguntei, me aproximando um pouco. Ninguém respondeu. Fui ficando cada vez mais constrangido.

 — Obrigada pela roupa — eu disse a Harry, num sussurro. Ele sorriu delicadamente deixando seu rosto ainda mais lindo.

 — Vejo que lhe caiu muito bem. — seus olhos grudados nos meus pés. 

— Ficou um pouco grande, mas posso pedir à Senhora Madalena para corta-la um pouco. — disse-me Gemma.— ela deu um sorriso. Quando sorriu, duas covinhas apareceram em suas bochechas.

 — Não precisa se incomodar.Não pretendo ficar muito tempo. Mas valeu pela preocupação.

 Toda vez que eu abria a boca, parecia ter o poder de arregalar os olhos de quem estivesse ouvindo, assim como Gemma fez agora. Eu não tinha dito nem uma asneira.

 Ou tinha? 

— Conseguiu se lembrar de como voltar para casa? —a ruiva perguntou. — Pensei que estivesse sofrendo de um lapso de memória. Não foi isso que nos disse há pouco, Senhor Styles?

 Styles?

 — Sim, senhorita Teodora. Foi como eu disse, a pancada na cabeça deixou o senhor louis ligeiramente confuso. — ele respondeu, erguendo as sobrancelhas.

 Ah! Harry Styles. A garota estava chamando aquele rapaz, que parecia ser mais jovem que eu, de Senhor Styles!

 Onde foi que eu vim parar! 

— Eu não estou confuso. — não com relação ao lugar de onde eu vim. — Apenas não sei como voltar. É meio complicado. Mas eu juro que descubro logo! Nem que eu tenha que me enfiar em cada buraco deste lugar.

 — Não precisa ter tanta pressa, senhor Louis. — Harry se apressou em dizer. Seus olhos me pareceram muito sinceros. — Será um prazer recebê-lo aqui pelo tempo que for necessário.

 — Nossa, valeu! Nem sei como agradecer tanta hospitalidade, mas eu tenho mesmo que voltar logo. Tenho muita coisa me esperando.

— É claro. — respondeu quase sorrindo. — Posso lhe mostrar a casa?

 Harry era bacana. Quem imaginaria que um homem pudesse ser tão gentil com um desconhecido?

  — Pode ser Harry. — sorri timidamente.

 As garotas se entreolharam mais uma vez. Eu corei sem saber o motivo, mas aparentemente eu havia ofendido alguém de alguma forma.

 — Por que toda vez que eu digo alguma coisa sua irmã e Teodora parecem tão espantadas? — indaguei, depois que saímos da sala imensa e entramos em outro corredor largo com mais uma dezena de portas. Tinha certeza que jamais encontraria cômodo algum naquele labirinto. — Falei alguma besteira?

— Como já disse antes, seu modo de falar é... peculiar. — ele lutava para não sorrir. — Algumas de suas palavras são um tanto diferentes, mas creio que elas se espantaram pelo fato de chamar-me por meu primeiro nome.

 Olhei pra ele. Ele não estava falando sério! Não podia estar falando sério!

 — Eu não posso te chamar de Harry? É seu nome, não é?

 — Sim, é meu nome. — ele deu um meio sorriso. — Mas  normalmente devem saudar as pessas por seus sobrenomes. Nesta parte do país, ao menos, é assim. — ele estava falando sério! — Se dirigir a alguém por seu primeiro nome denota certa... intimidade.

 — Intimidade tipo conhecer há muito tempo ou tipo sexo? — eu tinha que aprender depressa como não chamar tanta atenção. 

Ele parou repentinamente. Olhei seu rosto e, por um momento, pensei que Harry fosse sufocar. Por sua expressão, suspeitei que sexo não fosse um dos tópicos mais discutido por ali.

 Opa! 

 — Senhor Louis, por favor, peço que compreenda que, nesta parte do país, as... hã... certas coisas continuam como sempre foram. Conservadoras! Esse lugar de onde o senhor veio parece ter sido... modernizado rápido demais. Mas gostaria que não falasse de certos assuntos em minha casa.

 — Ah! Desculpa. Eu não sabia que não devia falar. Quer dizer, eu devia ter imaginado. Já li tantos livros sobre esta épo... Err... e nunca ninguém mencionou nada sobre se... Coisas assim. Já entendi. Não vou esquecer. Prometo,Harry.

 Ele suspirou. 

— Ai, caramba! Prometo, Senhor Styles. É que é tão estranho te chamar de senhor! Você deve ter quase da minha idade. — talvez tivesse vinte e três ou vinte e quatro. Eu estava habituado a chamar homens bem mais velhos de senhor, mas um cara bonito e tão jovem e que não era meu superior...

 — Na verdade, eu não me importo com isso. Pode me chamar de Harry, se quiser. — um sorriso apareceu em seus lábios. Ele baixou um pouco a voz, num tom conspiratório. — Mas se mais alguém ouvir, terá uma reação parecida com a de Teodora.

 — Eu não me importo também. Mas vou tentar me lembrar da próxima vez. Não quero te deixar numa saia justa. Você tem sido muito bacana comigo. — era o mínimo que eu podia fazer para retribuir sua ajuda espontânea.

 — Saia justa? — perguntou confuso.

 Ô, meu Pai! O dia seria longo!

 — É tipo uma situação embaraçosa. Constrangedora. — expliquei. 

— Oh! Não me importo com isso também. Mas você, senhor Louis, tem uma reputação a zelar.

— Olha Harry, estou com tantos problemas que não dou mínima pra isso. Além disso, se tudo der certo, me mando logo daqui, então não importa. — suas sobrancelhas arquearam novamente. Apressei-me para explicar. — Caio fora. Dou no pé. Pico a mula. — a incompreensão ainda tingia seu rosto. — Vou embora, sacou, digo, entendeu? 

A incompreensão deu lugar a outra coisa. Pareceu—me ser... desapontamento? 

— Você está sendo super bacana comigo, Harry. — tentei correr com as palavras. Não queria que ele me achasse um ingrato. — Mas é que eu realmente preciso descobrir uma forma de voltar. Minha vida está lá me esperando. — meu emprego, minha casa e Liam, que devia estar me procurando como um alucinado por eu não ter aparecido ainda em seu apartamento para saber como o Zayn havia reagido diante de seu pedido.

— Posso imaginar, senhor Louis. — ele me encarou por um longo minuto, depois recomeçou a andar. — Posso imaginar! 

Eu o segui.

 — Harry, será que posso te pedir outro favor?

 — Certamente, senhor. — seu rosto ficou sério. Ele me observou com curiosidade.

 — Dá pra me chamar só de Louis? Sem o senhor? Apenas Louis? Já está me dando nos nervos!

Ele riu, um pouco surpreso com meu pedido.

 — Posso tentar. — ele disse. — Não sei se consigo ser tão espontâneo quanto você.

 — Claro que consegue! Ele riu.

 — Vou tentar. Agora venha, vou lhe mostrar minha casa. — disse, apontando para uma das portas.

 Pensei que precisaria desenhar um mapa se quisesse realmente encontrar os cômodos outra vez. Eram tantas as salas — de leitura, de pintura, de estudos, escritório — e tantos os quartos — de dormir, de costura, de vestir — e apenas quatro deles estavam, de fato, sendo ocupados.

Harry me guiou pelo labirinto até chegarmos à cozinha.

 — Senhora Madalena, creio que já conheceu a senhor Louis. — ele disse, formalmente. 

Meus olhos se estreitaram ao constatar que ele ainda não colocara em prática a promessa de me chamar apenas por meu nome.

 A mulher baixinha secou as mãos no avental amarrado na cintura e se aproximou.

 — Como está, senhor? A roupa lhe caiu muito bem. — ela me examinou de cima a baixo. Seus olhos se detiveram em meus pés. Sua testa se enrugou. — Os sapatos não eram de seu agrado?

Olhei para meus pés, assim como fez Harry. Eu realmente havia me esquecido dos Vans. E tinha certeza de que eles atrairiam olhares curiosos, ainda que não fossem vermelhos. — Na verdade, ficaram grandes. — eu disse, me desculpando, como se fosse culpa minha ter pés menores que o sapato; não pés pequenos demais, mas decididamente não eram grandes — E eu gosto destes aqui. São mais confortáveis.

 Harry sorriu. Além de lhe cair bem, o sorriso vinha facilmente aos seus lábios. Gostei disso. Gostava de pessoas bem humoradas que sorriam mais do que faziam caretas.

 — Este é o Senhor Gomes, meu mordomo — disse ele, ainda sorrindo.

 — Encantado em conhecê-lo, senhor Louis. — o homem de meia idade se inclinou de forma exagerada.

 Precisava daquilo tudo?

 — Errr... O prazer é meu, Seu Gomes.

Harry sacudiu a cabeça, rindo baixinho, e continuou me guiando de volta por um dos corredores — que eu não fazia ideia de onde iria dar.

 Depois de um tempo, porém reconheci um dos quadros na parede do corredor. Já tinha visto aquele quadro mais cedo. Estávamos voltando para a sala onde Teodora e Gemma deveriam estar.

 — Acabou? Você me mostrou tudo? — perguntei aflito.

 — Sim. Mostrei toda casa. Há algo errado, senhor Louis?

 É claro que havia! Uma casa com uma dezena de salas, a cozinha gigantesca uma dúzia ou mais de quartos e só isso. Nada mais.

Oh, Deus, por favor! Permita que eles já existam, por favor! 

— Senhor? — Harry me lançou um olhar preocupado. — Está se sentindo bem?

 — Cadê os banheiros? — perguntei em pânico.

 — Banheiros?

 Ah, Não! Não! Não! Não!

 — Sim. Banheiros. Onde se toma banho... Por favor, me diga que você tem pelo menos um nesta casa! Por favor!

Harry ficou confuso. Muito confuso. Então eu soube a resposta. 

Nada de banheiros! 

Eu não queria pensar nas opções. Recusei-me a pensar nisso. 

— Imagino que tenha notado a banheira em seu quarto. — ele disse, inclinando a cabeça levemente para o lado, ainda desnorteado.

 — Sim. Acho que vi. — não tinha visto, realmente, mas se ele disse que havia uma... Não dava mais pra confiar no que apenas eu via.

 Banheira era bom. Acalmava. Relaxava. Mas não resolvia todos os meus problemas. Eu ainda olhava pra ele com um horror crescente. Totalmente desesperada, na verdade.

 — A banheira, beleza. Mas e quanto ao resto? 

— O resto? — repetiu.

 Ele estava tentando me irritar? Por que, nervoso como eu estava, nem precisava se dar ao trabalho.

 — É, Harry, o resto? E pare de repetir tudo o que eu digo. Está me deixando nervoso.

 Não entre em pânico! Não entre em pânico!

 — Perdoe-me. A que resto, exatamente, o senhor se refere? — Harry parecia verdadeiramente confuso. Respirei fundo, tentando me acalmar e pensando que, se ele não sabia o que era um banheiro, então não saberia qual era sua finalidade também.

 Isso não pode estar acontecendo! 

Fechei meus olhos bem apertados, tentando acordar mais uma vez. Quando voltei a abrilos, Harry ainda estava ali, me observando curiosamente. Respirei fundo outra vez.

 — O resto! — as palavras saíram sem controle. — O resto. As necessidades fisiológicas, o xi...

 — Ah! Entendo, ele me interrompeu assim que compreendeu sobre o que eu perguntava. — Você deve estar falando da casinha! 

Não gostei da forma como ele disse “casinha”.

Não gostei nada!

 — Fica do lado de fora. Vou lhe mostrar.



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