História Perfect Partner - Book Two - Brothers

Brothers 

NOAH

Bombardeado por todos os lados é assim que me sinto. Provavelmente, o antigo Noah, se sentiria propenso a desistir de tudo. 

Quer dizer, de continuar lutando todo dia de manhã para sair da cama e enfrentar a dor. Da terapia, pois seria tão fácil me acomodar à cadeira de rodas e o que é esperado para mim por todos.

Se até meu irmão me via como um aleijado, para que lutar contra, tentar  fugir do inevitável ?

Porém, esse novo Noah, moldado pela dor e decidido a lutar, não vai se entregar tão fácil. Vou continuar a lutar por mim, por Jade e pelo meu casamento. Óbvio que sei, que em alguns momentos vou me sentir fragilizado como agora, mas vou tentar com todas as minhas forças me manter positivo. 

 Por mais que a conversa com Jade, sobre a atitude de Gabe, tenha sido esclarecedora, uma coisa é o lado racional que analisa e processa as informações. E eu sempre fui muito pragmático, característica essencial para os negócios. Todavia, também tenho um lado emocional muito aflorado e que no momento, está muito ferido. Infelizmente, não consigo apagar da memória aquele instante. 

Gabriel sempre foi meu porto seguro, tudo o que eu sempre quis ser. O garoto popular desejado pelas garotas, Capitão do time de futebol e idolatrado por todos os caras. O mais descolado e o melhor de tudo, é que era meu irmão !!!

Eu o seguia como uma sombra. À ele e a Ethan, que também fazia parte da galera dos populares. E aparentemente, Gabe gostava da minha companhia, nunca achei que ele me considerasse um fardo ...

Minha discussão com Gabe havia sido só a cereja do bolo, porque ainda tinha Katherine e seu plano misterioso envolvendo uma criança que pode ser meu filho. 

Um filho ou filha, que pode ter E.A como eu !!! Se bem que se for menina, terá uma margem pequena de chance de não manifestar a doença, já que a incidência maior é em meninos. 

E essa demente da Katherine, em nenhum momento se preocupou em colocar mais uma criança no mundo para sofrer. Segundo o mapa genético, a possibilidade de herdar os genes e desenvolver a doença é de 20%, para mim uma probabilidade muito alta.

Um risco, que em hipótese alguma estou disposto a correr. 

Mais um problema. Já que Jade provavelmente, deseja ser mãe e eu infelizmente, não posso realizar esse desejo dela. Pelo menos, não dá maneira convencional. Contudo, ainda não tive chance de conversar com ela, sobre o que penso e como me sinto com relação à essa possibilidade.

No momento, só consigo pensar em Katherine solta com uma criança que pode ter meu sangue, agindo como uma irresponsável. 

E esse silêncio dela é  muito sinistro e preocupante. Pois, seja como for, há uma criança envolvida em toda essa sujeira. 

 Para finalizar, Gabe descobrir sobre a segunda família do papai dessa maneira !!! Tenho certeza, que será muito difícil para ele perdoa- lo, principalmente, por sempre ter desejado a atenção do nosso pai e nunca ter conseguido. 

Mesmo decidido a manter minha postura pró- ativa frente à vida e a todas essas dificuldades, hoje estava sendo difícil. Depois de uma noite infernal, o dia prometia ser tão ruim quanto. 

Acordei sozinho na cama, com a sensação de ter sido atropelado por um caminhão e me dei conta que ia precisar de ajuda até para sair da cama.

Ótimo !!! Só me faltava ter um novo surto.

Chamei por Peter e nos mantivemos em silêncio, enquanto ele me auxiliava com a minha higiene. Já de banho tomado e acomodado de novo na cama, pedi a ele que avisasse Jade, que eu pretendia  descansar mais um pouco. 

E a pesar da insistência dele em me fazer comer, consegui que desistisse e me deixasse quieto. Procurei na minha mesa- de- cabeceira meu pote de analgésicos e tomei mais dois comprimidos, além dos que eu já tinha ingerido. Eu sabia dos riscos, mas a dor no meu pé estava realmente insuportável. 

Voltei a deitar e fechei os olhos, tentando realizar a prática de relaxamento que a Dra. Vivian tinha me ensinado, mas dessa vez não estava funcionando. Respirei fundo e tentei mais uma vez, porém acabei cedendo a dor e chorei. 

Nesse instante, alguém abriu a porta do quarto e entrou. Tentando disfarçar, falei :

- Carinho, eu estou bem. Só quero descansar mais um pouco ...

- Noah, sou eu.- Gabe disse calmamente – Posso acender a luz ?

De imediato, me sentei na cama ao ouvir a voz do meu irmão. Não esperava que a raiva dele tivesse passado tão rápido. 

- Pode. – respondi seco, enquanto tentava disfarçar a dor e a surpresa que estava sentindo.- O que você quer, Gabriel ?! Como você pode ver, hoje estou mais aleijado do que ontem ...

- Noah !!! Por favor, me perdoe !!! – disse me interrompendo e se aproximando da cama – Eu não sei o que me deu...

Não deixei que ele continuasse, a mágoa que eu sentia falou mais alto.

- Mas eu sei !!!A raiva fez com que você falasse, o que sempre pensou ao meu respeito. – ele ficou mais pálido do que estava – Não deve ter sido fácil, aguentar todos os seus amigos tirando sarro de você, por conta do seu irmãozinho aleijado que vivia no seu pé. Que não se tocava o quanto era inconveniente ...

- NOAH, JÁ CHEGA !!!

Ficamos nos encarando em silêncio, até que ele disse:

- Eu nunca o enxerguei dessa maneira, ao contrário, sempre tive orgulho e prazer por ter você ao meu lado. E quando me envolvi com drogas, me senti um fracassado por te decepcionar.- os olhos dele estavam marejados e a voz embargada- Quanto mais eu afundava no vício, mais temia perder seu amor e admiração. Porém, você nunca desistiu de mim e eu jurei à mim mesmo, fazer de tudo para deixá – lo orgulhoso de mim novamente ...

- Gabe ... – tentei interrompe- lo , arrependido das palavras duras que tinha dito mas não tive sucesso. 

- Não !!! Deixe – me terminar !!! – falou contundente- Contudo, eu sempre tenho a sensação que por mais que eu faça, eu nunca consigo atingir o padrão Noah Montgomery de satisfação e qualidade. E o fato de você ter me escondido a verdade sobre o papai, com a justificativa de me poupar foi a gota da água.

- Eu só quis te poupar !!! Você estava passando por tanta coisa ... e eu ia te contar. Mas depois, o Ethan teve problemas e quando dei por mim, você entrou na minha sala daquele jeito e tendo descoberto pela mamãe. – levantei com dificuldade e me aproximei dele – E eu nunca deixei de ter orgulho e principalmente amor por você, Gabe. 

- Acho que eu não estava preparado para lidar com as notícias que recebi ontem. E sou obrigado a admitir que você agiu certo ao me poupar. 

- Notícias ?! Como assim ?! – disse voltando a me sentar, a dor estava tão intensa que me provocava náusea.

- Noah, a mamãe me contou ontem, que está com câncer em estágio terminal. E por isso, estava me contando sobre o papai. – disse sentando -se ao meu lado – E pediu também para que eu tentasse, convencê-lo a seguir as recomendações do Dr. Pinne. Ela está muito preocupada com você, assim como todos nós, porém ela notou como seus movimentos estão mais limitados. E ...

- Câncer em estágio terminal ?! – repeti, como se ele não tivesse dito mais nada. – Eu sou um idiota !!! Como não percebi que havia algo errado, quando ela se ofereceu para me acompanhar nas sessões de fisioterapia ... Aí merda !!! 

Minha tentativa de expressar meu choque foi frustrada mais uma vez pela  dor que quase me derrubou. 

- Noah !!! Calma, cara... – Gabe me apoiou para que eu voltasse para a cama.- Mais do que nunca, ela vai precisar de nós dois.

- Você tem razão. – falei mordendo os lábios para conter um gemido. 

Ficamos em silêncio, perdidos em pensamentos, até que ele  disse :

- Mas você não respondeu se me perdoou por ontem ?- o olhar dele parecia querer ler minha alma.

- Nós dois precisamos nos perdoar, porém sei que no momento estamos magoados um com o outro. – fui sincero- Não posso dizer que não estou mais chateado, como sei que você também não pode fazer o mesmo. Mas é só uma questão de tempo, até tudo se ajeitar. 

Os olhos dele ficaram marejados e, eu me arrependi de não ceder e falar que tudo bem, para vê – lo satisfeito.  Mesmo que depois, eu ficasse remoendo aquela mágoa. 

Contudo,  me lembrei de um dos conselhos da Dra. Vivian, ser verdadeiro comigo mesmo e respeitar meus sentimentos em primeiro lugar, sendo assim mantive o que tinha dito. Pois, era assim que me sentia no momento. 

- Certo. – disse com a voz rouca- Vou esperar o seu tempo. Só espero que não esqueça o quanto te amo.

- Eu também te amo Gabriel. 

- Você quer que eu chame a Jade ? – perguntou num fio de voz.

Eu sabia que ele estava se segurando para não chorar. 

- Não. Vou tentar dormir um pouco. – disse rouco, sentindo um aperto no peito. 

- Ok. Então ... tchau. Qualquer coisa, me ligue.

- Pode deixar. Beijos na Gabi e no ramo de alecrim. – tentei sorrir, com a brincadeira que Gabi e eu fazíamos, mas não consegui – Se cuide.

Ele assentiu e saiu do quarto, cabisbaixo. 

Eu sei que deixei meu irmão triste, mas não posso fingir que está tudo bem. Cansado, com dor e sem saber lidar com a notícia sobre minha mãe, tomei mais dois comprimidos, na esperança de me refugiar no sono.

GABRIEL 

O mundo estava desabando sobre minha cabeça.

 É isso ?!

Minha mãe com câncer, com um prognóstico de menos de três meses de vida. Descubro que meu pai tem outra família há anos e que tenho irmãs adultas !!! E que ele abandonou de vez, minha mãe no momento em que ela mais precisa dele, para ficar com essa segunda “ família “ ou escória. Para fechar com chave de ouro, brigo com meu irmão e quando tento me desculpar,  percebo que o magoei profundamente. 

E o pior, que talvez ele não consiga me perdoar e nos tornemos dois estranhos. 

O que mais falta me acontecer ?!

Nesse momento, meu celular toca e atendo pelo dispositivo do carro:

- Ethan. O que manda ? – tento parecer normal.

- Gabe, você está ocupado ?- disse tenso.

- Não. Estou voltando para casa. Por que ?

- Será que você pode vir aqui em casa ? Preciso conversar ...- parou abruptamente de falar e confirmei que tinha algo de muito errado. 

Porque eu fui perguntar ?! A vida, nunca deixa nada sem resposta. 

- Você está bem ?! Aconteceu alguma coisa ?! – disparei – Chego aí em quinze minutos. 

- Estou bem e não aconteceu nada. Pode vir com calma. – disse rindo, porém senti que estava tentando disfarçar – A Liv e a Ali só chegam no final da tarde hoje.

- Idiota. Você sabe o porquê  da minha pressa, eu te conheço. 

- Sei. Ah, traz uns lanches. Até daqui a pouco. 

Ele desligou, antes que eu tivesse a chance de retrucar.

Porém, se ele estava pensando em comida, não deve ser nada assim tão grave. Assim eu esperava...

Parei em uma lanchonete no caminho, pedi dois combos para Ethan e acabei pegando um para mim também, mas para compensar a quebra da dieta, peguei uma das saladas. 

Se Gabi, descobrisse que eu estou comendo fast-food me mata !!! 

Depois que Rosa nos abandonou, mesmo com a rotina de trabalho extenuante, ela faz questão de cozinhar e se recusa a contratar uma cozinheira. Diz que se arrepende de ter deixado, outra pessoa entrar em seu domínio. 

E apesar da dieta rigorosa que me faz seguir, ela a torna saborosa também. Sempre fazendo pratos novos. Contudo, de vez em quando, sinto falta da gordura saturada e do excesso de sal.

Sigo para casa de Ethan, imaginando qual é a bomba da vez ...

Ao chegar, me deparo com ele na varanda, sentado na cadeira de balanço e tomando uma cerveja. Aparentemente, perdido em pensamentos. 

- Ei !!! Um milhão por seus pensamentos – disse, chutando levemente a perna dele.

- Puta que pariu !!! – disparou, derrubando a lata -  Gabriel ...

- Nossa !!! Desculpe !!! -ri do susto que ele tomou e só então olhei mais atentamente – Ai, desculpe !!! Não vi que estava imobilizada... de novo?!

- Pois é. – se ajeitou na cadeira, enquanto eu recolhia a lata e entregava o pacote com os lanches – A Liv e a Jade, estão me escondendo alguma coisa. A Jade estava aqui em casa, me examinou. Ela e a Liv, ficaram trocando olhares e no dia seguinte, passei em consulta com a Dra. Bailey. Por insistência de Liv, que só faltou engolir a médica. 

- Mas em primeiro lugar, por que a Jade te examinou ? Você ainda está sentindo muita dor ? – falei tentando entender desde o princípio. 

- Estou sentindo tanto quanto na época em que fraturei o pé. – disse sério – Mas tentei esconder isso da Liv, você sabe que ela me acha manhoso ...

- E você é mesmo, não é “ pequeno “ ? – não pude deixar de provoca- lo. 

- Idiota !!! – respondeu rindo – Antes manhoso, do que dramático e exagerado, viu “ grandão “. Deixe- me continuar ... Acontece, que mesmo após ter iniciado a fisioterapia, ainda sinto muita dor e a minha dificuldade para andar tem aumentado. Só que agora, até Olívia se deu conta e está preocupada.

- E você o que acha ? 

- No início, tentei ignorar e achar que era muito cedo para cobrar resultados. Entretanto, com o decorrer de todo esse tempo, depois da consulta e da expressão da médica ... Estou com medo, Gabe. – baixou a cabeça e revelou constrangido – Você sabe o quanto, sempre protegi Noah contra tudo e todos. E como o amo ... mas, como nunca entendi como ele conseguia suportar quando tinha as crises, as privações, as limitações. E eu não sei, se vou saber lidar com uma deficiência... 

- Ethan !!! Agora, quem está sendo exagerado e dramático, aqui é você !!! E preconceituoso, também !!! – interrompi exasperado – Uma fratura evoluir para uma deficiência ?! Não exagere !!!

- Gabriel !!! – disse surpreso com a minha reação. 

- Sério !!! Acho que está supervalorizando essa situação. – tentei amenizar meu tom – E mesmo que você fique com uma sequela, qual o problema ? Nós temos o Noah, como um exemplo de superação e o caso dele, é muito mais grave. Eu não vejo quais limitações tão horríveis, você terá que enfrentar ...

- SERÁ QUE VOCÊ NÃO ENTENDE, QUE EU NÃO QUERO SER COMO O NOAH ?!- levantou mancando e se apoiou na grade, me dando as costas.

- E você pode me dizer, qual o problema com ele ?! – falei entredentes, sentindo meu sangue ferver.

- Eu não quero ser digno de pena. – me encarou com os olhos marejados.

- Então, sinto muito em te dizer, mas você já é !!! E não é por conta de um pé quebrado, porque isso é fácil de se curar. Mas pelo seu caráter ...

- Gabe !!! Eu ... desculpe. – falou chorando – Tenho medo da Liv me deixar ... da dor e ...

- E eu tenho medo de ter perdido meu irmão. De nunca ter te conhecido. – virei as costas e enquanto descia os degraus disse – Melhor, eu ir. Depois nós nos falamos. 

- Gabriel, por favor ...

Entrei no carro, sem olhar para trás e só quando senti o sal em meus lábios, me dei conta de que estava chorando. 

Sim, o mundo está desmoronando em minha cabeça.