História Perseguindo Estrelas - Capítulo 22

— Acho que você deveria perguntar pra ele, antes. Quero dizer, só para ter certeza que ele é seu admirador secreto.— Harry deu um sorriso forçado.— Vem cá. Que horas aquele mané vem buscar você?

Meu celular vibrou dentro do meu sutiã. O puxei discretamente por cima da blusa, quando Harry virou o rosto para o outro lado e encarou a rua, desconfortável.

— Ah. É o Enrique.

— Ele é um idiota. Você vai mesmo atender?

— Não seja infantil.

Harry faz uma careta.

Atendo o telefone.

— Oi, Enrique. Já saiu de casa?— pergunto.

— Escuta, eu não vou poder sair com você. A Caroline e a Alice vão ao shopping, e me convenceram a dirigir pra elas.

— Elas sabem ser bem persuasivas quando querem.

— É bem assim, mesmo. Desculpa. Eu te recompenso na próxima vez.

— Tudo bem. A gente se vê.

— Tchau, Bella.

E desligou. Fico encarando o telefone mudo, frustrada.

— Você ficou triste por causa daquele cara?— Eu não consigo ler a expressão no rosto de Harry.— Ele não vale nada.

— Tem razão — eu disse, tentando forçar um sorriso.

— Pra onde iam essa noite?

— Para a ponte de pedra, em Waterloo.

— E o que pretende fazer agora?

— Eu pensei em entrar dentro de casa e mofar o resto da noite.

Harry passou a mão no meu cabelo e colocou uma mecha solta da minha trança atrás da minha orelha.

— Vou te levar num lugar— ele disse.

— Onde?

— É surpresa.

— Uma dica?

— Não.

— Posso saber onde fica?

— Não— Harry acha graça.— Vai saber quando chegarmos lá. Te vejo daqui a uma hora?

— Fico pronta em dez minutos.

Mal posso esperar para chegar em nosso destino.

Trinta minutos atrás o trânsito estava livre no caminho para o até então desconhecido.

— Estamos chegando— ele disse.

— Que bom.

Dez minutos depois finalmente percebi onde estávamos. Era em Stone Bridge na Huron Street, a caminho da ponte de pedra.

— Eu sempre quis trazer uma garota aqui, durante a noite— Harry comenta.

— Alice?— pergunto.

Harry parece surpreso. Não entendo.

— Não. Alice é uma garota mimada, não trocaria uma noite no shopping, pra ficar de bobeira comigo.

Encosto as muletas (que minha mãe me obrigou a trazer) na parede da ponte.

— Então, por que namorou com ela?— pergunto o mais​ natural possível.

— Ela é gostosa...— ele faz uma pausa e olha pra mim. Repentinamente tenho a sensação de que Harry está procurando algo em meus olhos.— Mas ela não faz meu tipo.

Suspiro de alívio.

A resposta de Harry me pegou de surpresa.

— E qual é seu tipo de garota?— pergunto.

— É... acho que...hã...

— Bem diferente de mim, imagino— digo baixinho.

— Por que pensa isso?— diz ele perplexo, o rosto meio pálido.

— Eu não faço o tipo de ninguém, Harry.— Faço uma pausa. Bem, isso não é verdade. Eu faço o tipo do P.E.— Eu já me apaixonei e na maioria das vezes eram paixões platônicas. Até que eu me apaixonei de novo, à mais ou menos quatro anos atrás. Eu achei que fosse coisa passageira, fantasias da minha cabeça, minha mente criando peças para me confundir. Então eu me dei conta do que realmente está acontecendo. Nunca senti isso por ninguém, Harry. É um sentimento completamente novo para mim.

"Eu​ passei a contar os dias e as horas para vê-lo. Ele é meu primeiro e último pensamento do dia. Quando olho pra ele sinto minhas pernas bambas, meu coração bate tão forte no peito, que acho que vai sair pela boca. E a parte legal é que eu sempre tive vontade de sentir isso: a sensação de ter mil borboletas se agitando impiedosamente no estômago a cada passo que dou. Eu achei que isso só acontecia nos filmes."

"Kim me falou que não sente nada quando beija algum cara, que isso acontece por nervosismo. Se bem que, se isso for verdade eu serei a pessoa mais nervosa do mundo. Eu espero a muito tempo por um beijo dele, e sei que se isso acontecer um dia, vai ser melhor do que qualquer beijo que eu já dei. Porque pela primeira vez, vai ser com alguém que amo de verdade."

— Ele tem sorte por ter você— disse Harry.

— Pena que ele não sabe. Nem desconfia, eu acho.

— E por que não conta tudo pra ele?

— Por medo. Tenho medo da reação dele. E se ele se afastar?

Eu não consigo pensar na possibilidade de viver num mundo onde você me ignore, Harry.

— Ele também pode te entender e não sentir o mesmo— disse Harry, tentando encontrar meu olhar.— Ou, ele pode sentir a mesma coisa e tá inseguro, assim como você. Então, os dois ficam perdendo tempo. Até ele achar que tudo não passou de uma simples paranóia da cabeça dele, e...— Harry balança a cabeça— aparece outra pessoa e ele fica com ela, pra colocar a cabeça no lugar. E você vai ficar se culpando por não ter tentado, e vai ficar imaginando por que perdeu tempo. Você tem que sair da sua zona de conforto, Isabella. Se arrisque. Se isso acontecesse comigo, eu gostaria de saber.

Suspiro.

— E como reagiria?

— Eu iria gostar.

Mas é com você, Harry Styles! Eu queria gritar. É por você que estou apaixonada. Será que não consegue perceber isso?

Harry coloca as mãos no parapeito da ponte e inclina o corpo para ver o lago. Imito seus movimentos, e meu coração acelera.

Acalme-se, Isabella.

A lua está alta e gorda, e reflete sua luz no lago. Eu poderia passar a noite inteira a admirando, se eu não tivesse tentando acalmar o meu coração martelando no peito.

— Eu sempre gostei mais da noite, do que do dia— disse Harry, me tirando do rumo dos meus pensamentos.— O sol se pondo. A primeira estrela visível. Eu diria até que o momento é mágico.

— É sim— murmuro.

A lua desaparece atrás de uma nuvem, e o seu escurece um pouco, assim como tudo a nossa volta. Dou um passo para o lado e esbarro no braço de Harry, a minha mão sobre a dele no parapeito da ponte. Harry puxa a mão, e por um segundo penso que ele vai se afastar, mas ele me abraça de lado afagando meu ombro por cima do tecido da blusa.

— Você ainda tem medo do escuro— observa Harry.

— Tenho— admito, tentando esconder o constrangimento na voz.

— Percebi— provoca ele me fazendo rir.— Quer um concelho?— Harry sussurra​ próximo ao meu ouvido, eu continuo encarando a água escura do lago.— Olha para cima, as estrelas brilham mais no escuro.

Quando Harry olhava para as estrelas, sua expressão​ ficava consentrada. Era como se ele não estivesse presente ao meu lado, como se uma parte sua lutasse com lembranças. Como se seu corpo estivesse aqui e sua alma em outro lugar.

— Quando eu era criança, eu costumava pensar que as estrelas eram como espelhos— disse Harry.— Dessa forma, eu conseguia enxergar meus sonhos, e o que meu coração queria ver.— Ele ri.— Ridículo, não é?

— Não— falei.— O que o seu coração queria ver?

— Os olhos do meu pai.— Disse Harry, depois de alguns instantes.

— O que é aquele pontinho azul brilhante, no lago?— pergunto para mudar de assunto.

— É Vésper— Harry murmurou.

— O que significa Vésper?

— Estrela da tarde.

— Já ouvi falar em Estrela da Manhã— falei.— É Vênus.

— É a mesma coisa. Estamos com sorte hoje. Vênus muda de Estrela da Manhã para Estrela Vésper a cada 584 dias. Sabia, que é muito difícil de enxergar ele a noite? Mas se Vênus "ultrapassar" a terra enquanto orbita o sol, é fácil de encontrá-lo depois que o sol se põe. É a estrela mais brilhante do céu. Fascinante, não é?

— Sim— digo maravilhada.— E aquela estrela?

— Qual? Aquela?— ele aponta com o indicador.

— Minha mãe sempre diz, que se você apontar para uma estrela, nasce uma verruga no seu dedo.

— Mito— disse Harry.— Eu tenho anos de prática e posso garantir que nenhuma verruga nunca nasceu no meu dedo.— Ele ri.

— E então, que estrela é aquela?— insisto.

— É Sírius— ele responde.— E são duas estrelas, não uma só. A maior é Sírius A, a mais brilhante. A menor é Sírius B. Mas você não consegue enxergar ela sem ter um telescópio.

Hum.

— E aquela?— aponto para uma estrela a esmo.

— Onde?

— Bem alí— instruí.

— Hã... é... eu— ele para.

— Não sabe?

— Não— diz ele rapidamente.

— Podemos dar um nome para ela? Ainda que seja apenas significativo?

— Claro, podemos sim.

— Como vamos chamá-la?

— Que tal, Izza?— diz Harry baixinho.

— Meu nome?— dei uma risadinha nervosa.

— Sim.

Não consigo conter o sorriso. Ainda bem que Harry não pode ver.

Três minutos se passaram e eu mal conseguia falar. Me sinto confusa com tudo o que acontece quando fico perto de Harry.

— Tá tudo bem?— ele perguntou.

A voz dele é tranquila, mas deixa claro sua preocupação.

Fico imóvel.

— Vem cá— disse Harry.— Você falou que aquele imbecil ia te trazer aqui, não falou?

— Sim— digo pisando em ovos.

— Sabe o que eu faria se ele aparecesse na nossa frente agora?

— O quê?

— Isso!

Harry se inclina para a frente e cospe no lago.

Argh!

— Quer tentar?— ele me pergunta.

Eu ri.

— Não sei fazer isso.— Além de ser nojento é muita falta de educação.

— Não aprendeu a cuspir no jardim de infância?

— Não— riu novamente.

— Hoje é seu dia de sorte. Deixa eu te ensinar.

— Não, Harry.

— Tenta.

— Não, Harry.

— Espera, presta atenção. Você começa juntando a saliva na língua...e não esquece de deixar as bochechas espremidas nos dentes, pra coisa toda não espalhar. — Harry contraiu os lábios.— Agora é só cuspir... não baba.

Ele respirou fundo, afastou o pescoço para trás, impulsionou o corpo para frente e cuspiu longe no lago.

Harry limpou com a manga da camisa a saliva fina que escorria​pelo queixo.

Que nojo!

— Viu como é que se faz? Agora é a sua vez.

Sem ter para onde correr, eu cuspi. Foi rápido, silencioso, e limpo.

— Viu só? Você conseguiu. Foi horrível, mas conseguiu. Quer tentar mais uma vez? O segredo está em: tomar impulso.

Meu relógio de pulso apita. São oito horas.

— Precisamos voltar— eu disse.

— Só estamos aqui a pouco mais de uma hora— Harry da uma olhada no celular.— Ainda é cedo.

— Tenho horário para chegar em casa. E não é tão cedo assim, Harry.

— Enquanto não ser meia-noite pode ser considerado cedo, sabia?

— Harry.— protesto.

— Tá bom. Não quero que sua mãe pense que te sequestrei.

Com cuidado, Harry me devolve as muletas.

Eu reparei que Harry pegou o caminho mais comprido para voltarmos para casa, os quilômetros se arrastavam debaixo de nós, a medida que íamos nos aproximando de Stratford. Olho pela janela, para os postes de iluminação pública.

Harry liga o som. E vozes masculinas preenchem o carro. É I Wish do One Direction. Por um breve momento me permito prestar atenção na letra da música, deixando as palavras me iludirem.

— Harry.— Chamei.

Eu nem me dei o trabalho de pensar no que deveria dizer. Eu só queria que ele olhasse para mim.

— O que foi?

— V... você— gaguejo.

Harry dirige apenas com uma mão e afaga meu joelho. Talvez para me tranquilizar, penso.

Por alguns segundos cogito fazer com que Harry enxergue meus sentimentos por ele, mas desisto ao ouvir sua voz.

— Isabella?— ele me chamou.

Deu um branco na minha cabeça agora.

Foco, Izza.

— Gosta?— pergunto, tentando soar tranquila, e consigo.

Harry desfaz o contato e me olha intrigado antes de voltar a atenção para a estrada.

— A música— esclareço.

— Um pouco. O CD é da Alice. Eu nem lembrava que isso ainda tava aqui.

— Quer dizer que tá ouvindo músicas da gangue das E-más agora?

— Gangue das E-más?

Harry ri, divertindo-se.

— É assim que chamamos sua ex-namorada e a Caroline.

Ele dá uma gargalhada gostosa, de olho na estrada.

Não era essa a reação que eu esperava, mas meu coração incha de felicidade.

E inchou ainda mais com o que ele disse a seguir:

— Quero que me prometa uma coisa, Isabella.

— O quê, Harry?

— Me prometa que não vai deixar nada estragar essa noite.

— Eu prometo.