1. Spirit Fanfics >
  2. Perhaps >
  3. Chapter Ten

História Perhaps - Chapter Ten


Escrita por: quel5sos

Notas do Autor


PUTAQUEPARIU QUANTO TEMPO
Será que ainda tem alguém que lê isso aqui?
Como podem ver, reescrevemos todos os capítulos, e fizemos 8000 palavras para esse aqui.
Sentimos muito pela demoora! Não tivemos tempo de nos encontrarmos para escrevermos.
Olha, para quem não lembra, existe o famozzo Joon Haeng, o backup dancer que ajuda a Mi Cha a criar as coreografias.
Só falando porque ele vai aparecer, sacas?
Boa leitura!

Capítulo 10 - Chapter Ten


Kim Hyojin realmente falara a verdade quando nos dissera que não teríamos tempo de descansar. Mesmo promovendo nosso mini-álbum, já tínhamos que criar ideias para o próximo. Eu costumava compor por diversão, então já tinha muitas músicas prontas; mas eu não pensava sozinha em tudo. Naquele meio-tempo, ficara muito amiga de Jihoon e mais próxima ainda de Jisoo, mas não pense nada errado. Eu os ajudava com as músicas e eles me ajudavam; Jihoon já era conhecido por compor todo o material do SEVENTEEN, enquanto Jisoo havia feito um arranjo maravilhoso para o single de debut deles, “Adore U”. Fora por isso que começamos a realmente conversar.           

Jisoo era basicamente o oposto de Sooyun – era simpático à primeira vista, sorria e realmente era o cavalheiro do SEVENTEEN. Mas não que isso fosse um problema. Ultimamente, Sooyun não estava sendo tão ruim assim. Ela pegava pesado com o nosso treinamento como sempre, mas nada que uma líder não deveria fazer. Ah, lógico, não podemos esquecer de sua eterna picuinha com Seungcheol que, por incrível que pareça, era como um disco riscado. A cena era a mesma toda santa vez. “Você é um líder ou um palhaço?”... Essa frase simplesmente se tornara o bordão dela. Por mais que ela o odiasse, não parecia que o mais velho partilhava do sentimento. Eu tinha pena dele, às vezes. Com o tempo acabamos acostumando, sabe? Não há nada que possamos fazer pra resolver mesmo.           

Para parar de falar só das coisas ruins, uma novidade: agora tínhamos nossas próprias salas, de gravação e de dança. Toda semana nos diziam que elas estariam prontas para uso, mas nunca ficavam. Depois que Sooyun ameaçou de tacar um tijolo na cabeça de quem estava construindo aquilo, acho que eles a levaram a sério, portanto, na semana seguinte realmente estaríamos com ambientes próprios. Não que fosse ruim dividir com os meninos do SEVENTEEN, mas... continuava sendo foda ensaiar com 18 pessoas em uma sala só, duas músicas diferentes, com coreografias completamente distintas – sem contar que só haviam dois ventiladores.           

A Pledis estava bem feliz com o nosso trabalho, já que estávamos fazendo um sucesso inesperado para um grupo recém-debutado, ainda mais agora que o SEVENTEEN havia feito um comeback com seu primeiro full album. Digamos que muitas pessoas estavam descobrindo nossa empresa e comprando nosso álbum e os dos nossos sunbaenims.           

Eu gostaria muito de ficar refletindo as coisas boas e ruins que estavam nos acontecendo, mas Mi Cha já me olhava impaciente encostada no batente da porta, esperando-me para irmos ensaiar ainda mais. Definitivamente nosso grupo não era composto das melhores dançarinas da agência.           

– Unnie, vamos logo! – Ela bateu o pé novamente, tentando fazer com que eu me apressasse.           

– Já vai, já vai...           

Peguei meu celular, um fone e o primeiro casaco que vi, amarrando-o na cintura e colocando as coisas que estavam na minha mão em seu bolso.           

– Essa coisa verde de novo?           

– Eu me visto do jeito que eu quiser, ok? – respondi-a com um sorriso.           

 – Nem é seu...           

– Olha, estou com ele há uns três meses então, sim, é meu. – Tirei as pantufas e coloquei meus sapatos, saindo do quarto.           

Se o casaco do qual Mi Cha estava reclamando era o casaco de Soonyoung? Sim, verbo muito bem flexionado no passado: era. Desde aquele dia em que peguei Mingyu e Wonwoo praticamente se comendo naquele sofá – fico envergonhada de pensar nisso até hoje –, ficara com aquele casaco. E não pretendia devolver. Poxa, ele era quente. Podia ser horrível e, exatamente por esse motivo, eu o considerava uma roupa extremamente confortável que eu podia usar para me livrar da minha faceta de idol de vez em quando, principalmente quando eu não tinha responsabilidades que envolviam câmeras. Como o ensaio que eu teria agora.           

Por mais que Soonyoung me irritasse às vezes, ele ainda era meu melhor amigo e a ajuda que ele me dava com a dança realmente servia de algo. Somente nossa maknae ficava treinando até mais tarde com os backup dancers, afinal eu, Jae Hwa e Joo Ree sempre ficávamos compondo as músicas, e Sooyun tinha muitas – se não mais que todas nós – responsabilidades sendo a líder. Ela tinha uma quantidade imensa de reuniões com produtores, o presidente da empresa, a diretora criativa, a figurinista, a maquiadora e mais pessoas, cada uma com um cargo diferente, mas das quais dependíamos para ter uma boa imagem, apresentação, etc.            

Eu, com certeza, estava bem longe de ser algo como a main dancer do grupo, mas me esforçava e, com a ajuda de meu amigo, eu estava melhorando aos poucos. Até mesmo ele parara de reclamar tanto assim do meu jeito de dançar.           

Apesar de que as coreografias realmente não ajudavam. Não sei de onde Mi Cha tirava tanta inspiração, mas os passos que ela criava para nós, com a ajuda do coreógrafo da Pledis e de alguns dançarinos, realmente não eram fáceis. Nós não éramos o SEVENTEEN... Embora Jisoo me dissera que nem todos eram os melhores dançarinos no boy group também, só que, como treinavam tanto, não parecia que seus movimentos não eram tão fluidos como os de outros.           

Ensaiávamos bastante para que a coreografia ficasse simplesmente perfeita. Sincronizada, com os passos sendo feitos como se fossem nossos movimentos de todo dia, embora tropeçássemos e caíssemos tantas vezes que precisávamos recomeçar a prática. Era bem difícil para idols recém-debutados terem tanta destreza quanto a Pledis esperava de nós nas danças e nas músicas mas, por incrível que pareça, estávamos cumprindo as expectativas – pelo menos era isso que Sooyun dizia que o presidente comentara toda vez que ela voltava de alguma reunião.           

– Unnie, acorda! Nossa, onde você estava? – Joo Ree passou a mão em frente aos meus olhos, fazendo-me acordar de meu devaneio. Quando tínhamos chegado à sala de ensaio e eu não tinha percebido?           

Pisquei rapidamente e olhei ao redor, percebendo que o SEVENTEEN recolhia suas coisas para que pudéssemos utilizar a sala por nós mesmas. Virei-me para o membro mais próximo de mim que, por acaso, era Soonyoung – esse moleque me perseguia, não era possível.           

– Oppa, vocês não estão saindo por causa de nós, não é mesmo? – falei, preocupada que pudéssemos estar atrapalhando os ensaios de nossos sunbaes.           

Ele afagou o topo de meus cabelos gentilmente, sorrindo.           

 – Não, pequena. O Jihoon – Ele indicou com a cabeça o garoto, que acenou brevemente para mim. – precisa que gravemos uma música para ele ver se a composição ficou realmente boa. Você sabe que ele gosta de deixar tudo pronto com antecedência.            

Sorri e assenti, colocando minhas coisas no chão no fundo da sala e prendendo meu cabelo. Assim que os meninos saíssem, nosso ensaio começaria. Enquanto Sooyun conectava o celular nas caixas de som e ajustava o volume, eu acompanhava Joo Ree e as outras meninas, que se posicionavam nos lugares da dança. Eu havia colocado no início da música uns segundos de instrumental, para sempre estarmos em posição.

No caso, eles foram perfeitos para Sooyun voltasse à formação antes das primeiras batidas serem escutadas – as quais já se encontravam infestando os ouvidos de todos na sala. De acordo com o coreografado, formamos uma linha – esta delimitada por um exemplar do nosso mini-álbum –  juntamente de alguns backup dancers, ao mesmo tempo que nossa líder permanecia no centro movendo sutilmente os braços. Em seguida, apenas eu e Mi Cha, localizadas nas pontas, abaixávamos um pouco para nossas parceiras – Joo Ree e Jae Hwa – apoiarem as costas em nós. Antes do refrão, os demais se retiravam, restando apenas nós que fazíamos parte do grupo.

Mexíamos as pernas em sincronia, ao passo que aproximávamos umas das outras, entrelaçando os braços e movendo as cabeças no ritmo certo, sem nos esquecermos, claro, das expressões faciais controladas no reflexo da grande parede espelhada à frente.

O comprimento do meu cabelo não foi exatamente o melhor companheiro, então acertei a cara de Jae Hwa com a ponta da trança no momento em que nos enfileirávamos, causando breves risadas. A fila se desfazia conforme o desenrolar da ponte – que tinha seu fim marcado pelas linhas de Joo Ree e o início das minhas, estendidas até a high note. As mãos erguidas simbolizando um telefone determinavam o encerramento da performance, mas apenas da primeira.

A tarde na sala de dança era longa, e ainda haviam coreografias diversas além das nossas para serem aperfeiçoadas ─ inclusive de boy groups. Sooyun achara uma boa ideia postar alguns covers no canal oficial do CALL-U, uma vez que contribuiriam para o aumento da popularidade do grupo. Apesar de toda atenção recebida recentemente, não poderíamos nos deixar levar. O esforço deveria ser mantido. 

***

Eu não me recordo de quantas horas passamos ali dentro, só sabia que estávamos no sétimo e último intervalinho – como o nome sugere, apenas uns minutos de descanso e garrafas de água já não tão geladas assim – porque era possível ver um tímido tom alaranjado se expandindo no breu da madrugada, indicando que o nascer do sol encontrava-se próximo. Basicamente, nossa hora de deixarmos a sala disponível para os meninos, afinal, nós a usávamos, mas continuava sendo deles. 

– Espero que nossa sala fique realmente pronta essa semana. Se nos enrolarem de novo vamos precisar que você fale com a Hyojin, unnie.

E mais uma vez, Joo Ree fez com que eu me questionasse sobre seus possíveis poderes telepáticos. Como ela sempre sabia o que eu estava pensando?

– Sim, eu já até comprei uma plaquinha neon para o CALL-U. Não é justo que fique mais cinco dias embalada... – Mi Cha entrosou-se num tom desanimado não de seu feitio. O que um treino puxado não faz até mesmo com as pessoas mais animadas do mundo, não é mesmo?

– Você o quê? – Joo Ree respondeu à nossa maknae com uma risada, e as duas deram continuidade ao assunto. 

Às vezes me incluíam na conversa, porém me encontrava tão morta quanto Jae Hwa – que simplesmente arrancou os saltos do pé e prosseguiu descalça – e, por isso, apenas as respondia com murmúrios e fios de voz. Seguimos o caminho até a saída da sala e meus olhos insistiam em fechar-se contra minha vontade.

Essa situação e que, aliás, vinha se repetindo muito nas últimas semanas, me fez lembrar um pouco de quando era trainee e constantemente achava que todos os dias eram exaustivos. Mas após o debut, consigo até sentir uma saudade de me fatigar com o pouco que era feito se comparado com agora. 

Depois de chegarmos aos dormitórios e eu ter praticamente desmaiado na cama, todas nós adormecemos como pedras. Honestamente, acho que poderia ter acontecido o maior terremoto já visto ou algo do tipo que eu não teria acordado, e não acho que nenhuma das meninas no quarto teriam também.

Para confirmar o quanto ficávamos sem energia após um dia de treino intenso assim, de manhã, Mi Cha costumava nos acordar pulando em cima de nós com aquela incrível e inesgotável – aparentemente nem tanto assim – disposição, entretanto, em dias como esses, ela não o fazia. E eu e Joo Ree, geralmente umas das primeiras a acordarem por conta da mais nova, não poderíamos nos encontrar mais profundamente desacordadas.

Mas, como minha cama se localizava no pior canto do quarto, em frente à janela ainda sem cortinas providenciadas, eu despertaria por bem ou por mal – e, inclusive, com meu celular não contribuindo, atrasada.

Porém, o que mais me desesperou na hora não fora lembrar que Sooyun provavelmente estaria esperando no refeitório para arrancar o nosso couro com as mãos e servir ali mesmo, e sim perceber o uniforme amarelo de Mi Cha, pendurado na maçaneta da porta do banheiro – ela tinha aula e sua falta na SOPA não afetaria apenas seus estudos como a imagem do grupo no geral.

Levantei correndo, abrindo nosso armário e jogando algumas roupas que usaríamos naquele dia na cama de Joo Ree, em uma tentativa de acordá-la de forma pacífica. Após ouvir alguns resmungos baixos vindos daquela preguiçosa, me dirigi à cama da maknae e a chacoalhei.

– Unnie, me deixa dormir mais cinco minutinhos... – Mi Cha implorou, se virando para a parede.

– Mi Cha, não dá! Você vai se atrasar e ainda precisamos tomar café! – Joo Ree acabou acordando por completo com todo o escarcéu que eu estava tendo que fazer para acordar sua companheira de beliche e cutucou meu tornozelo.

– Deixa que eu faço isso.Ela se levantou e pela escadinha subiu até a cama da mais nova. Eu conhecia minha amiga, e sabia que ela não seria gentil.

Joo Ree simplesmente pegou Mi Cha no colo e ameaçou jogá-la do alto do beliche, o que fez com que a menina acordasse imediatamente e esboçasse uma careta de desgosto por tê-la deixado sem qualquer outra opção.

– Já vou, já vou! Unnie, me larga! Já vou! Eu só olhava abismada para a situação que se desenrolava acima de mim. Mas tinha que concordar que Joo Ree realmente conseguira acordar a maknae de um jeito eficiente.

Logo, nós três já estávamos arrumadas e saindo do quarto, pois Mi Cha ao menos tinha que tomar um café decente antes de ir para aula. Deveríamos repor nossas energias, principalmente ela, que teria o dia mais cansativo que nós. Encontramos Jae Hwa e Sooyun na mesa já, e colocamos nossos pratos ao lado dos seus

.– Bom dia, gente. – Jae Hwa disse, sorrindo docemente. 

Sooyun nem abriu a boca e, incrivelmente, o olhar que nos direcionou não continha raiva ou decepção. Ela estava cansada demais para começar a manhã com sermões, presumi. Até porque seu prato aparentava ter sido servido há pouco tempo

.– Bom dia – sorri, mas fui a única.

Joo Ree estava ocupada comendo com pressa e Mi Cha praticamente dormia em cima de sua tigela de arroz.

Quando fui cutucá-la levemente, alguém colocou as mãos em meus ombros, fazendo-me virar rapidamente e quase derrubar o suco que segurava.

– Ah, Hyojin unnie, não me assuste assim! – falei, colocando minha mão livre no peito, tentando me acalmar. 

– Desculpe – Ela deu uma risadinha tão breve quanto o sorriso desfeito no momento em que viu a maknae.

 – Mi Cha... está quase na hora de você ir para a escola. Aconselho que coma esse arroz mais rápido.

Mi Cha nem se mexeu. Ela estava realmente dormindo encostada na cadeira.

– Meninas, isto não está certo. – Hyojin suspirou – Essa é a segunda vez na semana que as cumprimento e vejo apenas caras cansadas com olheiras. Olhem como ela está. – apontou para a mais nova. – Eu entendo que queiram se esforçar por terem acabado de debutar, mas se a mais nova e supostamente mais cheia de energia está assim, vocês não conseguirão se manter animadas por muito mais tempo. Ao invés de ser prazeroso, o trabalho de vocês vai acabar se tornando uma tortura. – A manager disse, olhando preocupada para todas nós e dando a volta na mesa, acordando Mi Cha. 

– Querida, você tem 10 minutos para comer.

A maknae assentiu, esfregando os olhos e sem entender a tensão instalada entre nós.

Aos poucos, todas foram se levantando e indo embora, mas eu fiquei com a mais nova, esperando-a terminar de comer. Eu fiquei com pena dela. Ela era a mais talentosa de nós na dança e ainda assim comparecia a todos os ensaios conosco – mesmo que pudesse sair mais cedo –, continuava nos fazendo companhia, além dos dias em que realmente passava um tempo a mais na sala de dança, coreografando junto com alguns backup dancers.

Se suas notas na escola caíssem, eu realmente me sentiria culpada. Deveríamos ser mais conscientes umas com as outras. Eu nunca percebi que Mi Cha ficava tão cansada assim – a ponto de dormir sentada –  após voltar ainda mais tarde do que nós para os dormitórios.

Quando ela terminou seu café da manhã, peguei-a gentilmente pela mão, levando-a até o lado de fora do prédio, onde nossa manager a esperava para levá-la à escola.

– Obrigada, unnie. – Ela me abraçou.

– Não precisa agradecer. – Dei-lhe um beijo na testa, me afastando. – Nos vemos quando voltar da aula.

Esperei o carro ir embora sem sair de dentro da agência. Não queria que fãs tirasse fotos minhas com uma expressão tão acabada – boatos desnecessários sobre a Pledis correriam risco de serem espalhados, portanto, permaneci atrás das paredes de vidro fumê. No caminho para o estúdio, senti uma breve tontura, mas nada que não seria capaz de melhorar caso eu fechasse os olhos e respirasse fundo. Realmente, treinar com tanta intensidade estava se tornando torturante e, por mais que aperfeiçoássemos nossas coreografias, cansadas não faríamos nada além de causar situações desagradáveis.

Eu acreditava que nem precisaria conversar com Sooyun – mesmo que ela fosse teimosa – para que a programação fosse maneirada. O aviso de Hyojin deve tê-la magoado - eu tinha certeza que ela deveria estar se culpando pelo estado de todas nós, esquecendo de considerar a si mesma. Ela era assim sempre. A responsabilidade de líder caía tanto em suas costas que muitas vezes se deixava de lado.

Atravessei o prédio até o estúdio de Jihoon, afinal tínhamos combinado de compor um pouco juntos. Se era para o álbum do grupo dele ou para o do meu, não sabíamos. Ainda estávamos na fase instrumental. Então pouco importava – agora, pelo menos – se a música era dirigida à uma garota ou a um garoto.

O estúdio dele realmente ficava afastado de toda a área da empresa que eu frequentava. Lembrava até hoje da primeira vez que fui ali, direcionada por Jisoo. Realmente, ele se mostrara um grande amigo desde então. Lembrava-me também de Jihoon se desesperando para limpar meu sapato porque havia derramado suco e eu começara a chorar, como se aquilo tivesse sido o fim de mundo. E, até hoje, o garoto não sabia o verdadeiro motivo de eu ter invadido seu “santuário” naquele fatídico dia.

Depois de ter atravessado o prédio, bati na porta, esperando que Jihoon a abrisse. Nada. Bati mais uma vez, mais forte. Ainda nada. Empurrei então a porta, encontrando um garoto com fones e tocando alguma coisa no teclado que ali havia. Fones. Eu deveria ter imaginado que ele estava de fones. Eu achava estranho ele estar compondo àquela hora, pois ele mesmo já dissera que sua melhor hora era perto do nascer do sol.

Cheguei por trás e tirei os fones de seus ouvidos rapidamente, fazendo com que ele pulasse da cadeira com o susto, enquanto eu me sentava na cadeira ao seu lado.

– Sae Jin, sério? Precisava disso? – Jihoon reclamou, um esboço de sorriso em seus lábios.           

­– Você não abriu a porta, ué. – Dei de ombros. Eu adorava provocá-lo. Ele ficava irritado muito facilmente.           

Jihoon simplesmente virou a cadeira de frente para mim e cruzou os braços, me olhando como se esperasse que eu pedisse “desculpas”. Peguei seus pulsos e desfiz sua pose, colocando suas mãos de volta no teclado.           

– Se está esperando por um “me desculpe”, fique sabendo que ele não virá tão cedo. – Eu disse.            

– Eu sei disso já faz tempo. – O garoto chacoalhou a cabeça de um lado para o outro, finalmente um leve sorriso aparecendo em seu rosto.           

– Você deu uma olhada na melodia que criei semana passada? – perguntei.           

– Dei, sim. Você conseguiu trazer os acordes pro acompanhamento prontos? – Ele disse, pegando o pendrive no qual eu havia colocado a melodia.           

Tirei uma folha de minha bolsa, onde estava escrito o acompanhamento, e lhe entreguei. Fiquei olhando-o, mordendo o lábio nervosamente. A opinião de Jihoon era realmente importante para mim. Ele tinha experiência com composição e muitos o elogiavam, incluindo eu – e ele fazia jus aos comentários. Era extremamente talentoso, e eu tinha muito a aprender com sua ajuda.           

 – Está ótimo, Sae Jin. – Meu amigo abriu um sorriso em minha direção. Era estranho que ele sorrisse tanto, já que tinha muito peso sobre seus ombros; ele parecia estar bem contente e eu agradecia aos céus por isso. Jihoon merecia.            

– Você está bem feliz hoje, né? – comentei.          

– Dá pra perceber? – riu. – É que tivemos o 1st Win com o novo comeback, e como eu que compus... Fico realmente feliz e agradecido pelos fãs terem gostado.        

 – Mas você realmente se esforça, não seria injusto se não apreciassem? Os fãs também sabem o quanto vocês merecem tudo isso, e não digo da boca para fora. – Lancei-lhe um sorriso sincero, sem deixar os dentes à mostra. Ele não disse nada na hora e acabou rindo pela sua falta de resposta.

–Caramba... – pronunciou, num tom vacilante, ao mesmo tempo que levava uma das mãos até a nuca e coçava a região num ato acanhado, um hábito que percebi ser bem comum dele. – Valeu, Sae Jin.

Foi quando algo me incomodou, bem lá no fundo. Quer dizer, nós já éramos consideravelmente próximos, não? E mesmo assim, continuávamos nos tratando formalmente. Fazia com que eu sentisse uma falta de intimidade, como se fossemos apenas parceiros de agência que mal se falavam – e apenas isso. –, o que contrariava completamente aquela sensação agradável eu tinha durante grande parte do tempo que passávamos juntos. Ousei até compará-lo com a companhia de Mi Cha, com quem passava grande parte do meu tempo já que éramos do mesmo grupo e dividíamos o quarto.

– Ei, estive pensando nisso há um tempo. – chamei sua atenção, enquanto me distraia com meus dedos no teclado. Estava com vergonha, afinal, sempre fora muito tímida. – Não acha meio cansativo me chamar de Sae Jin toda hora? Jihoon encarou-me com confusão evidente em seus olhos.

– Então não quer que te chame pelo nome? – disse, incerto.

– Não exatamente... sabe, hm, deveríamos usar apelidos. – Ajeitei alguns fios soltos atrás da orelha. – O que acha?

– Ah. – Entreabriu os lábios, insinuando que não havia percebido a falta de algo do tipo. Ótimo, eu que me preocupo demais. – Tudo bem, vamos pensar.

Com a sala em silêncio, eu me segurava para não rir. Jihoon, que até então sequer cogitava sobre tal situação, encontrava-se com o cenho franzido e a visão fixada num canto qualquer, refletindo cuidadosamente. Quando sua expressão suavizou, supus que tivesse uma ideia em mente, então aguardei suas próximas falas com expectativa.

– Isso é surpreendentemente difícil. – resmungou, apoiando o rosto nas costas da mão.

– Mas é claro... – murmurei, atiçando ainda mais a curiosidade alheia. No final, acabei cedendo à vontade anterior e ri, mesmo que quase inaudível. Não queria atrapalhar a concentração dele.

– Eu prefiro que me chame de Jihoon, mesmo. – Após alguns minutos, voltou a falar. – Mas, para você, que tal Jinnie?

– É... – Abri um sorriso involuntário. – Jinnie é bom. – Nos entreolhamos brevemente, e logo Jihoon pigarreou, voltando a folhear os papéis em mãos. Questionei-o sobre as horas pois, infelizmente, meu celular estava desligado – a noite anterior fora tão puxada que eu me esqueci de colocá-lo para carregar.

Mas logo me animei, porque ainda era cedo e eu estava decidida: aquela tarde me esforçaria em dobro e trabalharia em minhas composições até tarde. De qualquer forma, não tínhamos nenhum compromisso sério marcado na agenda do CALL-U – havíamos debutado há pouco tempo, não era surpreendente a falta de eventos.

***

O tempo realmente passava sem que percebêssemos quando compúnhamos.

Eu havia planejado ficar trabalhando com Jihoon até que ficasse muito cansada ou que ele me expulsasse de seu estúdio, e foi exatamente isso que fizemos. Por mais que tivéssemos trabalhado o dia inteiro, a música ainda estava longe de estar pronta. Quero dizer, a parte instrumental já estava terminada, mas ainda nos faltava a letra. Naquela tarde também havíamos decidido que a nova canção iria para o álbum do grupo de Jihoon, não para o meu. Já que isso aconteceria, o garoto também me ajudaria com a letra.

─ Já passou da meia-noite. Quer acabar por aqui?

─ Isso é você me expulsando discretamente? ─ Eu ri.

─ Você que está dizendo isso. Eu não falei nada. ─ Jihoon respondeu, dando de ombros.

─ Ok, ok. Já vou, mas saiba que estou indo só porque estou cansada, não porque me expulsou. ─ brinquei enquanto recolhia minhas coisas e ia até a porta. Era raro ele estar tão feliz então iria aproveitar o momento para fazer uma ou duas brincadeiras.

─ Boa noite, Jihoon. ─ Acenei brevemente e o deixei sozinho no estúdio.

Realmente, compor podia ser trabalhoso, mas era algo que eu amava ─ e amo ─ fazer. Minhas ideias e as de Jihoon combinavam bem, e o estilo que procurávamos fazer também era o mesmo ─ provavelmente isso era grande parte do porquê de sermos uma boa parceria.

Durante o percurso até meu quarto, fui cantarolando nosso mais novo projeto. Eu realmente ficaria muito orgulhosa ao vê-lo terminado.

Pouco depois parei em frente à porta, tirando meus sapatos. Mas, antes que eu pudesse sequer encostar na maçaneta, Sooyun agarrou-me pelo pulso, arrastando-me para seu quarto onde as outras meninas estavam, menos Mi Cha.

A garota ─ nada delicadamente, devo acrescentar ─ fez com que eu me sentasse em uma das duas camas que ali haviam, logo se posicionando à minha frente, encarando-me seriamente.

─ O que foi? ─ quebrei aquele silêncio perturbador, claramente confusa.

─ Onde você esteve esse tempo todo? ─ Nossa líder perguntou-me.

─ Compondo com o Jihoon sunbae. Eu avisei que faria isso, lembra?

─ E por que você voltou tão tarde?

─ Não tínhamos nada marcado, então...

Eu não estava entendendo aquele interrogatório todo, mas não reclamaria. Sooyun podia estar simplesmente estressada. Ela já não era lá uma das pessoas mais gentis, então eu não esperava nada menos vindo dela.

─ E você acha que não tem suas responsabilidades com o seu grupo? ─ A cada palavra, seu tom de voz ficava um pouco mais ríspido, ainda que baixo. ─ Precisa ficar sem atender o celular e ajudar cegamente os outros, huh? Você ao menos se preocupou com as suas companheiras?

─ Por favor, não fale assim comigo. ─ Eu ainda estava sentada na cama, falando do mesmo jeito calmo de antes. Se me exaltasse também, as coisas poderiam ficar piores. ─ Se eu fiz algo errado, me fale...

─ Você não percebe que está faltando alguém aqui? ─ O tom de voz de Sooyun agora também tinha certo desapontamento. ─ Sabia que Mi Cha estava cansada hoje de manhã! Nem se preocupou com ela?

─ Eu não fiquei preocupada? Sério, unnie, como você pode falar assim? ─ Levantei-me, de certo modo farta daquela situação. ─ Eu fui a única que a acompanhou até a porta exatamente por estar preocupada! Meu celular ficou sem bateria e eu não carreguei. Compor exige concentração!

─ Compor então é mais importante pra você do que a saúde de nossa maknae?

─ É claro que não! ─ Balancei a cabeça de um lado para o outro, incrédula. Depois de todo esse tempo, Sooyun realmente não me conhecia? ─ Mas se acha que é tão fácil assim, tente compor você!

─ Chega! ─ Jae Hwa levantou-se também, entrando entre nós duas. ─ Agora é o pior momento para ter uma briga!

Jae Hwa empurrou nós duas, cada uma para uma cama, nos sentando e sentando-se ao meu lado.

─ Sae Jin, a Mi Cha voltou mais cedo da escola porque passou mal. Agora ela está dormindo, quem sabe assim ela melhore. Mas precisamos pensar no que fazer caso ela não fique bem.

─ Por isso que você não deveria ter ido compor com Jihoon sunbae. ─ Sooyun replicou.

─ Sooyun, já deu, não acha? ─ Jae Hwa a conteu. ─ A partir de agora, temos que nos focar, ok?

Assenti e Sooyun também, ainda emburrada.

─ É melhor dormirmos por agora e pensarmos amanhã. Não vai ser bom para ninguém se ficarmos cansadas também. ─ Joo Ree se manifestou pela primeira vez naquela noite.

Levantei-me e saí do quarto de Jae Hwa e Sooyun, junto com Joo Ree. Abri lentamente a porta de meu quarto, tentando fazer o mínimo de barulhos possível. Mi Cha respirava audivelmente, movendo-se de forma inquieta durante o sono, deitada na cama de Joo Ree. Acho que ela estava fraca demais para conseguir subir em sua cama.

Joo Ree pegou uma garrafa d’água e uma toalha de sua mochila, molhando o tecido e colocando-o em minhas mãos.

─ Cuide dela, unnie. Você sempre foi boa com isso. ─ Minha melhor amiga sorriu fracamente, subindo na cama de Mi Cha em seguida.

Sentei-me no chão ao lado da cama, cuidadosamente. Ela suava frio, parecendo estar com febre. Coloquei a toalha em sua testa, acariciando seus cabelos enquanto a observava.

Eu me sentia de certo modo culpada. Não pelo fato de ter ficado compondo até tarde, já que eu havia avisado que faria aquilo. Eu sentia muito por Mi Cha. Naquela manhã, ela já quase desmaiara de sono em cima de seu café da manhã, e eu me perguntava se ela já estava se sentindo mal. Talvez eu devesse ter pedido que me ligasse e me falasse se estava bem. Mas isso também não adiantaria muito, já que eu estava com o celular sem bateria e que todas achávamos que tudo que a maknae tinha era sono. Nossa rotina era extremamente puxada e pegava em todas do grupo, mas Mi Cha era uma das que mais se esforçava além dos horários que devia e era muito nova ─ ela provavelmente se cansava mais do que o resto de nós. Ter que ir à escola, às vezes, direto de um ensaio, era algo impensável e exaustivo. Realmente precisávamos cuidar mais umas das outras. Agora éramos praticamente uma família.

Percebi que não adiantaria de nada ficar com somente uma toalha molhada na testa da maknae. Joo Ree realmente não sabia cuidar de alguém, e deve ter sido esse o motivo que pediu para que eu cuidasse dela. Isso me lembrou das vezes que ela ficava doente e, como seus pais trabalhavam, eu visitava sua casa e cuidava dela.

Levantei-me e fui até o banheiro encher um pote com água para ficar molhando a toalha. A cada passo que eu dava para longe do banheiro, mais eu me preocupava em transformar nosso quarto numa piscina. Felizmente, nada aconteceu.

Coloquei o pote ao meu lado, tirando o tecido da testa de Mi Cha e torcendo-o sobre a água, logo molhando-o e pondo lentamente na menina novamente. No que deixei a toalha em seu rosto novamente, a maknae segurou meu pulso, abrindo os olhos.

─ Unnie, o que você está fazendo? ─ Ela perguntou, a voz rouca depois de ter acodado.

─ Cuidando de você. O mínimo que posso fazer agora. ─ respondi.

─ Mas, o que aconteceu?

 ─ Desculpe-me, Mi Cha. Eu deveria ter perguntando se você estava bem.

─ Está tudo bem, unnie. Você se preocupa demais com os outros. Você também está cansada. ─ Ela abriu um pequeno sorriso.

─ Todas estamos...

─ Se estão todas cansadas, porque não calam a boca e vão dormir? ─ Joo Ree disse de sua cama, sendo delicada como sempre.

Dei uma fraca risada. Realmente, precisávamos descansar e ficar conversando com Mi Cha não ajudaria muito.

─ Acho melhor irmos dormir. ─ Mi Cha falou, já fechando seus olhos novamente.

Assenti e repeti o processo de molhar a toalha mais uma vez. Eu ficaria cuidando dela a noite toda, até que sua febre melhorasse completamente. Era realmente o mínimo que eu podia fazer

***

Acordei com os olhos pesados e as pernas doloridas. Havia passado a noite ao lado de Mi Cha e, diferente dela, sem uma cama ao meu dispor. Havia, literalmente, adormecido sentada no chão. O único contato que tivera com o colchão durante esse período fora o apoio exercido sob meus braços, e o incomodo no lado esquerdo do pescoço evidenciava meu desconforto.

Levantei a cabeça, vendo Mi Cha sentada na cama, tirando a toalha de sua testa e colocando-a de volta na bacia.

─ Desculpe, unnie. Eu acordei você? ─ A garota me perguntou, enquanto eu esfregava os olhos.

─ Não, não se preocupe. E sou eu quem devo me desculpar. – lhe respondi. – Nós deveríamos ter prestado mais atenção em você.

– Não se culpe tanto. Eu também deveria tomar mais cuidado com a minha saúde. – Mi Cha falou. – Afinal, é minha responsabilidade.  

Dizer que fiquei sem reação seria pouco. Eu sempre soube ser consolada, mas nunca soube como consolar alguém.    

– Mi Cha... – Eu disse, ainda pensando em algo para falar.

Joo Ree repentinamente surgiu do buraco negro onde estava – também conhecido como banheiro – jogando um sutiã de Mi Cha na cara da menina.    

– Como você mesma disse, culpar alguém não vai solucionar nada, e isso inclui você. – Joo Ree resmungou. – Se arrumem logo, temos muitas coisas a fazer. Abri um leve sorriso e olhei para nossa maknae.      

– E esse foi o jeito de Joo Ree de falar para você ficar calma. – brinquei, fazendo um carinho rápido em seus cabelos. – Vamos.

***

Encontramos Sooyun e Jae Hwa no caminho para o refeitório. Ambas estavam preocupadas com Mi Cha, embora demonstrassem de formas contrárias. Enquanto a líder a recebia com algumas palavras duras e olhadelas nada sutis, a mais velha do grupo perguntava a respeito de seu bem-estar, além de aconselhá-la sobre o tipo de café-da-manhã que deveria tomar para que se recompusesse rapidamente.

Querendo ou não, teríamos a semana seguinte marcada por diversas performances e idas em programas de variedade, de popularidade considerável.  Então, se Mi Cha não se recuperasse a tempo, teríamos problemas.               

Passei pela mesa de comidas, fiz meu prato e fui para a mesa onde meu grupo estava sentado. Todas pareciam entretidas, prestando atenção à Jae Hwa, que colocava diversos tipos diferentes de comida no prato de Mi Cha enquanto a garota só observava, com um olhar que mostrava claramente que ela não iria comer tudo aquilo.    

– Unnie, acho que já está bom... – A maknae repetia diversas vezes, acompanhando com os olhos o movimento do garfo de Jae Hwa. 

– Mas você tem que comer para melhorar, e poder voltar às suas atividades normais.                  

Sentei-me ao lado de Joo Ree, que encarava sua comida com uma expressão desanimada, o que não era de seu feitio. Percebi também que nossa líder tinha sumido no meio do caminho, pois não se encontrava na mesa.    

– Ué, mas cade a Sooyun? – perguntei. – Ela não veio com a gente?     

– Sim, mas a última vez que a vi ela estava brigando na fila com o Palhaço. – Joo Ree respondeu. 

– Palhaço? – falei – Então esse apelido pegou... Sinto pena do Seungcheol sunbae.                   

– Falando no diabo... – Minha amiga disse.    

Sooyun apareceu ao nosso lado, com a típica cara que fazia quando falava com Seungcheol.     

– E aí, unnie? Como foi a sua conversa? – Joo Ree a provocou.  

– Não estou no humor para brincadeiras agora. Ele veio se meter onde não precisava. – Sooyun replicou.     

– O que ele falou? – questionei.

– Ele “sugeriu” que adaptássemos a coreografia, como se a Mi Cha não fosse participar.

– Até aí, que mal tem isso? – comentei.

– Ele só estava nos aconselhando. – Joo Ree concordou.  

– Ok, então. – Sooyun suspirou, sentando-se ao lado da maknae, tentando pegar algo do prato da Mi Cha, mas sendo impedida por um tapa em sua mão dado por Jae Hwa.   

– E no entanto, não é uma má ideia. – Jae Hwa disse, logo se virando para Mi Cha. – Não estamos tirando você da coreografia. Só é melhor estarmos preparadas para qualquer eventualidade.       

– Não se preocupe, unnie. – Mi Cha deu de ombros. – Apesar de eu esperar estar boa até nossa próxima apresentação, também acho bom nos precavermos.           

– É de se esperar que ele saiba o que fazer, já que é líder de um grupo há um tempo. – Jae Hwa comentou, remexendo sua comida.        

– Então que tal ele se tornar o líder do CALL-U? – Sooyun resmungou. – Garanto que sentirão minha falta.        

– Olha, não tenho tanta certeza quanto a isso. – Joo Ree falou, baixinho, esperando não ser ouvida.         

Todos os olhares na mesa se viraram para ela, que simplesmente respondeu com um:                  

– O que foi?             

Todas nós começamos a rir, deixando o café da manhã com um clima descontraído e até mesmo divertido. Eu estava preocupada por causa da briga que tivera com Sooyun no dia anterior porque pensei que pudesse afetar o nosso trabalho; mas tudo havia ficado bem, e eu esperava que continuássemos assim.              

Assim que saímos do refeitório, Mi Cha nos acompanhou até a sala de dança e nos puxou para falarmos com Joon Haeng, que também nos ajudaria a adaptar a coreografia, já que a criara junto com Mi Cha.       

Embora havíamos todas entrado em um consenso de que não estaríamos excluindo Mi Cha por estarmos reformulando a coreografia para apenas quatro pessoas, a maknae parecia de certo modo chateada enquanto sentava em um banquinho à nossa frente, ajudando-nos a ajeitar tudo. Eu não a culpava, dado ao fato de que não sabia como me sentiria caso não pudesse participar de alguma apresentação de uma música que eu tivesse composto. Infelizmente, não tínhamos tanto tempo para fazermos todas as mudanças necessárias, já que estamos no meio das promoções de nosso álbum – detalhe: de debut.

Mesmo depois de ensaiarmos com somente quatro membros diversas vezes durante aquele dia, ainda assim eu estava receosa de que pudéssemos confundir as duas versões da coreografia no palco.

Passamos a música inúmeras vezes no pequeno período de dois dias que tínhamos até nossa próxima apresentação, às vezes com a formação completa – já que Mi Cha estava ao máximo tentando melhorar – e outras vezes somente com as quatro, tendo certeza de que as duas versões estivessem frescas em nossas mentes e prontas.  

Durante aquela última noite, Mi Cha já aparentava estar melhor, ainda que não estivesse completamente curada. Mas, ainda assim, havia sido decidido que ela apresentaria conosco no dia seguinte.

***

O dia da apresentação chegara. Ensaiamos por tantas horas, nos poucos dias que tivemos, as duas formações da coreografia, sem parar; tudo daria certo, tinha que dar certo.  

- Meninas, vamos, hora de sairmos – falei para minhas companheiras de quarto, tirando minhas pantufas e colocando os tênis enquanto abria a porta. Pelo menos, poderíamos ir até a emissora vestidas confortavelmente.    

Encontramos o restante do grupo na frente da empresa, ao subirmos em nosso carro e trocarmos breves cumprimentos. Todas estávamos nervosas dado à situação delicada da apresentação.      

- Mi Cha, como você está se sentindo? – Jae Hwa perguntou à maknae, olhando-a cuidadosamente de cima a baixo.  

- Estou bem, unnie, de verdade. – A garota assegurou. – Não há nada com o que se preocupar.    

Hyojin unnie entrou no carro e sentou-se ao volante, virando-se para nos entregar sacos de papel com o nosso café-da-manhã do dia. Sempre em dia de apresentações, não tínhamos muito tempo para comer, então acabávamos comendo no carro.   

Recebemos com agradecimentos e ela se virou novamente, girando a chave na ignição e dando a partida, saindo da empresa.

***

Já estávamos acostumadas à ida em music shows, dado todas as nossas performances, praticamente todo dia; mas ainda assim, todas ficávamos espantadas com toda a rapidez com que as coisas eram feitas.    

Assim que chegamos, fomos levadas ligeiramente para nosso camarim, onde nossas maquiadoras e nossa figurinista já estavam com tudo pronto, somente a nossa espera.       

Todas nos trocamos rapidamente e, de duas em duas, íamos ficando prontas para o palco.            

- CALL-U, é a vez de vocês. – Um produtor do programa abriu a porta e nos avisou, e todas nós saímos apressadamente para o corredor, pegando o elevador e indo ao andar do estúdio onde o music show era feito.

Subimos ao palco e nos posicionamos para gravarmos. Assim como todas as vezes, gravamos duas vezes e, em ambas, demos o nosso melhor. Na hora de gravarmos pela terceira vez, Mi Cha cambaleou um pouco e apoiou-se em meu ombro, para que não caísse.      

- Você está bem? – perguntei, virando-me para a menina.  

Ela assentiu e se ajeitou em sua posição inicial. Hyojin unnie parecia um tanto quanto preocupada enquanto olhava para a maknae, mas não havia nada que ela nem que nós pudéssemos fazer.    

“Calling U” começou a tocar pela terceira vez e, embora controlássemos nossas expressões faciais, todas estávamos apreensivas. Mi Cha havia sim mostrado sinais de melhora em relação à sua saúde, mas não estava 100%, então havia certos riscos para a apresentação.        

Tudo estava ocorrendo da maneira que deveria, até a ponte. No exato momento em que sorri para a câmera à minha esquerda e me afastei para fazer a high note, pude perceber com o canto do olho que Mi Cha colocou a mão em sua cabeça e cambaleou, torcendo o pé. Algo definitivamente não estava certo.            

Enquanto começava minha linha, olhei discretamente para Sooyun que assentiu, e fez um breve sinal com a mão, que poderia facilmente ser confundido como algo da coreografia, mas não por nós. Caso alguma eventualidade acontecesse no palco, havíamos combinado um sinal para que pudéssemos alterar para a versão de quatro integrantes de nossa coreografia sem que ninguém mais percebesse.    

Fui um pouco mais para a direita, fechando a formação e fazendo a high note, enquanto Joon Haeng aparecia de um lado do palco, pegando Mi Cha no colo e a girando, como se fizesse parte da coreografia – podíamos estar fazendo uma versão especial de nossa música por nenhum motivo aparente, não?

Fomos para a frente do palco, formando a linha final, e fazendo o símbolo do telefone com as mãos. Alguns fãs olhavam desconfiados para nós, cochichando uns para os outros, enquanto agradecíamos a equipe do programa e nos retirávamos do palco, indo apressadamente para nosso camarim, onde Mi Cha deveria estar.   

Ao sairmos do elevador, corremos como nunca até nossa porta, e Jae Hwa a escancarou assim que encostou na maçaneta.         

- Como você está? O que houve? – corri até a maknae, que estava sentada em um sofá um pouco mais a frente, encostado na parede esquerda da sala, e agachei-me à sua frente, segurando uma de suas mãos e medindo sua febre com a outra.            

- Acho que eu ainda não estava muito bem... – Ela disse, e uma lágrima escorreu em sua bochecha, e a sequei. – Desculpem-me, unnies...        

Sooyun, numa surpreendente demonstração de carinho, foi até Mi Cha e sentou-se ao seu lado, abraçando a menina e depositando um beijo no topo de sua cabeça.             

- Não ouse pedir desculpas, Mi Cha. Não foi culpa sua. – A líder dizia repetidas vezes, tentando acalmar a menina.      

- M-mas, eu prejudiquei nossa apresentação. 

- Nós temos outras duas gravadas, tudo dará certo. Você não tem que se preocupar com nada além de sua saúde agora. Como está o seu pé? – Jae Hwa perguntou, sentando-se do outro lado da menina que agora estava parando de chorar.   

- Doendo. – A resposta foi simples, acompanhada de uma careta breve de dor.

- Vamos levá-la ao ambulatório daqui mesmo, para darem uma olhada e o imobilizarem um pouco, e logo voltaremos para a empresa, para vocês todas poderem descansar, ok? – Nossa manager falou, levantando Mi Cha e passando um dos braços da maknae sobre os ombros, lhe fornecendo apoio.   

Nos vinte minutos que se seguiram durante a ida de Hyojin unnie e de Mi Cha ao ambulatório, tiramos nossos saltos, trocamos para nossas roupas casuais e tiramos o excesso de maquiagem – se algum fã nos visse entrando na empresa ou saindo da emissora, era melhor que não estivéssemos de cara lavada, parecendo acabadas do jeito que estávamos Descemos para o andar térreo, entrando em nosso carro que estava parado na frente da entrada, já com Mi Cha sentada em um dos bancos e a manager ao volante, que deu a partida assim que fechamos a porta.    

- Vai se trocar quando chegarmos ao quarto? – questionei Mi Cha, pois ela ainda se encontrava vestida com nossa roupa de palco, só que agora usava pantufas ao invés de seus saltos.         

- Sim. Você poderia me ajudar, unnie? – Ela respondeu, parecendo um cachorrinho perdido ao olhar em meus olhos. As palavras ficaram entaladas em minha garganta, já que parte dela ter se machucado era culpa minha – embora também das outras meninas -, então somente sorri e afaguei seus cabelos, encostando-me no banco de couro e fechando os olhos enquanto voltávamos para o lugar que chamávamos de casa.

***

Mi Cha estava sentada em minha cama com as mãos cruzadas sobre o colo, enquanto eu pegava uns lenços demaquilantes do banheiro e separava algumas de suas roupas mais confortáveis, para que ela pudesse descansar bem.  Sentei-me ao seu lado enquanto ela se virava para mim e levantava o rosto, para que eu pudesse tirar sua maquiagem.     

- Como você está se sentindo? – perguntei, enquanto passava o lenço cuidadosamente em suas bochechas, tirando todo o blush e base que a maquiadora havia aplicado.        

- Melhor, graças a você. – Ela abriu um fraco sorriso. – Obrigada, unnie.

- Não há o que agradecer. Pode fechar os olhos? – Olhei carinhosamente para ela, e dirigi-me aos seus olhos, tirando a sombra escura e deixando que a pele transparecesse.       

Terminei de tirar sua maquiagem e joguei os lenços fora, logo pegando Mi Cha pela mão e pedindo para que se apoiasse em meu ombro, para que eu pudesse ajudá-la a se vestir.      

A menina pegou a calça que eu havia separado de cima da cama e, apoiada em meus ombros, vestiu-a. Sentando-se novamente em meu colchão, tirou sua blusa e colocou uma mais confortável, suspirando aliviada ao tirar a roupa de palco cheia de strass que a estava arranhando.       

- Vou na cozinha pegar uns lanches e uma água para você, hm? Já volto.        

Antes que eu pudesse sair do quarto, a maknae segurou-me pelo pulso, olhando-me, suplicante.   

- Por favor, unnie, pode me ajudar a ir à nossa sala de dança? Sei que não vou poder dançar por um tempo por causa do meu pé, mas lá ainda é o meu lugar favorito, e quero me sentir bem. 

Assenti e coloquei os braços dela ao redor de meus ombros, levantando-a e andando lentamente até a porta. Era um caminho razoavelmente longo até a sala de dança, e que incluía escadas. Mas Mi Cha já estava sentindo-se um tanto quanto triste porque culpava a si mesma por conta de nossa apresentação e de seu mal-estar, então levá-la a sala de dança podia ajudá-la a se sentir mais feliz e melhor.   

Deixei-a sentada em um sofá próximo às caixas de som e fui à cozinha pegar os lanches que havia prometido. Mas temos que ressaltar que eu sou a pessoa mais propensa a ver coisas que não deveria, não é mesmo – espero que lembrem-se daquela certa experiência passada, que eu gostaria de poder apagar de minha memória.        

Voltando com uma cesta cheia de pães, caixinhas de sucos e algumas águas, abri lentamente a porta, deparando-me com uma cena um tanto quanto surpreendente.         

- Estou bem, eu juro, não precisa fazer isso, oppa – Mi Cha sorria abertamente para um garoto que estava passando pomada em seu tornozelo, e segurava novas ataduras em sua outra mão.      

- Não importa que você diga que está bem. Hoje tive que tirar você do palco porque caiu, então vou ajudar no que for possível. Fiquei preocupado, sabe? – A pessoa de costas para mim disse. Então a ficha caiu, e percebi quem era: Joon Haeng.            

- Eu estou bem! – A maknae esticou-se para colocar a mão na bochecha do menino e fazer um carinho na região.   

Joon Haeng soltou as ataduras que estava segurando e colocou a mão sobre a da menina, apertando levemente. Logo tirou-a de sua bochecha e pegou o que havia colocado no chão, enrolando-as cuidadosamente ao redor da área machucada.

Coloquei a cesta silenciosamente para dentro da sala, encostando-a em uma parede ao lado da entrada. Mi Cha estava tão concentrada em sorrir e arrumar o cabelo do backup dancer que nem viu entrando e saindo do recinto.

Mais um romance que eu seria obrigada a guardar segredo. Deus só podia estar tirando uma com a minha cara.     


Notas Finais


Sem promessas, porque já percebemos que isso não dá certo. Mas, independentemente de quanto tempo demorar, vamos sim atualizar a fanfic. Ela será terminada.
Temos ainda muitos planos, a fic vai ser LONGA mesmo.
Estaremos compensando a falta de atualizações frequentes com capítulos mais longos.
Então, se alguém ainda está aqui, obrigada, e continue acompanhando~
Nos vemos na próxima atualização :3


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...