História Permanent Vacation - Crazy

Sydney, Austrália. Fevereiro de 2017.

Achei que não precisava de amor para ser completo

Acho que não sabia

Que eu tive esse sentimento maluco

De que estou fazendo alguém esperar por mim

MARGOT

O tal piquenique que a Liz planejara iria ser na praia, mais especificamente, Manly Beach. Eu amei essa praia desde o início, mesmo que ainda não tenha ido com o Luke naquela época.

Só se passaram 2 meses que estou na casa da família do Luke, mas pra mim parece que se passou tanto tempo.

Eu não estava conseguindo conter a minha agitação e felicidade. Eu amo praia, o mar principalmente. O carro da Liz estava praticamente cheio de bóias, baldes de plástico coloridos para se fazer castelos de areia, e outros brinquedos infantis que eu não conseguia identificar. Geovanna estava tão agitada quanto eu, pois não parava de olhar pra janela do carro apontando pra tudo quanto é lugar. Já Andrei, apenas revirava os olhos à cada segundo enquanto jogava no seu iPhone 7 com uns fones grandes nos ouvidos.

Uma criança de 12 anos com um iPhone 7, enquanto eu fico me achando por ter um iPhone 6. Mas do contrário de Andrei, eu trabalhei pra comprar o meu. Já ele... Os pais provavelmente o deram de presente.

— ... E vamos poder fazer castelos de areia bonitos e tudo o mais? — a voz suave e delicada de Geovanna me tirou dos meus pensamentos, me fazendo prestar atenção à conversa no banco de trás.

Luke sorriu para a garota, um sorriso tão adorável e afetuoso que eu sem querer me peguei pensando em como seria no futuro, Luke sendo pai de duas crianças com cabelos loiros esvoaçantes à correr pela casa fazendo mil perguntas.

Abanei a cabeça, eu estava imaginando coisas demais. Ew.

— Vamos fazer quantos castelos você quiser. — Luke bateu com a palma da mão na pequena mãozinha da Geovanna.

A pequena deu uma gargalhada gostosa, o que fez todos no carro rir junto — todos, menos Andrei.

— Tuas mãos são enormes em comparação às minhas! — a pequena ficou olhando para as suas mãozinhas sobre as mãos enormes do Luke.

O loiro riu, apertando as bochechas dela.

— Um dia quem sabe, vai ter as mãos quase do tamanho das minhas.

Os olhinhos azuis da Geovanna brilharam e ela abriu um sorriso enorme. Essa garota parecia o Niall Horan, podia encher um lugar de luz e alegria só com um sorriso ou a própria presença. Isso me fazia lembrar do Luke também.

— Você já foi na praia de Manly Beach, Margot? — Liz perguntou, inclinando um pouco a cabeça pra trás pra me olhar.

Seus cabelos estavam soltos em pequenas ondas, enquanto a sua franja cobria suas sobrancelhas loiras. Eu não sei porque a Liz me intimida um pouco, como se eu sentisse a necessidade de me endireitar no lugar e me comportar o máximo possível, apesar de ela ser simpática.

— Sim, fui antes do ano novo. — eu disse, com um sorriso de canto ao me lembrar da bagunça que eu, Sophie e alguns amigos dela fizemos na praia.

Liz voltou à sua atenção para à frente, mas continuou falando comigo.

— Essa praia é a que eu mais gosto, é bem tranquila. O John deveria ter vindo, mas sabe como é as empresas. — ela suspirou e eu assenti, concordando.

Deveria ser chato não poder sair para uma praia com o marido ou seja lá o que for. Só sei que a única coisa que eu conseguia pensar agora, enquanto o Luke conversava com Geovanna, era que eu detestava quando a lua estava no signo de Peixes, porque eu fico mais sensível, delicada, emotiva e pensativa demais. Se eu já tenho o costume de ficar imersa em pensamentos e reflexões, como se um monte de engrenagens ficassem funcionando no meu cérebro, imagina com a lua em Peixes!

Nada contra pessoas desse signo, mas eu não estou acostumada à ser tão... O contrário do que eu sou.

— Chegamos! — Geovanna gritou, me fazendo dar um pequeno salto no banco.

— Mas que ótimo. — Andrei fingiu entusiasmo, jogando os braços pra cima enquanto descia do carro com cara de cu.

Esse garoto parecia a minha réplica de Margot chata e reclamona.

— Hey, planeta terra chamando Margot. — Luke abanou as mãos na minha cara, com um sorriso parvo.

— Nem me fale disso, estou odiando a lua em Peixes. — revirei os olhos, colocando minha bolsa bege nos ombros, que tinha protetores e coisas de praia.

Luke franziu a testa.

— Quê?

— Nada, a lua também está te afetando. — dei duas batidinhas no seu ombro, indo até o porta-malas ajudar a Liz com as sacolas de comida e lanches.

Luke ficou me olhando ainda com as sobrancelhas franzidas, como se estivesse pensando "O que essa garota queria dizer?". A Liz me entregou uma sacola leve e me indicou o lugar que iríamos ficar. Luke veio ajudar com as outras sacolas mais pesadas e fomos caminhando pela areia.

Como previsto, a praia estava tranquila, era fim de tarde então quase ninguém estava aqui à não ser casais ou amigos. Eu adoro a hora do crepúsculo, indica que a noite vai chegar e a noite é outra coisa que eu também gosto. Chegamos em um lugar com várias espreguiçadeiras brancas e um guarda-sol gigante colorido.

Geovanna correu pra areia, provavelmente indo fazer o seu castelo de areia. Andrei apenas bufou, colocando os fones de novo e sentando em uma espreguiçadeira com o iPhone na mão. Mais uma vez, não pude deixar de comparar que esse garoto é uma versão dos meus 15 anos.

A areia da praia era tão limpa e macia, observei ao longe as ondas se chocarem umas nas outras, indo e vindo. Eu adorava observar as ondas e o mar, sentindo o vento fresco nos meus cabelos. Me dava uma paz.

— Você está quieta demais hoje. — Luke me tirou dos meus pensamentos, sentando em outra espreguiçadeira.

Fiz o mesmo que o loiro. Ajeitei meu vestido de alças cor creme, esticando as pernas na areia macia.

— É a lua em Peixes. — dei de ombros, colocando meus óculos Ray-Ban.

— O que é esse negócio de lua em signos? — Luke franziu a testa daquele jeito que eu tanto achava adorável.

Observei Liz conversando com o dono de algum restaurante.

— A lua influencia os sentimentos de cada pessoa, no zodíaco a mesma representa os sentimentos de cada pessoa. Por exemplo, — comecei a gesticular com as mãos, vendo que Luke estava com um sorrisinho na cara. — se a lua está em Peixes, que é um signo do elemento água, mais sensível, pensativo, melancólico em algumas vezes, a pessoa tende à ficar com essas mesmas características. Entendeu?

— An... É, acho que entendi boa parte. — nós rimos, eu não conseguia parar de olhar pra boca dele.

— E se a lua estiver no meu signo? — ele perguntou, passando a língua nos lábios.

— Pior ainda! — arregalei os olhos. — Aí que eu iria ficar chorona, sensível, manipuladora igual um certo garoto na minha frente, etc e etc.

Luke estreitou os olhos.

— Quem disse que eu sou manipulador?

— Você ainda pergunta? Qual é, Hemmings.

Luke sorriu de novo, me encarando sem desviar de repente. Se ele tentasse alguma coisa eu iria dar um tapa nele, eu não queria que a Liz desconfiasse de alguma coisa. Os olhos azuis intimidantes do loiro continuavam presos nos meus olhos castanhos, me pergunto o que tanto ele está olhando. Decidi ficar encarando ele sem desviar também, como no jogo do sério.

Seu olhar se direcionou nos meus lábios, ele foi aproximando o rosto do meu, até que a Liz interrompeu nosso momento. Nos afastamos rápido, porém ela tinha percebido alguma coisa.

— O que estavam fazendo? — ela sorriu, curiosa.

Merda.

Luke e eu nos olhamos, procurando alguma resposta.

— O Luke pediu pra eu ver se tinha alguma coisa no olho dele. — eu disse tentando parecer despreocupada.

— Filho, você já passou da fase de cair coisas nos teus olhos. — Liz revirou os olhos, colocando as bandejas de lanches na pequena mesa de vidro à nossa frente.

Tudo aqui era elegante, como aquelas praias de ricos em que a Kylie Jenner provavelmente iria. Quem dera encontrá-la aqui, seria sorte demais.

— Crianças, comer, já! — Liz apontou pra mesa. Geovanna começou a fazer manha, não querendo parar de construir seu castelo de areia. — Depois você constrói teu castelo, Geo. É rápido.

A garotinha bufou, levantando da areia e limpando o pequeno biquíni rosa sujo de areia. Ela caminhou a passinhos largos e raivosos, chegando até nós com os braços cruzados e um beicinho nos lábios.

— Porquê que eu não posso comer enquanto faço meu castelo de areia? — ela perguntou, toda irritada.

Andrei revirou os olhos, tirando os fones grandes do ouvido.

— Porque aí você iria comer areia também, lerda.

Levantei uma sobrancelha, só observando a treta. Esse garoto era irritante, mas me lembrava de quando eu tinha 15 anos então eu não podia não gostar muito dele. Geovanna mostrou a língua pra ele, sentando em uma espreguiçadeira pequena.

— Andrei, o que eu disse sobre ser educado? — Liz o repreendeu, mas o garoto apenas revirou os olhos outra vez, indo pegar seu lanche.

Luke e eu pegamos nosso sanduíche, e logo nessa hora a música Crazy do Shawn Mendes começou a tocar. Me controlei pra não começar a cantar, apenas sorrindo feito idiota enquanto comia meu sanduíche enorme.

Depois de ajudar a Geovanna à construir o seu castelo de areia, eu estava sentada na areia da praia com o Luke, a observar as ondas indo e vindo e chocando-se contra as pedras no mar. A hora do crepúsculo tinha chegado, as cores em tons de rosa, lilás e azul pareciam ser pintadas com pincel no céu. A vista era impressionante, meus cabelos esvoaçavam levemente com a brisa fresca do fim do dia.

A praia estava quase vazia, Liz e as crianças estavam andando pela praia. Finalmente Andrei tinha parado de frescura e se levantou daquela espreguiçadeira. Observei como o rosto do Luke ficava pacífico, seus cabelos loiros estavam sendo bagunçados pela brisa. Suas íris azuis pareciam mais brilhantes, os cantos da sua boca mostravam seu sorrisinho. Mas este era calmo, sem nenhuma ironia.

Luke parecia um anjo caído à luz do pôr-do-sol.

— No que está pensando? — ele perguntou, me pegando à encará-lo.

Voltei à olhar pro mar, um pouco envergonhada.

— Não te interessa, Hemmings. E você?

— Só vou dizer se você dizer também. — ele levantou uma sobrancelha, sem deixar de me encarar.

Revirei os olhos, Luke era tão chantagista quando queria.

— Eu estava pensando em como essa praia é linda, ou nas cores do céu na hora do crepúsculo que eu tanto gosto. Gosto mais do fim do dia e da noite, então, pra mim essa é a vista mais linda que eu já vi. E também, estava admirando como você fica parecendo um anjo caído à luz do pôr-do-sol. — desembestei à falar, só percebendo isso quando Luke tinha um sorriso idiota nos lábios. — Oh, merda, eu não devia ter dito isto.

Luke ficou me encarando por alguns segundos e isso estava me deixando com vergonha, eu nem sabia porque merda eu estava agindo assim. Talvez seja a lua em Peixes.

— Continua falando, eu gosto de ouvir tua voz. — ele disse como se não fosse nada anormal dizer isso pra uma garota.

Mordi o lábio tentando não sorrir.

— Nah, agora fala você o que estava pensando.

Luke voltou à olhar pro mar assim como eu.

— Estava pensando no significado do teu nome.

Franzi a testa, não entendendo nada.

— Como assim?

— É que você ama o mar e a praia, e o teu nome é Margot. Tirando o "got", fica mar. — ele acenou com a cabeça todo sério, me fazendo rir.

— Boa observação, Hemmings. A minha mãe escolheu esse nome principalmente porque tem "mar" nele. Deve ser por isso que eu gosto tanto do mar, sei lá.

Como eu sentia saudades dos meus pais e principalmente da minha mãe. Eu esperava chegar em casa logo pra ligar o Skype e dizer as novidades pra ela.

— Tua mãe parece ser bem criativa então. — Luke me encarou novamente, estendendo a mão pra que eu a segurasse.

Não consegui evitar sorrir ao ver Luke elogiando minha mãe.

— É, ela é. — eu disse, minha voz saindo mais suave que o normal.

Luke levantou, me puxando junto com ele.

— Está ficando tarde, então... Ótima hora pra gente dar um mergulho.

Meus olhos brilharam de felicidade, eu poderia sentir as chamas da teimosia e aventura brilhando dentro deles.

— Eu sempre quis nadar na água de noite.

Luke riu, me puxando pra perto dele de repente e me dando um selinho rápido.

— Então, você mergulha primeiro. — ele abriu um sorriso malicioso, caminhando na minha direção lentamente.

Eu já sabia o que ele iria fazer, mas antes que eu pudesse correr, Luke me colocou no colo, correndo pro mar enquanto eu chutava o ar e xingava ele de todo palavrão.

— Me solta, Hemmings Desgraçado! — gritei, fechando os olhos ao sentir uma onda quase nos derrubar.

Luke gargalhou com aquela risada gostosa dele de foca engasgada, nos levando pro meio do mar. A água estava batendo abaixo da cintura dele, mas ele não parecia se importar. Agarrei o pescoço dele com mais força quando vi uma onda gigante se aproximando. Eu tinha pavor de ondas gigantes.

— Segura firme, aí vem uma onda grandona! — ele gritou em meio ao barulho da onda.

Fechei os olhos sentindo meu coração acelerar e o medo me fazendo me encolher no pescoço do Luke, segurando-se nele como se eu dependesse disso. E de fato, eu dependia mesmo.

Antes que eu pudesse pensar em alguma coisa, a onda chocou-se contra nós, fazendo Luke desequilibrar pra trás e cair com tudo no mar, comigo por cima dele. O loiro gritou um "Uhul!" que ecoou pela praia inteira. Eu tinha engolido um pouco de água e comecei a tossir, sentindo a respiração ficar meio complicada.

— Você está bem? — Luke ficou de pé novamente comigo em seus braços, suas mãos estavam no meu cabelo afastando ele do meu rosto.

— Estou, só está meio difícil de respirar. — eu disse ofegante.

Luke começou a andar na direção da orla da praia, com um sorriso enorme mostrando os seus dentes perfeitos. Eu queria poder ver isso todos os dias e todas as horas. Ele parecia uma criança sapeca que tinha ganhado um presente de Natal.

— Foi irado, não foi? — Luke deu um pequeno salto quando uma onda menor quase nos derrubou de novo.

Eu queria dizer que eu quase fiquei sem ar e que eu tinha medo de ondas gigantes, mas ao ver o sorriso tão enorme no seu rosto angelical, eu consegui sorrir e concordar que foi mesmo irado.

— Acho melhor a gente correr porque vem mais outra lá atrás.

E o loiro me colocou em "terra firme", as ondas batendo contra minhas pernas.

— Sobe nas minhas costas, rápido! — Luke gritou, a onda estava mais próxima.

Sem perder tempo fiz o que ele disse e subi nas suas costas, agarrando seu pescoço com força. Sorte que Luke estava malhando esses dias, senão já teria nos derrubado. Ele começou a correr aos tropeços, as ondas pareciam tentar nos derrubar. À cada onda que passava, molhando meu rosto, eu fechava os olhos sorrindo.

Conseguimos chegar na areia e Luke se jogou na areia, me fazendo cair por cima dele de novo. Rolei pro lado caindo na areia. Olhamos um pro outro e mesmo com as respirações ofegantes, começamos a rir. A gente riu tanto que minha barriga estava doendo, estava difícil de respirar.

— A gente somos uns insanos. — Luke tentou parar de rir.

— No Brasil a gente chamaria isso de "Vida Louca". — sentei na areia, conseguindo respirar melhor.

Luke fez o mesmo, chegando perto de mim. Eu não conseguia evitar olhar pro seu corpo atlético todo molhado da água do mar, esse garoto era lindo e gostoso demais.

— Então, somos vida louca. — ele riu, aproximando seu rosto do meu.

Luke tomou meus lábios em um beijo lento, sem dar tempo de pensar direito. Ele colocou as duas mãos em cada lado do meu rosto, fazendo um carinho nas minhas bochechas com o polegar. O barulho das ondas e a brisa fresca era o cenário perfeito. Eu perdia a noção do tempo quando tinha esses momentos com o Luke.

Ouvimos a Liz gritar ao longe nossos nomes, provavelmente procurando por nós. Luke parou o beijo, seus lábios foram parar na minha testa, depois na minha bochecha e depois na minha boca de novo. Eu podia sentir meu rosto ficar quente de vergonha e felicidade.

— Vamos lá, Margot Vida Louca. — ele me ajudou a levantar.

— Ok, Luke Vida Louca. — sorri, empurrando ele com a cintura.

Luke me empurrou com a cintura também, e fomos andando à se empurrar e rir como dois idiotas.