História Pérolas e Safiras - Aliança

Naruto andava pelas ruas da vila com uma carranca, parecendo estar aborrecido. Sua animação costumeira foi substituída por uma frustração que nenhum dos habitantes da vila entendia ou compreendia. Eles olhavam para aquele rosto e se perguntavam o que havia sugado a confiança e personalidade solar do Uzumaki.

E a resposta era que, quem causava toda àquela repentina desanimação, esse tratava de uma bela morena de olhos perolados.

Como prometera há exatamente três semanas, o louro foi atrás da Hinata para tirar satisfações. Na primeira vez em que entrara no clã e tentou conseguir uma amistosa conversa com ela, teve sua primeira decepção ao saber que não poderia atendê-lo, pois tinha muitos afazeres no clã. O rapaz olhou irritado para o Hyuuga do sorriso que lhe deu o recado – a muito contragosto - e quase esbravejou um palavrão por estar irritado.

Entretanto, com o resto de sua paciência, respirou fundo e se retirou do clã com diplomacia. Prometeu que iria voltar no dia seguinte e foi o que fez depois do seu árduo treinamento. Contudo, deu novamente de cara com o Hyuuga do sorriso. E mesmo depois de muita insistência, o mensageiro disse, com seu tom frio e irritado pela insistência de Naruto, que Hinata estava ocupada. Treinava para se fortalecer junto com Hanabi, por isso não teria tempo para tratar de assuntos pessoais.

Naruto pode ter certeza de que aquele ninja não ia com a cara dele (e por sinal já o odiava!). Depois de quase ser arrastado para fora do clã, se encontrou com Konohamaru que ia diretamente para o mesmo caminho que Naruto viera. O jovem Sarutobi ficou bastante chateado ao receber a notícia pelo amigo de que não poderia conversar com sua namorada e acompanhou o Uzumaki que também tinha a mesma aparência carrancuda do rapaz por não ter cumprido sua promessa.

- Isso é tudo culpa daquele velho! – Konohamaru explodiu de repente, acabou chutando o chão com muita irritabilidade para tentar aliviar o estresse repentino.

- Velho? – Naruto questionou curioso pela expressão raivosa do amigo.

- Hiashi. – Explicou coçando o nariz com o indicador. - Ele deve ter descoberto que eu e a Hana-chan estamos saindo! – Resmungou fechando as mãos com força. – Aquele homem é o demónio!

- Hiashi não sabe do namoro de vocês?

O louro agora esquecera efetivamente a sua raiva anterior e esperou atentamente a explicação do rapaz que estava mais chateado que irritado.

- Não, Hanabi achou melhor manter segredo... Sabe, o Hiashi é bem severo quando se trata das filhas dele... – Ele resmungou enquanto colocava os braços atrás da cabeça.

- Como assim? – Naruto perguntou com aquela inocência irritante, fazendo Konohamaru o olhar de maneira estranha.

- Qual é Naruto? Você é cego por acaso? – Questionou o rapaz que o olhou aturdido com a ferocidade do moreno.

- Claro que não sou cego, pirralho! – O louro exclamou exaltadamente. – Mas eu não entendi o que você disse...

- Cara, como você é burro! – Konohamaru gargalhou, fazendo o louro perder a curta paciência.

- Mais respeito! – Naruto gritou dando um cascudo na cabeça do rapaz, que prontamente parou de rir e choramingou de dor.

- Pega leve, nii-san... – Murmurou acuado, passando a mão na cabeça, exatamente onde o louro havia batido. – Eu estou dizendo que Hanabi e Hinata são muito bonitas e o Hiashi não gosta que elas fiquem de conversa mole com homens... Você nunca reparou nisso não?

O garoto questionou inocentemente, apenas evidenciando algo que havia percebido. Já Naruto, repentinamente, parou de andar e franziu o cenho. Estava preso em seus pensamentos, coisa que fez Konohamaru parar de andar, lançando um olhar preocupado em sua direção. O jovem chunin não conseguia entender o que havia dito para provocar aquela reação tão incomum.

Agora que o Sarutobi falara, Naruto finalmente tomou consciência de algo que jamais havia pensado antes. Hinata era bonita...

Bonita não... Linda, delicada, meiga, gentil e por aí vai... – pensou coçando a cabeça.

Ele se perguntava em como não havia pensado nisso antes. Hinata era uma moça solteira, de rosto bonito, que tinha infinitas qualidades. Arranjar um namorado seria fácil. Pensar na morena com outra pessoa o deixava muito incomodado, pois no dia que isso acontecesse, eles não poderiam mais se ver com frequência. Não poderia ficar muito tempo sozinho em sua presença. Ela não o amaria mais...

Foi aí que bateu uma tristeza amarga que teve de esconder a todo custo de Konohamaru. Rapidamente, Naruto encobriu seus pensamentos e voltou a andar sendo seguido por ele, tratando de falar em assuntos amenos para mudar o foco. Porém o rapaz estava longe dali. Sua cabeça ficou ruminando a ideia de que Hinata, finalmente, decidira esquecê-lo para poder se apaixonar por outra pessoa.

*

E foi a partir desse dia que Naruto andava muito frustrado. Chateado e irritado com a Hyuuga que não acabava com suas infinitas dúvidas pessoalmente. Precisava acalentar seu coração que andava meio indeciso e inquieto. Ele não queria perder o amor que Hinata sentia, se é que ainda sentia.

Na segunda semana em que passou ruminando aquele passeio com o Sarutobi, Tsunade invocou Naruto para que comparecesse a uma reunião em sua sala e ao rapaz sair de lá, tinha a missão de viajar até uma pequena vila no País dos Campos de Arroz em uma visita diplomática, era apenas para relatar a situação do lugar. Coisa que o rapaz aproveitou a tranquilidade para pensar muito e por fim voltou para Konoha sem nenhuma solução para seus problemas.

- O que está acontecendo, dobe? – Uma voz grossa e fria chamou a atenção do pensativo rapaz, que andava cabisbaixo até seu pequeno apartamento.

Ao levantar a cabeça, viu que Sasuke o olhava com aquele mesmo olhar frio e penetrante, mas diferente de antigamente, aqueles orbes negros como o ônix possuíam mais vida, um brilho que chegava a ser incomum.

O Uchiha estava andando pela vila – ia se encontrar secretamente com a Sakura – quando deu de cara com o cabisbaixo Uzumaki.

Mesmo que isso não fosse de sua natureza, decidiu que se atrasaria alguns minutos em seu encontro para descobrir o motivo da repentina tristeza do amigo. Ele devia isso ao rapaz que nunca desistira de sua amizade. Naruto provara ao moreno que nunca se deve desistir de alguém, mesmo que tenha demorado a perceber e aceitar que aqui era seu lugar. Tinha de estar ao lado dos seus amigos, do seu irmão de coração e da rosada.

Decidindo que seria melhor desabafar tudo que o estava afligindo, Naruto continuou seu caminho e contou da sua preocupação com a morena. Sasuke apenas o olhava de soslaio, estava surpreso no quanto seu amigo conseguira captar em uma pessoa. Ele sabia que o louro não era a pessoa mais esperta do mundo, mas também não era um completo tapado. O jovem Uzumaki estava lhe confidenciando coisas que apenas se pode ter quando existe uma ligação forte entre as partes.

O Uchiha não conseguia entender o sentimento que Naruto tinha pela Hyuuga e talvez nunca entendesse, mas que era algo forte, uma conexão poderosa, ah, isso era!

- Afinal, para onde você estava indo, teme? – Naruto questionou parando em frente ao seu apartamento. Ficou curioso por vê-lo vestido tão informalmente.

Sasuke que estava calado raciocinando a situação do amigo, olhou para ele e deu de ombros.

- Estou de folga. – Respondeu sem muita vontade e com disfarçada despreocupação.

Naruto achou aquela resposta muito estranha e ficou desconfiado. Não conseguia imaginar a vovó dando folga para seus ANBU. O jovem Uchiha, depois de conseguir o perdão da vila, decidiu se engajar no trabalho em reerguer seu clã. Em um ano conseguiu a casa onde viveu por toda a sua infância, conseguiu se formar e graduar como um ninja de elite, sendo convocado pela Hokage para integrar o time ANBU, afirmando que suas habilidades eram necessárias. E sem pensar duas vezes, o moreno agarrara a oportunidade e até hoje demonstrava que sua redenção fora verdadeira. Do arrependimento em ter traído os seus amigos.

- Bem que eu queria ser um ANBU, vocês sempre ficam com as melhores missões...

O louro reclamou soltando um longo bocejo. Como havia acabado de chegar de viagem, estava cansado. Apenas queria descansar, dormir para acordar na noite do dia seguinte.

Entendendo a deixa, Sasuke se despede do amigo com uma desculpa esfarrapada e partiu para fora dos limites da vila para se encontrar com Sakura.

Aqueles encontros começaram a acontecer com mais regularidade desde que se tornara ANBU – coisa de meses atrás, passando a ter um relacionamento que chegava a ser estranho, o que não impediu uma paixão fulminante e tórrida de dominá-los. Eles chegavam a ter uma relação de amigos com benefícios, nada muito sério ou compromisso das partes, contudo, isso causava sérios casos de ciúmes entre ambos. Era um relacionamento perigoso e se não tomassem os devidos cuidados acabariam por machucar alguém.

Sempre silencioso Sasuke adentrou na floresta mais próxima da saída de Konoha e encontrou a rosada olhando com muita admiração uma flor que colheu na campina, que era seu habitual ponto de encontro.

Com passos leves e abafados pela vegetação, o moreno se esgueirou pelas sombras e silenciosamente, como uma cobra, agarrou a cintura da Haruno que soltou um gritinho, assustada pelo repentino ataque a suas costas. Ela se virou para o moreno bufando de raiva. Entretanto sua irritação desapareceu ao encarar o meio sorriso charmoso que ele carregava. O sorriso era um misto de deboche com admiração. Sasuke nunca entenderia em como ou quando havia sido fisgado pela rosada. Ele apenas era incapaz de manter sua frieza com ela por perto, Sakura conseguia decifrá-lo de maneira improvável.

- Você está atrasado! – Exclamou carrancuda, mas enlaçou seus braços no pescoço do moreno e deixou ser abraçada por ele. Ela já esquecera completamente da delicada flor que agora jazia no chão.

 Sasuke revirou os olhos, mas soltou uma curta risada. Gostava de provoca-la e sempre que fazia isso acabava por ganhar coisas que nunca imaginaria obter.

- Tive um pequeno contratempo... – Disse se inclinando para mais perto do rosto alvo da rosada, que por sinal, tinha as bochechas coradas devido à excitação.

- Contratempo? – Murmurou embriagada pela aproximação de seus rostos, ela já se ascendia de desejo. – Que contratempo era esse para ser tão importante que merecia sua atenção?

Questionou enciumada, mas sem nunca deixar de observar os lábios finos e perfeitamente delineados do moreno, do qual já teve provas o suficiente para saber que eles a levavam a loucura.

Percebendo o ciúme da Haruno, Sasuke abriu um sorriso cafajeste. Entretanto decidiu que não iria provoca-la agora, tinha que ajudar seu amigo que estava bem perdido em pensamentos. Deixando um suspiro resignado escapar de seus lábios, afastou seu rosto e elevou uma sobrancelha, pensando no que iria dizer. Essa ação repentina fez com que Sakura grunhisse em irritação. Eles não queriam ter quebrado aquela bolha que os envolvia sempre que estavam juntos.

- Eu me encontrei com o Naruto agora a pouco. – Ele resmungou tendo de se contentar em estreitá-la ainda mais nos seus braços.

- Naruto? Achei que Tsunade-sama havia o enviado para o País do Som. – Ela começou a se interessar pelo que seu amante estava lhe falando, quando Sasuke queria conversar sobre algo, era sempre produtivo escutá-lo.

- A missão acabou e ele já está de volta. – Respondeu a arrastando para se sentar entre as raízes de uma grandiosa árvore. Ao se acomodar em uma vasta sombra, puxou a Haruno para seu colo e logo tratou de continuar a conversa. – Eu estou preocupado com ele...

Sakura agora ficou bem mais curiosa, estava atenta a todos os detalhes. Se o moreno estava demonstrando preocupação com seu amigo e colega de time, então está na hora de tomar providencias.

- O que aquele baka tem? – Questionou de uma maneira tão doce que o xingamento se tornou um apelido carinhoso.

- Você o viu na semana passada?

- Não, eu não o vejo já faz um bom tempo... – Admitiu tristonha, queria falar com o louro e se arrependia de não tê-lo procurado com tanta frequência. – Andei tão atarefada esse mês no hospital que é um milagre ter tirado essa folga.

Sakura era oficialmente uma ninja médica junto com Ino e Shizune, elas comandavam o hospital com muita competência. Todos os pacientes gostavam de ser atendidos pelas belas kunoichi e Tsunade confiava nas garotas com muito afinco.

- Eu falei com ele. – Sasuke admitiu enquanto encarava os brilhantes olhos esmeraldinos e mexia em uma das curtas madeixas de sua amante. – Naruto está preocupado com a Hinata.

- Hinata? – Ela perguntou alto, não conseguindo controlar a surpresa da admissão em sua voz.

Entretanto, para contrastar com sua exagerada ação, rapidamente abriu um sorriso malicioso ao perceber o que Sasuke havia dito. Sakura obviamente tem conhecimento dos sentimentos que a Hyuuga mantém pelo o Uzumaki, e no seu interior adoraria que eles iniciassem algo mais sério e intimo que a amizade. Antigamente pensava de maneira egoísta, até mesmo para poder se livrar do Naruto, mas agora sabia que seria certo que eles tivessem um relacionamento. Isso seria bom para sua amiga e principalmente para o louro. Queria que ele fosse feliz e sabia que essa felicidade não está com ela, pelo menos não da maneira como o rapaz havia idealizado desde criança.

- Por que você está sorrindo assim? – Sasuke questionou temeroso, não gostava daquele sorriso, aquele era um indício de que iria aprontar algo.

- De que maneira ele anda preocupado com ela? – Questionou na tentativa de controlar sua animação.

- Eu não sei, talvez de uma maneira mais profunda, sei lá! – Disse meio carrancudo, não conseguia decifrar esse olhar traquina da rosada. Fora o fato de que odiava conversar coisas do tipo.

Aquela resposta foi o suficiente para aumentar a animação da rosada, que – por pouco - quase saltitava no colo do seu amante.

- Tenho uma ideia que pode ajudar o Naruto e a Hinata, mas você vai ter que me ajudar... – Disse alegre, mas ao perceber a carranca do moreno, logo tratou de mudar sua tática e usou seu olhar mais dócil e brilhoso sobre ele. – Você me ajudaria, não é mesmo?

Sasuke não queira ajudar, sabia que se fizesse entraria em encrencas e que aquilo envolveria certo apelo emocional, coisas que odiava se meter. Mas, quando Sakura o olhava daquela maneira, não podia resistir e acabava por perder uma batalha interna, da qual sua consciência gritava avisando que estava baixando a guarda com muita facilidade. Estava permitindo que ela entrasse em seu interior e se enraizasse no coração.

- Tudo bem! – Ele rosnou vencido e como recompensa recebeu um abraço animado e apertado da rosada. – Mas isso vai ter que ter uma troca.

Falou deixando suas segundas intenções explícitas para a rosada, que estreitou seus olhos para o rapaz. Entretanto o sorriso que abriu em seu rosto marfim denunciava algo que, sempre pegava o moreno de surpresa.

- E eu sei como retribuir... – Disse com a voz mais rouca que o habitual.

- Sabe é? E como seria? – Ele questionou entrando de muito bom grado no jogo sedutor da rosa.

Sakura abriu um sorriso extremamente malicioso e com rapidez e muita sensualidade colou seus lábios ao do moreno, que teve a confirmação de suas hipóteses. Então deixando de lado todos os seus problemas, eles se entregaram ao fogo da paixão e ali desvendaram ainda mais sobre o jogo perigoso e excitante dos amantes.

Aquela seria uma noite agitada para os dois ninjas.